Richard Simonetti
O ato de abençoar implica em
desejar o bem de alguém. Assim como a oração, o alcance da bênção depende de
nosso envolvimento com ela, dos sentimentos que mobilizamos. O pai que,
displicentemente, abençoa o filho que vai dormir, sem desviar a atenção do programa
de televisão, não vai além das palavras.
Já a mãe diligente, que leva a
criança ao leito, conversa com ela, conta-lhe uma história e a beija
carinhosamente, põe a própria alma ao abençoá-la, envolvendo-a em poderosas
vibrações de amor, com salutar repercussão em seu sono. Ao contrário da bênção,
amaldiçoar é desejar o mal de alguém.
Que vajas bien, que te pise el tren.
O fato de desejarmos que uma
pessoa seja atropelada por um trem, como sugere este chistoso ditado espanhol,
não implicará, evidentemente, nesse funesto acontecimento. Não possuímos
poderes para tanto, nem Deus o permitiria. Mas podemos perturbar nosso
desafeto.
A maldição é um pensamento
contundente, revestido de carga magnética deletéria, passível de provocar
reações adversas no destinatário – nervosismo, tensão, irritabilidade,
mal-estar…
Se, porém, o amaldiçoado é uma
pessoa bem ajustada, moral ilibada, ideias positivas, sentimentos nobres, nada
lhe acontecerá. Simplesmente não haverá receptividade para nossa vibração
maldosa.
O mesmo ocorre em relação ao ato
de abençoar. Os pais desejam muitas bênçãos para seus filhos. Que sigam
caminhos retos; que sejam aprendizes aplicados; que se realizem
profissionalmente; que cultivem moral elevado; que sejam felizes...
Ainda que se situem por
poderosos estímulos, suas bênçãos pouco representarão se os filhos preferirem
caminhos diferentes.
Nem por isso devem deixar de
abençoá-los. Suas bênçãos inibirão os impulsos mais desajustados dos filhos,
trabalharão suas consciências adormecidas e acabarão por despertar neles
impulsos de renovação, quando a vida lhes impuser suas amargas lições.
Bênçãos e maldições são como
bumerangues, aqueles brinquedos australianos, em forma de arco, que retornam às
nossas mãos quando os atiramos.
Se amaldiçoarmos alguém,
odientos, o mal que lhe desejamos voltará, invariavelmente, para nós,
precipitando-nos em perturbações e desequilíbrios. Somos vitimados por nosso
próprio veneno.
Em contrapartida, aquele que
abençoa alimenta-se de bênçãos, neutralizando até mesmo vibrações negativas de
eventuais desafetos da Terra ou do além.
Jesus conhecia como ninguém
esses princípios. Por isso, antecipando que os discípulos enfrentariam muitas
hostilidades na difusão do Evangelho, recomendava-lhes:
Quando entrardes numa casa,
dizei: A paz esteja neste lar.
Se, com efeito, a casa for
digna, venha sobre ela a vossa paz; se, porém, não o for, torne para vós outros
a vossa paz.
Temos aqui preciosa orientação.
Observando-a, ainda que, onde formos, as pessoas estejam pouco dispostas a
entronizar a paz, ela não se ausentará de nosso coração.
Nem sempre os beneficiários de
nossas iniciativas, quando cultuamos a vocação de servir, mostram-se
reconhecidos. Que isso jamais nos iniba. O ato de servir tem suas próprias
compensações. Exercitando-o, a distribuir bênçãos de auxílio, habilitamo-nos às
bênçãos de Deus.
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