Jorge Hessen
Moisés nos aconselhou O QUE NÃO
DEVEMOS FAZER em nossa trajetória evolutiva, posteriormente, Jesus ensinou O
QUE DEVEMOS FAZER e o Espiritismo sugere COMO FAZER. Essas reflexões nos
remeteram ao “Projeto Espiritizar”, volumoso estudo da coletânea psicológica de
Joana de Angelis organizado pela Federação espírita do estado de Mato Grosso,
do qual nos situamos como humílimo educando.
Dentre múltiplos temas propostos
pelo projeto, nomeamos o subtema “Culpa e direito de errar”, do módulo
“Diretrizes seguras para libertar-se da culpa”, que abreviaremos nas reflexões
a seguir.
O movimento da culpa é
resultante do culto ao perfeccionismo, eis aí um capcioso quisto psicológico.
Quando erramos, ao invés de assumirmos atitudes reparadoras, cultuamos uma
perfeição impraticável e nos acusamos peremptoriamente, por conseguinte não nos
consentimos o direito de errar com a correspondente obrigação de reparar.
É importante aprendermos e
refletirmos com os erros, assumindo corajosamente a cogente reparação dos
mesmos. Porém, se mergulharmos na síndrome da inútil culpa, minamos a
autoestima e nos punimos, produzindo, assim, todo um estado psíquico de
angústia. Deste modo, nos magoamos com a gente mesmo e conservamos uma espécie
de ferida aberta na consciência, apunhalando-a sem tréguas. À vista disso, não
vivemos equilibradamente e transformamos nossos anseios em azedumes, mágoas,
mau humor acoplados ao cortejo de antipatias, projetando nos outros os detritos
psíquicos que empilhamos.
Urge nos permitirmos o direito
de errar. Até porque fomos criados simples e ignorantes. Ademais, como é
possível, em nosso atual estágio evolutivo, acertar sempre? Isso é impossível!
Assim raciocinando, é fácil perceber que a culpa é intensamente injusta
conosco, porque ela não nos permite o direito de errar, aliás, direito que Deus
nos proporcionou. Até porque, fomos criados simples e ignorantes a fim de que
evoluíssemos gradualmente, errando e acertando até chegarmos à perfeição
relativa, quando atingiremos o nível do “Guia e Modelo” da humanidade a partir
de então não erraremos mais.
É crença vulgar e equivocada
admitir a Justiça Divina como condenatória e punitiva. As Leis de Deus,
incrustradas na consciência humana, não são punitivas, porém são educativas
(provação) e reeducativas (expiação). Ora, se não nos permitimos o direito de
errar e o dever de acertar, permaneceremos numa atitude preguiçosa passiva e
acomodada. Para evitar que isso ocorra, é urgente movimentarmo-nos ativamente
para a forçosa reparação ante os equívocos deliberados.
Para tal, urge reflexão
consciencial, esforço para nos harmonizarmos com as Leis divinas, coragem para
pacificarmos nosso eu e desenvolvermos virtudes, evidentemente tudo isso é
muito custoso. Mas não podemos permitir os extremos, ou seja, nem exigirmos de nós
perfeição e nem ingressarmos na negligência de aperfeiçoamento, senão nos
enleamos nas tormentas ao invés de harmonizarmos com nós mesmos (em essência).
As quedas morais das
experiências transatas não hão como alterá-las, porque a compulsão da culpa que
trazemos de ontem somente será decomposta gradativamente, entretanto tudo que
diz respeito aos erros do presente podemos mudar. Como? Já não nutrindo o
mecanismo da inutilidade da culpa quando erramos hoje. Sim, podemos
alterar-lhe, tendo consciência de que podemos errar, todavia temos a obrigação
de reparar o erro de forma amorosa, bancando o bem na fronteira das nossas
energias.
A culpa é um anseio de
prepotência e onipotência porque cobiçamos assumir os atributos de Deus ao
divergirmos da Lei de misericórdia e da Lei de amor, justiça e caridade. Ora,
se Deus não nos pune, então instituímos uma lei particular e através de um auto
decreto infligimos a lei de autopunição.
Naturalmente na condição de
seres humanos acertamos e erramos consecutivamente. Ou seja, temos sucessos ou
desacertos nos empreendimentos da vida. Um aprendiz consciente aprende mediante
a experiência que nem sempre é laureada de sucesso. Em verdade, o aprendiz
consciente objetiva o acerto, mas não na exigência de acertar, porém se esforça
em dar o melhor sem paranoides e sem desleixos desculpistas, porque é
consciente e como tal, se vê como aprendiz responsável.
Com efeito, se errar o foco dele
será no aprendizado em relação ao erro porque a exclusiva atitude positiva e
proativa frente ao erro é aprender com ele. Então o aprendiz se esforçará para
dar o melhor, admitindo que nesse movimento pode equivocar e ao errar aprenderá
e reparará o engano quantas vezes forem necessárias.
Por outro lado, o perfeccionista
não quer errar, porque crê que o erro traz punição e como já está cansado de
ser penitenciado escolhe desenvolver a agreste culpa. Naturalmente sob o véu do
perfeccionismo está embutida a soberba egóica. Por causa disso, quando acerta
blasona, mas quando erra se percebe como um asno e se arremessa no
despenhadeiro da culpa. É essa dualidade que sobrevém ao perfeccionista.
A pessoa que acredita que a
perfeição é o limite entra no processo de autoflagelação, porque percebe como
difícil e ilusória qualquer aspiração libertadora. Na verdade, não é difícil, é
fadigoso, porque precisa larguear o amor para governar todas as demais virtudes
que transmutarão o processo de culpa. Porque a imprestável culpa é um movimento
de auto desamor profundo, uma cruel repressão do amor. O culpado quer sofrer as
consequências martirizantes dos erros porque acha que esse mecanismo é
libertador. Mas só e unicamente o amor liberta a consciência.
O nosso compromisso consciencial
é realizar o bem no limite das nossas forças. Porém, nosso movimento psíquico
de cansaço angustiante e inquietante decorrente da culpa só será superado com o
descanso para a alma conquistado pelo jugo do amor, da mansidão e da humildade
conforme nos convidou Jesus. Isso será determinante para nosso desenvolvimento
consciencial como aprendizes da vida que somos.
Fonte: A Luz na Mente
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