Sequência da
quase-travessia
Ninguém realmente sabe o que
acontece quando morremos, mas muitas pessoas têm histórias para contar sobre o
que experimentaram quando estiveram perto da morte.
Quem teve uma experiência de
quase-morte geralmente relata memórias muito ricas e detalhadas do evento.
Embora tais experiências possam assumir muitas formas diferentes, alguns dos
fenômenos bem conhecidos incluem ver uma luz brilhante, experimentar um sentimento
de paz, ter uma experiência fora do corpo e perceber um túnel.
Embora esforços significativos
de pesquisa tenham chegado a uma boa compreensão das características
fenomenológicas específicas relatadas durante as experiências próximas da
morte, a literatura científica sobre a estrutura temporal das experiências de
quase-morte (EQM) ainda é bastante limitada.
Por exemplo, uma área menos
explorada é se há alguma regularidade temporal nas experiências de quase-morte
- em outras palavras, as pessoas tendem a experimentar os diferentes fenômenos
em uma mesma ordem sequencial ou cada um tem sua própria sequência?
"Pelo nosso melhor
conhecimento, nenhum estudo investigou formal e rigorosamente se as
características da EQM seguem uma ordem ou distribuição fixa," justificou
a pesquisadora Charlotte Martial, da Universidade de Liége (Bélgica). "O
objetivo do nosso estudo foi investigar a distribuição de frequência dessas
características, tanto globalmente como de acordo com a posição das
características nas narrativas, bem como as sequências temporais mais
frequentemente relatadas dos diferentes fenômenos da experiência de
quase-morte".
Fenômenos durante a
experiência de quase-morte
A equipe coletou e analisou
relatos escritos de 154 pessoas que passaram pela experiência, catalogando as
sensações e ocorrências específicas presentes em cada narrativa e depois
examinando a ordem de surgimento dos diferentes fenômenos em cada história.
Em média, uma pessoa experimenta
cerca de quatro fenômenos diferentes durante uma experiência de quase-morte. As
características mais frequentemente relatadas foram: Sentimento de paz (80% dos
participantes), ver uma luz brilhante (69%) e encontrar-se com espíritos ou
pessoas já mortas (64%).
Pelo lado oposto, as duas
experiências mais incomuns nos relatos foram pensamentos acelerados (5%) e
visões precognitivas (4%).
Em termos de cronologia, um
terço dos narradores (35%) descreveu uma experiência fora do corpo como a
primeira característica de sua experiência de quase-morte; por decorrência, a
última experiência mais frequente foi retornar ao corpo (36%).
"Isso sugere que as
experiências de quase-morte parecem ser regularmente desencadeadas por uma
sensação de desconexão do corpo físico e acabam quando retornam ao corpo,"
confirmou Charlotte Martial.
No geral, os fenômenos mais
comumente compartilhados pelos diversos narradores foram: sentir-se fora do
corpo, sentir-se em um túnel, ver uma luz brilhante e, finalmente, um
sentimento de paz - essa sequência exata de eventos foi relatada por 22% dos
participantes.
Compreensão
científica das experiências de quase-morte
A conclusão geral é que, embora
diferentes tipos de experiências sigam-se naturalmente, principalmente aos
pares, não é possível estabelecer uma sequência universal de eventos na amostra
de narrativas analisada, o que sugere que cada experiência de quase-morte tem
um padrão único de eventos, ainda que os eventos individualmente sejam comuns
às diversas pessoas.
Em outras palavras, a ordem na
qual os diferentes tipos de experiências ocorrem pode ser muito individual.
No entanto, Martial e seus
colegas afirmam esperar que uma análise mais profunda de como os diferentes
fenômenos se relacionam entre si pode levar a uma definição mais rigorosa e a
uma melhor compreensão científica das experiências de quase-morte como um todo.
"Isso levanta questões
importantes sobre quais aspectos específicos das experiências de quase-morte
podem ser considerados universais - e quais não podem. Mais pesquisas serão
necessárias para explorar essas diferenças e a extensão precisa de quais
conteúdos dessas experiências refletem as expectativas e origens culturais [de
cada pessoa], bem como os mecanismos neurofisiológicos subjacentes às
experiências de quase-morte," concluiu Charlotte Martial.
A análise foi publicada na revista científica Frontiers
in Human Neuroscience.
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