Paula Calloni de Souza
Frequentemente, a glândula
pineal surge como o centro de nosso relacionamento com outras dimensões, e tem
sido assim nas mais variadas correntes religiosas e místicas, há milhares de
anos. O especialista no assunto, Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, conversou
conosco sobre o assunto, mostrando os avanços da ciência no sentido de
desvendar esse mistério. O mistério não é recente.
Há mais de dois mil anos, a
glândula pineal, ou epífise, é tida como a sede da alma. Para os praticantes da
ioga, a pineal é o ajna chakra, ou o
“terceiro olho”, que leva ao autoconhecimento. O filósofo e matemático francês
René Descartes, em Carta a Mersenne, de 1640, afirma que “existiria no cérebro
uma glândula que seria o local onde a alma se fixaria mais intensamente”.
Atualmente, as pesquisas
científicas parecem ter se voltado definitivamente para o estudo mais atento
desta glândula. Estaria a humanidade próxima da comprovação científica da
integração entre o corpo e o que se chamaria de alma? Haveria um órgão
responsável pela interação entre o homem e o mundo espiritual? Seria a
mediunidade, de fato, um atributo biológico e não um conceito religioso, como
postulou Allan Kardec?
Para responder a estas e outras
perguntas, a revista Espiritismo & Ciência conversou com o psiquiatra e
mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo, Dr. Sérgio Felipe de
Oliveira. Diretor-clínico do Instituto Pineal Min, e diretor-presidente da
AMESP (Associação Médico-Espírita de São Paulo), Sérgio Felipe de Oliveira é um
dos maiores pesquisadores na área de Psicobiofísica da USP, e vem ganhando
destaque nos meios de comunicação com suas pesquisas acerca do papel da glândula
pineal em fenômenos como a mediunidade.
Fale um pouco sobre
seu trabalho à frente da AMESP e do Instituto Pineal Mind.
A AMESP é uma associação de utilidade pública que reúne
médicos dedicados ao estudo da relação entre a medicina e a espiritualidade. O
Pineal Mind é minha clínica, um instituto de saúde mental, onde fazemos
pesquisas e atendemos psicoses, síndromes cerebrovasculares, ansiedades,
depressão, psicoses infantis, uso de drogas e álcool. Temos um setor de
psiconcologia (psicologia aplicada ao câncer) e estudamos também os aspectos
psicossomáticos ligados à cardiologia, etc. Agora, particularmente nas
pesquisas comportamentais, eu estudo os estados de transe e a mediunidade. Mas
não pesquiso só a glândula pineal; ela é o que eu pesquiso no cérebro,
interessado em entender a relação entre corpo e espírito.
O que é
psicobiofísica?
É a ciência que integra a psicologia, a física e a biologia.
Na biologia, estudamos o lobo frontal, responsável pela crítica da razão; mas o
cérebro funciona eletricamente – aí entra a física, que serve de substrato para
o pensamento crítico, que é o psicológico.
Quando surgiu seu
interesse no aprofundamento do estudo da pineal?
Foi por volta de 1979/80, quando eu estava estudando a obra
de André Luiz, psicografada por Chico Xavier. Em Missionários da Luz, a pineal
é claramente citada. Nesta mesma época, eu já pleiteava o curso de Medicina. No
colégio, estudando Filosofia, fiquei impressionado com a obra de Descartes, que
dizia que a alma se ligava ao corpo pela pineal. Quando entrei na faculdade,
corri atrás destas questões, do espiritual, da alma e de como isso se integra
ao corpo.
O que é a glândula
pineal, onde está localizada e qual a sua função no organismo?
A pineal está localizada no meio do cérebro, na altura dos
olhos. Ela é um órgão cronobiológico, um relógio interno. Como ela faz isso?
Captando as radiações do Sol e da Lua. A pineal obedece aos chamados
Zeitbergers, os elementos externos que regem as noções de tempo. Por exemplo, o
Sol é um Zeitberger que influencia a pineal, regendo o ciclo de sono e de
vigília, quando esta glândula secreta o hormônio melatonina. Isso dá ao
organismo a referência de horário. Existe também o Zeitberger interno, que são
os genes, trazendo o perfil de ritmo regular de cada pessoa. Agora, o tempo é
uma região do espaço. A dimensão espaço-tempo é a quarta dimensão. Então, a
glândula que te dá a noção de tempo está em contato com a quarta dimensão. Faz
sentido perguntarmos: “Será que a partir da quarta dimensão já existe vida
espiritual?” Nós vivemos em três dimensões e nos relacionamos com a quarta,
através do tempo. A pineal é a única estrutura do corpo que transpõe essa
dimensão, que é capaz de captar informações que estão além dessa dimensão
nossa. A afirmação de Descartes, do ponto em que a alma se liga ao corpo, tem
uma lógica até na questão física, que é esta glândula que lida com a outra
dimensão, e isso é um fato.
Outros animais possuem
a epífise? Ela está relacionada à consciência?
Todos os animais têm essa glândula; ela os orienta nos
processos migratórios, por exemplo, pois ela sintoniza o campo magnético. Nos
animais, a glândula pineal tem fotorreceptores iguais aos presentes na retina
dos olhos, porque a origem biológica da pineal é a mesma dos olhos, é um
terceiro olho, literalmente.
Esta glândula seria
resquício de algum órgão que está se atrofiando, ou estaria ligada a uma
capacidade psíquica a ser desenvolvida?
Eu acredito que a pineal evoluiu de um órgão fotorreceptor
para um órgão neuroendócrino. A pineal não explica integralmente o fenômeno
mediúnico, como simplesmente os olhos não explicam a visão. Você pode ter os
olhos perfeitos, mas não ter a área cerebral que interprete aquela imagem. É
como um computador: você pode ter todos os programas em ordem, mas se a tela não
funciona, você não vê nada. A pineal, no que diz respeito à mediunidade, capta
o campo eletromagnético, impregnado de informações, como se fosse um telefone
celular. Mas tudo isso tem que ser interpretado em áreas cerebrais, como por
exemplo, o córtex frontal. Um papagaio tem a pineal, mas não vai receber um
espírito, porque ele não tem uma área no cérebro que lhe permita fazer um
julgamento. A mediunidade está ligada a uma questão de senso-percepção. Então,
a ela não basta a existência da glândula pineal, mas sim, todo o cone que vai
até o córtex frontal, que é onde você faz a crítica daquilo que absorve. A
mediunidade é uma função de senso (captar)-percepção (faz a crítica do que está
acontecendo). Então, a mediunidade é uma função humana.
A pineal converte
ondas eletromagnéticas em estímulos neuroquímicos? Isso é comprovado
cientificamente?
Sim, isso é comprovado. Quem provou isso foram os cientistas
Vollrath e Semm, que têm artigos publicados na revista científica Nature, de
1988.
A parapsicologia diz que estes campos eletromagnéticos podem
afetar a mente humana. O Dr. Michael Persinger, da Laurentian University, no
Canadá, fez experiências com um capacete que emite ondas eletromagnéticas nos
lobos temporais. As pessoas submetidas a essas experiências teriam tido
“visões” e sentiram presenças espirituais. O Dr. Persinger atribui esses
fenômenos à influência dessas ondas eletromagnéticas.
O que o senhor teria a
dizer sobre isso?
Veja, o espiritual age pelo campo eletromagnético. Então,
dizer que este campo interfere no cérebro não contraria a hipótese de uma
influência espiritual. Porque, se há uma interferência espiritual, esta se dá
justamente pelo campo eletromagnético. Quando se fala do espiritual, em Deus, a
interferência acontece na natureza pelas leis da própria natureza. Se o campo
magnético interfere no cérebro, a espiritualidade interfere no cérebro pelo
campo magnético. Uma coisa não anula a outra. Pelo contrário, complementam-se.
A mediunidade seria
atributo biológico e não um conceito religioso? Existe uma controvérsia no meio
científico a esse respeito?
A mediunidade é um atributo biológico, acredito, que
acontece pelo funcionamento da pineal, que capta o campo eletromagnético,
através do qual a espiritualidade interfere. Não só no espiritismo, mas em
qualquer expressão de religiosidade, ativa-se a mediunidade, que é uma ligação
com o mundo espiritual. Um hindu, um católico, um judeu ou um protestante que
estiver fazendo uma prece, está ativando sua capacidade de sintonizar com um
plano espiritual. Isso é o que se chama mediunidade, que é intermediar. Então,
isso não é uma bandeira religiosa, mas uma função natural, existente em todas
as religiões. E isso deve acontecer através do campo magnético, sem dúvida. Se
a espiritualidade interfere, é pelo campo eletromagnético, que depois é
convertido, pela pineal, em estímulos eletroneuroquímicos. Não existe
controvérsia entre ciência e espiritualidade, porque a ciência não nega a vida
após a morte. Não nega a mediunidade. Não nega a existência do espírito. Também
não há uma prova final de que tudo isto existe. Não existe oposição entre o
espiritual e o científico. Você pode abordar o espiritual com metodologia
científica, e o espiritismo sempre vai optar pela ciência. Essa é uma condição
precípua do pensamento espírita. Os cientistas materialistas que disserem “esta
é minha opinião”, estarão sendo coerentes. Mas se disserem que a opção
materialista é a opinião da ciência, estarão subvertendo aquilo que é a
ciência. A American Medical Association, do Ministério da Saúde dos EUA, possui
vários trabalhos publicados sobre mediunidade e a glândula pineal. O Hospital das Clínicas sempre teve tradição
de pesquisas na área da espiritualidade e espiritismo. Isso não é muito
divulgado pela imprensa, mas existe um grupo de psiquiatras lá defendendo teses
sobre isso.
Como são feitas as
experiências em laboratório?
Existem dois tipos: um, que é a experiência de pesquisa das
estruturas do cérebro, responsáveis pela integração espírito/corpo; e outra,
que é a pesquisa clínica, das pessoas em transe mediúnico. São testes de
hormônios, eletroencefalogramas, tomografias, ressonância magnética, mapeamento
cerebral, entre outros. A coleta de hormônios, por exemplo, pode ser feita
enquanto o paciente está em estado de transe. E os resultados apresentam
alterações significativas.
As alterações em
exames de tomografia, por exemplo, são exclusivas ou condizentes com outras
patologias? O senhor descarta a hipótese de uma crise convulsiva?
Isso é bem claro: a suspeita de uma interferência espiritual
surge quando a alteração nos exames não justifica a dimensão ou a proporção dos
sintomas. Por exemplo: o indivíduo tem uma crise convulsiva fortíssima, é feito
o eletroencefalograma e aparece uma lesão pequena. Não há, então, uma coerência
entre o que está acontecendo e o que o exame está mostrando. A reação não é
proporcional à causa. A mediunidade mexe com o sistema nervoso autônomo –
descarga de adrenalina, aceleração do ritmo cardíaco, aumento da pressão
arterial.
Como o senhor diferencia
doença mental de mediunidade?
Na doença mental, o paciente não tem crítica da razão; no
transe mediúnico, ele tem essa crítica. Quando o médium diz que incorporou tal
entidade espiritual, mas que ele, médium, continua sendo determinada pessoa,
ele usou a crítica, julgou racionalmente o que aconteceu. Agora, um indivíduo
que diz ser Napoleão Bonaparte? Aí ele perdeu a crítica da razão. Essa é a
diferença. O que não quer dizer que o indivíduo que esteja em psicose não possa
estar em transe também. A mediunidade se instala no indivíduo são, ou pode dar
uma dimensão muito maior a uma doença. A mediunidade sempre vai dar um efeito
superlativo. Se a pessoa alimenta bons sentimentos, ela cresce. Se ela tem uma
doença, aquela doença pode ficar fora de controle.
É verdade que a pineal
se calcifica com a meia-idade? E essa calcificação prejudica a mediunidade?
Não, a pineal não se calcifica; ela forma cristais de
apatita, e isso independe da idade. Estes cristais têm a ver com o perfil da
função da glândula. Uma criança pode ter estes cristais na pineal em grande
quantidade enquanto um adulto pode não ter nada. Percebemos, pelas pesquisas,
que quando um adulto tem muito destes cristais na pineal, ele tem mais
facilidade de sequestrar o campo eletromagnético. Quando a pessoa tem muito
desses cristais e sequestra esse campo magnético, esse campo chega num cristal
e ele é repelido e rebatido pelos outros cristais, e este indivíduo então
apresenta mais facilidade no fenômeno da incorporação. Ele incorpora o campo
com as informações do universo mental de outrem. É possível visualizar estes
cristais na tomografia. Observamos que quando o paciente tem muita facilidade
de desdobramento, ele não apresenta estes cristais.
As crianças teriam
mais sensibilidade mediúnica?
A mediunidade na criança é diferente da de um adulto. É uma
mediunidade anímica, é de saída. Ela sai do corpo e entra em contato com o
mundo espiritual.
A pineal pode ser
estimulada com a entoação de mantras, como pregam os místicos?
A glândula está localizada em uma área cheia de líquido.
Talvez o som desses mantras faça vibrar o líquido, provocando alguma reação na
glândula. Os cristais também recebem influências de vibração. Deve vibrar o
líquor, a glândula, alterando o metabolismo. Teria lógica.
Em que se concentrarão
seus próximos estudos?
Estou preparando um estudo sobre Cronogenética da
Reencarnação. Mas, sobre isso, falarei mais detalhadamente em 2003, durante o
Congresso Médico-Espírita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário