sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

FÉ RACIOCINADA: SEGUNDO JESUS, A MAIOR FÉ![1], [2]

 

Alexandre Fontes da Fonseca

 * texto disponível em pdf - clique aqui para acessar

 

 Resumo:

Jesus, após ouvir uma explicação dada pelo Centurião em Mateus, Capítulo VIII, versículos de 5 a 13, afirma que jamais viu tamanha fé em toda Israel! O presente estudo mostra, claramente, que a fé do Centurião era uma fé raciocinada.

 

Um dos princípios básicos do Espiritismo é a fé raciocinada. O capítulo XIX de O Evangelho Segundo o Espiritismo[3]  é inteiro dedicado ao estudo da fé. Kardec, primeiro, analisa o poder da fé em remover as mais difíceis montanhas morais que atrapalham o progresso da humanidade. As características da fé são também analisadas.

“A fé sincera e verdadeira é sempre calma”, diz Kardec no item 3 do referido capítulo, mostrando que “acalma na luta é sempre um sinal de força e de confiança” e que a violência apenas denota a fraqueza e insegurança daquele que assim procede para resolver seus problemas.

Kardec analisa, também, o poder da fé na ação magnética dos fluidos sobre a matéria. Ele diz que “aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural”. É por essa razão que os discípulos de Jesus não puderam curar o moço lunático na passagem de Mateus, cap. XVII, vv. 14 a 20.

Em seguida, Kardec analisa a fé religiosa e apresenta a condição da fé inabalável. A fé pode ser cega ou raciocinada. No primeiro caso, a fé nada examina e aceita sem controle o falso e o verdadeiro1.  Aquela que tem a verdade por base é a única que pode resistir às transformações devido ao progresso do conhecimento. Dessa forma, Kardec apresenta a condição da fé inabalável: “Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade” (Item 7, cap. XIX, O Evangelho Segundo o Espiritismo).

Kardec não fica apenas na análise do assunto. Ele exemplifica o exercício da fé raciocinada ao preparar, por exemplo, o conteúdo do capítulo XXIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Moral Estranha, onde ele analisa algumas passagens em que Jesus faz afirmativas que ao pé da letra são contrárias à mensagem de amor contida no Evangelho. Ao invés de aceitar sem questionar o conteúdo dessas passagens, Kardec as analisa sob a luz da razão e do bom senso, retirando delas lições preciosas para todos nós.

Uma das passagens evangélicas de grande expressão é aquela conhecida como “Jesus e o Centurião”. Caibar Schutel[4] analisa essa passagem retirando valiosíssimos ensinamentos sobre a humildade e a fé. Em resumo, nessa passagem, Jesus é interpelado por um Centurião ao entrar em Cafarnaum: “Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico (...)[5]”. Jesus, então, respondeu-lhe: “eu irei curá-lo”. O Centurião, demonstrando enormes conquistas no terreno da humildade, exclamou que não se sentia digno de receber Jesus em sua casa mas “dize somente uma palavra e o meu criado há de sarar.”. O ponto que nos interessa nessa matéria vem das seguintes palavras do Centurião proferidas após as que acabamos de citar: “Porque também sou homem sujeito à autoridade e tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: vai ali, e ele vai; a outro: vem cá, e ele vem; ao meu servo: faze isto, e ele o faz”. (destaque em negrito feito por nós). Caibar Schutel sintetiza: “(...) foi esta a Fé, engrandecida pelos conhecimentos, purificada pela humildade, santificada pela prece na pessoa do centurião, que o mestre justificou, dizendo: ‘Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei tamanha fé!’ ”.

Schutel destacou o fato de que a fé do Centurião estava “engrandecida pelos conhecimentos” como um dos fatores para a exclamação de Jesus perante ele. Nós aqui desejamos destacar que isso nada mais significa que o Centurião usou aquilo que chamamos de fé raciocinada.

Jesus reconhecia que o Centurião era uma pessoa boa e que o servo doente, certamente, merecia a cura de sua moléstia. Por isso afirmou que iria curar o doente. Porém, o Centurião disse que ao invés de ir à sua casa, bastava Jesus dizer uma palavra que o servo estaria curado. E para mostrar que entendia como isso era possível o Centurião expôs um raciocínio, uma analogia. Assim como ele, uma autoridade militar, tinha soldados e servos sob suas ordens, Jesus, uma autoridade moral, também tinha Espíritos que cumpriam suas determinações. O que é isso senão um simples, porém legítimo raciocínio?

Após o raciocínio do Centurião, Jesus demonstrou enfaticamente sua aprovação e apoiou essa manifestação de fé ao dizer que nunca tinha visto tamanha fé em toda Israel!

Essa passagem evangélica é muito simples e não tem sentido figurado. Tanto o Centurião em seu raciocínio, quanto Jesus na sua exclamação, foram muito claros. A maior fé de Israel não era a dos discípulos que conviviam com Jesus, mas sim de um homem que soube aliar a pureza de seus sentimentos com a simplicidade da razão e do bom-senso.

A análise de Caibar Schutel de toda essa passagem evangélica é muito instrutiva e merece ser lida e estudada por todos. E não tenhamos nenhum receio em afirmar que Jesus aprovou a fé raciocinada. Não foi a toa que os Espíritos superiores ensinaram que a verdadeira fé possui a compreensão das coisas e é a única capaz de sobreviver ao progresso da razão em qualquer época.

 

Fonte:

Jornal de Estudos Espíritas 2, 010303 (2014)

https://drive.google.com/file/d/0BwP5l2F8N4s3WnJvUTJqREVyOW8/edit?pli=1

 

(Republicado em 19 de abril de 2014).

Artigo reproduzido da Revista Internacional de Espiritismo, janeiro, pp. 627-628 (2006).



[2] Artigo reproduzido da Revista Internacional de Espiritismo Janeiro, pp. 627-628, 2006

[3] Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Editora FEB, 112ª Edição (1996).

[4] Caibar Schutel, Parábolas e Ensinos de Jesus, Casa Editora O Clarim, 12a Edição (1987).

[5] Mateus, VIII, 5-13. (Uma transcrição dessa passagem pode ser lida no livro da referência [4]).

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