Hugo Lapa
Essa é uma história verdadeira.
Ela de fato aconteceu em um centro espírita de uma pequena cidade do estado de
Minas Gerais, há algum tempo atrás.
Conta-se que os médiuns estavam
realizando seus trabalhos de esclarecimento e doutrinação num centro espírita
do estado de Minas Gerais. Subitamente um preto velho incorporou numa médium e
começou a falar. No momento em que os trabalhadores perceberam que o espírito
incorporado era um preto velho, mandaram suspender a incorporação. Nesse centro
não eram aceitos pretos velhos, pois os dirigentes consideravam que os pretos
velhos são espíritos não muito evoluídos. Por isso, ele não poderia ser
admitido a orientar uma atividade de doutrinação. O espírito foi então
convidado a se retirar do centro. O preto velho fez o que eles pediram e foi
embora.
Logo depois, a médium incorporou
um espírito de um filósofo, um doutor de nome difícil, provavelmente europeu,
que foi muito bem recebido por todos os presentes. O filósofo deu instruções
aos membros do centro, fez os trabalhos de doutrinação e todos ficaram felizes
e maravilhados com a intervenção desse espírito, que consideraram um espírito
muito elevado.
Os dirigentes então resolveram
que já era hora de encerrar os trabalhos. No entanto, a médium novamente
começou a incorporar um espírito. Todos olharam com interesse aquela
manifestação mediúnica espontânea. Um dos trabalhadores disse que as atividades
do dia já estavam terminando e perguntou quem estava ali. O espírito respondeu
que era de novo o preto velho. O dirigente fez cara de tédio e perguntou o que
ele ainda queria ali nos trabalhos do centro. O preto velho então disse:
Zifio… Ce suncê mi
permiti, só quiria que ocês sobessem qui o dotô que apareceu agora há poquinho
era este preto velho aqui, que agora proseia com vosmicês.
Todos ficaram espantados com a
revelação… O preto velho então começou a não mais falar como um preto velho:
É engraçado isso,
meus irmãos, pois quando eu apareci como preto velho, fui praticamente expulso
dos trabalhos de vocês. Mas depois quando eu apareci no formato de um doutor,
um filósofo europeu prestigiado, que tem conhecimento acadêmico, com toda a
pompa e com ar de autoridade, todos me trataram muito bem, ouviram meus
conselhos e ficaram felizes e maravilhados com a aparição. Por que isso, meus
filhos? Devo alerta-los para esse comportamento de vocês. Prestem muita atenção
nisso, meus irmãos…
No plano espiritual,
assim como em toda a realidade universal, não existem aparências. As aparências
existem apenas aqui na Terra. Deus, em sua sabedoria infinita, oculta aos
vossos olhos as verdades do espírito camufladas pelas aparências do mundo… para
que vocês aprendam a vê-las com os olhos do coração, com a visão da alma e
possam enxergar a verdade como ela é. No plano espiritual, meus irmãos, não
existem doutores, não existem classes sociais, não existem nacionalidades, não
existem religiões, não existem raças, não existem essas divisões humanas que
vocês criaram em toda parte para poderem se sentir melhores uns que os outros.
No plano espiritual o que vale é o que você é lá no fundo, e não o que você
tem.
Não, meus irmãos…
todas essas divisões são ilusórias. No plano espiritual o que vale é o amor, a
verdade, a paz, a harmonia interior. No plano espiritual ninguém é julgado por
ser rico ou pobre, branco ou negro, doutor ou uma pessoa simples. Lembram-se do
que disse o nazareno sobre isso meus irmãos? O mestre disse:
Deus revela aos simples de
coração aquilo que esconde dos doutos.
Quando cada um de
vocês chegar ao plano espiritual, meus filhos, os anjos de Deus não vão
perguntar quantos títulos de doutor vocês conquistaram, quantos bens vocês acumularam,
quanto sucesso vocês fizeram, quantos altos cargos vocês subiram na empresa ou
quanto de boa fama vocês projetaram. Não meus queridos filhos… os anjos vão
perguntar quanta luz você espalhou pela Terra; quanto você tocou o coração dos
outros com justiça e benevolência e o quanto a sua obra foi pautada no amor e
na paz… ou se sua passagem na Terra foi apenas um capricho do ego, voltada
apenas para seu mundinho egoísta e para os prazeres da matéria.
Vamos tomar cuidado,
meus queridos filhos, com o veneno da hipocrisia e do preconceito. Não permitam
que as aparências do mundo roubem a sua essência. O importante, meus filhos, é
o que cada um traz em sua alma, em seu espírito. O que importa de verdade é ser
simples e verdadeiro… ser honesto e ter caráter, ser caridoso e ter o amor de
Deus no coração. Não se deixem levar pelas aparências, todas elas estão erradas
e vemos isso muito claramente quando chegamos ao plano espiritual. Lá, meus
filhos, não existem discriminações, todos trabalham por Deus e Deus é a
essência regente tudo. É isso que vocês devem buscar a partir de agora, meus
queridos filhos.
O preto velho despediu-se de
todos e então deixou a sala de atendimento do centro espírita. Os trabalhadores
ficaram envergonhados com seu próprio comportamento, mas adquiriram uma pérola
de sabedoria que nunca mais, em toda a sua vida, seria esquecida.
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