Jorge Hessen - Jorgehessen@gmail.com
Um objeto de estudo instigante,
cuja explicação devemos ao Espiritismo, diz respeito à situação da “criança” no
além após a sua morte. Será que há “crianças” no além? E o “bebê”, como será a
sua forma perispiritual quando desencarna? Será que o seu períspirito retoma a
forma “adulta” ou por quanto tempo permanece “bebê” e ou “criança” no
Além-túmulo? Há muitas interrogações sobre o que ocorre com as “crianças”
recém-desencarnadas. Como “ela” se adapta no Mundo dos Espíritos? Sim, são
inúmeras dúvidas.
Cremos que “crianças” no além
são imediatamente recolhidas por familiares ou mentores, que lhes darão ampla
assistência. Se são Espíritos com ótima bagagem moral, retomam a personalidade
anterior. Se são de mediana evolução, acreditamos que conservam a condição
infantil, que será superada com o decorrer do tempo, como sucede com as
“crianças” na Terra. Podem, também, retornar à reencarnação.
Porém, pasme, segundo um famoso
escritor espírita, “não há uma única manifestação mediúnica de criança nas
obras de Allan Kardec”. Portanto, afirma que não existem “Espíritos crianças”,
pois o período de infância, adolescência, maturidade e envelhecimento, é uma
condição do corpo físico, que obedece a esse processo orgânico de maturação,
próprio dos nativos do planeta Terra.
Será? É urgente contar ao
notório e equivocado confrade que o Codificador publicou comunicação do
Espírito de uma criança na Revista Espírita de 1859. E ainda registrou a
manifestação do Espírito do menino Marcel, conforme publicado na obra “O Céu e
o Inferno”, cap. 8, parte II. Aliás, antes de Kardec, encontramos personagens
históricos que mencionam os espíritos de “crianças” no além. A exemplo de
Swedenborg, que descreve “crianças” sendo bem recebidas no além nas
instituições onde adolescem e são cuidadas por jovens mulheres. Há distintos
precursores do Espiritismo que fazem alusões às “crianças” no além, a saber:
Louis Alphonse Cahagnet, na França e Andrew Jackson Davis, nos EUA.
André Luiz apresenta no cap. X
do livro “Entre a Terra e o Céu” acurados painéis de crianças desencarnadas.
Cairbar Schutel apresenta as “crianças” no além tumba no seu livro “A Vida no
Outro Mundo”; Frederico Figner (Irmão Jacob) faz menções a “crianças” no além,
conforme agenda no livro “Voltei”. Informações confirmadas por Yvonne Pereira
em “Cânticos do Coração, Vol II” e George Vale Owen, na obra “A vida Além do
véu”, dentre outros.
Na questão 381 de O Livro dos Espíritos, o Codificador
questiona aos Espíritos se na morte da criança, o ser readquire imediatamente o
seu antecedente vigor. Os Benfeitores aclaram o tema afirmando que o Espírito
não readquire a anterior lucidez, senão quando se tenha completamente separado
do envoltório físico. E nas questões 197, 198, 199, 346 e 347, da mesma obra
básica é explicado que o Espírito da “criança” não é infantil, e sim
reencarnação de Espírito que teve outras existências na Terra ou em outros
orbes. Especificamente na questão “199-a”, os Espíritos inquiridos por Kardec
sobre o destino espiritual da criança que morre bebezinho, anotaram que o
Espírito “recomeça outra existência”.
No entanto, antes do reinício de
nova existência física, tais Espíritos são recolhidos em Instituições
apropriadas. Há apresentações psicográficas citando escolas, parques, colônias
e instituições diversas consagradas ao acolhimento e amparo às “crianças”
desencarnadas. E ademais, ao reencarnar o Espírito entorpece a consciência e
somente finalizará o processo reencarnatório a partir dos sete anos
aproximadamente, quando se remata a reencarnação. Por isso, se a criança
desencarnar no meio do processo reencarnatório, ou seja, entre os 3 anos e 4
anos, o Espírito possivelmente possa retomar imediatamente a forma adulta
precedente.
Também devemos considerar o
seguinte: se a “criança” desencarnada possui grande experiência no campo
intelecto e moral, readquire rapidamente os valores parciais da memória, logo
após a desencarnação, conseguindo, por isso, ordenar conceitos e anotações de
acordo com a maturação intelectual alcançada com seus empenhos.
O mesmo não sucede com “criança”
desencarnada que ainda não possui condição moral elevada. Em tal estágio, o
desenvolvimento no além-túmulo é idêntico ao que se processa no plano físico,
quando o Espírito é constrangido a aprender pausadamente as lições da vida e
avançar gradualmente, segundo as injunções do tempo.
Morre o corpo infantil (em
qualquer faixa etária), e sobrevive o Espírito imortal e eterno, com toda uma
bagagem de aquisições intelectuais e morais advindas das múltiplas experiências
reencarnatórias, e que integram a sua individualidade.
Recordemos que a almas ainda
prisioneiras no automatismo inconsciente acham-se relativamente longe do
autogoverno. Em face disso, permanecem transportados pela Natureza, à maneira
de bebês no colo materno. É por esse motivo que não se pode prescindir de
períodos de recuperação para quem desencarna na fase infantil. Porquanto,
precisarão continuar aprendendo, estudando e recebendo esclarecimentos
espirituais adaptados à sua idade e compreensão, e serão separadas por faixas
de idade e entendimento, tal como ocorre aqui na Terra.
Nas fontes que examinamos, não
encontramos informações de Espíritos de “crianças” nas regiões “umbralinas” –
ainda bem!
Temos muito que aprender com os
Espíritos.