Tereza Cristina D'Alessandro
O que é um agênere? É uma
aparição em que o desencarnado se reveste de forma mais precisa, das aparências
de um corpo sólido, a ponto de causar completa ilusão ao observador, que supõe
ter diante de si um ser corpóreo.
Esse fato ocorre devido à
natureza e propriedades do perispírito que possibilitam ao Espírito, por
intermédio de seu pensamento e vontade, provocar modificações nesse corpo
espiritual a ponto de torná-lo visível.
Há uma condensação (os Espíritos
usam essa palavra a título de comparação apenas) tal, que o perispírito, por
meio das moléculas que o constituem, adquire as características de um corpo
sólido, capaz de produzir impressão ao tato, deixar vestígios de sua presença,
tornar-se tangível, conservando as possibilidades de retomar instantaneamente
seu estado etéreo e invisível.
Para que um Espírito condense
seu perispírito, tornando-se um agênere, são necessários, além da sua vontade,
uma combinação de fluidos afins peculiares aos encarnados, permissão, além de
outras condições cuja mecânica se desconhece. Nesses casos a tangibilidade pode
chegar a tal ponto que é possível ao observador tocar, palpar, sentir a resistência
da matéria, o que não impede que o agênere desapareça com a rapidez de um
relâmpago, através da desagregação das moléculas fluídicas.
Os seres que se apresentam
nessas condições não nascem e nem morrem como os homens; daí o nome: agênere -
do grego: a privativo, e géine, géinomai, gerado: não gerado, ou seja, que não
foi gerado.
Podendo ser vistos, não se sabe
de onde vieram, nem para onde vão. Não podem ser presos, agredidos, visto que
não possuem um corpo carnal. Desapareceriam, tão logo percebessem a intenção
diferente ou que os quisessem tocar, caso não o queiram permitir.
Os agêneres, embora possam ser
confundidos com os encarnados, possuem algo de insólito, diferente. O olhar não
possui a nitidez do olhar humano e, mesmo que possam conversar, a linguagem é
breve, sentenciosa, sem a flexibilidade da linguagem humana. Não permanecem por
muito tempo entre os encarnados, não podendo se tornar comensais de uma casa,
nem figurar como membros de uma família.
Transcrevemos a seguir um
exemplo extraído da Revista Espírita
de 1859 - Fevereiro (EDICEL):
Uma pobre mulher
estava na igreja de Saint-Roque em Paris, e pedia a Deus vir em ajuda de sua
aflição. Em sua saída da igreja, na rua Saint-Honoré, ela encontrou um senhor
que a abordou dizendo-lhe: "Minha brava mulher, estaríeis contente por
encontrar trabalho? - Ah! Meu bom senhor, disse ela, pedia a Deus que me fosse
achá-lo, porque sou bem infeliz. - Pois bem! Ide em tal rua, em tal número;
chamareis a senhora T...; ela vo-lo dará." Ali continuou seu caminho. A
pobre mulher se encontrou, sem tardar, no endereço indicado - Tenho, com
efeito, trabalho a fazer, disse a dama em questão, mas como ainda não chamei
ninguém, como ocorre que vindes me procurar? A pobre mulher, percebendo um
retrato pendurado na parede, disse: - Senhora, foi esse senhor ali, que me
enviou. - Esse senhor! Repetiu a dama espantada, mas isso não é possível; é o
retrato de meu filho, que morreu há três anos. - Não sei como isso ocorre, mas
vos asseguro que foi esse senhor, que acabo de encontrar saindo da igreja onde
fui pedir a Deus para me assistir; ele me abordou, e foi muito bem ele quem me
enviou aqui.
O Espírito São Luiz consultado a
respeito forneceu instruções muito interessantes:
• Reafirma: - não basta a vontade do Espírito; é também
necessário permissão para ocorrer o fenômeno.
• Existem, muitas vezes na Terra, Espíritos revestidos
dessa aparência.
• Podem pertencer à categoria de Espíritos elevados ou
inferiores.
• Têm as paixões dos Espíritos, conforme sua
inferioridade; se inferiores buscam prazeres inferiores; se superiores visam
fins elevados.
• Não podem procriar.
• Não temos meios de identificá-los, a não ser pelo seu
desaparecimento inesperado.
• Não têm necessidade de alimentação e não poderiam
fazê-la; seu corpo não é real.
Encerrando nosso estudo sobre os
agêneres, relembramos que, por mais extraordinário que possam parecer, esses
fatos se produzem dentro das leis da Natureza, sendo apenas efeito e aplicação
dessas mesmas leis. Recomendamos aos leitores continuem a pesquisa sobre o tema
nas Obras Básicas e na Revista Espírita,
Fevereiro de 1859, 1860 e 1863.
Fonte: Letra Espírita
Bibliografia:
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2ª ed. São Paulo:
FEESP, 1989 – Cap. VII - 2ª Parte.
KARDEC, Allan - Revista Espírita - 1859 - Fevereiro: 1ª
ed. São Paulo: EDICEL, 1985.
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