Nascido na cidade do Rio de
Janeiro, aos 5 de abril de 1862 e desencarnado no dia 3 de outubro de 1922.
Há mais de um século, nascia no
subúrbio de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, um personagem que se tornou
famoso pelos seus elevados dotes morais e pelas virtudes que exornavam o seu
Espírito.
Médico, tornou-se renomado pela
dedicação que dispensava aos doentes que o procuravam, pois sempre encarou a
Medicina como um sacerdócio.
Espírita convicto, soube viver e
propagar a Doutrina que esposava, propiciando a todos os mais vivos e
santificantes exemplos de uma criatura que realmente se converteu e
convenceu-se dos seus edificantes ensinamentos.
Esse homem foi João da Gama
Filgueiras Lima, um dos mais autênticos seguidores do Espiritismo e um
missionário que soube bem compreender o real significado da vida terrena.
Era filho de Antonio Barros Lima
e Da. Maria Palmira da Gama Barros Lima, tendo por influência do famoso médium
receitista Domingos de Barros Lima Filgueiras, um dos grandes pioneiros do
Espiritismo no Brasil, sido agregado ao seu nome o sobrenome de Filgueiras.
Fez os cursos primário e
secundário em escolas particulares, demonstrando uma inteligência muito acima
do normal, revelando notável gosto pelos estudos. Seus pais matricularam-no na
Imperial Academia de Medicina do Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de
Farmácia, no ano de 1883, quando tinha 21 anos de idade. Formou-se posteriormente
em Medicina, no ano de 1892, defendendo a importante tese "Semiótica da
Língua".
Cursou ainda a cadeira de
Homeopatia além de ter completado vários outros cursos de aperfeiçoamento
profissional.
Motivado por sua acendrada
admiração por Samuel Hahnemann, dedicou-se com afinco ao estudo da medicina
homeopática, tornando-se um dos mais conhecidos médicos da antiga capital da
República, popularizando-se como o "Pai dos Pobres", pelo seu
inusitado amor e atenção às criaturas mais necessitadas.
Filgueiras Lima jamais se furtou
ao dever de atender a quem necessitasse dos seus serviços médicos, a qualquer
hora do dia ou da noite, mesmo que o paciente não tivesse com que pagar a
consulta, não hesitando mesmo em fornecer remédios gratuitamente a quem
necessitasse.
Foi encarregado da Clínica
Homeopática da Santa Casa de Misericórdia, onde iniciava o atendimento ao
público logo às primeiras horas da manhã, não se retirando enquanto ali
houvesse um paciente. Muitas vezes, quando o número de pacientes era inusitado,
ficava até sem almoçar.
Casou-se com Da. Elvira de
Andrade Filgueiras Lima e foram pais de numerosa prole.
Homem sensato e dotado de
grandes virtudes, tornou-se de direito e de fato um amparo para a pobreza do
Rio de Janeiro.
Certa vez, após receitar os remédios
a um paciente pobre, como este não tivesse qualquer dinheiro, procurou
auxiliá-lo, dando-lhe ajuda para comprar remédios. Porém não encontrou sequer
uma moeda. Prometeu-lhe que assim que tivesse dinheiro mandar-lhe-ia levar os
medicamentos. Quando o doente estava para sair, entrou um outro cliente que lhe
entregou um envelope contendo certa quantia, correspondente a uma dívida
antiga. O Dr. Filgueiras chamou o doente anterior e lhe entregou o envelope. O
homem agradeceu e saiu; minutos após voltou ao consultório e lhe disse:
"Doutor, o senhor enganou-se, este envelope contém uma quantia muito
grande". E, diante da admiração do beneficiado, ele retrucou: "A
sorte foi sua, tome os remédios e alimente-se bem, para se recuperar mais
depressa, vá com Deus".
Era ainda muito jovem, quando
começou a frequentar a Federação Espírita Brasileira, acatando sugestão de
Domingos Filgueiras, após haver desabrochado nele a mediunidade curadora;
pertenceu assim a um grupo de escol de espíritas brasileiros.
Frequentou o atelier fotográfico
de Elias da Silva, o fundador da Federação Espírita Brasileira. Dentre aqueles
que foram convidados para dirigir a novel instituição figuraram os nomes do
Marechal Ewerton Quadros, Dr. Dias da Cruz, Maia de Lacerda, Dr. Bezerra de
Menezes, Fernandes Filgueiras e também o nosso biografado.
No ano de 1901 grassou no Brasil
violenta epidemia de varíola e a Saúde Pública proibiu que as pessoas atacadas
pelo mal fossem tratadas em casa, em vista do grande contágio trazido pela
doença. Foi baixada portaria proibindo aos médicos atenderem a chamados
particulares, sob pena de pesada multa e até de prisão. O Dr. Filgueiras Lima,
levado pelo seu espírito fraterno e sua bondade a toda prova, bem como pelo
fato de ser espírita, arriscou-se por várias vezes, atendendo a frequentes
chamados. Uma receita do Dr. Filgueiras foi encontrada na residência de um dos
pacientes, e ele foi imediatamente multado.
O cliente fez questão de pagar a
multa e o Dr. Filgueiras jamais deixou de atender a qualquer chamado para
tratar os variolosos.
Em 1918 eclodiu no país um surto
epidêmico, com elevado índice de óbitos, da chamada "gripe
espanhola". Nessa época foi procurado por um amigo, repórter do antigo
órgão "A Noite", o qual propôs-lhe a publicação de receitas
homeopáticas, de acordo com os variadíssimos sintomas da moléstia. Ele não se
fez de rogado e forneceu o receituário, aconselhando a população, principalmente
a do interior, onde é sempre bem maior a escassez de recursos médicos e
sanitários, a fazer uso daqueles remédios. Isso foi a salvação de muitos.
Passada a terrível epidemia, começou a chegar volumosa correspondência de
agradecimentos, pedindo as recompensas de Deus para o bondoso médico que,
fazendo uso da imprensa, havia levado o socorro para os sofrimentos de muitos.
O Dr. Filgueiras Lima foi um
apóstolo do Bem, na verdadeira acepção da palavra. A sua vivência dos
postulados evangélicos havia feito com que seu coração puro e receptivo aos
sofrimentos dos homens, se tornasse um manancial de consolação e de luz, para
aqueles que perambulam pelos caminhos da vida.
A fortuna material não o
fascinou, viveu e partiu pobre para o plano espiritual, apesar de possuir
enorme clientela, pois, ele apesar de enfermo, ainda nos últimos dias de vida
terrena atendia a todos aqueles que demandavam o seu valioso concurso.
Diz a imprensa da época, que a
residência do valoroso seareiro não pôde comportar o elevado número de pessoas
que para lá se dirigiu. Por todas as imediações da Rua 24 de Maio, por onde
passaria o féretro, acumulava-se enorme multidão.
Mais de 500 carros acompanharam
o enterro, tendo o caixão sido transportado pela população que não permitiu que
fosse usado o carro funerário.
O Conselho Municipal reuniu-se
dois dias após, em sessão ordinária, realçando a sua inconfundível
personalidade. O seu nome foi dado a uma Rua de Engenho de Dentro.
Como espírita e cristão, o Dr.
Filgueiras Lima soube bem desempenhar a tarefa que lhe foi designada na Terra.
[1] Personagens do Espiritismo - Antônio de
Souza Lucena e Paulo Alves Godoy
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