sábado, 29 de fevereiro de 2020

NÃO SE DEIXE ENGANAR[1]



Orson Peter Carrara

Se você se sente perturbado, angustiado, necessitado de orientação e busca respostas ou ajuda, fique atento. Nem sempre essa ajuda será oferecida por pessoas honestas ou comprometidas com o bem-estar do semelhante. Por ignorância (não no sentido pejorativo, mas sim no sentido de não saber mesmo), despreparo ou más intenções mesmo (como infelizmente tem ocorrido até com certa frequência), muita orientação oferecida se transforma em desdobramentos lamentáveis, com prejuízos emocionais e psicológicos de expressão na vida de muita gente.
Ao procurar um centro espírita, por exemplo, para pedir ajuda ou buscar respostas, preste atenção. Se a pessoa que te atender te amedrontar, te assustar, ameaçar, chantagear ou mesmo te cercar de informações esdrúxulas, detalhando seu passado ou seu futuro e até fizer previsões ou mesmo indicar perseguições espirituais, esqueça! Isso não é uma orientação espírita. O grupo que você foi pode até estar preparado, pode desfrutar de bom conceito, mas a pessoa que atendeu está completamente despreparada ou não foi bem orientada. Essa pessoa está usando pontos de vista pessoais e não conhece o Espiritismo.
O serviço de atendimento fraterno de uma instituição espírita ou mesmo qualquer pessoa chamada de espírita que você procure para conversar e pedir orientação, não existe para te assustar ou te ameaçar. O diálogo com qualquer pessoa de bom senso deve primar-se pela ordem, pelo respeito mútuo, numa análise ponderada, sem uso de argumentos ou citações que piorem a situação.
Ninguém tem o direito de ameaçar, explorar, ditar procedimentos, exigir. Podemos sugerir, claro, o que não significa que será aceito, o que se enquadra na liberdade individual da escolha a ser feita. Portanto, se você está diante de pessoa que ameace, ordene, exija ou tente qualquer tipo de exploração, esqueça. Isso não é orientação espírita. Esse não é um espírita.
Isso contrasta totalmente com a orientação espírita.
Num centro espírita sério não há revelações do passado ou do futuro, não há previsão de datas ou acontecimentos, não há consultas a torto e direito (usando expressão popular) aos espíritos para as mínimas questões que nós mesmos podemos discernir ou resolver. Aliás, dependência de espíritos é outro equívoco que você pode prestar atenção. Não temos que seguir pessoas, médiuns ou espíritos, temos que seguir a Jesus, o único infalível que pisou neste planeta.
Se você perceber que há dependência de tal médium, de tal espírito, isso deixa de ser prática espírita. Poderá ser prática mediúnica, mas não espírita. O fenômeno pode ser real, mas deixa de ser espírita, pois que o fenômeno espírita se prima pelo desejo único de auxiliar as pessoas, sem qualquer tipo de ritual ou dependência de médiuns ou espíritos, atendentes ou palestrantes, todos instrumentos da Bondade Divina, mas livres para escolher caminhos de equívocos, aos quais responderão pelos desdobramentos advindos, no devido tempo. Cuidado e prudência, pois. E você, naturalmente, vai ser perguntar: Mas como vou saber a quem procurar com segurança?
É simples e fácil: basta observar com atenção. Qualquer prática que traga em seu contexto ausência do bem e mistura de personalismo, ou indique malícia, exploração de qualquer tipo ou mesmo imposições e até mesmo previsões e também informações fáceis sobre passado e futuro, esqueça. Isso não é prática espírita. Isso é mediunismo sem responsabilidade.
E se exigir que você faça algo, seja um pagamento ou um comportamento, afaste-se. Isso não é Espiritismo. Pode ser o que for, mas não é Espiritismo. Espiritismo é simplicidade, fé, fraternidade. Se não houver bondade com simplicidade, está manchado pelo egoísmo humano que busca outros propósitos.
Não se deixe enganar, pois. Busque ajuda sempre que precisar, com quem lhe mereça confiança.
Sempre que houver exigências ou imposições, desconfie. Busque sim, um grupo sério, espírita ou de qualquer outra crença, onde haja sinceridade e desejo do bem. Isso é o que importa.
Nenhum de nós pode se colocar no pedestal de orientadores. Somos todos aprendizes, desejando aprender uns com os outros. Toda vez que alguém se coloca na posição de sábio e infalível, pronto, já começou aí sua derrocada. Se encontrar alguém assim, ele é digno de nossa compaixão e precisa de preces, pois está se perdendo na própria vaidade.


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O MITO DA ALMA GÊMEA[1]



Momento Espírita

Aristófanes, poeta cômico grego, contemporâneo de Sócrates, afirmou que no começo os homens eram duplos, com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas. Esses seres mitológicos eram chamados de andróginos.
Os andróginos podiam ter o mesmo sexo nas duas metades, ou ser homem numa metade e mulher na outra.
Bem, isso tudo Aristófanes criou para explicar a origem e a importância do amor.
O mito fala que os andróginos eram muito poderosos e queriam conquistar o Olimpo dos deuses, e para isso construíram uma gigantesca torre. Os deuses, com o intuito de preservar seu poder, decidiram punir aquelas criaturas orgulhosas dividindo-as em duas, criando, assim, os homens e as mulheres.
Segundo o mito, é por isso que homens e mulheres vagueiam infelizes, desde então, em busca de sua metade perdida. Tentam muitas metades, sem encontrar jamais a certa.
A parte do mito sobre a origem da humanidade perdeu-se ao longo das eras, mas a ideia de que o homem é um ser incompleto, em sua essência, perdura até hoje. Talvez seja em função disso que o ser humano busca, incessantemente, por sua alma gêmea para preencher sua carência afetiva.
Embora o romantismo tenha sustentado esse mito por milênios, e muitos de nós desejemos que exista nossa metade eterna, é preciso refletir sobre isto à luz da razão.
Se fôssemos seres incompletos, perderíamos nossa individualidade. Seríamos um espírito pela metade, e não poderíamos progredir, conquistar virtudes, ser feliz, a menos que nossa outra metade se juntasse a nós.
É certo que vamos encontrar muitas pessoas na face da Terra com as quais temos muitas coisas em comum, mas são seres inteiros, e não pela metade.
O que ocorre é que, quando convivemos com uma pessoa com a qual temos afinidades, desejamos retê-la para sempre ao nosso lado.
Até aí não haveria nenhum inconveniente, mas acontece que geralmente desejamos nos fundir numa só criatura, como os andróginos do mito. E nessa tentativa de fusão é que surge a confusão, pois nenhuma das metades quer abrir mão da sua forma de ser.
Geralmente tentamos moldar o outro ao nosso gosto, violentando-lhe a individualidade.
O respeito ao outro, a aceitação da pessoa do jeito que ela é, sem dúvida é a garantia de um bom relacionamento.
Assim, a relação entre dois inteiros é bem melhor do que entre duas metades.
As diferenças é que dão a tônica dos relacionamentos saudáveis, pois se pensássemos de maneira idêntica à do nosso par, em todos os aspectos, não teríamos uma vida a dois.
Pessoas com ideias diferentes têm grande chance de crescimento mútuo, sem que uma queira que o outro se modifique para que se transformem num só.
Assim, vale pensar que embora o romantismo esteja presente em novelas, filmes, peças teatrais, indicando que a felicidade só é possível quando duas metades se fundem, essa não é a realidade. Todos somos espíritos inteiros, a caminho do aperfeiçoamento integral.
Não seria justo que nossos esforços por conquistar virtudes fosse em vão, por depender de outra criatura que não sabemos nem se tem interesse em se aperfeiçoar.
Por todas essas razões, acredite que você não precisa de outra metade para ser feliz.
Lute para construir na própria alma um recanto de paz, de alegria, de harmonia e segurança, como espírito inteiro que é.
Só assim você terá mais para oferecer a quem quer que encontre pelo caminho, com sua individualidade preservada e com o devido respeito à individualidade do outro.


Fonte: Momento Espírita
Baseado no cap. II, do livro "A Filosofia e a Felicidade", de Philippe Van Den Bosch

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

A EVOLUÇÃO DOS ANJOS[1]



Miramez

Os anjos também percorreram todos os graus?
‒ Percorreram todos. Mas, como já dissemos: uns aceitaram a sua missão sem murmurar e chegaram mais depressa; outros empregaram maior ou menor tempo para chegar à perfeição.
Questão 129/O Livro dos Espíritos

Os processos de despertamento das criaturas de Deus são diversos, como já o dissemos em variadas oportunidades; não obstante, todos eles nos levam a perfeição. Ainda é preciso dizer mais: que o Espírito nasce das mãos do Criador com Seus atributos em estado latente, esperando golpes do tempo pelas mãos do espanco. Leis vigoram por todos os ângulos da grande vinha do Senhor, inspirando e movimentando, do protozoário aos maiores benfeitores que dirigem os mundos.
Podemos comparar a linha evolutiva dos Espíritos, desde a sua formação a angelitude, como as vidas humanas, desde o berço ao tumulo. As diferenças são enormes entre os seres humanos, diferenças estas que partem da maturidade, que nunca é igual, do tempo de vida de cada ser. Os Espíritos, igualmente, são assim: eles se diferenciam pelo tempo. Certamente, os mais velhos carregam consigo maior número de experiências, e essas experiências lhes conferem despertamento mais seguro. Não negamos o livre arbítrio de todas as criaturas de Deus, porém, não podemos nos esquecer das suas limitações em todas as direções em que foram chamadas a viver.
Os Espíritos saem de Deus em forma de energia divina, dotados de todos os poderes, que pulsam na sua intimidade, como sendo segredos da Divindade, e percorrem todas as estações de aprendizado. Em cada uma desabrocham valores registrados pela eternidade, enriquecendo condições para que surja a razão como conquista da sua trajetória. Essa energia desce, experimentando todos os tipos de opressões ambientais, se intensificando em uma unidade grandiosa, para depois surgir o milagre da individualidade.
Esses processos ainda escapam às pesquisas da ciência dos homens, mas no alvorecer de um amanhã próximo, poderás ter algumas noticias sobre o Espírito imortal, sua vida e sua volta ao Criador, na feição do Espírito filho deste mesmo Deus, onde poderá desfrutar das glórias espirituais com plena consciência de si mesmo. É nessa descida e subida, nesse esforço permanente do Espírito, que a vida toma novas dimensões, pelo acervo de luzes acumuladas na sua estrutura mais intima, como sendo o sol em completa conexão com o sol maior. Nunca podemos dizer que uns sofrem tormentos dos seus próprios erros e outros não, que o despertamento de uns se processam sem sacrifícios, enquanto outros foram torturados pelos seus desequilíbrios, como sendo demônios.
O livre arbítrio se expressa noutro sentido, de difícil entendimento, mesmo para os espiritualistas. Os que escolhem o mal são Espíritos aos quais faltam experiências no campo de ascensão. O que chamamos de mal convida a alma com as facilidades inerentes as suas ilusórias conquistas, e todos nós passamos pelas ilusões da vida. Como precisamos da teoria, para que comecemos as práticas, ninguém toma água, sem primeiro ter a sede, nem come sem apresentar a fome, e pessoa alguma veste, sem primeiro estar nua. Como não passar pelas experiências, para depois vivê-las? Ninguém parte de Deus retamente, sem nenhum problema. As contradições, nós mesmos é que as criamos, para nós mesmos as resolveremos, assegurando o próprio mérito no coração, como sendo o esforço da boa luta.




[1] Filosofia Espírita – Volume 3 – João Nunes Maia

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

EXPERIMENTOS COM “CRISPR” VÃO APRIMORAR TÉCNICA EM HUMANOS[1]



Nina Gattis, editado por Liliane Nakagawa 05/02/2020 21h02

Testes em seres humanos já constataram a segurança da técnica, que corta e edita genes para mudar o quadro de doenças ou impedir que elas aconteçam.
A CRISPR[2], técnica que corta e edita o DNA, está mais perto do que nunca de viabilizar a alteração e a substituição de genes para tratar ou evitar doenças em seres humanos.
Conhecida pela sigla CRISPR-Cas9, a técnica teve seu uso em humanos descrito pela primeira vez em setembro de 2019, num artigo para a revista acadêmica “New England Journal of Medicine”. O imunologista Deng Hongkui e sua equipe de pesquisadores da Universidade de Pequim, na China, relataram o teste em um homem de 27 anos acometido por leucemia, câncer causado pela proliferação de células de defesa imaturas, e portador de HIV, o vírus da AIDS – doenças que afetam os linfócitos.
Antes de inserir as células da medula óssea de um doador saudável no paciente, os médicos utilizaram a CRISPR para desativar o gene que continha a receita de uma proteína a qual servia como porta de entrada para o HIV invadir os linfócitos. O sucesso do procedimento foi parcial e, um ano e meio depois, a leucemia permaneceu em remissão e a nova medula continuou a produzir linfócitos saudáveis, embora apenas 5% deles apresentassem a alteração protetora. Com o atestado de que a CRISPR é viável e segura, os pesquisadores decidiram “melhorar a técnica antes de tratar outros pacientes”.
Apesar de não ser a única técnica que visa modificar ou inativar genes em seres humanos, a CRISPR é a mais simples e barata, já que é formada por uma proteína – molécula grande e complexa de reproduzir em laboratório – e um RNA[3] – pequeno e simples de ser reproduzido –, contra as outras técnicas que utilizam duas ou mais proteínas artificiais.
“Produzir sequências curtas de RNA em laboratório é banal e barato, o que torna a CRISPR mais versátil e acessível do que qualquer outra técnica de edição gênica”, explicou Carlos Menck, geneticista da Universidade de São Paulo.
O que não falta são testes com a técnica em animais e plantas. Agora, com o início dos tratamentos experimentais em seres humanos, a CRISPR pode se tornar recorrente nos próximos anos.




[2] O sistema CRISPR (do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), consiste em pequenas porções do DNA bacteriano compostas por repetições de nucleotídeos.
[3] O RNA (ácido ribonucleico) é uma molécula responsável pela síntese de proteínas das células do corpo. Sua principal função é a produção de proteínas. Por meio da molécula de DNA, o RNA é produzido no núcleo celular, sendo encontrado também no citoplasma da célula. A sigla de RNA vem da língua inglesa: RiboNucleic Acid.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

UM EGOÍSTA[1]



Allan Kardec

No dia 10 de janeiro de 1865, um dos nossos correspondentes de Lyon nos transmitiu o seguinte relato:
Numa localidade vizinha, conhecíamos um indivíduo, cujo nome omitimos, para não sermos maledicentes e porque o nome nada tem com o fato. Era espírita e, sob o domínio dessa crença se melhorou, embora não a tivesse aproveitado tanto quanto poderia tê-lo feito, devido à sua inteligência. Vivia com uma velha tia, que o amava como filho, e que não poupava trabalhos nem sacrifícios por seu caro sobrinho. Por economia era a boa mulher que cuidava da casa. Até aí tudo muito natural; o que o era menos é que o sobrinho, jovem e em boa forma, a deixava fazer trabalhos acima de sua força, sem que jamais lhe acudisse à ideia poupar-lhe marchas penosas para a sua idade, o transporte de fardos e coisas semelhantes. Na casa não mudava um móvel de lugar, como se tivesse criados às suas ordens; e mesmo que previsse algum penoso serviço excepcional, arranjava um pretexto para se abster, temeroso de que lhe pedissem um auxílio, que não poderia recusar.
Entretanto, havia recebido várias lições a respeito, poder-se-ia dizer afrontas, capazes de fazer refletir um homem de coração; mas era insensível. Um dia em que a tia se extenuava rachando lenha, lá estava ele sentado, fumando tranquilamente o seu cachimbo.
Entrou um vizinho e, vendo isto, lançou um olhar de desprezo sobre o rapaz e disse: “Isto é trabalho para homem, e não para mulher”. Depois, tomando o machado, pôs-se a rachar a lenha, enquanto o outro olhava. Era estimado como um homem decente e de boa conduta, mas porque seu caráter não tivesse amenidade nem perseverança, não era apreciado e a maioria dos amigos se haviam afastado. Nós, espíritas, nos afligíamos por essa dureza de coração e dizíamos que um dia ele pagaria muito caro por isso.
A previsão realizou-se ultimamente. Devo dizer que, em consequência dos esforços que fazia, a velha senhora foi acometida por uma hérnia muito grave, que a fazia sofrer muito, mas que ela tinha coragem para não se lamentar. Durante esses últimos frios, provavelmente querendo esquivar-se a um trabalho penoso, o sobrinho saiu cedo e não voltou. Ao atravessar uma ponte, foi atingido pela queda de uma viatura e arrastado por uma encosta; morreu duas horas depois.
Quando fomos informados do fato, quisemos evocá-lo, e eis o que nos foi respondido por um dos nossos guias:
Aquele a quem quereis chamar não poderá comunicar-se antes de algum tempo. Venho responder por ele e vos dizer o que quereis saber; mais tarde ele vo-lo confirmará. Neste momento ele está muito perturbado pelos pensamentos que o agitam. Vê a tia e a doença que ela contraiu em consequência das fadigas corporais e da qual ela morrerá. É isto que o atormenta, pois se considera como o seu assassino. E o é, com efeito, já que lhe podia poupar o trabalho que será a causa de sua morte. Para ele é um remorso pungente que o perseguirá por muito tempo, até que tenha reparado a sua falta. Ele queria fazê-lo; não deixa a tia, mas seus esforços são inúteis e, então, se desespera. É preciso, para o seu castigo, que a veja morrer devido à sua negligência egoísta, porque sua conduta é uma variedade do egoísmo. Orai por ele, a fim de que possa manter o arrependimento, que mais tarde o salvará.
 – Nosso caro guia poderia dizer-nos se não lhe serão levados em conta outros defeitos de que se corrigiu por causa do Espiritismo e se sua posição não se abrandou?
– Sem nenhuma dúvida, essa melhora lhe é levada em conta, pois nada escapa ao olhar perscrutador da divina Providência. Mas eis de que maneira cada boa ou má ação tem suas consequências naturais, inevitáveis, conforme estas palavras do Cristo: “A cada um segundo as suas obras.” Aquele que se corrigiu de algumas faltas se poupa da punição que elas teriam acarretado e, ao contrário, recebe o prêmio das qualidades que as substituíram; mas não pode escapar às consequências dos defeitos que ainda ficaram. Assim, não é punido senão na proporção e conforme a gravidade destes últimos; quanto menos os tiver, melhor a sua posição. Uma qualidade não resgata um defeito; diminui o número destes e, por conseguinte, a soma das punições.
Os defeitos dos quais se corrigem primeiro, são os mais fáceis de ser extirpados, e aquele do qual se libertam mais dificilmente é o egoísmo. Julgam ter feito bastante porque moderaram a violência do caráter, se resignaram à sorte ou se livraram de alguns maus hábitos; sem dúvida é algo que aproveita, mas não impede de pagarem o tributo de depuração pelo resto.
Meus amigos, o egoísmo é o que melhor se vê nos outros, porque sentimos o seu contragolpe e porque o egoísta nos fere; mas o egoísta encontra em si mesmo sua satisfação, razão por que dele não se apercebe. O egoísmo é sempre uma prova de secura do coração; estiola a sensibilidade para os sofrimentos alheios. O homem de coração, ao contrário, sente esse sofrimento e se emociona; é por isto que se sacrifica para os poupar ou os mitigar nos outros, porque gostaria que fizessem o mesmo por ele.
Assim, é feliz quando evita uma pena ou um sofrimento a alguém; tendo-se identificado com o mal de seu semelhante, experimenta um alívio real quando não mais existe o mal. Contai com o seu reconhecimento se lhe prestardes serviço; mas do egoísta não espereis senão a ingratidão; o reconhecimento em palavras nada lhe custa, mas em ação o fatigaria e lhe perturbaria o repouso. Só age por outro quando forçado, e jamais espontaneamente; seu apego está na razão do bem que espera das pessoas, e isto algumas vezes mal grado seu. O rapaz de quem falamos certamente gostava da tia e se teria revoltado se lhe tivessem dito o contrário; contudo, sua afeição não chegava a ponto de fatigar-se por ela; de sua parte não era um desígnio premeditado, mas uma repulsa instintiva, consequência de seu egoísmo nato. A luz que não soubera achar em vida, hoje lhe aparece e ele lamenta não ter aproveitado melhor os ensinamentos que recebeu. Orai por ele.
O egoísmo é o verme roedor da sociedade, é mais ou menos o de cada um de vós. Em breve eu vos darei uma dissertação, na qual ele será encarado sob seus diversos matizes; será um espelho; olhai-o com cuidado, para ver se não percebeis num canto qualquer um reflexo de vossa personalidade.
Vosso guia espiritual




[1] Revista Espírita – Setembro/1865 – Allan Kardec

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

WILLIAM JAMES[1]




William James, nasceu em 11 de janeiro de 1842, na cidade de Nova Iorque, Nova York, EUA e faleceu em 26 de agosto de 1910, na cidade de Chocorua, Nova Hampshire, EUA.
Professor de psicologia na Universidade de Harvard, obteve seu MD em 1869 e depois ensinou fisiologia e filosofia. Um dos fundadores da ASPR[2], presidente da SPR[3] em 1894-1895, vice-presidente de 1896(!)-1910.
A descoberta da mediunidade da Sra. Piper para a SPR deveu-se ao Prof. James, que após sua visita a Sra. Piper com sua esposa, escreveu: 
Minha impressão era de que a Sra. Piper possuía poderes supernormais ou conhecia os membros da família de minha esposa de vista e, por alguma coincidência de sorte, se familiarizou com uma infinidade de suas circunstâncias domésticas que produziram a surpreendente impressão sobre ela. 

 James teve muito cuidado para não revelar o nome dele e de sua esposa. Ele continuou dizendo: 
 Meu conhecimento posterior de suas sessões e familiaridade com ela me levaram a rejeitar completamente a última explicação e a acreditar que ela tem poderes sobrenaturais. 

 Por 18 meses, Após suas primeiras experiências, o Prof. James ficou, durante 18 meses, praticamente encarregado de todos os arranjos para as sessões da Sra. Piper. Quando, devido a outros deveres, abandonou suas investigações por um período de dois anos, escreveu à SPR e induziu-a a envolver a senhora Piper em experimentos. 
 Sobre suas investigações pessoais ele escreveu:
O resultado é me fazer sentir tão absolutamente certo quanto eu de qualquer fato pessoal no mundo de que ela saiba coisas em seus transes que ela não pode ter ouvido no estado de vigília. 

 Ele admitiu que existe uma forte presunção em favor da sobrevivência quando a seguinte mensagem, obtida enquanto a Srta. Robbins estava sentada com a Sra. Piper, foi submetida a ele: 
 Há uma pessoa chamada Child, que de repente veio e envia seu amor a William e a sua própria esposa que vive. Ele diz que L ... 

 Nem a senhorita Robbins nem a Sra. Piper conheciam Child, amiga íntima de William James e cujo nome cristão começa com L.
 No outono de 1899, a Sra. Piper fez uma visita ao professor James em sua casa de campo em New Hampshire. Lá, ele aprendeu a conhecê-la pessoalmente melhor do que nunca. 
Alta L. Piper, filha da Sra. Piper, escreveu em sua biografia da Sra. Piper:
Foi em grande parte devido ao encorajamento compreensivo e à compreensão das muitas dificuldades, com as quais ela se viu confrontada nos primeiros dias de sua carreira, que minha mãe foi capaz de aderir sem restrições ao curso oneroso que ela se propusera a seguir.   

 Numa palestra frequentemente citada em 1890, o Prof. James declarou: 
 Para perturbar a conclusão de que todos os corvos são negros, não há necessidade de procurar demonstração de que nenhum corvo é preto; é suficiente produzir um corvo branco; um único é suficiente. 

 Ele proclamou a Sra. Piper como seu "único corvo branco".
 Em Oxford, em 1909, em uma palestra, ele anunciou sua firme convicção de que "a maioria dos fenômenos da pesquisa psíquica está enraizada na realidade".
 Suas obras mais famosas incluem “As Variedades da Experiência Religiosa” e “A Vontade de Acreditar”, ambas publicadas em Londres em 1902.


Fonte (com pequenas modificações): Uma Enciclopédia da Ciência Psíquica de Nando Feodor (1934).




[2] American Society for Psychical Research
[3] Society for Psychical Research (London)

sábado, 22 de fevereiro de 2020

CARNAVAL – NÃO HÁ OUTRA DISPOSIÇÃO QUE NÃO SEJA O DA ABSTINÊNCIA ESPONTÂNEA DO FOLGUEDO [1]



Jorge Hessen

Não fossem os excessos de toda ordem, o carnaval, como festa de manifestação sociocultural, poderia se tornar um evento como outro qualquer. Há pessoas que buscam fazer da “festa” uma ocasião de perspectiva econômica, oportunizando empregos, abrigando menores, e isso talvez tenha lá o seu valor social. Todavia, a bem da verdade, a relação de custo-benefício do saldo da homenagem a Momo se resume em três palavras: violência, ilusão e sensualidade.
A rigor, o que o carnaval proporciona ao Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? É de se perguntar: será que vale a pena pagar preço tão elevado por uns dias de insano delírio coletivo?
Muitos histéricos adoradores de Momo destroem as finanças familiares para degustar a atração efêmera de curtir três dias de completa demência. Marmanjos e donzelas se abandonam nas emboscadas viscosas das drogas lícitas e ilícitas.
Malfeitores das escuridões extrafísicas se conectam aos apatetados fantasiados pelos invisíveis hipnotizadores dos nevoeiros umbralinos, em face dos entulhos lascivos que semeiam no mundo mental. O Espírito Emmanuel avisa:
Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (…) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem[2].

Pactos lúgubres são preparados no além-tumba e levados a efeito nessas ocasiões em que Momo domina voraz sobre as pessoas que se consentem desmoronar na festa assombrosa. Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas reparações.
A princípio, o Espiritismo não estimula nem recrimina o Carnaval e respeita todos os sentimentos humanos. Porém, será que a farra carnavalesca, vista como uma manifestação popular, consegue satisfazer os caprichos da carne sem deteriorar o espírito?  Será lícito confundir “diversão” passageira com alegria essencial?
Os cínicos foliões declaram que o carnaval é um extravasador de tensões, “liberando as energias”… Entretanto, no carnaval não são serenadas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se observa é um somatório da bestialidade urbana e de desventura doméstica.
Aparecem após os funestos três dias momescos as gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de abortos, incidem acidentes automobilísticos, ampliação da criminalidade, estupros, suicídios, aumento do consumo de várias substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o aparecimento de novos viciados, dispersão das moléstias sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e as chagas morais, assinalando, densamente, certas almas desavisadas e imprevidentes.
Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da “abstinência espontânea dos folguedos”, do controle das sensações e dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo; o entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológica para os embates pela sobrevivência.




[2] XAVIER , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

CARNAVAL: UMA FESTA ESPIRITUAL[1]



Geraldo Campetti Sobrinho

É natural que queiramos saber a visão espírita sobre o carnaval. O que o Espiritismo diz sobre o assunto?
Opiniões materialistas de apoio e espiritualistas de condenação reforçam a consagrada dicotomia entre o mal e o bem, a sombra e a luz, o errado e o certo, o material e o espiritual. A visão maniqueísta do a favor ou do contra, do conflito entre dois lados opostos, é tendência comum para registrar o posicionamento de adeptos e críticos ante a curiosa temática.
Por mais que argumentemos, eis uma questão que continuará suscitando acerbas discussões durante muito tempo, até que ela deixe de ter importância. Ainda não é a nossa situação. Falar sobre o carnaval é necessário, pois vivemos a festividade anualmente, com data marcada: a mais comemorada e outras tantas, que se prolongam no decorrer do ano em várias regiões do país e do planeta.
Para que possamos entender melhor o tema, é necessário que percebamos o seu real significado. A par de todas as movimentações de planejamentos e preparativos, ações e zelo – que denotam certa arte e cultura na apresentação de desfiles com seus carros alegóricos e foliões ‒, somadas as festividades de matizes diversificados, em que grupos se reúnem para comemorações sem medida, não podemos deixar de reconhecer que o carnaval é uma festa espiritual.
O culto à carne evoca tudo o que desperta materialidade, sensualidade, paixão e gozo. O forte apelo do período que antecede, acompanha e sucede o evento ao deus Mamon guarda íntima relação com o conúbio de energias entre os dois planos da vida, o físico e o extrafísico, alimentado pelos participantes, “vivos de cá e de lá”, que se deleitam em intercâmbio de fluidos materialmente imperceptíveis à maioria dos carnavalescos encarnados.
Vivemos em constante relação de intercâmbio, conectando-nos com os que nos são afins pelos pensamentos, gostos, interesses e ações. Sem que nos apercebamos, somos acompanhados por uma “nuvem de testemunhas”, que retrata nossa situação íntima.
Não cabe a análise sob a ótica de proibições ou cerceamento de vontades. Todos somos livres para fazer as escolhas que julgarmos convenientes. Porém, não podemos nos esquecer de que igualmente somos responsáveis, individual ou coletivamente, pelas opções definidas em nossa vida.
O Espiritismo não condena o carnaval, mas, também, não estimula suas festividades. Nesse período são cometidos excessos de todos os graus, com abusos e desregramentos no âmbito do sexo, das drogas, da violência; exageros que extravasam desequilíbrio e possibilitam a atuação de espíritos inferiores que se locupletam com a alimentação de fluidos densos formadores de uma ambiência espiritual de baixo teor vibratório.
Carnaval é, de fato, uma festa espiritual. Porém, eu não quero participar dessa festa. E você?
O espírita verdadeiro pode e deve aproveitar o feriado prolongado para estudar, trabalhar, ajudar aos outros e conectar-se com o Plano Maior da Vida em elevada festividade espiritual que nos faz bem, proporcionando real alegria e plenitude ao Espírito imortal.

Fonte: FEBNet




[1] https://gecasadocaminhosv.blogspot.com/2019/03/carnaval-uma-festa-espiritual-geraldo.html

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

O EGOÍSMO[1]

Se você é egoísta essa animação vai fazer você mudar de indeia


Miramez

Entre os vícios, qual o que podemos considerar radical?
‒ Já o dissemos muitas vezes: o egoísmo. Dele deriva todo o mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe egoísmo. Por mais que luteis contra eles não chegareis a extirpá-los enquanto não os atacardes pela raiz, enquanto não lhes houver destruído a causa. Que todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade. Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades.
Questão 913/O Livro dos Espíritos

O egoísmo é verdadeiramente a chaga mais difícil de ser curada, no seio da sociedade humana. Ele gera todas as infenondades, incompatíveis com a justiça, o amor e a caridade.
Encontra-se na profundeza das almas, inspirando-as para todos os tipos de mal que se possa imaginar. É capaz de mostrar o orgulho ativando muitos sentimentos que embrutecem o Espírito, pedindo somente para si, esquecendo-se de todos os outros.
Quem deseja crescer para a espiritualidade superior, deve combater o orgulho e o egoísmo em todas as suas rates, buscando arrancá-la na sua profundidade. Para isso, necessário se faz usar a inteligência, esforçando-se com a razão para descobrir onde se encontra radicado o egoísmo e trabalhar sem esmorecer para combatê-lo.
Do egoísmo derivam todos os males da sociedade. Quando as nações do mundo compreenderem essa verdade e passarem a fazer leis que se afastam do egoísmo, essas nações estarão doando o melhor para os povos. Quando falamos nestes dois antagonistas da felicidade, damos os meios de combatê-los, mas, inspirados em Jesus, que para nós é a exemplificação do amor e da renúncia. Desta forma, esses dois inimigos dos povos não encontram lugar para viver.
Jesus renunciou à sua vida plena de amor nos Céus, para estimular nos homens as virtudes.
Abracemos, pois, o desapego das coisas inferiores, renunciando a tudo que não nos ajude a subir. Procurando por todos os meios ajudar, servindo-nos de exemplos de fé, na conquista do amor, entreguemo-nos à fraternidade, que ela nos protegerá de todos os males, em todos os caminhos.
Em Lucas, observamos o aviso de Jesus para todos os males que o egoísmo e o orgulho geram, no capítulo vinte, versículo quarenta e seis:
Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar, com estes talares, e muito apreciam as saudações nas praças, as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes.
Daí é que nasce o egoísmo com todas as suas ramificações para a vida no mal, que passa a matar as sementes das virtudes que devem crescer no coração humano. Não devemos nos esquecer da humildade em todos os momentos da vida e, em seguida, do amor, da bondade e do saber. Guardemo-nos, igualmente, das lisonjas, que nos envaidecem. No amanhã, aqueles que hoje nos elogiam, podem passar a apedrejar, a caluniar, violentando a nossa mente, por não terem os valores que já possuímos. Eis o ciúme do ignorante, processando-se no ambiente da ignorância.
O egoísmo, por mais que se lhe dê combate, ainda deixa algo de si na sua estrutura de vida, que pode de novo nascer. Somente o amor isola essa praga, esse inimigo terrível do coração.
Não nos esqueçamos de Jesus, que o Mestre nos ensina como livrar-nos deste inimigo, transformando-o em amor e caridade.




[1] Filosofia Espírita – Volume 18 – João Nunes Maia

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

NANOPARTÍCULA FAZ CÉLULA DESENTUPIR ARTÉRIA E EVITAR ATAQUE CARDIÁCO[1]



Vinicius Szafran, editado por Liliane Nakagawa 04/02/2020 22:10

Uma equipe de cientistas dos Estados Unidos criou uma nanopartícula que estimula os monócitos e macrófagos, células de defesa do organismo, a comerem placas de gordura, cálcio e outras substâncias que causam o entupimento das artérias. A descoberta foi publicada na revista “Nature Nanotechnology” e representa um grande avanço no combate à aterosclerose, uma doença cardíaca que atinge dois milhões de pessoas por ano no Brasil.
A nanopartícula é colocada dentro das células imunes, que são responsáveis por combater corpos estranhos no organismo. Então, ela libera um medicamento para estimular os macrófagos a sugar e comer as células mortas e doentes. Isso reduz e estabiliza o tamanho da obstrução dos vasos.
Naturalmente, os macrófagos já realizam esse trabalho de limpeza do organismo. No entanto, no caso desse tipo de doença cardíaca, as células de defesa dependem de um estímulo para selecionar aquelas moléculas que estão entupindo as veias, para depois eliminá-las.
"Descobrimos que podemos estimular os macrófagos a comer seletivamente células mortas que causam ataques cardíacos", explicou Bryan Smith, professor da Michigan State University envolvido na pesquisa. "E nós podemos colocar a nanomolécula dentro dos macrófagos para mandá-los comer novamente".
O pesquisador disse que, futuramente, as nanodrogas podem reduzir o risco de diversos tipos de ataques cardíacos com menos efeitos colaterais para os pacientes. Isso será possível graças ao local em que será depositado o medicamento – no caso, no interior das células imunes; hoje, elas são depositadas na superfície.
A descoberta demonstra que os nanomateriais são capazes de procurar e enviar uma mensagem para as células necessárias ao combate de doenças cardíacas. "Nosso trabalho futuro incluirá o uso desses nanomateriais em modelos de animais grandes e testes em tecidos humanos", concluiu Smith. "Acreditamos que é melhor que os métodos anteriores". O cientista americano registrou uma patente provisória e começará a comercializá-la ainda este ano.

Via: UOL

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

CURA DE UMA FRATURA PELA MAGNETIZAÇÃO ESPIRITUAL[1]



Allan Kardec

Sem dúvida nossos leitores se lembram do caso de cura quase instantânea de uma entorse operada pelo Espírito Dr. Demeure, poucos dias depois de sua morte e que relatamos na Revista do mês de março último, bem como a descrição da cena tocante ocorrida naquela ocasião. Esse bondoso Espírito acaba de revelar sua boa vontade por uma cura ainda mais maravilhosa, na mesma pessoa.
Eis o que nos escreveram de Montauban, em 14 de julho de 1865:
O Espírito Dr. Demeure acaba de nos dar uma nova prova de sua solicitude e de seu profundo saber. Eis em que ocasião:
Na manhã de 26 de maio último, a Sra. Maurel, nossa médium vidente e escrevente mecânico, sofreu uma queda desastrosa e quebrou o antebraço, um pouco abaixo do cotovelo.
Essa fratura, complicada por distensões no punho e no cotovelo, estava bem caracterizada pela crepitação dos ossos e inchação, que são os sinais mais certos.
Sob a impressão da primeira emoção produzida pelo acontecimento, os pais da Sra. Maurel iam procurar o primeiro médico que surgisse quando esta, retendo-os, tomou de um lápis e escreveu mediunicamente com a mão esquerda: “Não procureis um médico; eu me encarrego disto. Demeure.” Então esperaram com confiança.
Conforme as indicações do Espírito, pequenas faixas e um aparelho foram imediatamente confeccionados e colocados.
Em seguida foi feita uma magnetização espiritual praticada pelos Espíritos bons, que ordenaram um repouso temporário.
Na noite do mesmo dia, alguns adeptos, convocados pelos Espíritos, se reuniram em casa da Sra. Maurel que, adormecida por um médium magnetizador, não demorou a entrar em estado sonambúlico. Então o Dr. Demeure continuou o tratamento que havia iniciado pela manhã, agindo mecanicamente sobre o braço fraturado. Sem outro recurso aparente senão sua mão esquerda, nossa doente logo já tinha tirado o primeiro aparelho, deixando apenas as faixas, quando se viu insensivelmente e sob a influência da atração magnética espiritual, o membro tomar diversas posições, próprias para facilitar a redução da fratura.
Parecia, então, ser objeto de toques inteligentes, sobretudo no ponto onde devia efetuar-se a soldadura dos ossos; depois se alongava, sob a ação de trações longitudinais.
Após alguns instantes dessa magnetização espiritual, a Sra. Maurel procedeu sozinha à consolidação das faixas e a uma nova aplicação do aparelho, que consistia em duas tabuinhas ligadas entre si e ao braço por meio de uma correia. Tudo, pois, se passara como se hábil cirurgião tivesse, ele mesmo, operado visivelmente; e, coisa curiosa, ouvia-se durante o trabalho essas palavras que, sob a opressão da dor, escapavam da boca da paciente: “Não aperteis tanto!... Vós me maltratais!...” Ela via o Espírito do doutor e era a ele que se dirigia, suplicando ter cuidado com a sua sensibilidade.
Era, pois, um ser invisível para todos, exceto para ela, que lhe fazia apertar o braço, servindo-se inconscientemente de sua própria mão esquerda.
Qual era o papel do médium magnetizador durante esse trabalho? Aos nossos olhos parecia inativo; com a mão direita, apoiada no ombro da sonâmbula, contribuía com sua parte para o fenômeno, pela emissão dos fluidos necessários à sua realização.
Na noite de 27 para 28, tendo a Sra. Maurel desarranjado seu braço em consequência de uma posição falsa, tomada durante o sono, manifestou-se uma febre alta, pela primeira vez. Era urgente remediar esse estado de coisas. Assim, reuniram-se novamente no dia 28 e, uma vez declarado o sonambulismo, foi formada a cadeia magnética, a pedido dos Espíritos bons. Depois de vários passes e diversas manipulações, em tudo semelhantes aos descritos acima, o braço foi recolocado em bom estado, não sem ter a pobre senhora experimentado cruéis sofrimentos. A despeito do novo acidente, o membro já se ressentia do efeito salutar produzido pelas magnetizações anteriores; aliás, o que se segue o prova. Momentaneamente desembaraçado das tabuinhas, o antebraço repousava sobre almofadas, quando, de repente, levantou-se alguns centímetros em posição horizontal, dirigindo-se suavemente da esquerda para a direita e vice-versa; depois baixou obliquamente e foi submetido a uma nova tração. A seguir os Espíritos se puseram a girá-lo em todos os sentidos, fazendo, de vez em quando, trabalhar direito as articulações do cotovelo e do punho. Tais movimentos automáticos imprimidos a um braço fraturado, inerte, contrários a todas as leis conhecidas da gravidade e da mecânica, só podiam ser atribuídas à ação fluídica. Se não se tivesse certeza da existência dessa fratura, bem como dos gritos lancinantes dessa infeliz mulher, confesso que eu teria tido muita dificuldade em admitir o fato, um dos mais curiosos que a Ciência pode registrar. Assim, posso dizer, com toda sinceridade, que me sinto feliz por ter podido testemunhar semelhante fenômeno.
Nos dias 29, 30 e 31 seguintes as magnetizações espirituais sucessivas, acompanhadas de manipulações variadas de mil maneiras, acarretaram sensível melhora no estado geral de nossa doente; diariamente o braço adquiria novas forças. Sobretudo o dia 31 deve ser assinalado, como marcando o primeiro passo para a convalescença. Naquela noite dois Espíritos, que se faziam notar pelo brilho de sua irradiação, assistiam nosso amigo Demeure.
Pareciam dar-lhe conselhos, que este se apressava em pôr em prática. Um deles, até, de vez em quando se punha à obra e, por sua doce influência, produzia sempre um alívio instantâneo. Pelo fim da noite as tabuinhas foram definitivamente abandonadas, restando apenas as faixas para sustentar o braço e mantê-lo em determinada posição. Devo acrescentar que, além disso, um aparelho de suspensão vinha aumentar a solidez das ataduras. Assim, no sexto dia após o acidente, e malgrado a lamentável recaída acidental do dia 27, a fratura estava em tal via de cura, que o emprego dos meios usados pelos médicos durante trinta ou quarenta dias tinha se tornado inútil. A 4 de junho, dia fixado pelos Espíritos bons para a redução definitiva dessa fratura complicada por distensões, reunimo-nos à noite. Mal entrara em sonambulismo, a Sra. Maurel começou a desenrolar as faixas que envolviam seu braço, imprimindo-lhe um movimento de rotação tão rápido que dificilmente o olho seguia os contornos da curva descrita. A partir desse momento passou a servir-se do braço, como habitualmente.
Estava curada.
No fim da sessão houve uma cena tocante, que merece ser relatada. Os Espíritos bons, em número de trinta, no começo formavam uma cadeia magnética paralela à que nós próprios formávamos. Tendo a Sra. Maurel se colocado, pela mão direita, em comunicação direta, sucessivamente, com cada dois Espíritos, recebia a ação benfazeja de uma dupla corrente fluídica energética, já que se punha no interior das duas cadeias. Radiosa de satisfação aproveitava a ocasião para agradecer efusivamente ao poderoso concurso que tinham prestado à sua cura. Por sua vez, recebia encorajamento para perseverar no bem. Terminado isto, ela experimentou suas forças de mil modos; apresentando o braço aos assistentes, fazia-os tocar nas cicatrizes da soldadura dos ossos; apertava-lhes a mão com força, anunciando-lhes com alegria a cura operada pelos Espíritos bons. Ao despertar, vendo-se livre em todos os movimentos, desfaleceu dominada por profunda emoção!...
Quando se foi testemunha de tais fatos não se pode deixar de os proclamar em voz alta, pois merecem chamar a atenção das pessoas sérias.
Por que, então, no mundo inteligente se encontra tanta resistência em admitir a intervenção dos Espíritos sobre a matéria? Por que há pessoas que creem na existência e na individualidade do Espírito, e lhes recusam a possibilidade de manifestar-se? É porque não se dão conta das faculdades físicas do Espírito, que se lhes afigura imaterial de maneira absoluta. Ao contrário, a experiência demonstra que, por sua própria natureza, ele age diretamente sobre os fluidos imponderáveis e, por conseguinte, sobre os fluidos ponderáveis, e mesmo sobre os corpos tangíveis.
Como procede um magnetizador ordinário?
Suponhamos, por exemplo, que queira agir sobre um braço.
Concentra sua ação sobre esse membro e, por um simples movimento dos dedos, executado a distância e em todos os sentidos, agindo absolutamente como se o contato da mão fosse real, dirige uma corrente fluídica sobre o ponto visado. O Espírito não age de outro modo; sua ação fluídica se transmite de perispírito a perispírito, e deste ao corpo material. O estado de sonambulismo facilita consideravelmente essa ação, graças ao desprendimento do perispírito, que melhor se identifica com a natureza fluídica do Espírito, e sofre, então, a influência magnética espiritual, elevada ao seu maior poder.
A cidade inteira ocupou-se desta cura, obtida sem o concurso da ciência oficial, e cada um dá a sua opinião. Uns pretenderam que o braço não se quebrou; mas a fratura tinha sido bem e devidamente constatada por numerosas testemunhas oculares, entre outras o Dr. D..., que visitou a doente durante o tratamento. Outros disseram: “É muito surpreendente!” e ficaram nisto. Inútil acrescentar que alguns afirmaram que a Sra. Maurel tinha sido curada pelo demônio. Se ela não estivesse entre mãos profanas, nisso teriam visto um milagre. Para os espíritas, que se dão conta do fenômeno, aí veem muito simplesmente a ação de uma força natural, até agora desconhecida, e que o Espiritismo veio revelar aos homens.

Observações – Se há fatos espíritas que, até certo ponto, poderiam ser atribuídos à imaginação, como o das visões, por exemplo, neste já não seria o mesmo. A Sra. Maurel não sonhou que tivesse quebrado o braço, como também não sonharam as diversas pessoas que acompanharam o tratamento; as dores que sentia não era alucinação; sua cura em oito dias não é uma ilusão, pois se serve do seu braço. O fato brutal está aí, ante o qual devemos necessariamente nos inclinar. Confunde a Ciência, é verdade, porque, no estado atual dos conhecimentos, parece impossível. Mas não foi sempre assim que se revelaram novas leis?
É a rapidez da cura que vos espanta? A Medicina, contudo, não descobriu inúmeros agentes mais ativos do que os que conhecia para apressar certas curas? Nos últimos tempos não achou os meios de cicatrizar certas feridas quase instantaneamente? Não encontrou o de ativar a vegetação e a frutificação? Por que não teria um para ativar a soldadura dos ossos? Então conheceis todos os agentes da Natureza e Deus não tem mais segredos para vós? Não há mais lógica em negar hoje a possibilidade de uma cura rápida do que havia, no século passado, de negar a possibilidade de fazer em algumas horas o caminho que se gastavam dez dias para percorrer.
Direis que este meio não está na farmacopeia, e é verdade; mas antes que a vacina nele fosse inscrita, seu inventor não foi tratado como louco? Os remédios homeopáticos também lá não se acham, o que não impede que os médicos homeopatas se encontrem em toda parte e curem. Aliás, como aqui não se trata de uma preparação farmacêutica, é mais que provável que esse meio de cura não figure por muito tempo na ciência oficial.
Mas, dirão, se os médicos vêm exercer sua arte depois de mortos, vão fazer concorrência aos médicos vivos; é bem possível; entretanto, que se tranquilizem estes últimos; se eles lhes arrancam algumas práticas, não é para os suplantar, mas para lhes provar que não estão absolutamente mortos, e lhes oferecer o concurso desinteressado aos que se dignarem em aceitá-lo. Para melhor fazê-los compreender, mostram-lhes que, em certas circunstâncias, pode-se passar sem eles. Sempre houve médicos e os haverá sempre; apenas os que aproveitarem as novidades que lhes trouxerem os desencarnados terão uma grande vantagem sobre os que ficarem na retaguarda. Os Espíritos vêm ajudar o desenvolvimento da ciência humana, e não suprimi-la.
Na cura da Sra. Maurel, um fato que talvez surpreenda ainda mais que a rapidez da soldadura dos ossos, é o movimento do braço fraturado, que parece contrariar todas as leis conhecidas da dinâmica e da gravidade. Contrário ou não, o fato aí está; desde que existe, tem uma causa; desde que se repete, está submetido a uma lei. Ora, é essa lei que o Espiritismo nos vem dar a conhecer pelas propriedades dos fluidos perispirituais. Aquele braço, submetido apenas às leis da gravidade, não poderia erguer-se; imaginai-o, porém, mergulhado num líquido de densidade muito maior que a do ar; fraturado como está, sustentado por esse líquido que lhe diminui o peso, aí poderá mover-se sem dificuldade e até erguer-se sem o menor esforço. É assim que num banho de imersão, o braço, que parece muito pesado fora d’água, parece muito leve dentro dela. Substituí o líquido por um fluido que goze das mesmas propriedades e tereis o que se passa no caso presente, fenômeno que repousa sobre o mesmo princípio que o das mesas e das pessoas que se mantêm no espaço sem ponto de apoio. Esse fluido é o fluido perispiritual, que o Espírito dirige à vontade, e cujas propriedades modifica pela simples ação da vontade. Na circunstância presente, deve-se, pois, imaginar o braço da Sra. Maurel mergulhado num meio fluídico que produz o efeito do ar sobre os balões.
A respeito, alguém perguntava se, na cura dessa fratura, o Espírito Dr. Demeure teria agido com ou sem o concurso da eletricidade e do calor.
A isto respondemos que a cura foi produzida, neste como em todos os casos de cura, pela magnetização espiritual, pela ação do fluido emanado do Espírito; que esse fluido, não obstante etéreo, não deixa de ser matéria; que pela corrente que lhe imprime, o Espírito pode com ele impregnar e saturar todas as moléculas da parte doente; que pode modificar suas propriedades, como o magnetizador modifica as da água e lhe dá uma virtude curativa apropriada às necessidades; que a energia da corrente está na razão do número, da qualidade e da homogeneidade dos elementos que compõem a corrente das pessoas chamadas a fornecer seu contingente fluídico. Essa corrente provavelmente ativa a secreção que deve produzir a soldadura dos ossos, assim produzindo uma cura mais rápida do que quando entregue a si mesma.
Agora a eletricidade e o calor desempenham um papel nesse fenômeno? Isto é tanto mais provável quanto o Espírito não curou por milagre, mas por uma aplicação mais judiciosa das leis da Natureza, em virtude de sua clarividência. Se, como a Ciência é levada a admitir, a eletricidade e o calor não são fluidos especiais, mas modificações ou propriedades de um fluido elementar universal, devem fazer parte dos elementos constitutivos do fluido perispiritual. Sua ação, no caso presente, está, pois, implicitamente compreendida, absolutamente como quando se bebe vinho, necessariamente se bebe água e álcool.



[1] Revista Espírita – Setembro/1865 – Allan Kardec

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

JÚLIO CÉSAR LEAL[1]




Filho de Ezequiel Leal e de D. Alexandrina Leal, nasceu na Bahia em 6 de Fevereiro de 1837, desencarnando no Rio de Janeiro, em 22 de Novembro de 1897, vítima de uma febre palustre que contraíra na cidade de Macaé, onde exercia o cargo de inspetor da Alfândega.
Distinto e zeloso funcionário dessa repartição da Fazenda servira em diversos Estados do Brasil e participara de diferentes Comissões.
Jornalista, poeta, romancista, teatrólogo e polemista vigoroso, foi um dos mais antigos pioneiros do Espiritismo em nosso País. Referindo-se ao talentoso baiano, Sacramento Blake assim escreveu no vol. V do seu “Dicionário Bibliográfico Brasileiro”:
Talento robusto, dedicação fervorosa aos trabalhos de gabinete, pena hábil e bem aparada. Havia-se ocupado não só da literatura em todos os seus ramos, como também da filosofia, da religião, da política, da história pátria, da legislação e do comércio.

Como espírita, foi, de fato, um dos primeiros no território brasileiro, e sua conversão se dera na capital baiana. Estavam, ele e mais quatro amigos, reunidos numa sala de certa Loja Maçônica de Salvador, quando a conversa em que se entretinham se desviou para o Espiritismo.
As obras de Allan Kardec, em francês, começavam a aparecer naquela «leal e valorosa » cidade, já dando o que falar nos meios mais cultos.
Em dado momento, o referido grupo concertou em fazer uma experiência: colocariam papel e lápis dentro de uma manga de vidro que se achava sobre uma mesa, no quarto fronteiro à sala onde conversavam.
Depois fechariam a porta do referido quarto e, concentrados, pediriam o auxílio dos bons Espíritos, para que um deles lhes fornecesse a prova de uma vida pós-morte. Assim fizeram. Passados quinze minutos, ouviram bater na porta pelo lado de dentro: abriram-na e, estupefatos, acharam uma mensagem escrita e assinada.
Esse fato bastou para conduzi-los ao estudo do Espiritismo, e eis que Júlio César Leal se torna, em pouco tempo, propagandista entusiasta da Doutrina Espírita, logo surgindo nele a mediunidade de incorporação: em estado sonambúlico, transmitia, oralmente, belas e esclarecedoras mensagens de elevados Espíritos.
Em 1869, ele lançava a público, em Penedo (Alagoas), a primeira obra em versos para a difusão da Doutrina Espírita no Brasil. Intitulava-se: “O Espiritismo - Meditações Poéticas sobre o Mundo Invisível, acompanhadas de uma evocação”, com prefácio datado de 18 de Novembro de 1869.
Júlio César Leal formou-se em Direito e foi professor de humanidades, não sabemos onde e nem por quanto tempo. Bastante respeitado pela sua cultura e erudição, deixou em várias cidades brasileiras, a elas levado por suas funções de inspetor alfandegário, um nome benquisto e preciosa colaboração intelectual, pois que fora escritor de grande inspiração e orador de largos voos. A sua palavra era fácil e por vezes eloquente, utilizando sempre esses dotes para melhor servir a Doutrina Espírita.
Dedicou-se ao jornalismo com alto espírito público, e é assim que redigiu o “Jornal de Penedo”, do qual foi fundador em 1871, o “Jornal das Alagoas”, órgão político e noticioso de Maceió, o “Jornal do Comércio” e a “Gazeta de Notícias”, ambos de Porto Alegre, o “Jornal do Povo”, da Bahia etc.
Dramaturgo ilustre, escreveu oito peças dramáticas, e como que previu – segundo declara Pedro Calmon em sua “História da Literatura Bahiana” ‒ a guerra dos Canudos no seu drama “Antônio Maciel, o Conselheiro” (1858). Tornou-se membro do Conservatório Dramático da Bahia, instalado na cidade do Salvador, em 1857, pelo Dr. Agrário de Souza Menezes.
De passagem pelo Rio de Janeiro, em 1881, a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade inscreveu-o em seu quadro social e ele pronunciou nos dias 12 e 19 de Abril, na Escola Pública da Glória, duas conferências sobre o tema ‒ “O Materialismo e o Espiritismo”. A imprensa leiga deu notícia desenvolvida a respeito dessas conferências, aplaudindo as ideias manifestadas pelo eloquente orador.
Em 6 de Julho de 1881, fundou, na cidade do Recife, o semanário espírita ‒ “A Cruz”, o primeiro órgão do Espiritismo em Pernambuco . Era um jornal de quatro páginas, impresso pela Tip. Universal, à Rua do Imperador, nº 50. Infelizmente, curta foi a sua duração, diante dos intransponíveis obstáculos que se lhe depararam.
Residindo no Rio de Janeiro, Júlio César Leal pertenceu à Assistência aos Necessitados da Federação Espírita Brasileira, que então funcionava à Rua da Alfândega nº 342, 2º andar, ali desenvolvendo, junto a outros abnegados companheiros, amplos serviços de socorro a enfermos do corpo e da alma.
Nos primeiros sete meses de 1895, presidiu a Federação Espírita Brasileira, num período de grave crise interna que só conseguiu ser ultrapassado quando, com a renúncia dele (J.C. Leal), o Dr. Bezerra de Menezes assumia, a 3 de Agosto de 1895, a direção da referida Casa.
Bezerra procurou, desde logo, congregar as forças dispersas, frisando a necessidade de um movimento espírita organizado, com unidade de direção, e demonstrando, ainda, que a Federação preenchia todas as condições para ser o centro da união dos espíritas brasileiros.
Quanto a Júlio César Leal, não terminou ele, naquela Casa, a sua missão, incansável trabalhador que era. Continuou a contribuir com o melhor de seus esforços para que a obra de propaganda prosseguisse ativa e incessante, lançando à publicidade novos livros e pronunciando conferências espíritas em várias Sociedades.
Tornou-se um dos diretores efetivos do Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil, reinstalado, em nova fase, em 1894, aí trabalhando ao lado de Bezerra de Menezes, Augusto Elias da Silva, Ernesto dos Santos Silva, Pinheiro Guedes e outros espíritas de projeção.
Esse Centro, cujas reuniões a princípio se realizaram dentro da própria Casa de Ismael, e do qual Bezerra de Menezes se afastaria em 1896, entrou em franca decadência no último trimestre de 1897, por falir em seus principais objetivos, levando outros diretores, inclusive os mencionados, a se desligarem dele.
Júlio César Leal foi orador de conferências públicas na Federação Espírita Brasileira, colaborando, às vezes, no “Reformador”, onde começou a publicar, como fervoroso adepto da Homeopatia, um trabalho intitulado “Electro-homeopatia, suas vantagens sobre os' demais sistemas de tratamento médico”. A desencarnação de Júlio César Leal impediu-o de terminar esse curioso sistema, preconizado na Europa pelo Conde Mattei, de nacionalidade italiana.
Entre as obras espíritas por ele escritas, destacam - se, além da que já foi aqui mencionada, as seguintes, algumas com várias reedições: “Compêndio de Filosofia Moral”, Maceió, 1872; “Evangelho dos Espíritos Religião Universal”, fundada na verdadeira interpretação e explicação das doutrinas de Jesus Cristo e seus apóstolos, por J. C. Leal e José Ricardo Coelho Júnior, Recife, 1881; “A Casa de Deus”, romance instrutivo, precedido de páginas científicas, Rio, 1894; “Padre, Médico e Juiz”, Rio, 1896; “Os Loucos”, romance. São estas as peças de teatro que produziu, algumas levadas à cena: “Antônio Maciel, o Conselheiro”, drama em 4 atos, Bahia, 1858; “O crime punido por si mesmo”, drama em 4 atos, Bahia, 1859; “Luísa e Marçal”, drama em 2 atos, Paranaguá, 1861; “Os episódios de um noivado”, drama original brasileiro em 4 atos, Rio, 1862; “A mulher entre dois fogos”, drama em 4 atos, Maceió, 1872; “A escrava Isaura”, drama em 4 atos, Porto Alegre, 1883; “Mateus e Garcia”, drama; “Última República Americana”, drama, Rio, 1890.
Entre os romances, afora os já citados, temos: “Cenas da escravidão”, Penedo, 1872; “Amor com amor se paga”, Recife, 1879; “Casamento e Mortalha”, Pernambuco, 1884; “Mortalha de Alzira”, romance muito popular.
Das obras em geral, podemos alinhar algumas de autoria de Júlio César Leal: “Noticias de Paranaguá”, na Revista Popular, tomo 13º , 1862; “Cartas políticas ao Exmo. senador Jacinto Paes de Mendonça”, Maceió, 1873; “A Maçonaria e a Igreja”, conferência pública no edifício da Sociedade Perfeita Amizade Alagoana, Maceió, 1873; “Livro de Poesias”, S.Paulo, 1874; “Apontamentos para a boa administração das Alfândegas do Império e o uso do comércio”, compilados por ... , Pernambuco, 1878; “Biografia do General de Divisão José de Almeida Barrete”, Rio, 1891 etc.
O Dr. Júlio César Leal pregou desassombradamente o Espiritismo até o fim de sua existência. E defendeu-o numa época em que os adeptos precisavam ter elevado espírito de desprendimento e verdadeira coragem, sendo por tudo isso digno da posição de relevo que ocupa no movimento espiritista nacional.

Fonte: Grandes espíritas do Brasil.