Freitas Nobre[2]
Tudo, naturalmente, possui seu
início e um dia chega ao seu fim. Esta é a lei que vigora no Universo para as
coisas que são temporárias. A eternidade, representada em Deus, ou a
imortalidade expressada na vontade do espírito fazem parte desta lei maior,
apenas é efêmero aquilo que não possui consistência, beleza, pureza,
autenticidade, virtude.
No mundo da política, na
organização da sociedade, nos fatos da vida, bem sabemos, tudo é regido pela
temporalidade. Há início, crescimento e fim. Esta é a lei. O que fica é o
conhecimento dos fatos, a expressão de sabedoria pelo aprendizado, a argúcia em
evitar escolhas infelizes, o ciclo do ensino para o espírito.
A vivência de muitas eras na
política, nesta última vida na terra e em outras mais, fez-me consciente que
nem tudo está perdido quando se está num limite de tolerância no embate das
forças.
Já vi governos fracassados darem
a volta por cima e ganharem novamente o respeito popular. Já observei governos
honrados se despedaçarem ao longo tempo pela perda de credibilidade. Já
presenciei homens bem intencionados não conseguirem materializar as suas
promessas. Já vi de tudo um pouco.
A atual crise brasileira, apesar
das suas proporções gigantescas, haverá de passar, é natural. Pode demorar um
ano, dois ou até mais, sucumbirá um dia, no entanto.
As lições do caminho é que serão
importantes de serem tiradas porque um embate de forças deixa marcas e
consequências. A irresponsabilidade de quem por ventura exerça o poder será,
cedo ou tarde, descoberta e eliminada. Quando, porém, se está no olho do furacão
imagina-se que aquilo dure uma “eternidade”.
Pois bem, vi outras crises no
Brasil.
Vi golpes de Estado na era Vargas.
Vi golpes sucessivos da retomada
democrática de 1946 até o último deles em 1964.
Todos eles trouxeram traumas.
Sequelas que até hoje se ressentem em alguns aspectos da vida política e social
brasileira.
A crise que aí está possui
contornos diferentes. A hegemonia de um partido que se intitulava popular não
poderia ser ancorada na descoberta generalizada de um ambiente de corrupção.
Logo aquele partido que exigia o exemplo se transforma no principal
protagonista do mal lavado.
O povo, com isso, sofre, porque
representa a parte mais frágil do processo social e econômico. É logo ele que é
chamado para pagar as contas do prejuízo causado em nome do Estado.
Ele que nada teve a ver passa a
ser o objeto das consequências dos desmandos. Sim, é claro, ele votou nos que
estão no poder, mas logicamente todos eles pensam no melhor. Desta vez, porém,
errou.
O que fazer? Como sair da crise?
Como estancar esta sangria?
Algo já está sendo feito: deixar
que as instituições livres possam encontrar a razão de ser dos fatos e que,
depois de apurados, encontradas provas de mau uso do dinheiro público seja
feita a devida punição dos envolvidos.
Por outro lado, vê-se a falta de
liderança onde se esperava o árbitro do desenvolvimento e da paz social.
Oportunistas, como de costume,
ficam de plantão tentando obter vantagens do desgaste dos atores em questão.
O povo continua a sofrer neste
ínterim.
Vou dizer algo que pode chocar,
apesar das consequências desta minha opinião, optando do lado de cá da vida. É
melhor tudo continuar como está.
Alguém, ou em coro, poderia
afirmar: de onde vem este espírito governista? Que depoimento é este que nada
ajuda? É mais uma invenção deste médium que não tem o que fazer?
Ora, o que defendo, aliás, o que
se defende do lado de cá da vida é que não se deve retirar do povo a sua
oportunidade de aprendizado. É neste momento de confusão, de sobrevivência
política para muitos, que conhecemos a verdadeira face dos políticos de
plantão. Conhece-se quem realmente cada um é.
Bem mais do que isso.
A indignação generalizada
exigirá da classe política tomada de posições que, em dias de calmaria, jamais
ocorreriam.
As mudanças institucionais
ocorrerão pela pressão popular.
Tudo será repensado para que não
haja convulsão social.
Tudo, portanto, representará
sinal de ganho e aprendizado coletivo.
É lógico que há perdas neste
processo, mas onde estará a lei da destruição aprendida pelos espíritas em seus
compêndios? Para que serve ela? Por ventura, desejam um parto sem dor?
Tudo isto é necessário para que
o conjunto social reflita e tome as decisões de mudança para se alcançar um
patamar melhor na política, na economia, e na questão social.
Sejamos práticos. Por acaso,
alguém acha que o mundo se transformará num estalar de dedos do Criador e que
trauma algum haverá? Claro que não! É importante passar pela dor para não mais
suportá-la. É assim que se aprende, todos sabem, no nível individual como no
geral. É assim que os brasileiros aprenderão com tudo que aí está. Com perdas e
ganhos, mas no final, certamente, com saldo positivo de mudanças.
Que cada um faça a sua parte.
Que cada comunidade promova os
seus gestos de indignação e mudança.
Que sejamos construtores
coletivos desta nova realidade.
É assim que o Brasil avançará no
conjunto das nações.
Pagará seu preço, alto até, mas
avançará. Mais firme e mais forte. Mais determinado e mais unido.
Que venham as mudanças e que
Jesus nos abençoe nesta caminhada de encontro com o nosso destino de ser referência
para o novo momento que passa a humanidade terrestre.
Firme com Jesus!
Texto recebido por
Carlos Pereira em 15 de agosto de 2015.
[2]José de Freitas Nobre (Fortaleza, 24 de março de 1921 -
São Paulo, 19 de novembro de 1990) foi um advogado, jornalista, professor e
político brasileiro. Na década de 1970, foi eleito deputado federal pelo
Movimento Democrático Brasileiro, pelo Estado de São Paulo. Tornou-se líder do
partido na Câmara de Deputados e foi um dos políticos que, da tribuna, mais se
opôs à ditadura militar. Foi também líder espírita, diretor do Folha Espírita.
Era casado com Marlene Nobre.
como o povo aceitando os desmandos da justiça perseguidora de um partido só? com eleições de fakes, fraudes e ostf mudo,surdo e cego? com a justiça tutelada por militares que foram cegos a corrupção da direita?
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