quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Tela Etérica[1]




Miramez

 (…) O intercâmbio com os Espíritos é muito desejado por todos os que chegam à Doutrina Espírita, sem conhecer o engenhoso processo por que devem passar os companheiros de aprendizado. Se a mediunidade é fato natural no ser humano, a razão adverte-nos de que o seu desenvolvimento não pode desobedecer à sequência da naturalidade. Toda violência, nesse campo, tem como resposta o desastre e o desequilíbrio psicossomático.
O erro que se nota em muitas casas espíritas é a tendência de forçar o desenvolvimento das faculdades mediúnicas, numa chamada insistente de Espíritos de todas as qualidades, para que possam se apossar das pessoas presentes às reuniões. Sentam-se à mesa, com vontade de servir, não resta dúvida, mas se esquecem das consequências que advirão da falta de habilidade, na ânsia de fazer o melhor.
Os diretores das sessões, comumente, são desprovidos de experiência para lidar com o invisível. Comandam uma reunião, chegando às carreiras, e não despregam os olhos do relógio para uma volta apressada, queimando, assim, todo o material fluídico que os Espíritos trazem, por amor e caridade. E aquele magnetismo da pressa espraia-se pelo ambiente todo, fazendo-o esquecer-se da incumbência que o levou àquela reunião, cujo objetivo é levar a tranquilidade a todos e o entendimento aos Espíritos menos esclarecidos. A base de uma reunião elevada é, pois, a segurança mediúnica, que se faz através da sabedoria do medianeiro, aliada ao amor incondicional.
Se és candidato à mediunidade, se palpita em teus sentimentos a vontade de servir de instrumento à comunicação dos Espíritos, analisa quem és para saberes com quem haverás de te comunicar. 
Não podemos deixar de descrever o que se processa, no trabalho mediúnico desavisado, àquele que desconhece a realidade espiritual: entre dois corpos que o Espírito usa para comandar o físico, o astral e o etérico, encontra-se estruturado um filtro, muito parecido com uma tela sutil, altamente trabalhado pela natureza, em conexão com a Inteligência Suprema, que de nada se esqueceu a nosso favor. Essa tela etérica, no dizer dos estudiosos das coisas espirituais, serve de barreira à comunicação constante entre os dois mundos, permitindo tão somente o intercâmbio com os Espíritos superiores, já que essa tela dá passagem aos fluidos puríssimos que provêm das altas esferas. Assim como o filtro de um lar dá passagem facilmente à água já pura, sem ceder lugar ao líquido poluído, o mesmo se passa no campo do Espírito. Todavia, é interessante saber que essa tela etérica pode romper-se. E isso acontece com frequência. Aí, o próprio médium, ao desenvolver-se, manifesta desequilíbrio em todos os setores da sua sensibilidade. Essa tela é feita de átomos espirituais altamente afins, que se congregam por atração magnética da própria consciência, com o auxílio dos guias do tutelado. Mas ela se rompe por variadas causas, contrárias às leis naturais, como o fumo, que se volatiliza, no seu uso exagerado e corrói a tela sutil desse filtro fluídico que protege o medianeiro. O mesmo ocorre com o álcool, a carne em demasia e as drogas.
Na parte mental, vamos encontrar os maiores inimigos dessa segurança mediúnica, que são o ódio, a vingança, a maledicência, a brutalidade, a usura. Pensamentos que envolvem tais sentimentos provocam uma espécie de curto-circuito na tela etérica, rompendo seus delicados filamentos e colocando o médium em estado de dependência com os Espíritos inferiores. Eis aí a obsessão, desequilíbrio presente em grande maioria dos medianeiros, em todo o mundo. Ainda existem outros perigos que mencionaremos depois, quando surgir oportunidade de conversarmos, pelos meios da escrita e da presença espiritual.
(…) O canal sujo suja a água que vem do céu. E, se atraímos o nosso semelhante pela lei dos afins, o médium consciente do seu dever sabe a que tipo de entidade estão servindo as suas faculdades.
Se desejas fazer o bem a quem caminha contigo, ama muito, mas não te esqueças de instruir, sempre. Educa, em todos os momentos, mas lembra-te, constantemente, de aplicar a disciplina em teus passos. Fala, nas horas certas, sem te esqueceres de vigiar o que dizes, para que possas dizer, na amplitude dos teus trabalhos, sem exigências, como falou o grande apóstolo dos gentios: “O Cristo em mim é motivo de glória”.





[1] Extraído de MAIA, João Nunes. Segurança Mediúnica. 22. Ed. / pelo Espírito Miramez. Belo Horizonte: Fonte Viva, 2011.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Espíritos Visitantes[1]


Certas pessoas imaginam que os Espíritos não vêm senão ao apelo que se lhes faz. É um erro do qual não comungam os que conhecem o Espiritismo, pois sabem que muitas vezes eles se apresentam espontaneamente, sem serem chamados, o que nos levou a dizer que mesmo que se proibisse a evocação dos Espíritos, não se poderia impedir que eles viessem. Mas, dirão, eles vêm porque praticais a mediunidade e porque chamais outros; se vos abstivésseis, não viriam. É outro grave erro e os fatos estão aí para provar quantas vezes os Espíritos se manifestaram pela visão, pela audição ou outra maneira qualquer, a pessoas que jamais tinham ouvido falar de Espiritismo. Não é, pois, contra os médiuns que se deveria lançar um mandado de interdição, mas contra os Espíritos, para que não se comuniquem, nem mesmo com a permissão de Deus.
Essas comunicações espontâneas têm um interesse muito mais surpreendente quando emanam de Espíritos que não são esperados nem conhecidos, e cuja identidade pode ser verificada mais tarde. Citamos um exemplo notável na história de Simon Louvet, contada na Revista de março de 1863. Eis outro fato não menos instrutivo, obtido por um médium de nosso conhecimento.
Apresenta-se um Espírito sob o nome de François Franckowski e dita o seguinte:
 O amor de Deus é o sentimento que resume todos os amores, todas as abnegações. O amor da pátria é um raio desse sublime sentimento. Pobre país meu! Infeliz Polônia! Quantas desgraças vieram abater-se sobre ti! Quão terríveis são os crimes dos que se julgam civilizados e como serão castigados os infelizes que querem entravar a liberdade! Ó Deus! Lança um olhar sobre este desgraçado país e faze graça aos que, inteiramente voltados à vingança, não pensam que tu os punirás do outro lado da vida. A Polônia é uma terra abençoada, porque dá origem a grandes devotamentos e nenhum de seus filhos é covarde. Deus ama os que esquecem de si mesmo para o bem de todos. É em recompensa do devotamento dos poloneses que ele fará a graça e seu jugo será quebrado. Morri vítima de nossos opressores, execrados por todos os nossos. Eu era jovem, tinha vinte e quatro anos; minha pobre mãe está morrendo de dor, por ter perdido tudo o que amava neste mundo: seu filho. Eu vos suplico, orai por ela, para que esqueça e perdoe o meu carrasco, pois sem esse perdão ela estará para sempre separada de mim... Pobre mãe! Eu a revi apenas na manhã de minha morte e era tão horrível nos sentirmos separados!... Deus teve piedade de mim: eu não a abandono desde que pude me libertar do resto de vitalidade que ligava meu Espírito a meu corpo... Venho a vós porque sei que orareis por ela; ela que é tão boa, geralmente tão resignada e, no entanto, tão revoltada contra Deus desde que não estou mais lá!... É preciso que ela perdoe. Orai para que esse sublime perdão de uma mãe ao carrasco de seu filho venha acabar uma vida tão gloriosamente começada. Adeus! Orareis, pois não?

François Franckowski


O médium jamais tinha ouvido falar de tal pessoa e julgava que talvez tivesse sido alvo de uma mistificação, quando, alguns dias depois, recebeu diversas peças de linho que tinha encomendado, enroladas num pedaço do Petit Journal de 7 de julho último. Maquinalmente o percorreu e, sob a rubrica de Execuções capitais, leu um artigo que começava assim:
Encontramos curiosos detalhes sobre a execução de um jovem polonês, prisioneiro dos russos. Franckowsky era um rapaz de vinte e quatro anos. Ainda tem pais, que, inclusive tinham recebido licença para visitá-lo na prisão. Como não tinha sido pego de armas na mão, foi condenado à forca pelo conselho de guerra.
Assisti à execução e não posso pensar sem emoção nesse acontecimento terrível...
Segue-se o relato detalhado da execução e dos últimos momentos da vítima, morta com a coragem do heroísmo.
Aos que negam as manifestações – e seu número diminui a cada dia – aos que atribuem as comunicações mediúnicas à imaginação, ao reflexo do pensamento, mesmo inconsciente, perguntamos donde podia vir ao médium a intuição do nome de Franckowsky, a idade de vinte e quatro anos, a mãe vindo ver o filho na prisão, do fato, numa palavra, que desconhecia de modo absoluto e do qual até duvidava, e cuja confirmação foi encontrar num pedaço de jornal que enrolava um pacote? E que o fragmento de jornal fosse exatamente o que contém o relato? Direis: “Sim, foi o acaso.” Que o seja, para vós, que não vedes em tudo senão o acaso; mas, e o resto?
Aos que pretendam proibir as comunicações sob o pretexto de que procedem do diabo, ou qualquer outro, perguntamos se existe algo de mais belo, mais nobre, mais evangélico que a alma desse filho que perdoa ao seu carrasco, que suplica à sua mãe que também o perdoe, que dá esse perdão como condição de salvação! E por que vem ele a esse médium, que não conhecia, mas a quem, mais tarde, dá irresistível prova de identidade? Para lhe pedir que ore, a fim de que sua mãe perdoe. E dizeis que isto é linguagem do demônio? Ah! Como seria bom se todos os que falassem em nome de Deus o fizessem do mesmo modo! Tocariam mais corações do que com anátemas e maldições.




[1] Revista Espírita – Outubro/1863 – Allan Kardec

sábado, 27 de outubro de 2018

BRASIL ESTÁ FALHANDO EM SUA MISSÃO[1]



Hugo Lapa


Amigos, em contato agora com uma mensagem vinda do Alto, os amigos espirituais me pediram para repassar essa mensagem aqui a todos. Eles pediram total atenção ao que será dito abaixo:
Sim, o Brasil está se desviando de sua missão de ser o “coração do mundo, a pátria do evangelho” por causa das brigas políticas que estamos observando nos últimos anos.
O Brasil não tem vocação para ser uma pátria relacionada à política. Nossa missão cósmica é outra: precisamos ser os divulgadores do evangelho de Jesus, do Espiritismo e da prática da caridade. A missão da “terra brasilis”, desde os primórdios, não tem nada a ver com política. O Brasil está aos poucos se desviando de seu real propósito e dando valor a decisões políticas, partidos, debates sobre futilidades, etc., etc. A religião começa a ser utilizada para manipulação política. Nossas ações sociais, solidárias e espirituais vão sendo relegadas a segundo plano e vai prevalecendo as disputas, as ofensas, os deboches e o ódio político e ideológico contra quem pensa diferente.
O Brasil foi projetado pela espiritualidade superior para ser um povo acolhedor, de sincretismo, de tolerância a todos os credos, a todas as posições e todo tipo de pessoas… e a conduzir toda uma massa de espíritos ao evangelho do Cristo junto com o Espiritismo e com a caridade. Muitos espíritos missionários encarnaram aqui para cumprir a tarefa de impulsionar o Brasil a ser a coração do mundo, a pátria do evangelho, algo que vai aos poucos se perdendo, se esvaindo em questões muito menores, se perdendo no ódio, na indiferença, nas brigas políticas e nas disputas por poder. Há mais de 10 anos estávamos cumprindo bem nossa missão, mas nos últimos anos acabamos nos desviando… e estamos mais e mais distantes de nosso real objetivo.
Se continuarmos por esse caminho de brigas, de revoltas, de ódio, de desrespeito às diferenças políticas e ideológicas, vamos não apenas falhar em nossa missão como também viver uma era de caos, de barbárie, de muita pobreza, muito desemprego, muito sofrimento e muita desesperança daqui para frente nos próximos anos. Os espíritos dizem que ainda dá tempo de reverter isso, mas precisamos agora, nesse momento, parar de brigar por política, respeitar o próximo e redirecionar o leme do nossa navegação para um porto seguro e tranquilo de ensino e prática do Evangelho do Cristo, do ensino do Espiritismo, da mediunidade voltada ao bem… e de ações sociais, de caridade e práticas solidárias a todos.
A escolha é de cada um… de um lado o caos e a barbárie ao seguir por este caminho… do outro lado, a paz do porto seguro no evangelho, no espiritismo e na caridade.


O que você escolhe?


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

VADE RETRO OBSESSOR OU BALDIOS "DESCARREGOS"?[1]





Jorge Luiz Hessen

De A a Z, ou seja, de “Abaddon” da mitologia cristã a “Zulu Bangu” da mitologia africana há mais de 200 codinomes para designar os “demônios”. Entretanto, sabemos que os “demônios”, como são caracterizados pela teologia decrépita, não são criaturas reais. Conforme o senso comum, a expressão “demônios” significa seres essencialmente perversos e seria, como todas as coisas, criação de Deus. Ora, Deus que é soberanamente justo e bom não poderia ter criado Espíritos predispostos ao mal para toda a eternidade.
O Espiritismo nos faz distinguir a natureza e a origem desses “demônios”, a partir do princípio de que todos os seres humanos foram criados simples e ignorantes, portanto, imperfeitos, sem conhecimentos e sem consciência do bem e do mal. Pela Lei de evolução todos nós, sem qualquer exceção, conseguiremos alcançar a relativa perfeição e gradualmente desenvolveremos virtudes, a fim de avançarmos na hierarquia espiritual até alcançarmos a plena felicidade na “angelitude”.
Além disso, sobre os famigerados “coisas-ruins”, o Codificador do Espiritismo nos ensina que eles [os “demônios”] são nossos irmãos, porém são Espíritos que ainda se encontram moralmente nas classes inferiores, todavia, chegará um dia em que se cansarão dos sofrimentos e compreenderão a necessidade de bancarem o bem.
Os “demônios” devem, portanto, ser entendidos como referentes aos Espíritos impuros, que frequentemente não são melhores que os designados por esse nome, mas com a diferença de serem os seus estados tão somente transitórios. Na verdade eles são os Espíritos imperfeitos que resmungam contra as suas provações e por isso as sofrem por mais tempo, entretanto chegarão livremente à perfeição, quando se dispuserem a isso.
Se existissem “demônios”, eles seriam criação de Deus, ora, o Senhor da vida seria justo e bom se tivesse criado seres devotados eternamente ao mal e infelizes? Se há “demônios”, descreveram os Benfeitores do além a Allan Kardec, “eles habitam em teu mundo inferior e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo, um Deus mau e vingativo e creem lhe serem agradáveis pelas abominações que cometem em seu nome[2]”.
O vocábulo demônio não implica na ideia de Espírito mau senão na sua acepção contemporânea, porque a terminologia grega Daimon, da qual se origina, significa, “Deus”, “poder divino”, “gênio”, “inteligência”, e se utiliza para indicar os seres incorpóreos, bons ou maus, sem distinção. Porém, há pessoas que acreditam no poder maléfico do “Príncipe das Trevas” e até o enaltecem em suas igrejas. Não me surpreenderia se fossem fechadas muitas igrejas se os seus dirigentes deixassem de acreditar em Satanás. (Pasme!)
Os antigos e modernos sacerdotes fizeram e fazem com os “demônios” o mesmo que com os “anjos”. Do mesmo modo que arquitetaram a imagem de seres perfeitos desde toda a eternidade, construíram igualmente os Espíritos inferiores por seres perpetuamente maus. Os partidários da “doutrina dos demônios” se apoiam nas cridas repreensões do Cristo. Chegou-se ao absurdo de criar o instituto do exorcismo para afugentamento de tais entidades.
Amparados no alarido beneditino “vade retro Satã!”, os exorcistas exortam os espíritos demoníacos a saírem do corpo dos possessos, valendo-se igualmente da invocação do nome de Deus, de Cristo e todos os anjos. E ao final dos extenuantes berreiros e invocações, sempre sob o arrimo da “reza brava” e “água benta”, o resultado aparentemente surge de forma rápida, mas sem sustento duradouro.
Inexplicavelmente há instituições “espíritas” que promovem sessões de “desobsessão” (ou seria exorcismos?), que consideram mais “fortes” e com efeitos “imediatos”, conforme garantem seus realizadores, contudo lamentavelmente nesses estranhos “tratamentos espirituais” (ou descarrego?) são normatizados exclusivamente um procedimento coercivo, o “banimento” instantâneo e transitório do obsessor. Mas será que esse rápido afastamento espiritual é possível? Ora, é obvio que não, pois é impossível “rebentar, de um instante para outro, algemas [mentais] seculares forjadas nos compromissos recíprocos da vida em comum” [3]? Impossível, mesmo!
Os espíritas compreendem que os cognominados, “capetas”, “coisa-ruim”, “lúcifer”, “diabo”, “satanás”, “satã”, “cão”, “demo”, “besta” e outros “demônios” que reverberam na mente do povo, não são seres votados por Deus à prática do mal, e sim seres humanos desencarnados que se desequilibraram em atitudes infelizes perante a vida. “Na raiz do problema encontramos a necessidade de considerar os chamados ‘espíritos das trevas’ [demônios] por irmãos verdadeiros, requisitando compreensão e auxílio, a fim de se remanejarem do desajuste para o reequilíbrio neles mesmo[4]”.

Fonte: A Luz na Mente


[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 131, RJ: Ed. FEB, 2001.
[3] XAVIER, F. C. Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970.
[4] XAVIER Francisco Cândido. Caminhos de Volta, ditado por espíritos diversos, SP: edição GEEM, 1980.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

AS FOBIAS E A REENCARNAÇÃO[1]



Redação do Momento Espírita


Uma psicóloga norte-americana foi procurada para atender um adolescente, portador de problema singular.
Desde a infância, o garoto trazia uma fobia com relação ao bater das asas dos pássaros, mas foi na adolescência que o problema se intensificou e os pais buscaram a ajuda de um profissional.
Quando percebia um pássaro pousando, o movimento das asas lhe causava crises terríveis culminando em desmaio.
A psicóloga buscou, com todos os recursos de que dispunha, uma forma de ajudá-lo.
Provocou, por inúmeras vezes, a regressão de memória até ao útero materno e não conseguia descobrir as origens do desequilíbrio.
Materialista convicta, a profissional só admitia uma única existência e buscava a resposta a partir da vida no ventre materno. Mas, como os anos rolaram sem que pudesse resolver a questão, e porque o desafio se tornasse cada vez maior, numa das sessões de regressão resolveu deixar que o jovem fosse mais além.
Embora não acreditasse na teoria da preexistência do Espírito, foi nesse universo desconhecido que encontrou a origem do trauma.
O jovem, então com 21 anos, mergulhou no seu passado e se viu como soldado, lutando na Segunda Guerra Mundial. Descrevia seu drama com detalhes. Estava em meio a uma batalha, juntamente com os demais soldados, quando houve uma grande explosão e todos foram atingidos.
Ele também fora atingido pelos estilhaços da bomba mas não morrera de imediato, ficando apenas semiconsciente.
Após baixar a poeira, vieram os tratores e juntaram os inúmeros corpos em monturos, deixando-os para serem enterrados em covas coletivas mais tarde.
Nessa ocasião, ele, que estava agonizante mas não morto, fora arrastado para o monturo com os demais cadáveres, ficando sobre os demais.
E porque demorassem para soterrar os corpos, os abutres buscaram neles o seu alimento.
Quando os abutres sentavam sobre seu corpo, ele percebia o bater das asas e sentia suas carnes sendo dilaceradas com violência.
Essa cena se repetiu por muitas horas, até que a morte física se consumasse.
Embora rompidos os laços do corpo físico, aquele Espírito ficou impregnado das sensações horríveis dos últimos momentos, a ponto de trazer o desequilíbrio para a nova existência, em forma de fobia.
Não é preciso dizer que a doutora materialista rendeu-se aos fatos e mudou seu pensamento a respeito da vida.
* * *
Muitos medos e traumas cujas causas não estão na presente existência têm suas raízes em um passado mais ou menos distante, em existências anteriores.
O Espírito recebe um novo corpo em cada nova existência, mas traz consigo os problemas não resolvidos de outros tempos. Por esse motivo é importante que olhemos para as pessoas como Espíritos milenares, mesmo que estejam albergados temporariamente num corpo infantil.
Percebendo a vida sob esse ponto de vista, teremos mais e melhores possibilidades de ajudar as criaturas que trazem dificuldades, começando por nós mesmos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Ectoplasmia[1]




Jorge Andréa[2]

A ectoplasmia, conhecida de modo mais popular como fenômeno de materialização, pelos estudos e experiências criteriosas realizadas há um século aproximadamente, ainda vem despertando o mais expressivo interesse da área cientifica. Foi Charles Richet quem utilizou a denominação diante das pesquisas realizadas em sua época.
 A parapsicologia, com os conhecimentos dos dias atuais, tem por obrigação fazer a abordagem da temática, no capitulo dos fenômenos psi-theta. Devido à existência de inúmeros fatos, a ectoplasmia não pode ser relegada ao desconhecimento ou mesmo à falta de interesse, como desejam algumas posições sectaristas.
 A ciência avalia os fenômenos de ectoplasmia com desconfiança. Como todo fenômeno psi-theta, a ectoplasmia não pode ser controlada de acordo com as diretrizes e vontade do pesquisador. Essa fenomenologia, em que os agentes psi-theta (Espíritos) participam, é quase sempre fugaz, de difícil abordagem e controle, pela presença de inúmeros fatores que se desenvolvem em dimensão diversa daquela que a metodologia cientifica pode avaliar e controlar.
 Laboraram nestes fatos inúmeros pesquisadores, dos quais lembramos: Albert Coste, em 1895; Alexandre Aksakof (1832-1903), em 1895; Paul Gibier (1851-1900), em 1898; William Crookes (1832-1919), em 1899; Gabriel Delanne (1857-1926), em 1909 e 1911, e muitos outros.
 Os autores são categóricos em afirmar a inconteste existência dessa mecânica, na qual dois elementos entram, indiscutivelmente, no processo: o ectoplasma e o agente orientador para que a moldagem se observe. De um lado, a matéria ectoplásmica, fugaz e vaporosa e, do outro, o campo organizador da forma (campo espiritual), as espessas do qual o ectoplasma se distribui em adequada moldagem.

 O vocábulo Ectoplasmia passa a definir com mais precisão do que o termo materialização, a formação de objetos e pessoas em ambiente apropriado, às expensas da substancia especifica doada pelos sensíveis ou médiuns (ectoplasma; do grego ektós, por fora; plasma, molde ou substância). Devemos fazer diferença ente o termo ectoplasma empregado em biologia – para designar a região mais interna do protoplasma celular – e o significado parapsicológico do presente escrito.
 O ectoplasma é substancia amorfa, vaporosa, com tendência a solidificação pela evolução do fenômeno, tomando forma por influencia de um campo organizador especifico. Facilmente fotografado, de cor branco-acinzentado, vai desde a névoa transparente à forma tangível, de aspecto semelhante aos tecidos vivos, oferecendo sensação de viscosidade e frieza.
 O ectoplasma foi analisado por vários pesquisadores, dos quais destacamos as seguintes conclusões:
o   Dr. V. Dombrowsky (Varsóvia); “O ectoplasma está constituído de matéria albuminóide, acompanhado de gordura e de células tipicamente orgânicas. Não foram encontrados amiláceos e açucares”.
o   Dr. Francês (Munique); “Substancia constituída de inúmeras células epiteliais, leucócitos e glóbulos de gordura”.
o   Dr. Albert Scherenk-Notzing, citado por Charles Richet; “O ectoplasma está cosntituido por restos de tecido epitelial e gorduras”.
o   Dr. Hernani G. Andrade; “O ectoplasma é substancia formada com recursos da natureza, originando-se dos tecidos vegetais (ectofiloplasma) de origem animal (ectozooplasma) e de origem mineral (ectomineroplasmal)”.

Muitos autores que analisaram a substancia encontraram células anucleadas em sua constituição. O ectoplasma seria substancia originária no protoplasma das usinas celulares, onde o ATP (trisfosfato de adenosina) teria expressiva participação, ao lado de outros elementos. Dessa forma, não podemos deixar de considerar a importância do fósforo nas atividades bioquímicas orgânicas e, consequentemente, no desenvolvimento do processo ectoplásmico em suas especificas dosagens.
No dizer do Professor Aldemar Brasil:
Em síntese, o ATP – que equivale por cada ligação piro-fosfática desgarrada de sua molécula, a mais ou menos 7.500 kcal – é a unidade usada em biologia para expressar a transferência de energia oriunda do ciclo de Krebs, e de outras fontes. No ciclo de Krebs, também denominado de ciclo dos ácidos tricarboxílicos, a energia é libertada pela transferência de elétrons para a cadeia respiratória, provindos de substratos em que o hidrogênio é ativado, desgarrado e transportado com seu elétron até o oxigênio, também atiçado ao receber esses elétrons, formando-se, então, a água. Para tanto, no ciclo de Krebs, há processos de descarbonização, desidrogenação etc., operados por enzimas especificas ativadas por coenzimas determinadas.
Qual o mecanismo criativo do eclotoplasma na organização do agente doador (sensível ou médium)? Claro que seria uma condensação energética apropriada transformando-se em matéria. A informação de André Luiz, em “Mecanismos da Mediunidade”, é bastante lógica e sensata:
O ectoplasma resulta de um processo de desagregação molecular formado por forças desconhecidas, ao mesmo tempo em que o fenômeno fica sob controle de campos de forças organizadoras capazes de reagrupar as moléculas segundo um modelo determinado.
O fenômeno de ectoplasmia, é preciso que se diga, é fenômeno de plasmagem e não de criação de matéria. A plasmagem se dará às expensas da substancia (energia) fornecida pelo médium que, pouco a pouco, atingirá o processo de condensação, voltando à sua fonte por mecanismo inverso. Temos como certo, também, que o ectoplasma é substancia que, além de fornecida pela organização humana (médium), será plenamente enriquecida (completada) com outros elementos da natureza, provindos dos vegetais e de outras matérias orgânicas de origem animal, numa especifica arregimentação.
 Os chamados processos de ectoplasmia investem complexa mecânica, de difícil avaliação pelos atuais métodos que a ciência pode oferecer. Para que o fenômeno seja observado e seja bem equacionado, haverá necessidade de lembrarmos o conceito de Claude Bernard de que na usina celular opera-se a totalidade dos fenômenos vitais, muitos dos quais transcendem a avaliação pelos nossos sentidos. A maioria desses fenômenos bioquímicos, mormente de esfera da ectoplasmia, estaria ligada aos compostos fosforados e suas correlações com as enzimas e hormônios.
 No núcleo celular existiriam fontes específicas de energia, ligadas ao ADN e ARN (ácido desoxirribonucleico e ribonucleico), a comandarem os processos metabólicos mais expressivos no soalho protoplasmático. O elemento participante ativo desse processo de formação de energias no corpo celular seria o ATP (trifosfato de adenosina), resultante do ciclo de Krebs. O ATP, sendo a fonte primordial de energia nos processos celulares, estaria comprometido na formação do ectoplasma. Esse processo de doação do ATP traduziria uma “qualidade especifica” do médium na manifestação da fenomenologia paranormal de efeitos físicos.
 Haveria, neste caso, por intermédio das organizações celulares, uma maior irradiação dessas energias, que se tornariam mais expressivas nas reuniões destinadas a esse tipo de trabalho. Isto mostraria a influencia dos participantes da equipe (encarnados e desencarnados) concorrendo no maior fornecimento da substancia ectoplasmática por parte dos que apresentam essa possibilidade. Quando a quantidade de substancia irradiativa fosse bem expressiva, já fora da fonte de origem, poderiam mostrar-se sob forma gasosa visível (nuvem), por um processo de condensação, constituindo material especializado e com possibilidade de aproveitamento nos mecanismos em pauta.
 No denominado passe energético, muito utilizado nas casa espíritas sob forma de fluidoterapia, acreditamos que esses elementos de irradiação, devidamente elaborados pelo psiquismo, carregam em seu bojo quase que especificamente energias originárias no ATP da usina celular. Ainda mais, este material de doação energética, passando à dimensão física por condensação, poderá ser aproveitado pelas Entidades Espirituais na vestidura de seus campos de forças nos trabalhos especializados da ectoplasmia.
 Assim, essa substancia, o ATP, deverá fazer parte do ectoplasma e, à medida que o processo se desenvolve por condensação, vai oferecendo as naturais modificações químicas pela queima da molécula fosfórica que permitiria a ectoplasmia luminosa; por tudo, podemos avaliar a importância do fósforo, em suas múltiplas combinações, no mecanismo da ectoplasmia.
Esclarecemos que o processo da Ectoplasmia revelando o aparecimento de um ser humano (Espírito envolto no ectoplasma) não representa exclusivamente a vestidura com ATP. Haveria na massa ectoplásmica, em sua constituição, pelo alto teor de energias que carrega consigo, outros elementos orgânicos das próprias células ou mesmo substancias arrecadadas na natureza, em especificas reações químicas às expensas de equipes espirituais que participem do processo.
 Chepelle descobriu que o mecanismo de emissão de luz dos pirilampos (vaga-lumes) estaria ligado a uma enzima, a luciferase, quando oxidada pela luciferina. Neste mecanismo, não haveria participação ativa do ATP celular? Não existiria, neste processo, uma correlação, pela reações afins, de doação de energias embora em degrau bioquímico diverso, com a mecânica da ectoplasmia?
 Na ectoplasmia, a bioquímica seria mais avançada, e deverá existir uma participação toda especial das camadas profundas do psiquismo do doador, sem que a vontade e o raciocínio da zona superficial ou consciente possam interferir. Isso não quer dizer que a zona do inconsciente ou espiritual do doador ou médium seja a responsável pelo processo ectoplásmico, mas uma zona orientadora dos mecanismos psicológicos e parapsicológicos.
 Só haverá ectoplasmia de um ser humano quando o campo inteligente do agente psi-theta, ou campo espiritual, comandar o processo. O inconsciente ou psiquismo de profundidade do médium dirige o seu próprio metabolismo e quimismo, mas nunca a moldagem externa do objeto. A substancia ectoplasmica, ao definir a morfologia humana, terá que sofrer a influencia orientadora dos vórtices inteligentes do agente modelador que, de acordo com a necessidade e possibilidade, traduziu o processo de modo parcial ou total, a fim de atingir a sua finalidade.
 As variedade de ectoplasmia são inúmeras e com tonalidades especificas. Existem moldagens tão marcantes da parte do doador (médium) que o campo modelador não consegue efetivar com precisão as suas próprias características, mostrando semelhança com o corpo do médium; é como se o médium reforçasse o mecanismo com substancia pré-moldada, isto é, como se o seu corpo astral (matéria orgânica especifica irradiante) fosse projetado na massa ectoplasmica em processamento. Isso tem criado muita celeuma quanto à validade do processo. Aqui não cabe a discussão do problema.
 Além das variedades parciais ou totais, a ectoplasmia poderá ser opaca ou luminosa. Neste ultimo caso, pela iluminação da forma em exposição devido à queima do fósforo, será apreciada com detalhes, pela nossa visão, a aparição. Sabemos que os processos de ectoplasmia, em sua maioria, necessitam da ausência de luz branca para a sua realização; esta como que desorganiza o processo, o que não acontece com a faixa luminosa do vermelho, até recomendado nas câmaras de ectoplasmia.
 Concluindo, a ectoplasmia encontraria no ATP das células umas das substancias especificas paras as próprias moldagens. E estas só seriam possíveis com a presença do campo-organizador-orientador do agente psi-theta ou Campo Espiritual.




[1] Revista Espiritismo e Ciência nº 13 – páginas 10 - 41
[2] Dr. Jorge Andréa era articulista do site CVDEE (Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo). www.cvdee.org.br/index.asp

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Benfeitores Anônimos[1]




O fato seguinte foi relatado pela Patrie do mês de abril último:

O proprietário de uma casa na Rua du Cherche-Midi tinha permitido anteontem que o inquilino se mudasse sem saldar a conta, mediante reconhecimento da dívida. Mas enquanto carregavam os móveis o proprietário mudou de ideia e quis ser pago antes da retirada da mobília. O locatário se desesperava, sua esposa chorava e dois filhos em tenra idade imitavam a mãe. Um cavalheiro, condecorado com a Legião de Honra, passava no momento por aquela rua. Parou. Tocado por esse espetáculo desolador, aproximou-se do infeliz devedor e, tendo-se informado da quantia devida pelo aluguel, entregou-lhe duas cédulas e desapareceu, acompanhado pelas bênçãos daquela família, que salvava do desespero.

No mês de julho, o jornal L’Opinion du Midi, de Nîmes, relatava outro caso do mesmo gênero:

Acaba de passar-se um fato tão estranho, pelo mistério com que se realizou, quão tocante por seu objetivo e pela delicadeza do procedimento do seu autor.
Há três dias anunciamos que um violento incêndio tinha consumido quase completamente a loja e as oficinas do Sr. Marteau, marceneiro em Nîmes. Contamos a dor desse infeliz em presença de um sinistro que consumava sua ruína, pois o seguro que fizera era infinitamente inferior ao valor das mercadorias destruídas.
Soubemos hoje que três carretas, contendo madeira de diversas qualidades e instrumentos de trabalho, foram levadas à frente da casa do Sr. Marteau e descarregadas em suas oficinas, semidevoradas pelas chamas.
O responsável pela condução das carretas respondeu às interpelações de que era objeto, alegando a ignorância em que se achava, relativamente ao nome do doador, cuja vontade executava.
Sustentou não conhecer a pessoa que o havia comissionado para transportar a madeira e as ferramentas à casa do Sr. Marteau, e nada saber fora dessa comissão. Retirou-se após ter descarregado as três viaturas.
A alegria e a felicidade substituíram no Sr. Marteau o abatimento de que era impossível tirá-lo desde o dia do incêndio.
Que o generoso desconhecido, que tão nobremente veio em socorro de um infortúnio que, sem ele, talvez tivesse sido irreparável, receba aqui os agradecimentos e as bênçãos de uma família que, desde hoje, lhe deve as mais doces consolações e, talvez, logo venha a lhe dever a prosperidade.

O coração se tranquiliza quando lemos fatos semelhantes que, de vez em quando, vêm fazer a contrapartida dos relatos de crimes e torpezas que os jornais estampam em suas colunas. Fatos como os acima relatados provam que a virtude não está inteiramente banida da Terra, como pensam certos pessimistas.
Sem dúvida nela o mal ainda domina, mas quando se procura na sombra, percebe-se que, sob a erva daninha, há mais violetas, isto é, maior número de almas boas do que se pensa. Se elas surgem a intervalos tão espaçados, é que a verdadeira virtude não se põe em evidência, porque é humilde; contenta-se com os prazeres do coração e a aprovação da consciência, ao passo que o vício se manifesta afrontosamente, em plena luz; faz barulho, porque é orgulhoso. O orgulho e a humildade são os dois polos do coração humano: um atrai todo o bem; o outro, todo o mal; um tem calma; o outro, tempestade; a consciência é a bússola que indica a rota conducente a cada um deles.
O benfeitor anônimo, do mesmo modo que o que não espera a morte para dar aos que nada têm, é, incontestavelmente, o tipo do homem de bem por excelência; é a personificação da virtude modesta, aquela que não busca os aplausos dos homens.
Fazer o bem sem ostentação é um sinal incontestável de grande superioridade moral, porque é preciso uma fé viva em Deus e no futuro, um alheamento da vida presente e uma identificação com a vida futura para esperar a aprovação de Deus, bem como renunciar à satisfação proporcionada pelo testemunho atual dos homens. O favorecido abençoa de coração a mão generosa e desconhecida que o socorreu, e essa bênção sobe ao céu muito mais que os aplausos da multidão. Aquele que leva em maior conta o sufrágio dos homens do que a aprovação de Deus mostra ter mais fé nos homens do que em Deus e que a vida presente tem mais valor que a vida futura. Se disser o contrário, age como se não acreditasse no que diz. Entre estes, quantos não fazem um favor senão com a esperança de que o favorecido venha proclamar o benefício do alto dos telhados! que em plena luz dão uma grande soma, mas na obscuridade não dariam uma simples moeda! Eis por que disse Jesus: “Os que fazem o bem com ostentação já receberam a sua recompensa.” Com efeito, àquele que busca a sua glorificação na Terra, Deus nada deve; só lhe resta receber o preço de seu orgulho.
Que relação tem isto com o Espiritismo? Talvez perguntem certos críticos; quantos casos mais divertidos não contareis do que esta moral enfadonha? (Jugement de la morale spirite, do Sr. Figuier, IV vol., pág. 369). Tem relação à medida que o Espiritismo, dando fé inabalável na bondade de Deus e na vida futura, graças a ele os homens que fizerem o bem pelo bem serão menos raros do que o são hoje; os jornais terão menos crimes e suicídios a registrar e mais atos da natureza dos que deram lugar a estas reflexões.




[1] Revista Espírita – Outubro/1863 – Allan Kardec

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

GUSTAVE GELEY[1]



Geley nasceu em Nancy, na França, em 14 de julho de 1865. Formado em Medicina pela Faculdade de Lyon, clinicou até 1918 em Annecy, onde alcançou grande reputação. Interessando-se pelos fenômenos paranormais, realizou muitos estudos que ficaram registrados em anais científicos da época. Realizou notáveis investigações em 1916 com a médium Eva Carriére. Em 1919 assumiu a direção do Instituto Metapsíquico Internacional, onde obteve fenômenos extraordinários com o médium polonês de materializações Franck Kluski. Em 1922 e 1923 promoveu outra série notável de sessões de ectoplasmia, com o médium Jean Guzik, do que resultou o histórico "Manifesto dos 34", assinado por eminentes homens de ciência, médicos, escritores e peritos da polícia. De 1921 a 1923 realizou, quer em Varsóvia, quer em Paris, experiências com o médium polonês Stephan Ossoviecki.
 Publicou várias obras, destacando-se: “Ensaio”(1897); “O Ser Subconsciente”(1899); “Monismo Idealista e Palingenésia”(1912); “A Chamada Fisiologia Supranormal e os Fenômenos de Ideopalastia”(1918); “Do Inconsciente ao Consciente”(1919); “A Ectoplasmia e a Clarividência”(1924). Nesta última obra o autor anuncia um volume complementar intitulado "Gênese e Significado dos Fenômenos Metapsíquicos", que não chegou a ser publicado em virtude do acidente em que faleceu aos 49 anos.
O seu primeiro trabalho, em ordem cronológica, é um resumo da doutrina espírita, que ele organizou para seu próprio uso, ou, como disse, para fixar suas próprias ideias a respeito do Espiritismo. Tão bom ficou, que alguns amigos convenceram-no a publicá-lo sob a forma de um ensaio. A boa ordenação das ideias ele adquirira anteriormente quando foi atraído pelo Positivismo de Augusto Comte, que exerceu profunda influência na sua formação intelectual.
No livro "O Ser Subconsciente", cujo título não é outra coisa senão o perispírito, o Dr. Geley talvez desejasse emprestar uma terminologia mais neutra, que pudesse interessar o homem de ciência de seu tempo. A substância que compõe o ser subconsciente é "homogênea, inacessível aos sentidos normais, imponderável, capaz de atravessar obstáculos materiais, suscetível de ser projetada parcialmente, bem longe da pessoa". Por outro lado "é visível aos sensitivos em estado de hipnose”. “O ser subconsciente exteriorizável ‒ diz ele ‒ é o produto sintético duma série de consciências sucessivas que se fundem nele e que pouco a pouco o constituem". E assim, com essa terminologia, o livro faz uma síntese explicativa dos fenômenos obscuros da psicologia normal e anormal.
Na obra "Do Inconsciente ao Consciente" o autor desenvolve com profundidade o problema da evolução, analisando, através de um estudo crítico, as teorias clássicas da evolução através dos pensamentos de Darwin, de Lamarck e de Bergson. Em linguagem sempre simples, precisa e inequívoca, encontram-se conclusões como: "Tudo se passa em Biologia como se o ser físico fosse essencialmente constituído por uma substância primordial única da qual as formações orgânicas não são mais que simples representações". A leitura integral ajuda a compreensão, numa síntese mais completa e mais vasta, da evolução coletiva e individual.
Nos dois livros acima descritos, o Dr. Geley limitou-se praticamente à derrubada das doutrinas evolucionistas e psicológicas de seu tempo e à meticulosa montagem de seu sistema de concepções. Suas conclusões, sendo as mesmas da doutrina espírita, deram lugar ao aparecimento de críticos de sua obra para declarar que o grande médico, respeitável por todos os títulos, tinha concebido uma teoria muito complexa, de muito largo alcance, até mesmo revolucionária, porém baseada em "fatos insuficientemente estudados e estabelecidos". Daí a razão de "Ectoplasmia e Clarividência". Querem fatos? Pois aí os têm. E foram tão abundantes e tão bem documentados que as conclusões filosóficas tiveram de ser transferidas para um outro livro.
Assim foi a vida desse luminar da ciência que, antes de ser racional era lúcido o bastante para não cultivar superstições. Foi um gênio que fez bom uso do seu tempo, dedicando-o na aquisição de valores para o seu espírito e no enriquecimento da Ciência. Gustavo Geley desencarnou nas proximidades de Varsóvia, Polônia, no dia 14 de julho de 1924, num acidente de avião, quando regressava a Paris, após haver assistido, em Varsóvia, a várias sessões com Franck Kluski. Retirado dos destroços, ainda segurava a valise que continha fragmentos de moldes em parafina obtidos nas sessões. O avião era especial e fora fretado por Geley, por que o piloto da linha Varsóvia-Paris se negara a transportar a valise por conter objetos "diabólicos e maléficos".




sábado, 20 de outubro de 2018

Espiritismo, política e problemas atuais[1]


Ademir Xavier


Discute-se a política que move os interesses gerais; discutem-se os interesses privados; apaixona-se pelo ataque ou pela defesa das personalidades; os sistemas têm partidários e detratores, mas as verdades morais, que são o pão da alma, o pão da vida, são deixadas no pó acumulado pelos séculos.
Todos os aperfeiçoamentos são úteis aos olhos da multidão, salvo os da alma.
J. J. Rousseau, Médium Sra. Costel, Revista Espírita, Agosto de 1861.
"Dissertações e ensinos espíritas” [2]

A economia, as eleições e os embates políticos atuais nos convidam a meditar sobre conceitos como governo, política e temas administrativos. O que o Espiritismo teria a dizer sobre o assunto?
É evidente que o tema é complexo e exige conhecimento especializado. A multiplicidade de interesses, crenças filosóficas e de pensamento são tão grandes entre aqueles que se aproximam do poder que é muito difícil dar uma resposta única a esses problemas. Assim, ainda que houvesse acordo em relação aos princípios que devem nortear programas de governo, existe discordância em relação à maneira como tais princípios devem se organizar na administração, tendo em vista os conflitos de interesse entre diversos grupos que pretendem realizar essa organização.
Assim, é impossível a definição de apenas uma maneira de governar. Por outro lado, ainda que os interesses coincidissem, mas de forma desorganizada ‒ o que obviamente não ocorre ‒ o excesso de ideias, de pontos de vista e heurísticas de organização do poder tornariam novamente inviável qualquer solução simples. A julgar porém que muitas nações conseguiram transitoriamente razoável estabilidade e aparente equidade social (pelo menos do ponto de vista material), temos a certeza de que uma solução próxima do ótimo também deve existir para um país tão complexo como o Brasil.
Mas, será que podemos usar o Espiritismo para descobrir qual o melhor caminho a seguir em problemas administrativos e políticos?
O propósito do Espiritismo
Convencer intelectualmente a alma humana[3] da continuidade da vida após a morte, da progressão sem fim em todos os sentidos e da necessidade de fraternidade com consequência desse destino final é um dos objetivos do Espiritismo. Assim, em qualquer relacionamento que se faça entre Espiritismo e tais assuntos, não se deve nunca perder de vista que o Espiritismo jamais terá como objetivo sugerir (e, muito menos ditar) orientações para governos e instituições por uma questão de princípios próprios do Espiritismo. Entendemos que célula última da sociedade (o indivíduo) deve inicialmente se convencer da importância dos princípios universais do bem e da caridade como condição necessária para que esses problemas administrativos sejam, de fato, resolvidos. Por isso, o foco principal da Doutrina Espírita será, por enquanto, trabalhar no aprimoramento do ser humano através de sua educação moral.
É evidente que a base de todo o progresso, inclusive o material, está na evolução da alma. Primeiro porque se ela for mais educada, terá seus apetites materiais reduzidos, o que permite o compartilhamento de recurso entre todos. Segundo porque uma moral superior na sociedade torna a vida de todos mais fácil, por melhorar as relações humanas que também são a base para todas as trocas, inclusive aquelas que interessam aos aspectos materiais da vida presente. De fato, tudo é mais fácil quando as relações se dão entre almas verdadeiramente educadas. Mas educação, para o Espiritismo, não é apenas conhecimento intelectual, mas também dos valores infinitos que o ser deve cultuar de forma a se harmonizar com seus semelhantes, com Deus e consigo mesmo.
Lembramos aqui o que Kardec já afirmava ao nascente movimento espírita de sua época (que é plenamente válido para o momento atual):
Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários, a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar suscetibilidades e desconfianças. Não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quando se refere à política e a questões irritantes; a tal respeito, as discussões apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém terá nada a objetar à moral, quanto esta for boa (Grifos nossos) [4].
Assim, além da relevante questão de separação entre "religião e Estado", deve-se procurar também afastar os assuntos espíritas de quaisquer influências de envolvimento com tais questões irritantes, de forma que o movimento espírita não se contamine com utopias de natureza política promovida por grupos de interesses diversos. Jamais o espírita deverá se deixar levar pelo "canto de sereia" daquilo que nasceu fora do contexto espírita (e, principalmente, com claras idealizações materialistas) e que com ele nada tenham a ver a não ser um vago anseio pela melhoria da vida dos homens sem se especificar a que custo. 
Ora, que se tenha tais anseios é muito fácil de defender, pois é desejo compartilhado por qualquer um. Quem se colocaria contra uma corrente de pensamento, doutrina ou partido que pretenda melhorar as condições de vida dos cidadãos? Quem se oporia à redução das injustiças sociais? Quem reprovaria a distribuição equitativa de riquezas? Disso não segue que qualquer meio para se atingir tal objetivo deva contar com o apoio de uma doutrina de caráter moral e que prega a continuidade da vida após a morte com consequências claras para vida futura. Além disso, como as reais intenções dos indivíduos não estão disponíveis publicamente, não existem garantias quanto à credibilidade de seus proponentes, ainda mais em uma época em que as pessoas guardam tão pouco apreço pela verdade.
Existe uma distância imensa entre os diversos métodos propostos para se chegar a esse estado de justiça e aquilo que realmente deve ser feito, considerando-se a conjuntura presente da sociedade, os inúmeros conflitos de interesse e a existência de indivíduos sem escrúpulo que se apropriam desses anseios em benefício próprio. Dessa forma, o leitor deve considerar as consequências para sua vida futura de seu engajamento em ações eticamente inconsistentes e que prejudicam diretamente determinadas pessoas em nome da "defesa de interesses" de outras. Por fim, deve ainda considerar que o silêncio, omissão ou não ação diante de situações claramente vexatórias e discriminantes também trará consequências futuras.
Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras. (Romanos 2:6)
Está vedado ao espírita sua manifestação política? Obviamente que não, porém, o indivíduo que se diz espírita deve procurar meditar sobre a consistência lógica de seu posicionamento diante dos princípios imortalistas que diz defender. Se ele não fizer isso, estará propagando por seus atos uma crença incoerente ou propaganda falsa. O primeiro compromisso do espírita deve ser com a verdade.
Enquanto espera, conseguisse ele corrigir um único defeito...
Sei que muitos podem se decepcionar com essa conclusão bastante clara do pensamento espírita escorado em seus princípios. A outros ela parecerá excessivamente utópica ou impraticável. Convém revisar, entretanto, a resposta à questão 800 de "O Livro dos Espíritos":
800. Não será de temer que o Espiritismo não consiga triunfar da negligência dos homens e do seu apego às coisas materiais?
Conhece bem pouco os homens quem imagine que uma causa qualquer os possa transformar como que por encanto. As ideias só pouco a pouco se modificam, conforme os indivíduos, e preciso é que algumas gerações passem, para que se apaguem totalmente os vestígios dos velhos hábitos. A transformação, pois, somente com o tempo, gradual e progressivamente, se pode operar. A cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo veio para rasgá-lo de alto a baixo; mas, enquanto espera, conseguisse ele corrigir num homem apenas um único defeito que fosse e já o haveria ajudado a dar um passo. Ter-lhe-ia feito, só com isso, grande bem, pois esse primeiro passo lhe facilitará os outros. (Grifo nosso)2.
De onde se depreende que os métodos usados pela lei Divina (que o Espiritismo toma como orientação da vida do indivíduo) são bastante diferentes daqueles idealizados pelos encarnados que têm pressa em mudar a situação atual com base na crença de que a presente existência é a única que existe.
Não sabemos quando o estado final de felicidade perene se concretizará, mas temos como certo que a proposta de aprimoramento do ser por enquanto tem sido relegada ao "pó dos séculos" pelo desprezo que o progresso material da civilização deu às questões da alma, que sequer é considerada como a existir. Assim, muitos dos métodos criados para se chegar a esse estado de justiça e equidade partem do pressuposto que apenas os aspectos materiais devem ser privilegiados, o que cria um conflito entre esses objetivos e a realidade do destino final da alma humana que existe e sempre existirá.  Que o progresso material deva ser conseguido a qualquer custo não parece também ser um objetivo defensável, haja vista as diversas consequências negativas desse progresso em outros sentidos (problemas ambientais e climáticos, conflitos e desequilíbrios psicológicos vários etc.).
Os princípios espíritas estão ligados a objetivos que talvez nunca se generalizem na superfície do Terra um dia. Seu alvo é a vida paralela imortal do ser e claramente levariam a uma rápida modificação das condições materiais e principalmente morais da vida na Terra se eles fossem sistematicamente buscados. Como haveremos, porém, de convencer aos não espíritas de sua excelência se nós, que dizemos neles acreditar, agimos de forma inconsistente? É impossível ao espírita ‒ que tem zelo por sua doutrina ‒ esquecer os aspectos imanentes da vida humana nas horas em que ele é obrigado a decidir sobre todos os outros aspectos em sua presente e transitória encarnação.




[3] Dizemos intelectualmente, porque, todos os dias, milhares de pessoas entram em contato com o mundo invisível seja através de suas atividades durante o sono ou de algum grau de mediunidade. Assim, inconscientemente todos guardamos noção da sobrevivência e da vida maior. Além disso outros tantos milhares partes para o mais além através da morte. Entretanto, esse conhecimento ou lembrança permanece inconsciente na vigília dos encarnados cujas crenças mais ligadas aos sentidos e ao aprendizado acabam por dominar muito de suas decisões. 
[4] Kardec A. "Cumprimentos de Ano Novo". Revue Spirite, Fevereiro de 1862. (versão IPEAK www.ipeak.com). O artigo original em Francês tem como título "Les souhaits de nouvel an: Réponse à l'adresse des Spirites Lyonnais à l'occasion de la nouvelle année".