sábado, 9 de dezembro de 2017

O que as pessoas costumam falar pouco antes de morrer?[1]



Catherine Mackie e Simone Stewart - Da BBC News - 11 novembro 2017


A BBC News entrevistou enfermeiras especializadas em cuidados paliativos e de pacientes com câncer do hospital da Universidade Royal Stoke, no Reino Unido, para saber o que ocupa a mente de pessoas em estado terminal e quais são seus desejos derradeiros.
Alguns pedem seu drink favorito, diz a enfermeira Dani Jervis.
Às vezes, elas só querem uma xícara de chá, afirma Carina Lowe, que trabalha no mesmo hospital.
Outra enfermeira se recorda de uma paciente idosa que estava internada em uma ala de cirurgia bastante movimentada.
O marido dela também ficou doente, e eles só queriam que suas camas ficassem juntas, diz Angela Beeson.
Deitados um ao lado do outro, de mãos dadas, vi eles cantando juntos. Os dois morreram naquela ala, com dez dias de diferença um do outro.
 
Sem medo
Naturalmente, é esperado que o período logo antes da própria morte, quando uma pessoa está ciente de que não lhe resta muito tempo, seja de muita tristeza na maioria das vezes.
No entanto, esse estágio final não é inteiramente marcado por sentimentos ruins, conta a enfermeira Louise Massey.
Ver a alegria no rosto de uma pessoa quando ela está morrendo e seu cachorro vem visitar é algo que não tem preço, diz ela.
Esse tipo de situação não é incomum, como se recorda a enfermeira Nicki Morgan: Já tivemos uma vez um border collie e um pastor alemão deitados na cama com um senhor; esse era seu desejo final.
A enfermeira Massey leva na memória o caso de um paciente que, há muitos anos, estava morrendo e apenas parcialmente consciente.
Ele disse que estava feliz de morrer, porque havia tido um vislumbre do céu, que era um lugar maravilhoso e que não tinha mais medo de partir.
 
Premonições
Uma das enfermeiras ouvidas pela BBC conta que, com frequência, ocorrem coincidências que alguns interpretam como premonições.
Pessoas já disseram: Completo 80 anos em algumas semanas. Vou ter minha festa de aniversário e depois eu vou partir. E, estranhamente, vimos isso acontecer, recorda-se Morgan.
Mas e quanto a arrependimentos? Há muitos? Ou os pacientes deixam isso para trás?
Lembro-me de uma pessoa me dizendo que a vida é muito curta e que devemos fazer o que nos deixa felizes, afirma Jervis.
A enfermeira Morgan diz que é muito comum as pessoas nesta situação pensarem em suas aposentadorias.
Com frequência, as pessoas trabalharam muito, determinaram uma data para se aposentar e pensam que ficaram doentes justo neste momento e não tiveram tempo suficiente para aproveitar e fazer as coisas que gostam.
Lowe se lembra de sobre um episódio que ocorreu há pouco tempo com ela: Uma coisa que foi dita para mim bem recentemente é que o processo de morrer não é como na TV ou no cinema.
 
'Boa morte'
Por sua vez, Jervis diz acreditar ser possível ter uma experiência que pode ser descrita como "uma boa morte". A comunicação é essencial, afirma.
Massey concorda: Isso pode significar não sentir dor, ter a família ao lado, pode ser o local onde querem morrer.
As enfermeiras têm alguns conselhos que acreditam que podem ajudar neste que é o único momento inescapável da vida: a morte.
Se há algo que você quer fazer, corra atrás disso, diz Jervis.
Falamos de todos os outros assuntos hoje em dia, mas viver também significa falar sobre a morte. Quais são seus objetivos na vida? O que é importante para você?, afirma Massey.
A enfermeira Beeson fala que seu trabalho acabou por completo com seu medo da morte e mudou sua postura diante do assunto. Falo disso abertamente com a minha família, diz.
Precisamos planejar com antecedência os cuidados que receberemos.




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