13 março 2017
Numa noite de julho de 2013,
Juan Torres, na época com 19 anos, se lembra de ter voltado de uma festa e ido
dormir. Mas não se lembra do que aconteceu em seguida e que mudou completamente
o rumo de sua vida.
Juan sofreu uma parada
respiratória. Sua mãe, Margarita, chamou uma ambulância, que o levou a um
hospital de Oakville, a 30 minutos de Toronto, no Canadá. Os médicos tentaram
salvá-lo, mas o caso parecia perdido.
"Houve um momento em que
nos disseram: 'ele está indo embora, deem adeus'", conta Margarita.
Juan sobreviveu. Segundo os
médicos, porém, permaneceria em um estado vegetativo irrecuperável.
Mas Juan estava consciente e
escutava inclusive o que os médicos diziam à sua família. Só que era incapaz de
comunicar-se.
"Foi terrível. Nem sequer
podia chorar", lembra Juan. "Suponho que meu cérebro ainda não tinha
se reconectado aos dutos lacrimais".
Recuperação
inesperada
"O mero fato de ele estar
falando conosco hoje é realmente incrível", diz a médica Gabriel Weston,
apresentadora da série televisiva da BBC Incredible Medicine, quase quatro anos
depois do ocorrido.
"Os médicos disseram a
Margarita que seu filho respirava, mas já não estava ali. Ela, no entanto, não
acreditava nas palavras deles", acrescenta.
Ao contrário de outros pacientes
que sofrem da síndrome do encarceramento, Juan não conseguia se comunicar nem
com o movimento dos olhos. E assim permaneceu por pouco mais de dois meses.
Margarita conta que às vezes era
difícil manter o otimismo, pois "se passaram muitos dias e muitas horas
sem que houvesse sinal algum" na tentativa de se comunicar com o filho.
Até que um dia, por razões ainda desconhecidas, ocorreu algo extraordinário.
"Era um dia ensolarado,
lindo. Foi o primeiro dia em que ele saiu do quarto; eu e meu marido o levamos
para fora", lembra Margarita.
Juan ri pela primeira
vez
Juan lembra que, sem mais nem
menos, conseguiu rir depois que sua mãe disse algo como "você sempre será
minha pequena Branca de Neve...".
"Eles perceberam",
relata Juan.
Margarita conta que ela e o
marido estavam rindo quando, de repente, o filho começou a rir também.
"Para mim, foi um sinal muito específico de que iria se recuperar".
Finalmente Juan havia conseguido
sinalizar às pessoas que o rodeavam que ele estava consciente.
"Ficaram eufóricos, cheios
de alegria", lembra.
Juan Torres na parte
externa do hospital
Segundo a apresentadora da BBC,
a ciência ainda não consegue explicar por que de repente Juan conseguiu se
comunicar.
"Como e por que isto ocorre
com alguns pacientes, o que desencadeia a síndrome... São algumas das grandes
interrogações da medicina", disse Weston.
Em estado vegetativo?
Essa a área investigada por
Adrian Owen, da Universidade de Ontario Ocidental (Canadá), que tenta
identificar quais pacientes estão realmente em estado vegetativo e quais estão
conscientes, mas incapazes de se comunicar.
Owen examinou Juan quando este
estava em "coma" e, novamente, quando começou a se recuperar. Seu
caso é importante para ajudá-lo a entender quando há ou não consciência.
"Naquele momento (quando
estava em aparente estado vegetativo), não havia absolutamente nenhuma resposta
a estímulos. Seus olhos estavam abertos, mas não havia mais nada",
ressalta Owen.
Mesmo assim, Owen confirmou que
Juan reconhecia o rosto de seu ajudante e lembrava de lugares e de situações
que tinham ocorrido.
Análise de cérebros
Em sua pesquisa, o
neurocientista usou ressonância magnética para analisar o fluxo sanguíneo no
cérebro de pacientes em aparente estado vegetativo.
Owen pedia que eles se
imaginassem jogando tênis. Se entendessem e seguissem a instrução, o
pesquisador conseguia confirmar a funcionalidade do cérebro.
Desta maneira, o neurocientista
concluiu que 20% dos pacientes em estado aparentemente vegetativo têm
consciência do que ocorre ao seu redor.
Quase quatro anos depois, Juan
cursa a graduação de Ciências Naturais e, aos poucos, reaprende a caminhar.
"Lembro de repetir com
frequência a mim mesmo: vou voltar a andar. Isto me motivou a seguir em
frente", conta Juan. "Acho que daqui a um ano estarei caminhando de
novo".
Já Margarita, com um sorriso no
rosto, afirma: "Percebemos agora a vida de uma maneira totalmente
diferente. É extraordinário".
A ciência e o que não consegue explicar...
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