Orson Peter Carrara
Eu conheço várias dessas
angústias. Minhas andanças pelo país e minha história de vida, também como
dirigente no passado, me trouxeram uma visão global do movimento espírita e sua
diversidade no entendimento doutrinário e suas práticas – que devemos compreender
–, gerando comportamentos e atitudes tão diversas neles próprios, que
igualmente se deparam com voluntários, tarefeiros e frequentadores, diretores,
também com a diversidade que nos é própria como seres humanos.
Todo líder ou dirigente – e não
só espírita, claro, mas em qualquer segmento – sempre se defrontará com
opositores. É natural, mas nem sempre fruto de crítica construtiva, muitas
vezes é resultante de inveja, ciúme, oposição sistemática mesmo e até desejo
simples de perturbar, por leviandade. Pense comigo:
1. Se trabalha ativamente (e aí se inclui atendimento com
fraternidade, proferindo palestras ou aulas e coordenando cursos, e até mesmo
preparando trabalhadores para continuidade natural das tarefas), é fanático ou
está querendo seguidores;
2. Se interrompe a tarefa, ainda que por enfermidade ou
problemas pessoais, é chamado de desertor ou acusado de abandono por ingratidão
e inconsciência espírita;
3. Se acompanha com atenção o andamento das diversas
frentes de trabalho, é nomeado de controlador ou que, na linguagem vulgar, “não
larga o osso de jeito nenhum”;
4. Se usa da criatividade para motivar e envolver as
pessoas, é classificado como revolucionário e desejoso de deturpar a pureza
doutrinária;
5. Se usa seus talentos pessoais é também porque quer
aparecer;
6. Se organiza as atividades e sugere sequencia para isso
é porque tem interesses;
7. Se é notado mais próximo de alguém, com mais
frequência, em necessidade é porque há interesses inconfessáveis.
8. Se se destaca pela atuação, é alvo de inveja, ciúme e
até boicote.
9. Se demonstra assiduidade nas tarefas, está abandonando
a família;
10. Se promove eventos para geração de receitas, é porque
está enriquecendo com elas;
11. Se leva adiante providências, pela omissão de outros
encarregados, é porque “passa por cima dos outros”;
12. Se toma decisões, é porque não é democrático…
13. Se fortalece a instituição ou causa a que se dedica, é
porque quer domínio sobre tudo e todos…
Claro que a lista não termina
aí, outros se acrescem, entre fatos desagradáveis de bastidores, intrigas
absolutamente dispensáveis, falatórios sem utilidade, e por aí vai, em
situações bem próprias da condição humana.
São angústias que muita gente
nem imagina, nem sabe, e que muitas vezes podemos causar sem perceber, nós
mesmos que talvez estejamos próximos e atormentando líderes natos que trabalham
pelo bem geral. Nossos comportamentos distraídos ou levianos atormentam ativos
trabalhadores do bem, retardam ações que podem beneficiar muita gente.
Estejamos atentos no que
dizemos, como dizemos, no que fazemos e como fazemos. Podemos ser levianos sem
perceber e perturbar quem trabalha. Podemos muitas vezes estar gerando
angústias, intencionais ou sem perceber, que nos custarão mais tarde lágrimas
de remorso, quando nos dermos conta da responsabilidade que, com tais atitudes,
assumimos.
Procuremos nunca nos vermos como
concorrente, não o somos. Somos criaturas tocadas pelo mesmo ideal e devemos
nos respeitar, seja em qual condição nos encontremos, fazendo-nos ativos
colaboradores, sem perturbar os trabalhos em andamento. Se achamos que podemos
fazer melhor, assumamos a responsabilidade que nos compete, sem olhar com
despeito quem trabalha.
Ainda que haja os que desejam
aparecer, que querem se projetar e dominar, ou que, entre tantas outras
situações, destoam nos campos do personalismo, da vaidade ou do egoísmo e de
pretensões descabidas, estamos todos em aprendizado, cada um amadurecendo a seu
tempo.
É incabível que nos deixemos
dominar por sentimentos vis, considerando a grandeza da Doutrina Espírita,
quando o dever igualmente nos chama ao trabalho constante do bem.
Fonte: Kardec Rio Preto
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