J. Herculano Pires
Psicólogos modernos sustentam
que o ódio é uma necessidade que tanto devemos amar como odiar. E alguns, mais
ferozes, na sua concepção da vida, chegam mesmo a afirmar que devemos odiar com
o máximo de intensidade e externar o ódio para que ele não nos envenene. O
conceito do homem que essa psicologia nos apresenta é em si mesmo um grave
sintoma de enfermidade mental. A imagem desse homem animalesco decorre de uma
visão mórbida da criatura humana esmagada pelos instintos animais. Não
obstante, a própria Psicanálise, imantada inicialmente ao conceito da libido,
já desde Freud encontrou a válvula da sublimação. E seus avanços posteriores,
ao lado de progressos notáveis da Psiquiatria e das pesquisas psicológicas em
vários campos, confirmaram a teoria espírita dos instintos espirituais que
orientam a nossa formação humana,
Querer extinguir o ódio com a
prática da odiosidade é o mesmo que pretender apagar o fogo com gasolina. Ódio
gera ódio. Por isso, como Cornélio Pires ilustra nas suas quadras, o incêndio
do ódio, que alimentarmos em nós e nos outros, terá de ser apagado pelos
princípios da vida através da reencarnação. O Evangelho do Cristo substituiu a
lei bíblica do olho por olho e dente por dente pela lei do amor ao próximo,
incluindo no próximo os próprios inimigos. Onde não existir a luz do perdão as
reencarnações dolorosas se processarão em círculo vicioso. Ficaremos presos à
roda viva dos resgates penosos, por séculos e milênios, até aprendermos a amar
os inimigos.
O ódio é destruidor, é o ácido
corrosivo da inferioridade espiritual. O homem que odeia se animaliza,
rebaixa-se ao nível das feras. O amor é a força criadora que distingue o homem dos
bichos. A desforra do homem inferior é a injúria, a agressão, a vingança, o
assassinato. A desforra do homem superior é o perdão. Quando perdoamos,
desarmamos o adversário, ajudamo-lo a fazer-se criatura humana, a ser gente.
Toda a cultura humana se assenta no amor: O ódio é a negação da cultura, o
domínio da barbárie, como vemos diariamente no mundo do crime. Só os loucos
defendem e pregam o ódio, porque a mente desequilibrada semeia o desequilíbrio.
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