Maria Celeste
Espírita, irmão!
Há quanto tempo não visitas um
presídio?
É possível que até hoje não
tenhas pensado nos reclusos…
No corpo, apenas sentimos a
presença de um órgão, quando ele adoece. São silenciosas as vísceras que
funcionam regularmente.
Na vida moral, vezes e vezes, os
problemas são igualmente assim: somente chegamos a senti-lo quando nos
vergastam o próprio “eu”…
Rememoremos, portanto, a prova
inexprimível daqueles irmãos que nos deixaram, compulsoriamente, o convívio. As
suas culpas e as suas dores são também nossas.
Respirando anos-a-fio,
circunscritos às grades da prisão, em atmosfera de onde, quase sempre, foram
expulsos o perdão, a gentileza e a alegria, suportam eles a vida purgatorial da
espiritualidade inferior, ainda na vida humana, ruminando o fel do abandono, a
peçonha do desespero, o tóxico do vício, o veneno do rancor, o fogo da revolta
e a bile da frustração.
Condenados, outros desvairam.
Enfermos, não raro, de corpo e
alma, outros muitos padecem martírios simultâneos.
Esfumaram-se os sonhos…
Perverteram-se os ideais…
A fé cadaverizou-se…
Em grande maioria analfabeta,
são incompreensíveis a viverem incompreendidos. Filhos da penúria, amargam a via-crúcis
de todas as necessidades.
Escravos da embriaguez, são como
que dominados por fantasmas interiores que os embrutecem. Muitos deles, ainda
longe do remorso e inteiramente cativos da ignorância, fizeram do crime a
profissão; do sarcasmo, o idioma; da astúcia, a lei.
Combateram a sociedade, fugiram
da família e trocaram de nome, dando origem a órfãos de pais distantes e a
viúvas de esposos vivos.
Contidos à força, estremunhados
na noite prolongada da impenitência, vivem anos que se assemelham a séculos,
imprecando contra o destino forjado por eles próprios, na amortização dos
débitos perante as leis divinas e humanas, duplamente encarcerados na carne e
no cárcere.
Quantas joias espirituais de
rara beleza atolados em escrínios de lama?!
Até que todos os ergástulos
sejam transfigurados em escolas e hospitais, conduzamos a eles – os grandes e
infelizes prisioneiros de si mesmos – a consolação de uma visita, o estímulo de
um sorriso, o júbilo de uma dádiva, a benção de uma prece.
Abrindo o coração ao sol do amor
fraterno, auxiliemos os presidiários, diligenciando alcançar também a nossa
própria liberdade espiritual, seguindo a lição do Senhor que nos ensinou,
exemplificando:
Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
[1] Página recebida pelo médium Waldo Vieira, na reunião
pública da Comunhão Espírita Cristã, na noite de 11/12/1961, em Uberaba, Minas.
Mensagem extraída da revista “Reformador”, de dezembro de 1962.
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