Alexandre Fontes da Fonseca
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Resumo:
Jesus, após ouvir uma
explicação dada pelo Centurião em Mateus, Capítulo VIII, versículos de 5 a 13,
afirma que jamais viu tamanha fé em toda Israel! O presente estudo mostra,
claramente, que a fé do Centurião era uma fé raciocinada.
Um dos princípios básicos do
Espiritismo é a fé raciocinada. O capítulo XIX de O Evangelho Segundo o
Espiritismo[3] é inteiro dedicado ao estudo da fé. Kardec,
primeiro, analisa o poder da fé em remover as mais difíceis montanhas morais
que atrapalham o progresso da humanidade. As características da fé são também
analisadas.
“A fé sincera e verdadeira é
sempre calma”, diz Kardec no item 3 do referido capítulo, mostrando que “acalma
na luta é sempre um sinal de força e de confiança” e que a violência apenas
denota a fraqueza e insegurança daquele que assim procede para resolver seus
problemas.
Kardec analisa, também, o poder
da fé na ação magnética dos fluidos sobre a matéria. Ele diz que “aquele que a
um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da
vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e
outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma
lei natural”. É por essa razão que os discípulos de Jesus não puderam curar o
moço lunático na passagem de Mateus, cap. XVII, vv. 14 a 20.
Em seguida, Kardec analisa a fé
religiosa e apresenta a condição da fé inabalável. A fé pode ser cega ou
raciocinada. No primeiro caso, a fé nada examina e aceita sem controle o falso
e o verdadeiro1. Aquela que
tem a verdade por base é a única que pode resistir às transformações devido ao
progresso do conhecimento. Dessa forma, Kardec apresenta a condição da fé
inabalável: “Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em
todas as épocas da Humanidade” (Item 7, cap. XIX, O Evangelho Segundo o
Espiritismo).
Kardec não fica apenas na
análise do assunto. Ele exemplifica o exercício da fé raciocinada ao preparar,
por exemplo, o conteúdo do capítulo XXIII de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Moral Estranha, onde ele analisa algumas passagens em que
Jesus faz afirmativas que ao pé da letra são contrárias à mensagem de amor
contida no Evangelho. Ao invés de aceitar sem questionar o conteúdo dessas
passagens, Kardec as analisa sob a luz da razão e do bom senso, retirando delas
lições preciosas para todos nós.
Uma das passagens evangélicas de
grande expressão é aquela conhecida como “Jesus e o Centurião”. Caibar Schutel[4]
analisa essa passagem retirando valiosíssimos ensinamentos sobre a humildade e
a fé. Em resumo, nessa passagem, Jesus é interpelado por um Centurião ao entrar
em Cafarnaum: “Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico (...)[5]”.
Jesus, então, respondeu-lhe: “eu irei curá-lo”. O Centurião, demonstrando
enormes conquistas no terreno da humildade, exclamou que não se sentia digno de
receber Jesus em sua casa mas “dize somente uma palavra e o meu criado há de
sarar.”. O ponto que nos interessa nessa matéria vem das seguintes palavras do
Centurião proferidas após as que acabamos de citar: “Porque também sou homem
sujeito à autoridade e tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: vai ali, e
ele vai; a outro: vem cá, e ele vem; ao meu servo: faze isto, e ele o faz”.
(destaque em negrito feito por nós). Caibar Schutel sintetiza: “(...) foi esta
a Fé, engrandecida pelos conhecimentos, purificada pela humildade, santificada
pela prece na pessoa do centurião, que o mestre justificou, dizendo: ‘Em
verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei tamanha fé!’ ”.
Schutel destacou o fato de que a
fé do Centurião estava “engrandecida pelos conhecimentos” como um dos fatores
para a exclamação de Jesus perante ele. Nós aqui desejamos destacar que isso
nada mais significa que o Centurião usou aquilo que chamamos de fé
raciocinada.
Jesus reconhecia que o Centurião
era uma pessoa boa e que o servo doente, certamente, merecia a cura de sua
moléstia. Por isso afirmou que iria curar o doente. Porém, o Centurião disse
que ao invés de ir à sua casa, bastava Jesus dizer uma palavra que o servo
estaria curado. E para mostrar que entendia como isso era possível o Centurião
expôs um raciocínio, uma analogia. Assim como ele, uma autoridade
militar, tinha soldados e servos sob suas ordens, Jesus, uma autoridade moral,
também tinha Espíritos que cumpriam suas determinações. O que é isso senão um
simples, porém legítimo raciocínio?
Após o raciocínio do Centurião,
Jesus demonstrou enfaticamente sua aprovação e apoiou essa manifestação de fé
ao dizer que nunca tinha visto tamanha fé em toda Israel!
Essa passagem evangélica é muito
simples e não tem sentido figurado. Tanto o Centurião em seu raciocínio, quanto
Jesus na sua exclamação, foram muito claros. A maior fé de Israel não era a dos
discípulos que conviviam com Jesus, mas sim de um homem que soube aliar a
pureza de seus sentimentos com a simplicidade da razão e do bom-senso.
A análise de Caibar Schutel de
toda essa passagem evangélica é muito instrutiva e merece ser lida e estudada
por todos. E não tenhamos nenhum receio em afirmar que Jesus aprovou a fé
raciocinada. Não foi a toa que os Espíritos superiores ensinaram que a
verdadeira fé possui a compreensão das coisas e é a única capaz de sobreviver
ao progresso da razão em qualquer época.
Fonte:
Jornal de Estudos Espíritas
2, 010303 (2014)
https://drive.google.com/file/d/0BwP5l2F8N4s3WnJvUTJqREVyOW8/edit?pli=1
(Republicado em 19 de abril
de 2014).
Artigo reproduzido da
Revista Internacional de Espiritismo, janeiro, pp. 627-628 (2006).
[1] http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/F_autores_FONSECA_Alexandre_textos/FONSECA_Alexandre_tit_Fe_Raciocinada_Segundo_Jesus.htm
[2] Artigo reproduzido da Revista Internacional de
Espiritismo Janeiro, pp. 627-628, 2006
[3] Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Editora FEB, 112ª Edição (1996).
[4] Caibar Schutel, Parábolas e Ensinos de Jesus, Casa
Editora O Clarim, 12a Edição (1987).
[5] Mateus, VIII, 5-13. (Uma transcrição dessa passagem
pode ser lida no livro da referência [4]).
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