Os ciumentos não precisam de
causa para o ciúme: têm ciúme, nada mais. O ciúme é monstro que se gera em si
mesmo e de si nasce.
William Shakespeare apresenta em
sua obra Otelo, uma análise profunda, incômoda e intensa desse grande gigante
da alma, o ciúme.
Na clássica peça shakespeariana,
o general mouro Otelo é envenenado pela desconfiança, vinda do verbo afiado e
sorrateiro de seu alferes, Iago.
Iago, também por ciúme e inveja,
procura uma forma de destruir seu amo e sua amada, Desdêmona, e encontra nesse
poderoso tóxico a maneira de promover sua vendeta.
Procurando descobrir mais sobre
esta fragilidade humana, vamos perceber o ciúme como a inquietação mental
causada por suspeita ou receio de rivalidade nos relacionamentos humanos.
É uma espécie de distorção, um
exagero, um desequilíbrio do sentimento de zelo.
Adentrando na intimidade deste
sentimento, vamos descobrir que ele é medo. Medo de algum dia sermos
dispensáveis à pessoa com a qual nos relacionamos.
Medo de sermos abandonados,
rejeitados ou menosprezados. Medo de não mais sermos importantes. Medo de não
sermos mais amados, enfim, é de certa forma, medo da solidão.
O psiquiatra e psicoterapeuta
Eduardo Ferreira Santos revela que tal sentimento é totalmente voltado para si
mesmo, egocentrado e, por esta afirmação, podemos entender o porquê da frase do
personagem Iago, de Shakespeare, dizendo que o ciúme não precisa de causas
exteriores, que se gera em si mesmo.
Suas causas interiores, segundo
o Espírito Joanna de Ângelis, são encontradas principalmente na insegurança
psicológica, na baixa autoestima, no orgulho avassalador que não suporta
rivalidades.
E no egoísmo, que ainda nos faz
ver aqueles que estão à nossa volta como posses.
O ser inseguro transfere para o
outro a causa desta insegurança, dizendo-se vítima, quando apenas é escravo de
ideias absurdas, fantasias, ilusões, criadas em sua mente, que ateiam incêndios
em ocorrências imaginárias.
Agravado, este sentir leva a
psicoses, a problemas neuropsiquiátricos, como diversos tipos de disritmias
cerebrais, sendo causador de agressões físicas e crimes passionais.
O ciúme é um sinal de alerta,
mostrando que algo não vai bem, que algo precisa ser reparado, repensado.
A terapia para o ciúme passa
pelo autoconhecimento, quando percebemos a fragilidade em nós, e tomamos
atitudes práticas de autocontrole, autodisciplina, para erradicá-lo
gradualmente da vida.
O tratamento também prescreve
uma reconquista da autoestima, da confiança em si mesmo, tornando-nos menos
sensíveis às investidas cruéis desse vício moral.
Finalmente, as ações no bem, que
fazem com que a alma se doe e amplie seu leque de relações, também colabora
significativamente para educar o sentimento de posse exacerbado e inquieto.
O amor não precisa do sal do
ciúme para temperar as relações. O sabor de todo relacionamento sadio virá da
confiança irrestrita e do altruísmo, que pensa sempre no bem do outro.
Redação do Momento Espírita
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