sexta-feira, 10 de maio de 2019

POR QUE NOS ESQUECEMOS DO PASSADO[1]



Rose Mary Grebe

Antes de estudarmos a Doutrina Espírita e mesmo quando conversamos com pessoas que dizem ter ouvido sobre a reencarnação e sobre o esquecimento do passado, invariavelmente os questionamentos são os mesmos:
Por que temos que, em uma vida, corrigir erros de vidas passadas, dos quais não temos a mais remota lembrança?
Onde está a Justiça Divina, se temos que pagar por erros que nem sequer lembramos?
A primeira coisa que precisamos entender é por que motivo reencarnamos? E o motivo principal é evoluirmos, entendendo que temos um passado muito longo, de várias reencarnações, portanto com muitos desacertos e situações a melhorar.
O Autor de o livro Nascer Várias Vezes, Regis Mesquita nos diz que:
O esquecimento do passado é uma proteção para o reencarnante, com novas oportunidades de desenvolver habilidades, quitar débitos e desenvolver os recursos de fazer novas escolhas. A reencarnação com menos influência do passado é uma oportunidade facilitada.

A Providência Divina é tão sábia que nos faz esquecer o passado e encarnar na forma de bebê, mostrando uma aura de inocência e tendo toda aquela fragilidade comum aos bebês. Quem de nós não se encanta com um bebezinho. É a sabedoria de Deus fazendo com que amemos aquele ser que não sabemos o que foi para nós em outra existência.
O mesmo autor nos diz, de forma bem simplificada mais uma das razões do esquecimento:
... ao invés de encarnar com “milhares” de problemas para resolver, o Espírito encarna com a missão de vida de resolver alguns problemas.

E os Espíritos nos informam na questão 392 de O Livro dos Espíritos:
O homem não pode nem deve saber tudo; Deus assim o quer na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria ofuscado como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz. Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo.

Vamos pensar que dentro de nossas casas, estão Espíritos que, graças a Deus, não sabemos quem foram. Em nosso lar aceitamos e também fomos aceitos para quitarmos débitos, podarmos arestas, perdoarmos e aprendermos a nos amar. Não é pouco. Vamos ver alguns Espíritos que podem estar em nosso lar:
· Alguém que numa outra encarnação foi um feitor de escravos, onde eu era o escravo. Quanto ódio, mágoa, sentimento de vingança deve estar remoendo este ser que sofreu, pode até ter morrido vitimado pelos maus tratos.
· Alguém que tenha me assassinado. Quanto de sentimento de ter sido injustiçado, de não ter podido desforrar-se.
· Alguém que tenha destruído minha família. Conhecemos tantas histórias de famílias dizimadas pelos mais diversos motivos. Como será que desencarnaram? Que sentimentos foram junto para a Dimensão Espiritual?
· Alguém que foi o responsável por minha derrocada financeira. No nosso mundo globalizado a gente vê isso a toda hora, mas isto não é privilégio dos nossos tempos. A história nos mostra inúmeras famílias que ficaram na miséria por terem sido usurpados todos os bens.

Como eu, por exemplo, amamentaria esta criança, cuidaria e amaria?
É por isso que existe um Departamento de Reencarnação, para conosco fazer uma programação que possa dar certo. Feita a programação e quando se aproxima o momento da encarnação, vamos gradativamente esquecendo o passado.
Como nos diz Regis Mesquita, viemos com uma parte para tentar resolver:
As decisões e as experiências nesta nova encarnação servirão de contraponto às experiências de outras encarnações. Ou seja, ao reencarnar, somente algumas informações do passado influenciam a nova encarnação; isto evita que a mente seja inundada por influências do passado.

Isto não quer dizer que as nossas memórias de vidas passadas sejam apagadas, até porque nós somos continuidade, não somos a cada existência um livro em branco. Simplesmente estas memórias ficam guardadas e nos momentos de necessidade, ou de vazão a algum gesto mais instintivo, elas fluem na forma de intuição. É por isso que temos tendências boas ou más, facilidades, genialidades.
É por isso que observamos dentro das famílias, Espíritos que têm perfeita afinidade, enquanto outros parecem destoar daquele meio. São diferentes, “difíceis”, muito provavelmente reclamam um reacerto, embora não de maneira explícita, porque, temporariamente estão envoltos no véu do esquecimento. Estas desafinidades, muito comuns no nosso atual estágio, quando não entendidas, causam muitos danos, podendo atrasar em muito a encarnação. Nesses casos, não há que se procurarem os motivos da rejeição natural que algumas pessoas nutrem por nós. Há, sim, que se compreender que é através do amor e do perdão que as relações de ódio se transformam em respeito e simpatia – que nada mais são do que o início do amor.
O que devemos fazer então, se somos alvo de antipatias aparentemente sem motivo? Orar e perdoar, sabendo que se a causa não está nesta existência, deve estar em alguma existência anterior[2].
E o que devemos fazer, se somos nós que sentimos uma repulsa instintiva por certas pessoas? Da mesma forma, orar e perdoar, pois de que valeria saber quem foi o culpado, e quem foi a vítima? Deus não é cobrador, Deus é Amor! Ele não nos permite saber se fomos vítimas ou algozes, porque não quer que, em nossas encarnações, fiquemos na posição de juízes, julgando, sentenciando culpados. Deus quer que as feridas sejam sanadas através da única lei possível: a lei do amor.
É assim que mães recebem em seus ventres inimigos do passado, e aprendem a amá-los incondicionalmente. É assim que filhos doentes, dependentes em tudo de seus cuidadores, aprendem a amar aqueles que, nesta encarnação, se ocupam de refazer seus corpos debilitados e suas almas aquebrantadas, e reerguê-los. Com estas experiências podemos fazer uso de nosso livre arbítrio para construir novos aprendizados em cada existência – e a quitação dos nossos débitos se encaixa justamente dentro de nossa parcela de aprendizado, desta forma, continuando a nossa evolução moral e intelectual.
Foi dito pelos Espíritos que não deveríamos saber de tudo, muitas coisas aparecem na forma de intuição, mas existem crianças pequenas que se lembram de muitos fatos, que vão se apagando com o tempo.

Como a Doutrina Espírita encara a Terapia de Vidas passadas (TPV)?
A TVP , segundo os pensadores da Doutrina Espírita pode e deve ser usada. Com uma ressalva, não deveria ser usada simplesmente como uma brincadeira, para saber o que fomos, um exibicionismo, mas, segundo Alberto Almeida[3], (palestrante Espírita) como um recurso para resolver questões sérias no âmbito físico, emocional e espiritual.
Esclarece Alberto Almeida que a TVP centra-se na ideia reencarnacionista, embora alguns terapeutas têm a visão de “memória genética”. Não cabe aqui a discussão, mas ao resultado a que se chega. Alerta ainda para o cuidado na escolha de bons profissionais, que em muitas situações não usam em primeiro lugar esta terapia, se servindo de outras com ótimos resultados. Em outras situações a TVP é a primeira indicação.
Diante de tudo o que foi exposto, vamos entender que a Sabedoria Divina coloca o véu do esquecimento como uma proteção a mais na reencarnação. Dentro das necessidades ou utilidades, a lembrança poderá acontecer.
E os Espíritos ainda nos dizem na questão 397, de O Livro dos Espíritos, que:
... à medida que o corpo é menos material, recorda-se melhor. A lembrança do passado é mais clara para aqueles que habitam os mundos de uma ordem superior.


Fonte: Sociedade Espírita Nova Era




[2] Ver O Livro dos Espíritos, Cap. 7 - RETORNO À VIDA CORPORAL, item VII, Simpatias e Antipatias Terrenas.
[3] Alberto Ribeiro de Almeida nasceu em Belém-Pará-Brasil. Espírita de berço, envolveu-se no Movimento Espírita muito jovem, fazendo parte da juventude do Centro Espírita Yvon Costa. Atualmente, além de colaborar com a União Espírita Paraense, é diretor da Associação Médico-Espírita do Pará (AME-PA) e do Jardim das Oliveiras. Realizando sua primeira palestra espírita aos 17 anos, profere conferências, seminários, workshop e encontros coloquiais no Brasil e no exterior.

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