Divaldo Pereira Franco
Infelizmente, as notáveis
conquistas da ciência aliada à tecnologia ainda não lograram facultar ao ser
humano o retorno à gentileza. Propiciaram, sim, fantásticas contribuições para
o conforto e o esclarecimento de incontáveis enigmas que o vinham atormentando
através dos séculos, sem, no entanto, proporcionar-lhe sentimentos que vêm
desaparecendo nos relacionamentos sociais, que lamentavelmente se tornam cada
vez menos frequentes.
O individualismo, que resulta de
muitos instrumentos técnicos de comunicação, embora facilitando a existência,
tem isolado os indivíduos no mundo de cada qual, sempre mais distante da
convivência fraternal, retirando o calor da afetividade. Vai-se ficando
indiferente ao contato pessoal, à conversação calorosa, ao distanciamento uns
dos outros.
Pequenos gestos de gentileza vão
sendo substituídos pelo silêncio e pelo aborrecimento quando o indivíduo se
sente convidado à participação de qualquer atividade pessoal, exceto naqueles
de interesse imediato. Diversos princípios éticos são esquecidos
propositalmente e substituídos por carrancas que desanimam qualquer pessoa que
deseje uma comunicação verbal agradável.
Tem-se a impressão de que se
deseja distância que favoreça dificuldade de gerar trabalho ou favores não
desejados.
As saudações, que demonstraram
grau de cultura e civilização, vão desaparecendo, e a preocupação apenas
consigo leva ao atropelamento dos outros pelos caminhos, sem a mínima
preocupação de solicitar-se escusas. Os demais parecem antipáticos e se evitam
novos relacionamentos, bastando-se com os jogos, os desafios e diversos
recursos do iPhone.
O ser humano tem necessidade de
convivência com a natureza, a flora, a fauna, os ideais de engrandecimento e a
presença de outros de sua espécie. Com esse estranho comportamento, muito fácil
se instalam transtornos de conduta, distúrbios emocionais e distância da
beleza, da arte, da vida religiosa, do bem-estar. Surgem, então, a depressão e
outras patologias afligentes.
Pessoa alguma existe que seja
tão plena que não necessite de outra para relacionar-se, conviver, discutir e
até mesmo discordar. O estar vivo é movimentar-se, lutar, construindo melhores
situações para si próprio, para a Humanidade. Muitas pessoas vivem angustiadas
pelo tempo vazio de que dispõem e passam horas queixando-se do nada fazer, de
sua vida não ter sentido.
Entretanto, leituras edificantes
aguardam mentes interessadas, trabalho fraternal em favor do próximo abre-se
convidativo para quantos desejam honestamente ser felizes.
Os solitários vagueiam inditosos
ou enchem as casas de repouso, tornando-se espectros tristes da sociedade que
deles se esqueceu. Bem provável que foram eles que se olvidaram do grupo social
quando eram jovens e podiam produzir fraternidade bem como edificar mundo
melhor.
Mesmo neste momento de desamor e
egoísmo pode-se reverter a situação, passando-se a ser solidário e iniciar
novas experiências sempre enriquecedoras.
Multiplicam-se organizações de
ajuda à natureza assim como à Humanidade, aguardando cooperadores. Seja você
aquele que tem a coragem de voltar à gentileza e reumanizar-se, pois que ainda
é tempo.
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