Joanna de Ângelis
As tendências que promanam do
passado em forma de inclinações e desejos, se transformam em hábitos salutares
ou prejudiciais quando não encontram a vigilância e os mecanismos da educação
pautando os métodos de disciplina e correção. Sob a impulsão do atavismo que se
prende nas faixas primevas, das quais a longo esforço o Espírito empreende a
marcha da libertação, os impulsos violentos e a comodidade que não se interessa
pelos esforços de aprimoramento moral amolentam a individualidade, ressurgindo
como falhas graves da personalidade.
As constrições da vida, que se
manifestam de vária forma, conduzem o aspirante evolutivo à trilha correta por
onde, seguindo-a, mais fácil se lhe torna o acesso aos objetivos a que se
destina. Nesse desiderato, a educação exerce um papel preponderante, porque
faculta os meios para uma melhor identificação de valores e seleção deles,
lapidando as arestas embrutecidas do eu, desenvolvendo as aptidões em germe e
guiando com segurança, mediante os processos de fixação e aprendizagem, que
formam o caráter, insculpindo-se, por fim, na individualidade e externando-se
como ações relevantes.
Remanescente do instinto em que
se demorou por longos períodos de experiência e ainda mergulhado nas suas
induções, o Espírito cresce, desembaraçando-se das teias de vigorosos impulsos
em que se enreda para a conquista das aptidões com que se desenvolve.
Pessoa alguma consegue
imunizar-se aos ditames da educação, boa ou má, conforme o meio social em que
se encontra. Se não ouve a articulação oral da palavra, dispõe dos órgãos,
porém, não fala; se não vê atitudes que facilitam a locomoção, a aquisição dos
recursos para a sobrevivência, consegue, por instinto, a mobilização com
dificuldade e o alimento sem a cocção; tende a retornar às experiências
primitivas se não é socorrido pelos recursos preciosos da civilização, porque
nele predominam, ainda, as imposições da natureza animal. Possui os reflexos,
no entanto, não os sabe aplicar; desfruta da inteligência e, por falta de uso,
já que se demora nas necessidades imediatas, não a desenvolve; frui das
acuidades da razão e dos discernimentos, entretanto, se embrutece por ausência
de exercícios que os aprofunde. Nele não passam de lampejos as manifestações
espirituais superiores, se arrojado ao isolacionismo ou relegado às faixas em
que se detêm os principiantes nas aquisições superiores...
Muito importante a missa da
educação como ciência e arte da vida.
Encontrando-se ínsitas no
Espírito as tendências, compete à educação a tarefa de desenvolver as que se
apresentam positivas e corrigir as inclinações que induzem à queda moral, à
repetição dos erros e das manifestações mais vis, que as conquistas da razão ensinaram
a superar.
A própria vida facultou ao
Espírito, em longos milênios de observação, averiguar o que é de melhor ou pior
para si mesmo, auxiliando-o no estabelecimento de um quadro de valores, de que
se pode utilizar para a tranquilidade interior. Trazendo, do intervalo que
medeia entre uma e outra reencarnação, reminiscências, embora inconvenientes,
do que haja sucedido, elege os recursos com que se pode realizar melhormente,
ao mesmo tempo impedindo-se de deslizes e quedas nos subterrâneos da aflição.
Outrossim, inspirados pelos Espíritos promotores do progresso no mundo,
assimila as ideias envolventes e confortadoras, entregando-se ao labor do
auto-aprimoramento.
O rio corre e cresce conforme as
condições do leito.
A plântula se esgueira e segue a
direção da luz.
A obra se levanta consoante o
desejo do autor.
Em tudo e toda parte, predominam
leis sutis e imperiosas que estabelecem o como, o quando e o onde devem ocorrer
as determinações divinas. Rebelar-se contra elas, é o mesmo que atrasar-se na
dor, espontaneamente, contribuindo duplamente para a realização que
conquistaria com um só esforço.
A tarefa da educação deve
começar de dentro para fora e não somente nos comportamentos da moral social,
da aparência, produzindo efeitos poderosos, de profundidade.
Enquanto o homem não pensar com equidade
e nobreza, os seus atos se assentarão em bases falsas, se deseja estruturá-los
nos superiores valores éticos, porquanto se tornam de pequena monta e de fraca
duração. Somente pensando com correção, pode organizar programas
comportamentais superiores aos quais se submete consciente, prazerosamente. Não
aspirando à paz e à felicidade por ignorar-lhes o de que se constituem,
impraticável lecionar-lhes sobre tais valores. Só, então, mediante o
paralelismo da luz e da treva, da saúde e da enfermidade, da alegria e da
tristeza poder-se-ão ministrar-lhe as vantagens das primeiras em relação às
segundas... Longo tempo transcorre para que os serviços de educação se façam
visíveis, e difícil trabalho se impõe, particularmente, quando o mister não se
restringe ao verniz social, à transmissão de conhecimentos, às atitudes
formais, sem a integração nos deveres conscientemente aceitos.
Por educar, entenda-se, também a
técnica de disciplinar o pensamento e a vontade, a fim de o educando
penetrar-se de realizações que desdobrem as inatas manifestações da natureza animal,
adormecidas, dilatando o campo íntimo para as conquistas mais nobres do
sentimento e da psique.
Nas diversas faixas etárias da
aprendizagem humana, em que o ser aprende, apreende e compreende, a educação
produz os seus efeitos especiais, porquanto, através dos processos persuasivos,
libera o ser das condições precárias, armando-o de recursos que resultam em
benefícios que não pode ignorar.
A reencarnação, sem dúvida, é
valioso método educativo de que se utiliza a vida, a fim de propiciar os meios
de crescimento, desenvolvimento de aptidões e sabedoria ao Espírito que
engatinha no rumo da sua finalidade grandiosa.
Como criatura nenhuma se realiza
em isolacionismo, a sociedade se torna, como a própria pessoa, educadora por
excelência, em razão de propiciar exemplos que se fazem automaticamente
imitados, impregnando aqueles que lhes sofrem a influência imediata ou mediatamente.
No contexto da convivência, pelo instinto da imitação, absorvem-se os
comportamentos, as atitudes e as reações, aspirando-se a psicosfera ambiente,
que produz, também, sua quota importante, no desempenho das realizações
individuais e coletivas.
Como se assevera, com reservas,
que o homem é fruto do meio onde vive, convém se não esquecer de que o homem é
o elemento formador do meio, competindo-lhe modificar as estruturas do ambiente
em que vive e elaborar fatores atraentes e favoráveis onde se encontre colocado
a viver. Não sendo infenso aos contágios sociais, não é, igualmente, inerme a
eles, senão quando lhe compraz, desde que reage aos fatores dignificantes a que
não está acostumado, se não deseja a estes ajustar-se.
Além do ensino puro e simples
dos valores pedagógicos, a educação deve esclarecer os benefícios que resultam
da aprendizagem, da fixação dos seus implementos culturais, morais e
espirituais. Por isso, e sobretudo, a tarefa de educação há que ser
moralizadora, a fim de promover o homem não apenas no meio social, antes
preparando-o para a sociedade essencial, que é aquela preexistente ao berço
donde ele veio e sobrevivente ao túmulo para onde se dirige.
Nesse sentido, o Evangelho é,
quiçá, dos mais respeitáveis repositórios metodológicos de educação e da maior
expressão de filosofia educacional. Não se limitando os seus ensinos a um breve
período da vida e sim prevendo-lhe a totalidade, propõe uma dieta
comportamental sem os pieguismos nem os rigores exagerados que defluem do
próprio conteúdo do ensino.
Não raro, os textos evangélicos
propõem a conduta e elucidam o porquê da propositura, seus efeitos, suas
razões. Em voz imperativa, suas advertências culminam em consolação, conforto,
que expressam os objetivos que todos colimam.
- "Vinde a mim", ‒
assentiu Jesus ‒ porque eu "Sou o Caminho, a Verdade e a Vida", não
delegando a outrem a tarefa de viver o ensino, mas a si mesmo se impondo o
impostergável dever de testemunhar a excelência das lições por meio de
comprovados feitos. Sintetizou em todos os passos e ensinamentos a função dupla
de Mestre ‒ educador e pedagogo ‒, aquele que permeia pelo comportamento, dando
vitalidade à técnica de que se utiliza, na mais eficiente metodologia, que é da
vivência.
Quando os mecanismos da educação
falecem, não permanece o aprendiz da vida sem o concurso da evolução, que lhe
surge como dispositivo de dor, emulando-a ao crescimento com que se libertará
da situação conflitante, afligente, corrigindo-o e facultando-lhe adquirir as
experiências mais elevadas.
A dor, em qualquer situação,
jamais funciona como punição, porquanto sua finalidade não é punitiva, porém
educativa, corretora. Qualquer esforço impõe o contributo do sacrifício, da
vontade disciplinada ou não, que se exterioriza em forma de sofrimento,
mal-estar, desagrado, porque o aprendiz, simplesmente, se recusa a considerar
de maneira diversa a contribuição que deve expender a benefício próprio.
Nenhuma conquista pode ser
lograda sem o correspondente trabalho que a torna valiosa ou inexpressiva.
Quando se recebem títulos ou moedas, rendas ou posição sem a experiência árdua
de consegui-los, estes empalidecem, não raro, convertendo-se em algemas
pesadas, estímulos à indolência, convites ao prazer exacerbado, situações
arbitrárias pelo abuso da fortuna e do poder.
Imprescindíveis em qualquer
cometimento, portanto, o exame da situação e a avaliação das possibilidades
pessoais.
Sendo a Terra a abençoada escola
das almas, é indispensável que aqui mesmo se lapidem as arestas da
personalidade, se corrijam os desajustamentos, se exercitem os dispositivos do
dever e se predisponham os Espíritos ao superior crescimento, de modo a serem
superadas as paixões perturbadoras que impelem para baixo, ao invés daquelas
ardentes pelos ideais libertadores, que acionam e conduzem para cima.
Os hábitos que se arraigam no
corpo, procedentes do Espírito com lampejos e condicionamentos, retornam e se
fixam como necessidades, sejam de qual expressão for, constituindo uma outra
natureza nos refolhos do ser, a responder como liberdade ou escravidão, de
acordo com a qualidade intrínseca de que se constituem.
A morte, desvestindo a alma das
roupas carnais, não lhe produz um expurgo das qualidades íntimas, antes lhe
impõe maior necessidade de exteriorizá-las, libertando forças que levam a
processos de vinculações com outras que lhes sejam equivalentes. Na Terra, isto
funciona em forma de complexos mecanismos de simpatia e antipatia, em
afinidades, no além-túmulo, porque sincronizam na mesma faixa de aspiração e se
movimentam na esfera de especificidade vibratória, reúnem os que se identificam
no clima mental de hábitos e aptidões que lhes são próprios.
Nunca se deve transferir para
mais tarde o mister de educar-se, corrigir-se ou educar e corrigir. O que agora
não se faça, neste particular, ressurgirá complicado, em posição diversa, com
agravantes de mais difícil remoção.
Pedagogos eminentes, os
Espíritos Superiores ensinam as regras de bom comportamento aos homens, como
educadores que exemplificam depois de haverem passado pelas mesmas faixas de
sombra, ignorância e dor, de que já se libertaram.
Imperioso, portanto, conforme
propôs Jesus, que se faça a paz com o "adversário enquanto se está no
caminho com ele", de vez que, amanhã, talvez seja muito tarde e bem mais
difícil alcançá-lo.
O mesmo axioma se pode aplicar à
tarefa da educação: agora, enquanto é possível, moldar-se o eu, antes que os
hábito e as acomodações perniciosas impeçam a tomada de posição, que é o passo
inicial para o deslanchar sem reversão.
Educação, pois, da mente, do
corpo, da alma, como processo de adaptação aos superiores degraus da vida
espiritual para onde se segue.
A educação, disciplinado e
enriquecendo de precisos recursos o ser, alçá-lo à vida, tranquilo e ditoso,
sem ligações com as regiões inferiores donde procede. Fascinado pelo tropismo
da verdade que é sabedoria e amor, após as injunções iniciais, mais fácil se
lhe torna ascender, adquirir a felicidade.
[1] SOS Família - espírito Joanna de Angelis/Divaldo Pereira Franco
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