segunda-feira, 4 de setembro de 2017

R I T A CERQUEIRA[1]

 

Nasceu a 29 de abril de 1888, em Augustura, Distrito de São José, Além-Paraíba, Estado de Minas Gerais, e desencarnou em Três Rios, Estado do Rio de Janeiro, a 06 de abril de 1951.
Desempenhou uma multiplicidade de cargos e encargos, como Diretora da Lar "Manoel Pessoa de Campos", e do Grupo Espírita "Fé e Esperança", na qualidade de Diretora de Assistência aos Necessitados. Foi também orientadora da Mocidade Espírita "Bezerra de Menezes", arregimentando os moços para o trabalho de caridade, incentivando-os para o conhecimento doutrinário-evangélico. Era procurada, diariamente, por uma multidão de aflitos cujos problemas procurava solucionar satisfatoriamente, através de suas palavras evangelizadas e persuasivas.
Ao seu espírito perseverante e realizador devem-se grandes empreendimentos na cidade de Três Rios, em vários setores de atividade.
Era descendente do Almirante Saldanha Marinho, que foi advogado de renome, deputado estadual por várias legislaturas, grande político do século passado, escritor e grão-mestre da Maçonaria, desencarnado em 1895.
Ficou órfã de pai aos nove anos de idade, passando a viver sob a tutela de sua avó materna, D. Raquel Saldanha Marinho, grande educadora, austera e boa, que exercia o magistério em Além-Paraíba. Sua avó desenvolveu na menina Ritinha sentimentos elevados, o amor aos seus semelhantes e a fé inabalável em Deus.
Bem menina ainda, conheceu o jovem Francisco Ferreira de Cerqueira, com ele contraindo matrimônio aos 18 anos de idade. Em 1910, transferiram-se para a cidade de Três Rios, radicando-se ali, jamais pensando em residir em outra parte. Seu esposo, alma pura e simples, amava-a de coração e uniram-se no trabalho dignificante, ajudando-se mutuamente, nas tarefas do Bem. Foi exemplar servidor da Central do Brasil, estimado e considerado por seus chefes e colegas. Verdadeiro chefe de família, como esposo e pai, soube cumprir os deveres do verdadeiro espírita, integrado nos postulados cristãos.
Tiveram sete filhos, dos quais um desencarnou com um ano de idade, criando-se os restantes, todos dentro dos princípios da Doutrina Espírita.
D. Rita Cerqueira, enviuvou em 1928, ficando com todos os seus filhos menores de idade. José Ferreira de Cerqueira, o mais velho, já um rapazinho, foi o esteio da família. A fé inabalável de D. Ritinha e o comportamento e união dos filhos fizeram com que fossem vencidas todas as dificuldades e em pouco tempo tudo se tornasse paz e tranquilidade naquele abençoado lar cristão.
Sua vida como espírita não foi menos grandiosa:
— Por volta de 1918, foi acometida de uma enfermidade, para a qual a medicina não encontrou solução, chegando a ser desenganada por junta médica. Toda a sua família ficou desesperada e inconsolável, somente ela não perdia a esperança, recomendando fé em Deus, porque em breve haveria de sarar.
Nessa altura, teve conhecimento da existência de um médium espírita em Porto Novo da Cunha. Cheia de fé e animada da certeza que Deus haveria de curá-la, pediu ao esposo fosse consultá-lo, naturalmente inspirada pelos amigos espirituais.
Francisco Cerqueira, com o coração partido de dor, já desesperado pelos resultados médicos, foi buscar a receita. De volta, trouxe consigo remédios homeopáticos, ervas e a recomendação para que lhe fossem ministrados passes, pois a sua doença, segundo o guia espiritual do médium, era de origem espiritual.
Confiantes, seguiram à risca todas as instruções recebidas e as melhoras não se fizeram esperar, ficando boa em poucos dias.
Dessa data em diante ocorreram os primeiros fenômenos mediúnicos, com aquela que seria mais tarde grande médium, consagrando toda sua vida aos menos afortunados, não só no exercício da Mediunidade, como em outros meios facultados pela Doutrina. Certo dia sente-se inopinadamente fora do corpo físico; vê, conversa com todos, porém não se apercebe de seu próprio corpo. Após momentos de ansiedade, compreendeu que seu Espírito se exteriorizara e era preciso regressar ao envoltório carnal. Nesse momento rogou a Deus com todas as forças de que dispunha que a fizesse regressar ao corpo, porque tinha uma missão a cumprir, além daquela de esposa e mãe, e no mesmo instante voltou ao normal.
No dia seguinte, procurou o Centro Espírita, presidido pelo Professor Alexandre José Lacerda, desenvolvendo-se de forma bastante rápida o dom da mediunidade, comunicando-se por seu intermédio um amigo espiritual de grande elevação, que cientificou a todos da grande tarefa que ela tinha pela frente.
Rita Cerqueira, exuberante de alegria, regressou ao lar, certa de que dali por diante poderia ser muito mais útil aos seus semelhantes.
Nessa mesma noite, foi provada a sua fé. Foi chamada para socorrer uma enferma em grande sofrimento e aflição. Não se recusou, confiante em Jesus e, à beira da cabeceira do doente, impôs suas mãos e o seu pensamento em prece, recebeu a ajuda do Alto. Quando dali saiu, deixou em paz aquele lar onde até então reinava desespero e apreensão. Daí por diante, sua mediunidade desabrochou ostensivamente no campo da cura sendo intermediária entre a Terra e o Céu.
Muito estudiosa, tomou conhecimento das obras doutrinárias, principalmente de Kardec, em companhia dos companheiros do Centro, como Prof. Alexandre J. Lacerda, Marcelina Chaves, Eliezer Fonseca, Manoel Gonçalves e Manoel Pessoa de Campos, incansáveis trabalhadores que deixaram seus nomes registrados de modo indelével naquela cidade.
Com seu esposo foi o amparo de multidões de aflitos e deserdados da sorte, que tiveram em seu coração, o remédio, o amparo e a consolação. Fez parte das diretorias de duas instituições C.E. "João Baptista" e C.E. "Fé e Esperança", prestando valiosos e inestimáveis serviços à causa, sendo ela por assim dizer, o ponto de convergência dos espíritas locais. Em 1922, pelo seu desprendimento e espírito de trabalho, houve a fusão das duas entidades, ampliando-se o C.E. "Fé e Esperança", em cuja diretoria ficou integrada até o final de sua romagem terrena.
Em 1930, funda-se o Lar "Manoel Pessoa de Campos", instituição de amparo a crianças do sexo feminino, cuja primeira diretora foi d. Helena Chaves Arneiro. Em 1940, motivado por um período de licença da referida diretora, D. Ritinha a substituiu no cargo, ocupando-o com grande eficiência, dedicação e carinho. Em 1927, o Dr. Walter Gomes Franklin, médico parteiro residente naquela cidade, solicitou à Diretora do C.E. "Fé e Esperança", autorização para instalar dois leitos para parturientes, em uma de suas salas. Obtida a autorização, ficou ali funcionando, de forma precária, até o ano de 1935, quando foi oficialmente fundada uma Maternidade com instalações mais adequadas. Com a desencarnação do Dr. Walter Franklin, em 7 de novembro de 1953, o seu nome foi dado àquele estabelecimento.
A palavra de Rita Cerqueira era eloquente e esclarecedora, pois ela possuía notável poder persuasivo, sendo por isso muito apreciada por todos os espíritas. A sua predileção pendia para temas evangélicos, conseguindo dar interpretações claras às parábolas de Jesus Cristo. Em sua oratória fazia salientar a necessidade da prática do amor ao próximo, dando também muita ênfase a temas que versassem sobre a fé, a esperança, a bondade e, sobretudo, a caridade. O seu exemplo maravilhoso levou muita gente ao Espiritismo. Os seus conselhos eram acatados por todos, pois era dotada de elevado senso de responsabilidade e sabia, com raro tirocínio, fazer restabelecer a paz nos lares, serenar os ânimos e reatar a amizade entre pessoas que se consideravam desafetas.
Quando de sua desencarnação, por decreto municipal, foi declarado luto oficial por três dias "por motivo do falecimento da ilustre dama trirriense e grande benfeitora da infância desamparada, ocorrido no dia 6 de abril de 1951, nesta cidade". O seu nome foi dado a uma das ruas centrais de Três Rios.




[1] Personagens do Espiritismo - Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy

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