Rose Mary Grebe
Antes de estudarmos a Doutrina
Espírita e mesmo quando conversamos com pessoas que dizem ter ouvido sobre a
reencarnação e sobre o esquecimento do passado, invariavelmente os
questionamentos são os mesmos:
Por que temos que, em uma vida,
corrigir erros de vidas passadas, dos quais não temos a mais remota lembrança?
Onde está a Justiça Divina, se
temos que pagar por erros que nem sequer lembramos?
A primeira coisa que precisamos
entender é por que motivo reencarnamos? E o motivo principal é evoluirmos,
entendendo que temos um passado muito longo, de várias reencarnações, portanto
com muitos desacertos e situações a melhorar.
O Autor de o livro Nascer Várias
Vezes, Regis Mesquita nos diz que:
O esquecimento do passado é
uma proteção para o reencarnante, com novas oportunidades de desenvolver
habilidades, quitar débitos e desenvolver os recursos de fazer novas escolhas.
A reencarnação com menos influência do passado é uma oportunidade facilitada.
A Providência Divina é tão sábia
que nos faz esquecer o passado e encarnar na forma de bebê, mostrando uma aura
de inocência e tendo toda aquela fragilidade comum aos bebês. Quem de nós não
se encanta com um bebezinho. É a sabedoria de Deus fazendo com que amemos
aquele ser que não sabemos o que foi para nós em outra existência.
O mesmo autor nos diz, de forma
bem simplificada mais uma das razões do esquecimento:
... ao invés de encarnar
com “milhares” de problemas para resolver, o Espírito encarna com a missão de
vida de resolver alguns problemas.
E os Espíritos nos informam na
questão 392 de O Livro dos Espíritos:
O homem não pode nem deve
saber tudo; Deus assim o quer na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre
certas coisas, o homem ficaria ofuscado como aquele que passa sem transição da
obscuridade para a luz. Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo.
Vamos pensar que dentro de nossas casas, estão Espíritos
que, graças a Deus, não sabemos quem foram. Em nosso lar aceitamos e também
fomos aceitos para quitarmos débitos, podarmos arestas, perdoarmos e
aprendermos a nos amar. Não é pouco. Vamos ver alguns Espíritos que podem estar
em nosso lar:
·
Alguém que numa outra encarnação foi um feitor de escravos, onde eu era o
escravo. Quanto ódio, mágoa, sentimento de vingança deve estar remoendo este
ser que sofreu, pode até ter morrido vitimado pelos maus tratos.
·
Alguém que tenha me assassinado. Quanto de sentimento de ter sido injustiçado,
de não ter podido desforrar-se.
·
Alguém que tenha destruído minha família. Conhecemos tantas histórias de
famílias dizimadas pelos mais diversos motivos. Como será que desencarnaram?
Que sentimentos foram junto para a Dimensão Espiritual?
·
Alguém que foi o responsável por minha derrocada financeira. No nosso mundo
globalizado a gente vê isso a toda hora, mas isto não é privilégio dos nossos
tempos. A história nos mostra inúmeras famílias que ficaram na miséria por
terem sido usurpados todos os bens.
Como eu, por exemplo,
amamentaria esta criança, cuidaria e amaria?
É por isso que existe um
Departamento de Reencarnação, para conosco fazer uma programação que possa dar
certo. Feita a programação e quando se aproxima o momento da encarnação, vamos
gradativamente esquecendo o passado.
Como nos diz Regis Mesquita,
viemos com uma parte para tentar resolver:
As decisões e as
experiências nesta nova encarnação servirão de contraponto às experiências de
outras encarnações. Ou seja, ao reencarnar, somente algumas informações do
passado influenciam a nova encarnação; isto evita que a mente seja inundada por
influências do passado.
Isto não quer dizer que as
nossas memórias de vidas passadas sejam apagadas, até porque nós somos
continuidade, não somos a cada existência um livro em branco. Simplesmente
estas memórias ficam guardadas e nos momentos de necessidade, ou de vazão a
algum gesto mais instintivo, elas fluem na forma de intuição. É por isso que
temos tendências boas ou más, facilidades, genialidades.
É por isso que observamos dentro
das famílias, Espíritos que têm perfeita afinidade, enquanto outros parecem
destoar daquele meio. São diferentes, “difíceis”, muito provavelmente reclamam
um reacerto, embora não de maneira explícita, porque, temporariamente estão
envoltos no véu do esquecimento. Estas desafinidades, muito comuns no nosso
atual estágio, quando não entendidas, causam muitos danos, podendo atrasar em
muito a encarnação. Nesses casos, não há que se procurarem os motivos da
rejeição natural que algumas pessoas nutrem por nós. Há, sim, que se
compreender que é através do amor e do perdão que as relações de ódio se
transformam em respeito e simpatia – que nada mais são do que o início do amor.
O que devemos fazer então, se
somos alvo de antipatias aparentemente sem motivo? Orar e perdoar, sabendo que
se a causa não está nesta existência, deve estar em alguma existência anterior[2].
E o que devemos fazer, se somos
nós que sentimos uma repulsa instintiva por certas pessoas? Da mesma forma,
orar e perdoar, pois de que valeria saber quem foi o culpado, e quem foi a
vítima? Deus não é cobrador, Deus é Amor! Ele não nos permite saber se fomos
vítimas ou algozes, porque não quer que, em nossas encarnações, fiquemos na
posição de juízes, julgando, sentenciando culpados. Deus quer que as feridas
sejam sanadas através da única lei possível: a lei do amor.
É assim que mães recebem em seus
ventres inimigos do passado, e aprendem a amá-los incondicionalmente. É assim
que filhos doentes, dependentes em tudo de seus cuidadores, aprendem a amar
aqueles que, nesta encarnação, se ocupam de refazer seus corpos debilitados e
suas almas aquebrantadas, e reerguê-los. Com estas experiências podemos fazer
uso de nosso livre arbítrio para construir novos aprendizados em cada
existência – e a quitação dos nossos débitos se encaixa justamente dentro de
nossa parcela de aprendizado, desta forma, continuando a nossa evolução moral e
intelectual.
Foi dito pelos Espíritos que não
deveríamos saber de tudo, muitas coisas aparecem na forma de intuição, mas
existem crianças pequenas que se lembram de muitos fatos, que vão se apagando
com o tempo.
Como a Doutrina
Espírita encara a Terapia de Vidas passadas (TPV)?
A TVP , segundo os pensadores da
Doutrina Espírita pode e deve ser usada. Com uma ressalva, não deveria ser
usada simplesmente como uma brincadeira, para saber o que fomos, um
exibicionismo, mas, segundo Alberto Almeida[3],
(palestrante Espírita) como um recurso para resolver questões sérias no âmbito
físico, emocional e espiritual.
Esclarece Alberto Almeida que a
TVP centra-se na ideia reencarnacionista, embora alguns terapeutas têm a visão
de “memória genética”. Não cabe aqui a discussão, mas ao resultado a que se
chega. Alerta ainda para o cuidado na escolha de bons profissionais, que em
muitas situações não usam em primeiro lugar esta terapia, se servindo de outras
com ótimos resultados. Em outras situações a TVP é a primeira indicação.
Diante de tudo o que foi
exposto, vamos entender que a Sabedoria Divina coloca o véu do esquecimento
como uma proteção a mais na reencarnação. Dentro das necessidades ou
utilidades, a lembrança poderá acontecer.
E os Espíritos ainda nos dizem
na questão 397, de O Livro dos Espíritos,
que:
... à medida que o corpo é
menos material, recorda-se melhor. A lembrança do passado é mais clara para
aqueles que habitam os mundos de uma ordem superior.
Fonte: Sociedade Espírita Nova Era
[2] Ver
O Livro dos Espíritos, Cap. 7 - RETORNO
À VIDA CORPORAL, item VII, Simpatias e Antipatias Terrenas.
[3] Alberto Ribeiro de Almeida nasceu em Belém-Pará-Brasil.
Espírita de berço, envolveu-se no Movimento Espírita muito jovem, fazendo parte
da juventude do Centro Espírita Yvon Costa. Atualmente, além de colaborar com a
União Espírita Paraense, é diretor da Associação Médico-Espírita do Pará
(AME-PA) e do Jardim das Oliveiras. Realizando sua primeira palestra espírita
aos 17 anos, profere conferências, seminários, workshop e encontros coloquiais
no Brasil e no exterior.
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