Anselmo Ferreira Vasconcelos
Dada a persistência de inúmeras
ocorrências desagradáveis relacionadas ao hábito de mentir, volto ao tema[2].
Por que escrevo novamente sobre
esse tema? Porque me causa espanto – e certamente o mesmo acontece para muitos
– saber que se trata de comportamento corriqueiro em nosso país. Talvez também
seja em outras nações do mundo, particularmente naquelas onde a ética ainda não
constitua uma preocupação geral. Em todo caso, não é comum encontrar notícias
dessa natureza no noticiário internacional, exceção aos Estados Unidos por
motivos óbvios.
A questão é que a mentira
apresenta muitas facetas. Aliás, não é, por exemplo, a chamada fake news uma atividade espúria que
visa, nada mais nada menos, do que macular reputações ilibadas através da
disseminação de mentiras? Com efeito, há atualmente um esforço para no mínimo
tolher esta prática abjeta, que, por incrível que pareça, é abraçada por muita
gente que faz disto uma profissão de fé.
As fake news, cumpre recordar, distorcem, confundem e, principalmente,
entesouram inverdades cruéis, que tornam mais complicada a vida das vítimas dos
comentários levianos. Portanto, é decepcionante perceber que há indivíduos que
ainda se dedicam, de maneira contumaz, ao mister da mentira. Não bastasse isto,
a prática de mentir propriamente dita – é preciso reconhecer – envolve todos os
segmentos da sociedade.
Nesse sentido, já é de amplo
conhecimento que, conforme revelam recrutadores profissionais, os candidatos a
emprego têm a péssima mania de “inflar” os seus currículos, normalmente
listando uma língua que não dominam ou experiências que nem chegaram perto de
ter. Em face disso, o profissional de recrutamento precisa ser meticuloso em
sua análise, checando e rechecando as informações prestadas pelo aspirante ao
cargo, para que a sua indicação seja precisa.
É igualmente comum – embora
indesejável – observar políticos exagerarem os seus supostos feitos ou proezas
em discursos ou falas. Lembro-me, por sinal, de uma famosa novela exibida na
minha adolescência, “O Bem-Amado”, cujo protagonista, o prefeito Odorico
Paraguaçu, extraordinariamente interpretado pelo ator Paulo Gracindo, fazia
estripulias no campo da linguagem em seus pronunciamentos para justificar as
suas tramoias.
Histórias à parte, tal hábito,
infelizmente, continua entranhado em nosso meio. Aliás, recordo-me igualmente
de certo político do passado da minha querida São Paulo, que costumava usar
este expediente para ganhar a simpatia do eleitorado. A sua fala caricaturada
era tão distante da realidade, tão eivada de inverdades, que, geralmente no dia
seguinte, os jornais tratavam de publicar artigos desmentindo-o com veemência.
Triste figura!
No entanto, mais triste ainda é
o fato de se tratar de atitude generalizada, isto é, muito longe de ser
apanágio exclusivo dos políticos espertalhões. Sabe-se agora que também
educadores mentem descaradamente sobre os seus cursos e diplomas. A propósito,
um candidato a ministro recentemente teve o seu currículo acadêmico devassado
e, para a sua infelicidade, inúmeras inconsistências foram encontradas.
O resultado foi a simples
retirada do convite para assumir posição altamente relevante na administração
pública do país. Por conta disso, esse indivíduo – embora não seja o único,
vale frisar – terá de conviver com uma dolorosa pecha para o resto dos seus
dias. O seu caso despertou a atenção para outros que também mentiram sobre os
seus títulos, mas que gozam de maior complacência. Até mesmo no Espiritismo –
valha-me Deus – há gente que afirma ter conhecido em tom de jactância este ou
aquele expoente, esquecendo-se da sempre elogiável discrição como princípio.
Seja como for, a questão central
é que mentir não é uma atitude sã. Tal desvio de conduta revela que o seu
portador possui alguma anormalidade que o impede de se apresentar ao mundo tal
como é. Por isso, independentemente das nossas características intrínsecas ou
extrínsecas, não devemos temer a atitude de empregar a verdade em todas as
ocasiões. O cultivo da verdade é diretriz seguida por almas essencialmente
maduras, cientes da sua real condição, e que não sucumbem mais aos apelos das
falsas aparências.
Consagrar-se ao hábito de
mentir, por outro lado, é conduta típica daqueles que não conseguem alcançar o
estado ou condição que propalam, e que se valem desse recurso obscuro para
alcançar vantagens ou conquistas imerecidas. Mas como não há mal que fique
indefinidamente encoberto, um dia a verdade vem à tona e com ela a vergonha de
ser desmascarado. Na verdade, os recursos tecnológicos ora existentes
contribuem significativamente para desvendar a verdadeira identidade de cada
um. Diria, por isso, que mentir é fundamentalmente perda de tempo, já que se
gasta o precioso recurso em atividades que não se sustentarão para sempre. Posto
isto, recorro uma vez mais ao ensinamento do Espírito Joanna de Ângelis, no
livro “Luz da Esperança” (psicografia de Divaldo Pereira Franco):
Acostuma-te a ser
fiel à verdade e ela estará à tua frente, abrindo-te os caminhos por onde
palmilharás, sem que receies ser por ela seguido, corrigindo as tuas
informações e dando a dimensão do teu comportamento, como sucede ao mentiroso.
Sendo assim, sejamos verdadeiros
em todas as circunstâncias de nossas vidas. Não atribuamos a nós
características ou feitos que ainda não somos capazes de realizar.
Fonte: Espiritismo na Rede
[2] Avaliei outros aspectos no seguinte artigo:
Enfrentando os males da mentira. O Consolador [On-line], ano 12, nº 578, 29 de
julho de 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário