Diógenes
Allan Kardec
(Sociedade de Paris, 5 de janeiro de 1866 – Médium: Sr. Leymarie)
Conceder-me-íeis hospitalidade
para a vossa primeira sessão de 1866? Abraçando-o fraternalmente, desejo vos
apresentar votos amigos; que possais ter muitas satisfações morais, muita
vontade e caridade perseverante.
Neste século de luz, o que mais
falta é clareza! Os semissábios, os papões da imprensa, fizeram valentemente o
trabalho da aranha, para obscurecer, por meio de um tecido supostamente
liberal, tudo o que é claro, tudo que aclara.
Caros espíritas, encontrastes em
todas as camadas sociais esta força de raciocínio que é a marca da inteligência
dos seres bem-sucedidos? Ao contrário, não tendes a certeza de que a grande
maioria de vossos irmãos apodrece numa ignorância malsã? Por toda parte as
heresias e as más ações! As boas intenções, viciadas em seu princípio, caem uma
a uma, semelhantes a esses belos frutos, cujo cerne um verme rói e o vento
lança por terra. A clareza nos argumentos, no saber, acaso teria escolhido
domicílio nas academias, entre os filósofos, os jornalistas ou os
panfletários?... Ao que parece, poder-se-ia duvidar, vendo-os, a exemplo de
Diógenes, de lanterna à mão, procurar uma verdade em pleno sol.
Luz, claridade, sois a essência
de todo movimento inteligente! Logo inundareis com os vossos raios benfazejos
os mais obscuros refolhos desta pobre Humanidade; sois vós que tirareis do
lamaçal tantos terrícolas pasmados, embrutecidos, espíritos infelizes que devem
ser purificados pela instrução, pela liberdade e, sobretudo, pela consciência
de seu valor espiritual. A luz expulsará as lágrimas, as penas, os sombrios
desesperos, a negação das coisas divinas, todas as más vontades! Sitiando o
materialismo, ela o forçará a não mais se abrigar por trás dessa barreira
factícia, carcomida, de onde arremessa desajeitadamente suas flechas sobre tudo
quanto não é obras sua.
Mas as máscaras serão arrancadas
e então saberemos se os prazeres, a fortuna e o sensualismo são mesmo os
emblemas da vida e da liberdade. A clareza é útil em tudo e a todos; no embrião
como no homem é preciso luz! Sem ela tudo
marcha às cegas e, às apalpadelas, a alma busca a alma.
Que se faça uma noite eterna! Logo
as coisas harmoniosas desaparecerão de vosso globo, as flores estiolar-se-ão,
as grandes árvores serão destruídas; os insetos, a Natureza inteira não mais
darão esses mil ruídos, a eterna canção de Deus! Os regatos banharão barrancos
desolados; o frio terá tudo mumificado, a vida terá desaparecido!...
É o mesmo para o Espírito. Se
fizerdes noite em seu redor, ele ficará doente; o frio petrificará suas
tendências divinas; o homem, como na Idade Média, entorpecer-se-á, semelhante
em sua alma às solidões selvagens e desoladas das regiões boreais!
É por isto, espíritas, que vos
deveis a todas as clarezas. Mas antes de aconselhar e ensinar, começai primeiro
por esclarecer os menores recônditos de vossa alma. Quando, bastante depurados
para nada temer, puderdes elevar a voz, o olhar, o gesto, fareis uma guerra
implacável à sombra, à tristeza, à ausência de vida; ensinareis as grandes leis
espíritas aos irmãos que nada sabem do papel que Deus lhes assinala.
1866, possas tu, para os anos
por vir, ser esta estrela luminosa, que conduzia os reis magos para a
manjedoura de uma humilde criança do povo. Eles vinham render homenagem à
encarnação que devia representar, no mais vasto sentido, o Espírito de Verdade,
esta luz benfeitora que transformou a Humanidade. Por esse menino tudo foi
realizado! É bem ele que eterniza a graça e a simplicidade, a caridade, a
benevolência, o amor e a liberdade.
O Espiritismo, estrela luminosa
que também é, deve rasgar, como o fez aquela há dezoito séculos, o véu sombrio
dos séculos de ferro, conduzir os terrícolas à conquista das verdades
prometidas. Saberá ele bem se desvencilhar das tempestades que nos prometem as
evoluções humanas e as resistências desesperadas da ciência em apuros? É o que
vós todos, meus amigos, e nós, vossos irmãos da erraticidade, somos chamados a
melhor acusar, inundando este ano com as claridades conquistadas.
Trabalhar com este objetivo é
ser adepto do Menino de Belém, é ser filho de Deus, de quem emanam toda luz e
toda clareza.
Sonnez
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