segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

FAUSTINO MONTEIRO ESPOSEL (ANDRÉ LUIZ)[1]

 

 

Faustino Monteiro Esposel, nasceu na rua dos Araújos nº 10, bairro do Engenho Velho, cidade do Rio de Janeiro (registro 14º 69), em 10 de agosto de 1888.

Era filho de João Paiva dos Anjos Esposel e de Maria Joaquina Monteiro. Eram avós paternos de Faustino Esposel: José Maria dos Anjos Esposel e Margarida Maria; e avós maternos: Isidro Borges Monteiro (desembargador) e Paulina Luísa de Jesus.

Faustino Esposel casou com Odette Portugal Esposel, conhecida por Detinha. Era filha do médico José Teixeira Portugal, nascido em 1874 e desencarnado em 1927. Ela nasceu em 6 de junho de 1900 e desencarnou em 5 de fevereiro de 1978.

Fez os estudos primários na Escola Alemã, conhecia profundamente o idioma germânico, cursou durante alguns anos o externato Mosteiro de São Bento.

Faustino Esposel era católico. Militou na União Católica Brasileira. Foi congregado mariano. Comungava com frequência, o que era hábito da maioria religiosa daquela época. Tinha ficha de cadeira cativa do Clube de Regatas do Flamengo, dos anos de 1925 a 1930. Foi presidente do clube no biênio 1920-1922, depois de 1924 a 1927.

Entusiasta dos esportes e da educação física, que sempre cultivou, pertenceu a muitas associações esportivas em que exerceu cargos técnicos e administrativos e de que foi presidente por diversas vezes, como a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos e a Federação Brasileira de Desportes.

Formou-se em 1910 em farmácia e em medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde defendeu tese sobre "Arteriosclerose cerebral", em que recebeu a nota de distinção. Durante o curso acadêmico, foi adido dos serviços clínicos da 7ª e da 18ª enfermarias da Santa Casa da Misericórdia, chefiadas respectivamente pelos mestres Miguel Couto e Paes Leme. Ainda nessa época, exerceu o internato oficial da Clínica Pediátrica dos professores Barata Ribeiro e Simões Corrêa. Pouco após a formatura, candidatou-se a médico da Assistência de Alienados do Rio de Janeiro, classificando-se em primeiro lugar, pelo que foi nomeado assistente do Hospital Nacional de Alienados.

Foi professor substituto da seção de neurologia e psiquiatria da Faculdade de Medicina e reputado clínico, catedrático de neurologia na Faculdade Fluminense de Medicina. Foi ainda chefe do serviço da Policlínica de Botafogo e do Sanatório de Botafogo e médico da Associação dos Empregados do Comércio. E era também sanitarista, portador por concurso do título de docente de higiene da Escola Normal do Rio de Janeiro, na qual foi continuamente encarregado de cursos complementares.

Chegou a titular de livre docente da Faculdade de Medicina, exercendo ali o cargo de professor substituto de neurologia e psiquiatria. Nessa condição teve ensejo de integrar diversas bancas examinadoras de teses de doutoramento. Foi ainda interno e assistente da clínica neurológica e médico adjunto do Hospital da Misericórdia. Deixou muitos trabalhos publicados sobre a especialidade, o que lhe permitiu ingressar em diversas sociedades científicas nacionais e estrangeiras. Em 1918 fez parte da missão médica brasileira que foi à Europa durante a I Grande Guerra. Como representante do Brasil participou de congressos na Europa e na América do Sul. Foi organizador e secretário-geral da Segunda Conferência Latino-Americana de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal. Sobre a epidemia de gripe no Hospital Brasileiro, em Paris, apresentou em 1919 substancioso relatório ao chefe da Missão Médica Brasileira. Recebeu honroso diploma do curso oficial de Pierre-Marie, assinado por este famoso professor e pelo decano da Faculdade de Paris, professor Roger. Durante o impedimento do professor Antônio Austregésilo Rodrigues de Lima, catedrático de Clínica Neurológica (fora eleito para o Congresso Nacional), Faustino Esposel exerceu com brilho aquela função, conquistando grande renome como didata. Conseguiu elevado prestígio entre os seus colegas, gozando de justa projeção nos meios sociais.

Em 29 de setembro de 1927, Faustino Esposel inscreveu-se à vaga aberta na Academia Nacional de Medicina decorrente da passagem de Teófilo de Almeida Torres, membro titular da Seção de Medicina Geral, para a classe dos Membros Titulares Honorários. Apresentou juntamente com os seus trabalhos a memória intitulada "Em torno do sinal de Babinsky". Aprovado, a eleição teve lugar em 17 de novembro de 1927 e a cerimônia de posse na sessão de 24 de maio de 1928, sob a presidência do acadêmico Miguel Couto, que designou os acadêmicos Antônio Austregésilo e J. E. da Silva Araújo para acompanhar o novo acadêmico ao recinto. Fez-lhe a saudação de paraninfo o acadêmico Joaquim Moreira da Fonseca. Com o seu falecimento, sua poltrona passou a ser ocupada pelo acadêmico Odilon Gallotti, eleito em 23 de junho de 1932 e empossado em sessão de 25 de junho de 1936. Na sessão de 30 de junho de 1932 a Academia promoveu uma homenagem a Faustino Esposel, discursando na ocasião o orador oficial Alfredo Nascimento. Tenho em meus arquivos todos os discursos pronunciados naquela instituição.

Faustino Esposel desencarnou na capital federal, às 17 horas do dia 16 de setembro de 1931, com 43 anos 1 mês e 7 dias. O sepultamento foi numa quinta-feira, no dia 17, às 16:30h, no cemitério de São João Batista.

Antônio Austregésilo, amigo de infância, assinou o atestado de óbito, nele fazendo constar, como causa da morte, apenas uremia. Era portador de uma nefrite crônica. Entretanto, os familiares sabiam e alguns descendentes vivos sabem que ele desencarnou de câncer, o que foi omitido por todos os jornais da época, que apenas mencionaram, como era praxe nesses casos, "a violência da súbita enfermidade que o acometeu" sendo "todos os esforços impotentes no combate ao mal insidioso" (Diário de Notícias, 17.9.31); ou "acometido de moléstia aguda, que sobreveio inesperadamente" (Jornal do Commercio, 17.9.31).

O espírito que conhecemos como André Luiz, em sua última encarnação foi Faustino Monteiro Esposel. Com bons conhecimentos científicos e grande capacidade de observação, foi-lhe permitido relatar, através do médium Francisco Cândido Xavier, suas experiências como desencarnado. Desejando manter o anonimato − possivelmente respeitando parentes ainda encarnados − quando questionado sobre seu nome, respondeu adotando o nome de um dos irmãos de Chico Xavier.

Devo salientar[2], desde logo, que André Luiz fez pequenas modificações para despistar o leitor, em obediência à preocupação exposta no prefácio de Emmanuel no sentido de ocultar sua verdadeira identidade, o que ele mesmo reafirma na mensagem de abertura ("Manifestamo-nos, junto a vós outros, no anonimato que obedece à caridade fraternal"). Noutras ocasiões deixou pistas insuspeitadas. Mas, num único ponto a modificação não foi pequena, ou melhor, foi radical: a família deixada na terra. Na verdade, Faustino Esposel não deixou filhos. Então, quem são aquelas pessoas referidas no livro? Segundo explicação do Chico, apresentada desde 1975, são todos membros de uma família de que o Faustino era membro em encarnação anterior. A fim de ilustrar os ensinamentos ele foi buscar a situação doméstica no seu passado mais remoto. Outros detalhes que posso antecipar:

- André Luiz informa que foi assistido na colônia Nosso Lar por um médico chamado Henrique De Luna. Na terra, De Luna (médico, com esse mesmo nome) era contemporâneo de Faustino Esposel.

- André Luiz narra em Nosso Lar que teve quinze anos de clínica. Formado em 1910, consta que a partir da segunda metade da década de 20 ele viveu muito mais para o magistério e trabalhos intelectuais ligados à medicina, além das atividades desportivas.

- Luísa, a irmã que André Luiz conta ter desencarnado cedo, quando ele era "pequenino", na verdade era um irmão (Adolfo Monteiro Esposel), desencarnado com apenas quatro meses, em 1886, dois anos portanto antes de ele nascer.

- Quem privou muito da proximidade de Faustino Esposel foi um porteiro que, até meados da década de 70, embora aposentado, ainda costumava frequentar o Pinel. Disse-me conhecer toda a vida do professor Faustino Esposel, que ele atendia muitos doentes de graça e que era famoso de verdade. A par disso, aludiu a alguns fatos que se ajustam perfeitamente ao que está confessado nas páginas de Nosso Lar. E confirmou, inclusive, detalhes de comportamento que o próprio André Luiz também não escondeu no livro.

Alguns espíritas, talvez mais levados pela curiosidade do que por fins práticos, já criaram algumas hipóteses sobre a identificação do médico carioca desencarnado, mas são apenas especulações sem maior solidez ou confirmação pelo próprio André Luiz. O primeiro livro de André Luiz é de 1943. Neste livro ele descreve sua chegada ao plano espiritual, iniciando pelo período de perturbação imediato após a morte, seguindo pelo seu restabelecimento e primeiras atividades, até o momento em que se torna "cidadão" de "Nosso Lar", colônia espiritual que dá nome ao livro.

Seguem-se outras obras que descrevem experiências e estudos do autor no plano espiritual, que ao longo da obra vão cada vez mais sendo direcionados a tarefa de esclarecimento dos encarnados sobre as realidades do plano espiritual, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier (as datas são dos prefácios de Emmanuel):

§  26 de fevereiro de 1944 - Os Mensageiros, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  13 de maio de 1945 - Missionários da Luz, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  25 de março de 1946 - Obreiros da Vida Eterna, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  25 de março de 1947 - No Mundo Maior, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  18 de junho de 1947 - Agenda Cristã, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  22 de fevereiro de 1949 - Libertação, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  23 de janeiro de 1954 - Entre o Céu e a Terra, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  3 de outubro de 1954 - Nos Domínios da Mediunidade, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  1 de janeiro de 1957 - Ação e Reação, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  21 de julho de 1958 - Evolução em dois Mundos, médiuns Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, FEB

§  6 de agosto de 1959 - Mecanismos da Mediunidade, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  17 de janeiro de 1960 - Conduta Espírita, médium Waldo Vieira, FEB

§  4 de julho de 1963 - Sexo e Destino, médiuns Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, FEB

§  2 de janeiro de 1964 - Desobsessão, médiuns Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, FEB

§  18 de abril de 1968 - E a Vida Continua, médium Francisco C. Xavier, FEB

§  21 de maior de 1975 - Respostas da Vida, Médium Francisco C. Xavier, IDEAL

 

Além destes livros, André Luiz, também participou de obras conjuntas com outros autores espirituais, principalmente Emmanuel. A relação abaixo, indica algumas destas obras (as datas são dos prefácios):

§  9 de outubro de 1961, O Espírito da Verdade, Autores Diversos, médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, FEB

§  2 de julho de 1963, Opinião Espírita, Emmanuel e André Luiz, médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, FEB

§  11 de fevereiro de 1965, Estude e Viva, Emmanuel e André Luiz, médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, FEB

§  15 de maio de 1965, Entre Irmãos de Outras Terras, Autores Diversos, médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, FEB

§  3 de junho de 1972, Mãos Marcadas, Autores Diversos, médium Francisco Cândido Xavier, IDE

§  3 de outubro de 1973, Astronautas do Além, Autores Diversos, médium Francisco Cândido Xavier, J. Herculano Pires, GEEM

§  15 de maio de 1983, Os Dois Maiores Amores, Autores Diversos, médium Francisco Cândido Xavier, GEEM

§  6 de agosto de 1987, Cura, Autores Diversos, médium Francisco Cândido Xavier, G.E.E.M

§  17 de janeiro de 1989, Doutrina e Aplicação, Autores Diversos, médium Francisco Cândido Xavier, CEU.

 

A obra mediúnica de André Luiz teve − e ainda tem − uma influência considerável sobre o movimento espírita. Suas descrições do plano espiritual − tornando mais preciso e detalhado nosso conhecimento do mesmo − estabeleceram novo patamar de compreensão da vida espiritual, também incentivaram a criação de instituições espíritas devotadas as atividades assistências e grupos de estudos inumeráveis.

Por exemplo, temos as "Casas André Luiz" e o "Grupo Espírita Nosso Lar", que se dedicam ao atendimento de crianças deficientes; a "Casa Transitória Fabiano de Cristo", que se dedica ao atendimento de gestantes carentes; o grupo "Os Mensageiros" que se dedica a distribuição gratuita de mensagens espíritas; a própria Associação Médico-Espírita, que tem aprofundado o estudo das obras mediúnicas de André Luiz e suas relações com a prática médica.

É interessante observar que o primeiro livro de André Luiz causou grande impacto pela novidade de suas informações, alguns chegaram a contestar suas descrições de uma vida espiritual muito semelhante a que levamos na Terra, mas o acúmulo de evidências − desde mensagens descrevendo de modo fragmentário a vida espiritual, até obras completas de outros espíritos, por médiuns como Yvonne A. Pereira − provaram sua veracidade. O mais curioso é que descrições semelhantes já existiam desde os primeiros tempos do "Modern Spiritualism" − por exemplo, as que foram registradas por Andrew Jackson Davis (1826-1910) − mas tinham caído no esquecimento.

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