James Gallagher - 28 setembro
2017
Pesquisadores chineses afirmam
ter realizado pela primeira vez no mundo uma "cirurgia química" em
embriões humanos para extrair uma doença.
A equipe da Universidade de Sun
Yat-sen usou uma técnica chamada "edição de base" para corrigir um
único erro entre as três bilhões de "letras" do nosso código
genético.
Eles alteraram embriões feitos
em laboratório para extrair a doença talassemia
beta. A equipe disse que o experimento pode levar, algum dia, ao tratamento
de uma série de doenças herdadas geneticamente.
A técnica altera a construção
base do DNA: as quatro bases adenina, citosina, guanina e timina. Elas são mais
conhecidas por suas respectivas letras iniciais, A, C, G e T.
Todas as instruções para
"configurar" o corpo humano e colocá-lo em funcionamento estão
codificadas nas combinações dessas quatro bases.
A talassemia beta, uma doença sanguínea que causa sintomas de anemia
e pode levar à morte, é provocada por uma mudança em uma única base no código
genético ‒ conhecida como mutação pontual.
Os pesquisadores chineses a
"editaram de volta". Eles copiaram o DNA e trocaram o G por um A,
corrigindo o problema.
"Nós somos os primeiros a
demonstrar a viabilidade de curar doenças genéticas em embriões humanos a
partir de um sistema de edição de base", disse à BBC Junjiu Huang, um dos
cientistas do grupo.
Ele disse que o estudo abre
novas portas para tratar pacientes e prevenir bebês de nascerem com a talassemia beta "e até mesmo outras
doenças hereditárias".
Os experimentos foram feitos com
tecidos de um paciente com a doença e através de embriões humanos criados a
partir da clonagem.
Revolução genética
A edição de base é um avanço em
relação a outra forma de editar genes, a técnica conhecida como Crispr, que já
está revolucionando a ciência.
A Crispr quebra o DNA. Quando o
corpo tenta consertar a quebra, ela desativa uma série de instruções, que
também são chamadas de gene. Aí está a oportunidade de inserir novas
informações genéticas.
A edição de base faz as próprias
bases de DNA se transformarem umas nas outras.
O professor David Liu, pioneiro
da edição de base na Universidade de Harvard, descreveu o método como
"cirurgia química".
Ele afirma que a técnica é mais
eficiente e tem menos efeitos colaterais indesejados do que a Crispr.
"Cerca de dois terços das
variantes genéticas humanas associadas a doenças são mutações pontuais.
Portanto, a edição de base tem o potencial de corrigir diretamente, ou
reproduzir para fins de pesquisa, muitas [mutações] patogênicas".
O grupo de cientistas da
Universidade de Sun Yat-sen em Guangzhou (China) virou manchete anteriormente
quando eles foram os primeiros a usar a técnica Crispr em embriões humanos.
O professor Robin Lovell-Badge,
do Instituto Francis Crick em Londres, disse que determinados trechos desse
último estudo são "engenhosos".
Mas ele também questionou por
que eles não fizeram mais pesquisas com animais antes de ir diretamente aos
embriões humanos e afirmou que as regras sobre pesquisas com embriões em outros
países teriam sido "mais rigorosas".
O estudo, publicado na revista
científica Protein and Cell, é o mais recente exemplo da rapidez na evolução da
habilidade dos cientistas de manipular o DNA humano.
Isso está provocando um debate
profundo de ética na sociedade, sobre o que é e o que não é aceitável nos
esforços para prevenir doenças.
O professor Lovell-Badge disse
que esses métodos dificilmente serão usados clinicamente em breve.
"Serão necessários muito
mais debates sobre ética e sobre como esses métodos seriam regulados. E, em
muitos países, incluindo a China, é necessário ter mecanismos mais robustos
para regulação, fiscalização e acompanhamento a longo prazo".
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