Nina Gattis, editado por Liliane Nakagawa 05/02/2020 21h02
Testes em seres humanos já
constataram a segurança da técnica, que corta e edita genes para mudar o quadro
de doenças ou impedir que elas aconteçam.
A CRISPR[2],
técnica que corta e edita o DNA, está mais perto do que nunca de viabilizar a
alteração e a substituição de genes para tratar ou evitar doenças em seres
humanos.
Conhecida pela sigla
CRISPR-Cas9, a técnica teve seu uso em humanos descrito pela primeira vez em
setembro de 2019, num artigo para a revista acadêmica “New England Journal of
Medicine”. O imunologista Deng Hongkui e sua equipe de pesquisadores da
Universidade de Pequim, na China, relataram o teste em um homem de 27 anos acometido
por leucemia, câncer causado pela proliferação de células de defesa imaturas, e
portador de HIV, o vírus da AIDS – doenças que afetam os linfócitos.
Antes de inserir as células da
medula óssea de um doador saudável no paciente, os médicos utilizaram a CRISPR
para desativar o gene que continha a receita de uma proteína a qual servia como
porta de entrada para o HIV invadir os linfócitos. O sucesso do procedimento
foi parcial e, um ano e meio depois, a leucemia permaneceu em remissão e a nova
medula continuou a produzir linfócitos saudáveis, embora apenas 5% deles
apresentassem a alteração protetora. Com o atestado de que a CRISPR é viável e
segura, os pesquisadores decidiram “melhorar a técnica antes de tratar outros
pacientes”.
Apesar de não ser a única
técnica que visa modificar ou inativar genes em seres humanos, a CRISPR é a
mais simples e barata, já que é formada por uma proteína – molécula grande e
complexa de reproduzir em laboratório – e um RNA[3]
– pequeno e simples de ser reproduzido –, contra as outras técnicas que
utilizam duas ou mais proteínas artificiais.
“Produzir sequências curtas de
RNA em laboratório é banal e barato, o que torna a CRISPR mais versátil e
acessível do que qualquer outra técnica de edição gênica”, explicou Carlos
Menck, geneticista da Universidade de São Paulo.
O que não falta são testes com a
técnica em animais e plantas. Agora, com o início dos tratamentos experimentais
em seres humanos, a CRISPR pode se tornar recorrente nos próximos anos.
[2] O sistema CRISPR (do inglês Clustered Regularly
Interspaced Short Palindromic Repeats, ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas
Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), consiste em pequenas porções do DNA
bacteriano compostas por repetições de nucleotídeos.
[3] O RNA (ácido ribonucleico) é uma molécula responsável
pela síntese de proteínas das células do corpo. Sua principal função é a
produção de proteínas. Por meio da molécula de DNA, o RNA é produzido no núcleo
celular, sendo encontrado também no citoplasma da célula. A sigla de RNA vem da
língua inglesa: RiboNucleic Acid.
Nenhum comentário:
Postar um comentário