Daniela Migliari
Logo que adentramos nos domínios
do espiritismo, rapidamente nos deparamos com a temida figura do obsessor.
Aprendemos, o quanto antes, que estes são irmãos que atuam sobre nosso
psiquismo, à revelia de nossa vontade, mediante convites feitos por nós mesmos.
Somos os anfitriões da festa em que eles tocam suas músicas. Mesmo diante da
colocação de que somos sempre corresponsáveis por nossa sintonia, seguimos
temendo-o, fugindo, evitando e encaminhando esse irmão para a luz o mais rápido
possível.
Conforme vamos avançando nas
literaturas da doutrina, histórias luminares apresentam, exemplo após exemplo,
imagens tão próximas e humanas desses irmãos que, aos poucos, vamos sentindo
nosso coração reconhecer neles o amigo magoado de outrora. Aquele de quem sentimos
uma desconhecida saudade, a perda que nunca superamos, mesmo diante de séculos
de distanciamento.
Uma insuspeita ternura invade o
coração, e aquele temor antigo não se faz mais presente quando nos damos conta
de suas presenças. A vontade impaciente de encaminhá-los para tratamento
espiritual parece respirar mais devagar. É aí que flores luminosas começam a
desabrochar em nossos corações. Florescem em pétalas de compreensão e de um
olhar compassivo diante de resmungos, ameaças, xingamentos, choros convulsivos
ou, mesmo, um rosnar inesperado.
Enquanto encarnados, perdemos a
noção do obsessor que existe em nós. Em grandes porções ou em partes ínfimas,
essa manifestação certamente repousa nos cantos escuros de nossa consciência.
Na caminhada da individuação do princípio inteligente, precisamos todos passar
pelos inevitáveis arcabouços do egoísmo. Egoísmo este que não nasce do mal em
si, mas das necessidades instintivas que guardamos dos nossos estágios
evolutivos anteriores. De maneira natural e necessária, precisamos conservar
parte da porção animal ainda presente em nosso ser. Nos despojando aos poucos
dos instintos, vamos galgando o sonho de, quem sabe um dia, sermos realmente
humanos.
Todos já passamos por essas
trilhas. Quase todos ainda seguem por elas. Somos feitos dessa mesma
substância: viver, experienciar, errar, aprender, ensinar.
Que o Senhor Deus, por meio da
prática bendita da mediunidade, siga nos oportunizando esse aprendizado no
contato com lindas histórias de perdão, de cura, de redenção. Que diante de
nossos amigos obsessores, sejamos o colo que acolhe, o olhar que respeita, a
palavra que acalma, a oração que eleva, a presença que aceita e sabe esperar.
Sejamos a fé que reside na
absoluta certeza de que existe uma Ordem e uma Sabedoria maior, que a tudo rege
e cuida com infinita misericórdia. Segundo Ela, todos iremos florescer, cada um
a seu tempo, unidos e entrelaçados pelas teias da irmandade. Movidos pelos
nossos corações – magnetos invariavelmente atraídos pela luz – haveremos de ser
espelhos incontestes de nosso Pai.
Meu irmão, meu velho amigo
obsessor: que eu saiba te esperar com paciência, amor e companheirismo – os
mesmos sentimentos que tantos outros irmãos nutriram enquanto esperavam por mim
um dia, ou ainda esperam até hoje…
Assim seja!
Fonte: Kardec Rio Preto
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