quinta-feira, 9 de maio de 2019

DESLIGAMENTO DA ALMA[1]



Miramez

A separação da alma e do corpo é dolorosa?
- Não, o corpo sofre, frequentemente, mais durante a vida que no momento da morte; neste a alma não toma parte. Os sofrimentos que experimenta algumas vezes, no momento da morte, são um prazer para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio.
Na morte natural, que chega por esgotamento dos órgãos, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber; é uma lâmpada que se apaga por falta de alimentação (Allan Kardec).
Questão 154/Livro dos Espíritos

É processo comum e natural, para a humanidade terrena, a separação do corpo da alma, embora não exista um totalmente semelhante ao outro, ocorrendo modificações de pessoa para pessoa.
Muitos querem entender que, assim como a enfermidade lhes traz dores e inquietações variadas, a separação do Espírito do corpo possa lhes causar dores inenarráveis, porém esta não é verdade. A morte por esgotamento do fardo fisiológico se processa como se estivéssemos com uma roupa suja, de modo que nos apressamos em trocá-la, sem motivo algum de inquietação.
O modo de morrer, que muitos têm, é o instinto de conservação que fala mais alto, como também a necessidade de cumprimento de deveres ante os compromissos assumidos no mundo onde estagiam e diante da própria consciência. O Espírito ‒ é necessário que saiba – é perfeito em todas as nuances da vida. Tudo que vem sentir na carne e fora dela é pelo processo mental, é falta de harmonia na trajetória das ideias. Depois de educadas na escola de Nosso Senhor Jesus Cristo, cessam a inquietações e a alma desconhece a dor em quaisquer caminhos que se dispõe a percorrer, a não ser nos casos de grandes missionários da Verdade, que descem à carne para ensinar, pelo exemplo, como devemos suportar a dor. Entretanto, a sua dor é diferente: é sentida em outra dimensão de vida, é transformada, como o adubo na terra, em frutos saudáveis.
Na morte do corpo, os laços se desatam; não se quebram, por serem eles de formação diferente do corpo de carne. São altamente sensíveis e estruturados em outra dimensão psíquica e, na separação, se recolhem para seu ponto de origem, antes de se ligarem nos primeiros instantes de vida. O desenlace é feito por mãos hábeis, gradativamente como requer a evolução da alma, porém na desencarnação de Espíritos altamente evoluídos, já se muda o comportamento: querendo, ele se desata a si mesmo.
O sofrimento é mais psicológico, por estar o Espírito mudando-se para um lugar “desconhecido”. É nesse sentido que é muito necessária a educação da alma antes da separação do corpo. É o efeito que se vê na influencia da religião, que mostra, por muitos meios, notadamente a Doutrina dos Espíritos, como provas irrecusáveis da continuação da vida e da comunicação dos chamados mortos, que a morte não existe. Voltamos para falar coisas que nunca se ouviram, mesmo nas mais abalizadas filosofias espiritualistas.
Não temas a morte do corpo, porque o Espírito é vida, mas, jamais procures a desencarnação, por querer se libertar mais depressa da vida na Terra. Responderás pela violência que praticares contigo mesmo. É de bom grado que estudes as leis naturais, cumprindo sempre a vontade de Deus e não a tua.
A morte natural é a morte divina; a criatura deixa o corpo, como se soltasse um pássaro de uma gaiola, e ganha mais liberdade de consciência, quando cumpre todos os seus deveres assumidos diante de Deus.




[1] Filosofia Espírita – Volume 4 – João Nunes Maia

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