Sidney Fernandes - 28.05.2021
Diante do sofrimento, há pessoas
que fazem o bem buscando cura. Como alguém lhes disse que a assistência ao
pobre, a contribuição à casa religiosa ou o trabalho voluntário pode lhes
trazer alívio, assumem atitude altruística, visando benefícios, por interesse.
Muitas tomam gosto e, mesmo
depois de curadas, tornam-se criaturas abnegadas, que sentem que é seu dever
amenizar as dores do próximo. Com o passar do tempo, esquecem-se completamente
do interesse, do dever, e passam a agir pela satisfação de ver o outro feliz,
saudável e equilibrado. Eu diria que começaram a trilhar os primeiros passos do
autêntico amor.
Detectei, caro leitor, não
propriamente uma outra classe de caridosos, mas uma variação desta terceira,
observando uma espécie de efeito colateral nos que, contínua ou
esporadicamente, desprendem-se do egocentrismo humano e se tornam protagonistas
de gestos inesquecíveis, ainda que de forma espontânea ou não intencional.
***
Roberto sofreu grave acidente de
moto que o levou à morte encefálica. Sua irmã, que acompanhava de perto o
paciente hospitalizado, autorizou o transplante de seu coração. A notícia
deixou preocupada a mãe de Roberto, Izar, pois, com sua simplicidade, tinha
dúvidas se o filho ficara bem e se havia aceito bem a decisão da irmã.
Izar foi quatro vezes a Uberaba.
Na quarta viagem seu filho comunicou-se e lhe transmitiu o consolo e os
esclarecimentos almejados, por intermédio de Chico Xavier. Eis um pequeno
trecho de sua comunicação:
— Estou, mãezinha Izar,
satisfeito por ter tido oportunidade de doar o coração, que se abeirava da
imobilidade, a uma outra pessoa que com isto se beneficiaria. Segundo pode o
seu generoso coração concluir, seu filho está feliz por ter encontrado o ensejo
de cooperar em auxílio de alguém na hora da liberação que se achava prestes a
se consumar.
Aqui temos, amigo leitor, um
abençoado efeito colateral de um ato de amor. Roberto deixou bem claro que os
reflexos benéficos que havia recebido no plano espiritual foram decorrentes da
doação de seu coração.
***
Apeguemo-nos ao bem. No começo,
incipientes no trato das coisas de Deus, talvez confundamos nosso
comportamento, tentando estabelecer uma espécie de toma-lá-dá-cá com a
divindade. Mas, no início é assim mesmo, porque pautamos nossas vidas pela
partitura do egoísmo.
Mais adiante, mais equilibrados,
tomaremos gosto e passaremos a fazer o bem por dever, para finalmente,
ensaiarmos os primeiros passos em direção ao legítimo amor.
Fiquemos com Emmanuel:
O bem que praticares em algum lugar é o teu advogado em toda parte.
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