quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

EXPERIMENTOS COM “CRISPR” VÃO APRIMORAR TÉCNICA EM HUMANOS[1]



Nina Gattis, editado por Liliane Nakagawa 05/02/2020 21h02

Testes em seres humanos já constataram a segurança da técnica, que corta e edita genes para mudar o quadro de doenças ou impedir que elas aconteçam.
A CRISPR[2], técnica que corta e edita o DNA, está mais perto do que nunca de viabilizar a alteração e a substituição de genes para tratar ou evitar doenças em seres humanos.
Conhecida pela sigla CRISPR-Cas9, a técnica teve seu uso em humanos descrito pela primeira vez em setembro de 2019, num artigo para a revista acadêmica “New England Journal of Medicine”. O imunologista Deng Hongkui e sua equipe de pesquisadores da Universidade de Pequim, na China, relataram o teste em um homem de 27 anos acometido por leucemia, câncer causado pela proliferação de células de defesa imaturas, e portador de HIV, o vírus da AIDS – doenças que afetam os linfócitos.
Antes de inserir as células da medula óssea de um doador saudável no paciente, os médicos utilizaram a CRISPR para desativar o gene que continha a receita de uma proteína a qual servia como porta de entrada para o HIV invadir os linfócitos. O sucesso do procedimento foi parcial e, um ano e meio depois, a leucemia permaneceu em remissão e a nova medula continuou a produzir linfócitos saudáveis, embora apenas 5% deles apresentassem a alteração protetora. Com o atestado de que a CRISPR é viável e segura, os pesquisadores decidiram “melhorar a técnica antes de tratar outros pacientes”.
Apesar de não ser a única técnica que visa modificar ou inativar genes em seres humanos, a CRISPR é a mais simples e barata, já que é formada por uma proteína – molécula grande e complexa de reproduzir em laboratório – e um RNA[3] – pequeno e simples de ser reproduzido –, contra as outras técnicas que utilizam duas ou mais proteínas artificiais.
“Produzir sequências curtas de RNA em laboratório é banal e barato, o que torna a CRISPR mais versátil e acessível do que qualquer outra técnica de edição gênica”, explicou Carlos Menck, geneticista da Universidade de São Paulo.
O que não falta são testes com a técnica em animais e plantas. Agora, com o início dos tratamentos experimentais em seres humanos, a CRISPR pode se tornar recorrente nos próximos anos.




[2] O sistema CRISPR (do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), consiste em pequenas porções do DNA bacteriano compostas por repetições de nucleotídeos.
[3] O RNA (ácido ribonucleico) é uma molécula responsável pela síntese de proteínas das células do corpo. Sua principal função é a produção de proteínas. Por meio da molécula de DNA, o RNA é produzido no núcleo celular, sendo encontrado também no citoplasma da célula. A sigla de RNA vem da língua inglesa: RiboNucleic Acid.

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