Jorge Hessen - jorgehessen@gmail.com - Brasília - DF
Um encontro entre jovens, em um
condomínio de luxo de Cuiabá, se tornou uma tragédia no dia 12 de julho de
2020. Naquela tarde, como fazia com frequência, Isabele Guimarães, de 14 anos,
foi à casa das amigas. Horas depois, a jovem foi morta com um tiro no rosto. A
autora do disparo Laura, também de 14 anos, relatou à polícia que atirou de
modo acidental em Isabele.
A adolescente afirmou que se
desequilibrou, enquanto segurava duas armas, e disparou. A família da Isabele
não acredita nessa versão. Laura praticava tiro esportivo desde o fim de 2019.
Ela participou de duas competições e venceu uma delas[2].
Hoje em dia, adolescentes como
Laura podem praticar tiro esportivo sem precisar de autorização judicial,
graças ao decreto assinado pelo atual presidente do Brasil. A família de Laura,
a homicida, integra uma categoria que tem crescido no país, sobretudo durante o
atual governo brasileiro: os CACs, aqueles que se declaram colecionadores de
armas, atiradores desportivos ou caçadores.
O caso nos fez rememorar o
fatídico plebiscito ocorrido no Brasil há 15 anos sobre a proibição da
comercialização de armas de fogo e munições. A implicação de tal pleito
culminou em não permitir que o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento (Lei
10826, de 23 de dezembro de 2003) entrasse em vigor. Lamentavelmente a maioria
da população brasileira apoiou a comercialização de armas de fogo, quando
detinha o poder de decidir pelo seu impedimento.
É flagrante que o resultado do
plebiscito revelou a controvertida índole moral da maioria dos meus
conterrâneos, contrariando naquela conjuntura um levantamento realizado pelo
Instituto Brasmarket, a pedido do jornal Diário do Grande ABC, demonstrando que
81,6% da população da região do ABC de São Paulo estava contra a
comercialização de arma.
É por essas e outras razões que
o Espírito André Luiz nos aconselha “afastar-nos do uso de armas homicidas, bem
como do hábito de menosprezar o tempo com defesas pessoais, seja qual for o
processo em que se exprimam. Pois o servidor fiel da Doutrina possui, na
consciência tranquila, a fortaleza inatacável”[3]. É
categoricamente falsa a segurança oferecida pelas armas no ambiente doméstico,
por exemplo, considerando o potencial de alto risco do uso da arma
“acidentalmente”, que podem causar efeitos danosos irreparáveis na vida
familiar.
O elevadíssimo investimento de
recursos econômicos em armamentos é completamente inútil e desnecessário. Por
outro lado, o desarmamento geral será uma prática de eficiência administrativa
sem prejuízo social algum, pois haverá desinteresse em conflitos internos e
externos devido à possibilidade da convivência amigável em comunidade local ou
global, implementado inclusive pela competitividade saudável no trabalho, mas
com respeito ao semelhante.
As leis e a ordem impostas à
sociedade como resposta à exigência coletiva são bem-vindas e necessárias,
porém, melhor será quando todos souberem amar e fazer ao próximo o que
desejaria que lhe fizessem, respeitando-lhe seus direitos, sobretudo o mais
fundamental como o direito à vida.
Não obstante exista no Brasil
milhares de centros espíritas, infelizmente ainda lideramos a lista mundial em
casos de mortes produzidas com a utilização de armas de fogo. Apesar disso,
cremos que nesse contexto o Espiritismo é e sempre será o instrumento por
excelência decisivo na transformação pela pacificação social.
[2] Disponível em https://br.noticias.yahoo.com/tiro-em-banheiro-e-amizade-002555064.html acesso 06/09/2020
[3] VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, Rio de Janeiro: Ed
FEB, 2003, cap. 18.
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