Dra. Marlene R. S. Nobre
O Espiritismo tem uma grande
contribuição a oferecer à Medicina e às escolas que lidam com a saúde humana.
A Organização Mundial da Saúde
(OMS) ainda define saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e
social. O Espiritismo, porém, amplia essa visão e ensina que saúde é o estado
de completo bem-estar biopsicossociológico espiritual, pois leva em
consideração os fatores biológicos, psicológicos, sociais e espirituais que
influenciam o ser humano em sua passagem pela existência terrena.
Diferentemente da Medicina do
Corpo, que ainda é exercida em larga escala nos dias de hoje, o Espiritismo
descortina um novo modelo, o da Medicina da Alma.
No paradigma médico-espírita, o
ser humano é um conjunto complexo, constituído de corpo físico, corpo sutil e
alma; a prioridade, no entanto, na direção desse conjunto, é a da alma.
Compete, pois, ao espírito imortal, a construção do seu destino terreno e,
consequentemente, a da manutenção da sua própria saúde.
Segundo esses conceitos, o fato
de uma pessoa não exteriorizar doença durante determinada fase da existência,
pode não significar que ela esteja saudável. Assim, a criatura pode
apresentar-se aparentemente saudável durante um período, mas já trazer no
perispírito as marcas indeléveis da doença que eclodirá um pouco mais adiante,
segundo a lei de ação e reação, que tem no tempo o principal fator
desencadeante.
Segundo os princípios espíritas,
a questão saúde-doença está profundamente vinculada à lei de causa e efeito, ao carma. André Luiz explica, no livro “Ação
e Reação”, que carma designa “causa e efeito”, porque a toda ação corresponde
uma reação. Quer dizer que está ligado a ações de vidas passadas. Assim, o
carma seria uma espécie de “conta do destino criada por nós mesmos”, faz parte
do sistema de contabilidade da Justiça Divina.
Segundo esse princípio, a
criatura humana tem de dar conta de tudo que recebe da vida, de todos os
empréstimos de Deus, patrimônios materiais, inteligência, tempo, afeições,
títulos, e também do corpo físico, que lhe é concedido para o aperfeiçoamento
espiritual. E será sempre assim, na roda viva da evolução espiritual em que
deve se empenhar, tendo em vista a conquista de amor e sabedoria.
Aprendemos, com os Mentores Espirituais,
que a percentagem quase total das enfermidades humanas tem origem no psiquismo.
Assim, orgulho, vaidade, egoísmo, preguiça e crueldade são vícios da alma, que
geram perturbações e doenças nos seus envoltórios, quer dizer, no corpo
espiritual ou perispírito e no corpo físico.
Assim, no estudo de toda doença,
é preciso levar o perispírito em consideração, mesmo porque a cura do corpo
físico está diretamente subordinada à cura desse envoltório espiritual. Há
exemplos importantes nos livros da coleção André Luiz que elucidam o nosso
estudo. Vou citar apenas dois deles.
Vejamos o caso de Segismundo, em
“Missionários da Luz”. Em vida passada, por causa de Raquel, ele tirou a vida
física de Adelino com um tiro, que atingiu a vítima na altura do coração. Na
vida atual, Segismundo renasceu como filho de Adelino e Raquel e trouxe, já na
formação do seu corpo físico, o problema cardíaco que só se manifestará mais
tarde, como doença do tônus elétrico do coração, após os 40 anos de idade.
As doenças, em geral, surgem
relacionadas à idade em que as faltas foram cometidas.
Em outro livro, “Ação e Reação”,
podemos acompanhar o caso de Adelino Silveira. No século XIX, Adelino era filho
adotivo de um fazendeiro de grandes posses. Ambos eram muito unidos. Aos 42
anos, seu pai casou-se com uma jovem de 21 anos, a mesma idade de Adelino.
Aconteceu, porém, que os dois jovens – Adelino e a madrasta – apaixonaram-se e
ambos tramaram a morte do pai e marido.
A pretexto de cuidar do pai
enfermo, Adelino deu uma bebida forte ao dono da fazenda e depois ateou fogo ao
seu corpo. Foi uma morte muito dolorosa. Depois de tudo consumado, Adelino
casou-se, mas não conseguiu ser feliz, atormentado pelo remorso. No mundo
espiritual, os padecimentos foram intensos e contínuos. Finalmente,
arrependido, reencarnou no século XX como Adelino Silveira e, desde pequeno,
teve seu corpo tomado por um eczema extenso, que o dominava quase por inteiro.
Como podemos observar, as ações
praticadas vincam o nosso perispírito e se refletem no corpo físico que age
como uma espécie de filtro das impurezas.
Assim, em matéria de saúde e
doença, temos de levar em consideração as ações das vidas passadas e as da
existência atual para que as nossas conclusões não sejam falhas ou incompletas.
Ao estudarmos esses casos,
podemos constatar também o importante papel que a dor tem em nossas vidas.
Segundo o benfeitor Clarêncio: depois do poder de Deus, é a única força capaz
de alterar o rumo de nossos pensamentos, compelindo-nos a indispensáveis
modificações, com vistas ao Plano Divino, a nosso respeito, e de cuja execução
não poderemos fugir sem graves prejuízos para nós mesmos.
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