Um de nossos assinantes
dirigiu-nos a seguinte pergunta, rogando-nos que fosse respondida pelos
Espíritos que nos assistem, caso ainda não a tivesse sido.
Os
Espíritos errantes, depois de um lapso de tempo mais ou menos longo, desejam e
pedem a Deus a reencarnação como meio de progresso espiritual. Escolhem as
provas e, usando o livre-arbítrio, elegem naturalmente aquelas que lhes parecem
mais apropriadas a esse progresso, no mundo onde a reencarnação lhes é
permitida. Ora, durante sua existência errante, que empregam em instruir-se
(são eles que nos dizem), ficam sabendo quais as nações que melhor podem
fazê-los atingir o fim a que se propõem. Veem populações ferozes, antropófagas
e têm a certeza de que, nelas encarnando, tornar-se-ão ferozes e comedores de
carne humana.
Seguramente não é nesse meio que haverão de realizar o progresso espiritual;
seus instintos brutais apenas terão adquirido mais consistência pela força do
hábito. Eis então prejudicado o seu objetivo, quanto à escolha das encarnações
entre tal ou qual povo.
“O mesmo acontece com certas posições sociais. Entre estas, certamente
há as que apresentam obstáculos invencíveis ao progresso espiritual. Citarei
apenas os magarefes[2]
nos matadouros, os carrascos etc.. Dizem que tais criaturas são necessárias:
umas, porque não podemos passar sem alimentação animal; outras, porque é
preciso executar as decisões da justiça, requeridas pela nossa organização
social. Não é menos verdade que, reencarnando no corpo de uma criança destinada
a abraçar uma ou outra dessas profissões, deve o Espírito saber que envereda
por caminho errado e que se priva voluntariamente dos meios que o podem
conduzir à perfeição. Não poderia acontecer, com a permissão de Deus, que nenhum
Espírito quisesse esses gêneros de existência e, nesse caso, qual a necessidade
dessas profissões em nosso estamento[3]
social?
A resposta a essa questão
decorre de todos os ensinamentos que nos têm sido dados. Podemos, pois,
respondê-la, sem ter que submetê-la novamente aos Espíritos.
É evidente que um Espírito já
elevado, por exemplo, o de um europeu esclarecido, não poderá escolher como
meio de progresso uma existência selvagem: em vez de avançar, retrogradaria.
Mas sabemos que nossos próprios
antropófagos não se encontram no último degrau da escala e que há mundos onde o
embrutecimento e a ferocidade não têm analogia na Terra. Esses Espíritos ainda
são inferiores aos mais atrasados Espíritos de nosso mundo e, renascer entre
nossos selvagens é, para eles, um progresso. Se não visam mais alto, é que sua
inferioridade moral não lhes permite compreender um progresso mais completo. O Espírito
não pode avançar senão gradualmente; deve passar sucessivamente por todos os
graus, de forma que cada passo à frente seja uma base para assentar um novo
progresso. Ele não pode transpor de um salto a distância que separa a barbárie
da civilização, como o escolar não pode ser promovido, sem transição, do
á-bê-cê à retórica. É nisso que vemos uma das necessidades da reencarnação, que
está verdadeiramente conforme à justiça de Deus. Não fora assim, em que se
transformariam esses milhões de seres que morrem no último estado de
degradação, caso não tivessem meios de atingir a superioridade? Por que os teria
Deus deserdado dos favores concedidos aos outros homens? Nós o repetimos, por
ser um ponto essencial: em razão de sua inteligência limitada, não compreendem
o que é melhor senão do seu ponto de vista e dentro de estreitos limites. Há,
entretanto, alguns que se transviam por quererem subir muito alto, e que nos
oferecem o triste espetáculo da ferocidade no meio da civilização. Estes, voltando
entre os canibais, lucrarão ainda.
Essas considerações também se
aplicam às profissões de que fala o nosso correspondente. É evidente que
oferecem superioridade relativa para certos Espíritos e não é nesse sentido que
se deve compreender a escolha que farão. Pelo mesmo motivo, elas podem ser
escolhidas como expiação ou como missão, porquanto nenhuma existe na qual não
se possa encontrar oportunidade de fazer o bem e de progredir, pela própria
maneira com que são exercidas.
Quanto à questão de saber em que
se tornariam essas profissões, caso nenhum Espírito as quisesse abraçar, está respondida
pelos fatos. Desde que os Espíritos que as alimentam procedem de mais baixo,
não se deve temer o desemprego. Quando o progresso social permitir a supressão
do ofício de carrasco, desaparecerá essa classe e não os candidatos, que se
irão apresentar entre outros povos ou em outros mundos menos adiantados.
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