Felipe Fagundes[2]
“Já é demonstrado pela observação dos fatos que o Pensamento e a
Vontade constituem forças plasticizantes e organizadoras” (Ernesto Bozzano).
São chamadas Formas-pensamento
ou Ideoplastia (confecção de formas a partir de ideias), a maneira como o
pensamento da pessoalidade encarnada ou desencarnada atua no fluido cósmico universal[3],
construindo formas especificas à cada pensamento, sendo perceptíveis pelos
espíritos, por médiuns videntes e, quando esse fluido mais materializado,
podendo até impressionar chapas fotográficas.
Allan Kardec, o codificador da
doutrina espírita, chamava estas formas de Criações Fluídicas do Pensamento. São
através destas formas, que os espíritos apareciam aos médiuns videntes com
roupas, sapatos, cigarros e apetrechos em geral, formados pela vontade
consciente ou inconsciente deles de se aparecer assim a alguém. Na obra O Livro Dos Médiuns, de 1864, no
capitulo “O laboratório do Mundo Invisível”, Allan Kardec discorre sobre esta
formação de objeto e coisas, que o pensamento e a vontade dos espíritos podem fazer.
Já na sua obra A Gênesis, onde ele
faz um grande resumo dos postulados espíritas, ele relembra:
“Os Espíritos atuam sobre os
fluidos espirituais, não manipulando-os como os homens manipulam os gases, mas
empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos, o pensamento e a vontade
são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos
tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles
conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas;
mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos,
combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida
espiritual”. (KARDEC, pág. 250)
Como se vê, essas formas de
pensamentos, além de apresentarem morfologia específica a cada tipo de
pensamento, possuem qualidades benéficas ou maléficas. E estas qualidades estão
de acordo com o sentimento com que elas são emanadas.
Annie Beasent e C.W. Leadbeater
(1988), sensitivos do movimento teosófico[4],
estudaram a fundo cada tipo de forma pensamento que eles e outros sensitivos
conseguiram enxergar, de acordo com o sentimento com que elas eram criadas. Por
exemplo, sentimentos de raiva, formavam sobre a cabeça do pensador, formas de
raiadas, de flechas, pensamentos de inveja formavam formas de garras etc.. E
essas formas fluídicas, segundo estes estudiosos, eram formadas a partir do
corpo mental[5] do
pensador, movimentando em direção à pessoa pensada ou a algum objeto desejado.
No caso de pessoas, essas imagens fixam-se na aura do encarnado ou desencarnado
pensado, imprimindo-lhes mal estar de diversas matizes, tanto no corpo
espiritual, ou somatizando no corpo físico, podendo até gerar doenças. No caso
de objetos desejados, estas formas pensamentos, juntamente com seu conteúdo energético,
podem “impregnar-se” no material.
Existem sensitivos que conseguem
sentir, por esse motivo, as energias de cada objeto.
Esse processo chama-se
Psicometria[6]. É
por isso que objetos muito antigos, que foram desejados por muitas gerações,
podem imprimir em seu novo dono, se tiver sensibilidade suficiente, vários sentimentos,
como tristeza, raiva, rancor etc..
Esse fato, é claro para o
movimento espírita, cujo ensinamento quanto a esse processo podemos encontrar
mais em detalhes nas obras de Chico Xavier, pelo espirito André Luiz, “Nos
Domínios da Mediunidade” (capitulo 26) e em “Mecanismos da Mediunidade”
(capitulo 20).
Annie Beasent e C.W. Leadbeater,
definem essas criações fluídicas, em sua obra Formas de Pensamento:
“Todo pensamento dá origem a uma
série de vibrações que no mesmo momento atuam na matéria do corpo mental. Uma
esplêndida gama de cores o acompanha, comparável às reverberações do sol nas
borbulhas formadas por uma queda de água, porém com uma intensidade mil vezes
maior. Sob este impulso, o corpo mental projeta para o exterior uma porção
vibrante de si mesmo, que toma uma forma determinada [...]
[...] Desta maneira, temos uma
forma de pensamento pura e simples, uma entidade vivente, de uma atividade
intensa, criada pela ideia que lhe deu nascimento. Se esta forma é constituída
pela matéria mais sutil, será tão poderosa quanto enérgica, e poderá, sob a
direção de uma vontade tranquila e firme, desempenhar um papel de alta
transcendência”. (A.BEASANT, pág. 22 e 23)
Vemos que esta definição é
semelhante, embora mais elaborada, da de Kardec. Em desempenhar um papel de
“alta transcendência”, os autores da obra querem dizer que, produzindo pensamento
de amor e de paz, e dirigi-los a uma determinada pessoa, por exemplo, esta
poderá se beneficiar de seu conteúdo energético benéfico, como que magnetizando
esta pessoa. Esse processo não seria como um passe espírita, uma doação de
fluidos benéficos, mas sim uma transmissão de imagem que refletiria
positivamente na construção mental da pessoa. Na verdade é um processo similar,
pois cada forma de pensamento faz com que a pessoa receptora use suas próprias energias
de forma benéfica ou maléfica, cujos pensamentos e sentimentos deram sua
origem.
Da mesma forma, pensamentos
negativos, de ira ou inveja, por exemplo, podem imprimir na pessoa desejada mal
estares, dores no corpo físico etc.. É uma espécie de obsessão telepática entre
indivíduos, sejam eles encarnados ou desencarnados.
Como foi dito, muitos sensitivos
conseguem ver essas formas pensamentos, tanto serem formadas, geralmente acima
da cabeça do pensador, quanto nas pessoas que receberam, em suas auras, essas
formas pensamentos. O famoso médium James Van Praagh, eu seu livro “Espíritos
Entre Nós”, cita um caso interessante de como é percebida por ele essas criações
fluídicas do pensamento.
Refere ele a um diretor de
cinema em Hollywood, que era “mal querido” pelos seus subordinados, e, por
isso, se apresentava nele varias formas de pensamento negativos em sua aura,
oriundo das pessoas que não gostavam dele:
“Sombras escuras e sujas e
formas que pareciam cobras se projetavam do topo de sua cabeça. Em suas costas,
as formas pareciam facas ou espadas, como se ele fosse um porco-espinho. O que
pensei instintivamente foi que as espadas talvez fossem formas de pensamento
negativo lançadas por pessoas a quem ele prejudicara. Afastei-me e fui me
refugiar em meu escritório, onde anotei o que havia testemunhado. Era óbvio que
esse produtor não tinha ideia das formas de pensamento negativo que carregava
nas costas. Essas energias provavelmente ainda levariam muitos anos para surtir
efeito em seu corpo, mas quem pode ter certeza? Quanto mais ele se envolvesse com
o mal e quanto mais desrespeito e insensibilidade demonstrasse para com os
outros, mais poder esses encostos provavelmente acumulariam, deixando-o exposto
a algo muito pior, que é a possessão”. (Praagh pag.108)
Portanto, é pacifico tanto no
Kardecismo, quanto no movimento espírita e no movimento espiritualista Teosófico,
a realidade, a ação e os efeitos das Formas do Pensamento. A cada dia, no meio espírita,
podemos conhecer sensitivos que são capazes de percebê-los.
FORMAS DO PENSAMENTO E
A MEDIUNIDADE
As ideoplastias, por
representarem o próprio pensamento emitido, com seu conteúdo intelectual e
energético, está diretamente envolvido nos fenômenos mediúnicos. É sabido,
ademais, que os espíritos quando se querem comunicar melhor, num médium que não
possui uma afinidade fluídica suficientemente grande para se ligar ao
períspirito da entidade comunicante, este se serve de formas-pensamentos para
expressar suas ideias. O médium, assim, captando a forma mental, tem o papel de
interpretá-la, e essa interpretação, às vezes, pode conter vários erros,
dependendo do conteúdo intelectual do médium na compreensão. Por isso, nas
comunicações espirituais, sejam através da psicografia ou psicofonia, o grau de
animismo[7]
deve ser considerado.
As comunicações espirituais, em
centros espíritas, em sessões de desobsessão, apresentam outro tipo comum de
interferência nas comunicações: os pensamentos das outras pessoas ligadas ao
círculo da reunião. Nessas reuniões mediúnicas se tem o médium, que dará a
comunicação direta com o espirito, o dialogador e os médiuns de sustentação,
que ajudam, com sua mentalização, na harmonização do ambiente. Nesses casos, há
um circuito mediúnico, ou seja, todas as pessoas presentes estão de alguma
forma ligadas mentalmente uma as outras. Dessa forma, pode ocorrer que o
pensamento em desequilíbrio de um dos assistentes interfiram negativamente numa
determinada comunicação mediúnica que venha a ocorrer. Por exemplo, no livro Pensamento
e Vontade, Ernesto Bozzano cita um caso de uma forma mental (ideoplastia) que
interferiu numa determinada reunião mediúnica: “Notável incidente veio
misturar-se às manifestações, quando um dos assistentes, dotado de
clarividência - o Sr. Aron Wilkinson -, exclamou de repente: um papagaio
pousa-me no ombro e agita as asas... Agora, voou sobre a Sra. Everitt... (A Sra.
Everitt estava assentada do outro lado da mesa) . Ela declara, por sua vez,
estar sentindo o contato da ave. Wilkinson continua: Agora o papagaio canta o
hino real da Inglaterra. Agita novamente as asas, sobe, ei-lo que se foi. Episódio
incompreensível para todos, menos para a Sra. Everitt, que logo o explicou,
contando que havia meses se incumbia de guardar um papagaio, que muito se lhe
afeiçoara. Ainda na véspera recebera de casa uma carta, na qual lhe informavam que
o bicho aprendia rapidamente a cantar o hino real. Todos os presentes ignoravam
o fato […]”. (Bozzano, pág. 20)
Ernesto Bozzano completa: “Não
há dúvida de que o episódio em apreço se explica por um fenômeno de objetivação
do pensamento subconsciente da Sra. Everitt.”. Ainda explica o autor que esta
forma-pensamento estava tão materializada no subconsciente da senhora em
apresso que a ideoplastia fazia movimentos, estimulado e controlado por uma
vontade subconsciente. Este é apenas um dos exemplos de como o pensamento, que
tem poder plástico, pode interferir negativamente, ou ate positivamente, nas
sessões mediúnicas comuns.
Outro fenômeno interessante
ocorre também com muita frequência: é a visão de fantasmas, nas chamadas casas
mal-assombradas ou locais assombrados. Nos documentos da metapsíquica e
parapsicologia existem muitos casos de pessoas, em diferentes épocas, verem
nestes locais a mesma forma fantasmagórica, com os mesmos caracteres e
apetrechos, tais como roupas, sapatos etc.. Geralmente, essas aparições estão associadas
a histórias de dramas que ocorreram nestes lugares e que, as pessoas que as
viveram, com seu conteúdo emocional, “plasmaram” essas imagens, desafiando o
espaço e o tempo.
Na verdade, muitas dessas
aparições são de fato, formas-pensamentos que insistem em permanecer por tempos
variáveis em certos locais.
Muitos médiuns videntes,
inclusive, tem certas dificuldades em diferenciar essas aparições de ideoplastias
das aparições de espíritos propriamente dito. Alguns sensitivos dizem que uma das
formas de distinguir uma das outras, é justamente perceber se a forma possui
movimento inteligente e/ou dão mesmo alguma comunicação!
Portanto, a forma-pensamento ou
ideoplastias, demonstra como o ato de pensar age no fluido cósmico universal,
expressando-se em formas e energias especificas à cada sentimento, em cujo pensamento
deu origem. E a vontade, seja ela consciente ou inconsciente, imprime-lhe
direção à pessoa ou objeto pensado, alterando-lhes as propriedades fluídicas,
podendo assim, ajudar na construção do bem comum, ou emaranhando-se em
vibrações menos nobres, podendo aprisionar seu emissor, nas teias da obsessão!
BIBLIOGRAFIA
BEASANT, A. & LEADBEATER,
C.W. As Formas Do Pensamento. Editora Pensamento.
BOZZANO, Ernesto. Pensamento
e Vontade. Disponível no site: http://bvespírita.com/Pensamento%20e%20Vontade%20(Ernesto%20Bozzano).pdf.
KARDEC, Allan A Gênese. FEB.
Disponível no site : http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/135.pdf.
PRAAGH, James Van. Espíritos
Entre Nós. Editora Sextante, 2009.
[1] Revista Ciência Espírita – Setembro/2016 - https://revistacienciaespirita.com/
[3] O fluido cósmico universal é a matéria elementar
primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável
variedade dos corpos da natureza. Como princípio elementar do universo, ele
assume dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade (fluidos
mais sutis, formando os planos espirituais e corpos espirituais menos densos), e
o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo
àquele (fluidos mais materializados, formando os planos espirituais mais densos
e seus corpos sutis igualmente mais densos e a matéria física tangível que
conhecemos em nosso globo, com nossos corpos materiais). Em outras palavras,
todas as formas de matéria, sejam astrais ou materiais são oriundas desse
fluído primitivo, também chamado de Hálito Divino, por Allan Kardec.
[4] A Sociedade Teosófica ou Teosofia foi fundada por
Helena Petrovna Blavatsky e pelo coronel Henry Steel Olcott, primeiro a
presidir esta instituição, em Nova York, no dia 17 de novembro de 1875. Ela
condensa elementos filosóficos, religiosos e científicos, inerentes às diversas
religiões e culturas, desde o nascimento da Humanidade. Segundo Blavatsky,
estas crenças estão presentes de uma forma ou de outra nas mais variadas
civilizações ao longo do tempo. Portanto, a
Teosofia seria uma nova forma de se exprimir os
conceitos transcendentais do homem, não numa religião ou numa profissão de fé,
mas num estudo das habilidades mentais e transcendentais do homem.
[5] Corpo Mental, Segundo o movimento espiritualista, seria
um envoltório energético de matéria mais sutil que o perispírito. Seria o corpo
ou envoltório fluídico da Mente. Segundo alguns espiritualistas, pessoas que
desempenham um atividade mais intelectual possuem este corpo mais desenvolvido.
[6]Psicometria é a Medida feita através da mente.
Refere-se ao processo parapsíquico com que médiuns especiais, chamamos médiuns
psicômetras, conseguem sentir as energias dos objetos materiais, muitas vezes
identificando a historiografia em que o material passou.
[7]Animismo
é a interferência intelectual do médium nas comunicações espirituais, fazendo
com que a informação que o espirito quer passar, por meio de sua mediunidade,
seja mais ou menos distorcida.
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