Hugo Lapa
Possessão espiritual é um
fenômeno que consiste no envolvimento, influência, invasão, controle e até
subjugação de uma entidade espiritual (espírito ou alma desencarnada) perante
uma pessoa. A possessão espiritual é registrada historicamente e existe desde a
aurora dos tempos. Não é fenômeno moderno e tampouco pertence a alguma
denominação religiosa, mágica ou mística. Sua fenomenologia é universal, sendo
encontrada sob os mais diferentes nomes e formas, desde as mais primitivas
religiões tribais à mediunidade praticava modernamente em centros espíritas e
espiritualistas. A possessão espiritual existe desde o aparecimento do ser
humano na Terra.
“Sua psique ou corpo foram
invadidas e estão sendo controladas por uma entidade ou energia malévola com
características pessoais” (Psicologia do Futuro, Stanislav Grof). Em
Psiquiatria, esse processo é chamado de Transtorno Dissociativo de Identidade
ou Transtorno de Personalidade Múltipla. Muitas culturas aderem ao transe possessivo
como parte integrante de seus ritos e valores. Por este motivo, os psiquiatras,
antropólogos e pesquisadores em geral procuram ter muita cautela com as
classificações e rotulações psicopatológicas. É consenso de que, quando a
possessão é aceita culturalmente, o diagnóstico deve evitar a categorização de
“patológica”.
Dessa forma, faz-se uma
distinção entre o fenômeno de possessão patológico e o não patológico dentro da
Psiquiatria. Assim, nem todo estado de possessão pode ser considerado um
transtorno, vide o caso das invocações de espíritos em várias culturas, épocas
e geografias diferentes, que fazem parte da cadeia simbólica intersubjetiva da
população.
O mecanismo da possessão pode
abranger dois tipos diferentes de processos psíquicos:
·
A possessão de uma presença (personalidade
intrusa ou espírito desencarnado)
·
A possessão de uma personalidade de vida
passada.
A primeira corresponde a uma
entidade à parte, uma energia intrusa que vem externamente ao psiquismo do
indivíduo. A segunda corresponde a um processo interno de obsessão, sendo o que
Tendam (1988) chamou de “pseudo-obsessão”.
Apesar de admitirmos que existem
não apenas espíritos obsessores, mas também a possessão de personalidades de
vidas passadas, estaremos abordando nesta oportunidade apenas a respeito dos
espíritos possessores. Isso por que o termo “possessão” não seria adequado para
caracterizar o controle de uma personalidade de vida passada. Neste caso, a
palavra mais apropriada seria “manifestação” ou “expressão” da personalidade,
tendo em vista que se trata de um processo interno e não externo.
Dentro da TVP, a autora que mais
mergulhou no estudo das possessões foi Edith Fiore. Em sua incrível obra
“Possessão Espiritual”, Fiore conta suas pesquisas com regressão terapêutica e
o tratamento de casos de possessão como causa dos bloqueios, sintomas, emoções
e transtornos diversos apresentados na clínica de regressão terapêutica.
Como esse campo de estudo é
extremamente vasto e complexo, optamos por resumir os pontos principais em
tópicos para a melhor apreciação dos leitores:
Porcentagem:
Fiore conta que 70% dos seus pacientes sofriam de possessão e essa era a causa
do problema. Segundo Ignácio Ferreira (1955), médico espírita brasileiro, mais
de 50% das obsessões não são intencionais. O espírito muitas vezes deseja
proteger a pessoa, ou ajuda-la a cumprir alguma tarefa. Mesmo sem notar, a
possessão ocorre e prejudica a vítima.
Quantidade: Fiore
coloca uma média de cinquenta entidades ou mais que estavam envolvendo seus
pacientes sem que eles se dessem conta. [apesar deste número, é possível que
essas entidades não estivessem realizando a obsessão todas ao mesmo tempo, mas
que cada uma estivesse ligada ao atendido por laços com origem em múltiplas
existências corpóreas].
Despersonalização:
É constante a impressão do desaparecimento ou encobrimento da personalidade
usual dando espaço às possessões. “Quando há de fato muitas entidades presentes
em uma pessoa, ela praticamente pode se despersonalizar e passar a levar uma
vida conduzida pela corrente das influenciações mentais” (livro: Regressão e
Espiritualidade).
Espíritos presos à
Terra: Fiore chamou esses espíritos de “presos à Terra”, por estarem no
nível da crosta terrestre e terem fácil acesso aos encarnados. Eles permanecem
no nível da Terra pelos mais variados motivos, desde desejo por “sexo ou pasta
de amendoim”. “Com frequência, incitam as pessoas vivas para que satisfaçam
esses desejos” afirma Tendam (Cura Profunda).
Níveis de Possessão:
Os graus de possessão e controle do encarnado variam de uma “leve influência” a
estados de domínio quase completo, travando uma verdadeira luta pelo controle
da pessoa, com “diálogos mentais, insultos e até ordens”, diz Fiore.
Transição inadequada:
Os espíritos possessores eram, durante a vida, pessoas de várias ocupações
diferentes, mas após a morte não haviam realizado a transição adequadamente e,
pela ausência de um corpo físico, acabavam se fundindo com os encarnados,
residindo no corpo de outros indivíduos por períodos curtos ou mais
prolongados, adiando sua ida ao plano espiritual e atrasando sua evolução.
Possessões Demoníacas:
Fiore destaca que nunca tratou possessão por demônios, (seres devotados
unicamente ao mal por natureza) mas apenas espíritos, ou indivíduos sem um
corpo físico.
Pouco adiantamento
espiritual: Quando as entidades encontram-se no plano astral inferior,
próximas ao plano da Terra e envolvem encarnados, para a satisfação de seus
vícios e desejos, elas não fazem praticamente nenhum progresso espiritual,
ficando estacionadas em sua evolução. Fiore declara ainda que os espíritos
presos à Terra ficam como que “congelados” ou fixados nos parâmetros da última
vida. Eles tendem a repetir de forma estereotipada seus comportamentos de
quando estavam encarnados. Tendam (1989) dá o exemplo de uma menina que não
percebe que desencarnou num bombardeio e continua chamando pela sua mãe.
Ceticismo e Fanatismo
religioso: Muitas pessoas céticas, que conservam fortes e arraigadas
convicções pessoais da inexistência da vida após a morte, são muitas vezes
incapazes de perceber seus entes queridos e guias espirituais quando vêm
auxilia-los. Outros encontram-se num estado mental de extrema confusão, e por
isso, não conseguiam perceber sua própria condição de ausência do corpo físico.
Outros ainda, religiosos fervorosos, que acreditam em penas eternas ou na
beatitude do céu ao lado de Jesus, recusam-se a crer que morreram, caso
contrário, deveriam estar ou no céu ou no inferno. Essas almas podem ir a
certos locais e iniciar processos obsessivos.
Espíritos presos a
locais específicos: Podem ocorrer possessões em casos de espíritos presos a
locais específicos, como casas e propriedades que possuíam quando encarnados. É
comum acontecer de espíritos iniciarem um processo possessivo em pessoas que
compram a sua antiga residência, onde a entidade morou durante a vida inteira
ou boa parte da vida. Geralmente os espíritos tratam os atuais proprietários
como invasores (pois não sabem que morreram e continuam tratando a casa como se
lhes pertencesse) e fazem de tudo para gerarem discórdia, confusão, bloqueios e
sofrimento.
Possessão na infância:
Algumas possessões podem se iniciar na infância e durar longos períodos de
vida, ou mesmo a vida inteira de um encarnado. “Muitas crianças são obsedadas
por entidades e manifestam raiva excessiva, atitudes agressivas, choro
compulsivo, dificuldades de relacionamento em decorrência de certa influência
misturada a tendências de outras vidas”. (Livro: Regressão e Espiritualidade).
Possessão pela Aura:
Segundo Fiore, nossa aura, ou campo de energias sutis do ser humano, deve
vibrar em altas frequências para não estar vulnerável a ação de espíritos
presos à Terra. “A aura está para a dimensão emocional, mental e espiritual de
uma pessoa como o sistema de imunização está para o corpo físico” diz Fiore.
Possessão por medo de
deixarem de existir: Alguns espíritos mantêm as possessões por medo de se
perderem ou de deixarem de existir caso a possessão seja interrompida. O
processo obsessivo acaba sendo um referencial para o espírito, uma base ou uma
segurança. Os espíritos sentem a aura benéfica do encarnado e se atraem por
afinidades de ideias e vibração. A energia do encarnado lhe proporciona
segurança, conforto, energia e proteção.
Possessão no
inconsciente: Entidades presas a Terra podem se ligar com os encarnados e
mesclar-se aos seus conteúdos inconscientes, reforçando certos aspectos que
desejamos ocultar de nós mesmos. Esse processo obsessivo pode alimentar nossas
tendências negativas, tocando certos núcleos traumáticos que passam a se
generalizar e invadir nossa personalidade e comportamento. Muitos espíritos
podem fazer isso intencionalmente; outros apenas se ligam por afinidade e
invadem nossa aura. É comum que um espírito ative certo núcleo inconsciente, ou
complexo, passe a misturar-se com ele e usar isso como forma de controle do
encarnado. A despossessão não é suficiente nesse caso, deve-se recorrer ao
tratamento desses núcleos inconscientes para escapar das obsessões. Como diz
Tendam “Maus espíritos podem nos induzir a praticar más ações, mas somente
podem fazer isso estimulando e aproveitando um mau karma já presente” (Tendam,
1993). A TVP é um excelente meio para o tratamento dos núcleos inconscientes
ativados por espíritos obsessores e na transmutação do mau karma.
Possessão por
similaridade de ação: Algumas vezes atraímos espíritos cuja obra de vidas
passadas foi semelhante a nossa. Por uma questão de sintonia, eles são atraídos
para nossa aura e vice-versa. Por exemplo, se cometemos vários assassinatos
numa vida passada, podemos atrair entidades de assassinos; se fomos pervertidos
sexuais, podemos atrair entidades viciadas em sexo; se fomos suicidas, podemos
atrair espíritos de suicidas, e assim por diante. Aqui verificamos a realidade
pura e simples da lei da sintonia, onde semelhante atrai semelhante. Essa lei
abrange muitos outros aspectos da vida universal.
Sintomas da Possessão
Sintomas físicos:
doenças, dores, mal estar, náusea, dor na nuca, enjoo, arrepios, tontura,
cansaço excessivo, estafa.
Problemas mentais:
problemas de memória, desatenção, dissociação, falta de clareza, embotamento,
parada do pensamento, confusão mental, ideias suicidas, despersonalização,
pesadelos recorrentes, alucinações auditivas e visuais.
Descontrole emocional:
ansiedade, angústia, medo, irritação, depressão, tristeza, choro sem causa
aparente, impulsividade.
Inclinação às drogas:
abuso de álcool, maconha, tabaco, drogas injetáveis, remédios.
Problemas com peso:
Pelo estímulo à compulsão pela comida ou à perda de apetite, como obesidade,
anorexia, bulimia.
Problemas de
relacionamento: timidez, fobia social, introversão, dificuldade de
comunicação.
Problemas sexuais:
falta ou excesso de desejo sexual.
Fechamento dos
caminhos: tudo parece dar errado, oportunidades não aparecem, dificuldade
de expressar nosso potencial.
Motivo da prisão no
plano da Terra:
Não cumpriram seu roteiro kármico (proposta encarnatória).
Suicidaram-se e deixaram assuntos inacabados.
Possuíam extremo apego a Terra e aos desejos materiais.
Viciaram-se em álcool, fumo, comida, sexo, lazer, prazeres
diversos.
Tinham medo de morrer e após o desencarne continuaram
negando a morte.
Dificuldade de aceitarem que passaram pela transição e não
têm mais corpo físico.
Morte súbita (os espíritos não tiveram tempo de perceber que
morreram).
Ódio e vingança a algum desafeto.
Apego a entes queridos ou a pessoas próximas.
Ceticismo fortemente arraigado.
Morte após deficiências mentais ou transtornos psíquicos
graves.
Associações, contratos, acordos, compromissos e/ou votos,
com fraternidades negras (um mago permanece preso a uma egrégora que atua
negativamente no plano físico e se mantém a ela associado após a morte).
Aspectos práticos da
despossessão:
Nenhum perigo:
Fiore argumenta que não há qualquer perigo decorrente de uma despossessão. O
máximo que pode ocorrer é o espírito ligado a Terra não deixar o encarnado e
manter o mesmo mecanismo possessivo anterior, o que já acontecia. Ou seja, ou o
espírito interrompe o processo obsessivo ou nada se modifica, não resultando
daí, portanto, nenhum dano.
Não maltratar o
espírito: As entidades desencarnadas estão enfermas, em estado confusional,
doentes, sofrendo, sem energia e sem rumo, mesmo que neguem tudo isso. Dessa
forma, eles podem também ser considerados como pacientes dentro da TVP. Assim,
não se deve pensar em “chuta-los para fora”, “arrancá-los” do cliente, ou fazer
nossa autoridade de terapeuta se sobrepor. A diferença entre o terapeuta e o
exorcista é que o segundo tenta a todo custo expulsar o “ser maligno” de uma
pessoa, enquanto o primeiro reconhece no espírito uma subjetividade, um
histórico de causa e efeito que o levou à situação de possessão. O terapeuta
procura analisar os motivos de o espírito buscar a possessão e tratar a raiz do
problema, e não simplesmente “retirar” o espírito da aura do cliente, até por
que podem existir laços kármicos unindo a ambos. Qualquer ação negativa
realizada pelo terapeuta contra o espírito implicará instantaneamente na
geração de karma negativo.
Assistência religiosa
de guias espirituais: Com entidades aprisionadas à dogmas religiosos,
pode-se invocar guias espirituais que se passam por líderes religiosos do credo
do espírito.
Assistência para
espíritos viciados: No caso de espíritos viciados em drogas, álcool etc., o
terapeuta pode invocar espíritos de luz ou entes queridos que irão oferecer a
droga ao espírito, para que deixe o encarnado. Após ser atraído, os espíritos
de luz farão um tratamento com o espírito onde a droga lhe será dada em doses
cada vez menores até o vício ser superado por completo. De qualquer forma, é
indispensável que o possesso se abstenha integralmente do uso das drogas, para
que não atraia outras entidades ligadas ao vício.
Identificar a causa
da possessão: Bons terapeutas não se preocupam apenas em expulsar o
espírito, mas em entender o motivo, o início e a permanência das ações
obsessivas. O terapeuta pode percorrer o histórico encarnatório do espírito e
verificar em que momento e sob quais circunstâncias ele se tornou um espírito
preso a Terra. É possível que exista alguma espécie de vínculo kármico entre
obsessor e obsedado numa vida passada. O espírito pode cobrar do encarnado
algum prejuízo que o atendido tenha lhe proporcionado numa vida passada.
Conscientização da
morte: Muitos espíritos passaram pela transição e não sabem que morreram.
Isso ocorre por diversos motivos. Sabendo disso, o terapeuta pode mostrar ao
espírito o momento de seu desencarne. É possível fazer a alma reviver os
instantes finais de sua existência e o momento em que perdeu seu corpo físico.
Isso pode ajudar na conscientização do espírito e ajuda-lo a reconhecer que
morreu e precisa deixar o plano da Terra. Essa conscientização da morte pode
ser realizada pelo discurso objetivo ou através de técnicas que mostrem
diretamente a realidade incorpórea da entidade. Para tanto, o terapeuta deve
ser treinado em cursos de formação para a boa aplicação desse tipo de técnica.
Mostrando o local de
tratamento no astral superior: Como os espíritos têm receios e incertezas
sobre seu futuro após a possessão, é possível minimizar esta ansiedade através
da técnica da visão direta do local de tratamento que eles serão enviados no
plano espiritual. Após a visão da harmonia desse lugar, das energias elevadas e
benéficas, tal como a presença de entes queridos desencarnados, o espírito
sente-se mais tranquilo e, em boa parte das vezes, aceita ser conduzido e
tratado.
Conduzir à Luz:
Na tradição budista tibetana se fala da “Clara Luz do Bardo”, uma luminescência
divina que acolhe os espíritos e os faz sentir seu estado cósmico natural, sua
fonte essencial de vida. O terapeuta pode orientar o espírito a unir-se com
essa “Luz Clara”. Os espíritos que após a morte não se transformam em entidades
presas a Terra seguiram essa luz, que lhes serve como um farol indicando o rumo
certo a tomar. Muitos mestres ou guias espirituais já conduzem os espíritos a
essa luz infinita, mas o terapeuta também pode invoca-la na despossessão após
todo o processo de conscientização do espírito.
Cuidados gerais:
Alguns procedimentos de
despossessão ou desobsessão canalizam e concentram forças e energias diversas,
atraem outras entidades e podem provocar alguns efeitos negativos no terapeuta,
caso este não esteja devidamente preparado e não saiba o que está fazendo.
Alguns terapeutas arrogantes podem se acreditar intocáveis e não dar o devido
valor a certas coisas, como a sua terapia individual, a proteção pessoal
originária de algum grupo, a realização de trabalhos de caridade desinteressada
e o estudo relacionado a temáticas espirituais superiores, como a leitura das
palavras dos sábios da humanidade e seu próprio desenvolvimento interior.
Porém, estes elementos são fundamentais para que o terapeuta não se perca em
seu trabalho ou até mesmo acabe adoecendo com o tempo devido à continuidade de
procedimentos como a despossessão. Independente de o terapeuta ser médium ou
sensitivo, as influências espirituais sobre ele podem ser sentidas de várias
formas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário