Joanna de Ângelis[2]
Sendo o planeta terrestre um
mundo ainda relativamente primitivo de provas e expiações, é natural que, na
maioria dos grupamentos familiares, apresentem-se os sofrimentos de vária
ordem, convidando a reflexões e ao trabalho de iluminação interior.
Como a reencarnação tem por
finalidade o desenvolvimento dos valores que dormem inatos no espírito, os
equívocos e as mazelas que o acompanham como resultado das experiências
infelizes do passado, apresentam-se como necessitados de retificação,
expressando-se em forma de sofrimentos os mais diversos.
Podem manifestar-se em caráter
expiatório, através dos processos mais graves das enfermidades degenerativas,
na surdez, na cegueira, na mudez, na paralisia, nos distúrbios mentais
irreversíveis, ou em forma de provações de que se fazem instrumento às doenças infectocontagiosas,
os acidentes, as dores morais, os distúrbios psicológicos, os transtornos de
conduta, a solidão, os conflitos...
São poucas as famílias, nas
quais a dor não se apresenta convidando ao amadurecimento espiritual e à
compreensão mais profunda a respeito da superior finalidade existencial.
Muitas pessoas supõem que a
existência terrestre é uma encantadora viagem ao país da ilusão, uma
experiência enriquecida somente de prazeres e de gozos, sem recordar-se da sua
transitoriedade, dos fenômenos que a todos se apresentam, diluindo as fantasias
e convocando à realidade.
Desse modo, o sofrimento é o
amigo silencioso que se infiltra no espírito, a fim de que o mesmo se eduque ou
se reeduque, desenvolvendo-lhe os latentes sentimentos do amor, da compaixão e
da caridade, a fim de enriquecer-se dos tesouros inalienáveis que conduzirá
após o decesso tumular. São esses recursos que constituem propriedade real,
porque acompanham aqueles que os possuem, enquanto todos os outros ficam
transformados em lembranças na memória de quem os utilizou, passando de mãos na
Terra. Constitui, portanto, dever dos pais, o esclarecimento aos filhos sobre
as vicissitudes do caminho evolutivo.
As conversações edificantes em
torno da Divina Justiça, dos compromissos morais que são assumidos pelos que se
encontram reencarnados, as provas e os testemunhos que todos experimentam, são
de alta significação moral e espiritual para a saudável formação da
personalidade da prole.
Demonstrar que essas ocorrências
são perfeitamente normais, nunca se tratando de punições estabelecidas por
Deus, que se comprazeria em ver sofrer aqueles que se encontram desequipados de
valores para os procedimentos corretos, é dever inadiável.
Quando, por acaso, na
constelação familiar exista algum exemplo de expiação, deve-se torná-lo
preciosa lição de vida, não apenas para o padecente, mas para todos os membros,
que se deverão unir, a fim de atenuar os sofrimentos daquele que se encontra
necessitado de ajuda. Essa providência desenvolve em todos a coragem e o
respeito à vida, eliminando temores e diluindo ilusões em torno da matéria,
principalmente quanto à sua fragilidade.
Tal comportamento serve de lição
viva para aqueles que fazem parte da família, compreendendo que, a avezita
tombada do ninho pelo infortúnio aparente, encontra-se no hospital da
solidariedade, no qual receberá apoio e compreensão, a fim de recuperar-se da
melhor maneira possível, para os futuros voos que deverá alçar...
Não foi uma injunção casual que
trouxe o ser amado com limites, tornando-o encarcerado numa prisão sem grades,
mas acontecimentos que tiveram lugar em tempo próximo ou remoto, no qual os
atuais familiares desempenharam papel importante. Ninguém renasce num grupo consanguíneo,
em situação penosa, sem que existam razões preponderantes para o cometimento
libertador.
Esse, que ora jaz no leito, em
processo depurativo, liderou cometimentos infelizes, havendo atraído para a
ação nefasta, essoutros que agora o recebem e devem auxiliá-lo na libertação.
Tudo se enquadra com perfeição
nos processos iluminativos através das aflições.
Ninguém, portanto, que
experimente qualquer tipo de dor sem uma causa anterior que o explique, que o
justifique.
O lar, desse modo, é o santuário
de união, no qual se retificam situações penosas e ações odientas.
Aquele familiar que, de certa
forma, inspira animosidade, que se faz perverso, agressivo, em relação aos
demais membros, solicita, sem o pedir, compaixão e misericórdia, por cuja
aplicação os seus sentimentos doentios são minorados pelas vibrações emitidas
pelos demais membros do clã. Ao invés da revolta e do desejo de desforço, que
muitas vezes despertam nos demais, a caridade deve ser a reação, como bálsamo
para quem a oferece e bênção em favor daquele a quem é dirigida.
Não poucas vezes, sob expiações
as famílias desagregam-se, quando mais deveriam estruturar-se, em face da
ignorância espiritual que representam essas ocorrências, que dão lugar a ódios
e lutas penosas entre os seus membros.
Sob outro aspecto, à medida que
as provações ocorrem em muitos lares, a revolta se aninha nos corações e o
desapontamento invade o pensamento daqueles que as experimentam, quando
deveriam meditar em torno do fato, procurando entender-lhe a razão, para melhor
enfrentar a situação perturbadora.
A família é reduto de trabalho
coletivo, no qual todos têm o dever de ajudar-se. Quem se encontra melhor
informado, mais facilidade dispõe para contribuir em favor do esclarecimento
daquele que ignora.
O lar, nem sempre se apresenta
como um reino de júbilos, mas quase sempre como um campo de batalha no qual
espíritos litigantes, adversários de ontem ou amantes frustrados do passado,
reencontram-se para as transformações emocionais que se fazem necessárias sob a
inspiração do amor.
Filhos ingratos e calcetas são
antigas vítimas do desequilíbrio dos pais atuais, que os recebem, a fim de
santificarem o relacionamento pela paciência e pela afabilidade,
compreendendo-lhes as ofensas e as rebeldias em que se comprazem. Isto, porém,
não justifica que os mesmos sejam cobradores impenitentes, porque não estão
isentos também de culpa e de gravames.
É por isso que a lei da caridade
deve viger em todas as situações difíceis.
Quando não se sabe como agir em
relação aos graves desafios do ódio e da agressão, que se pergunte à caridade
qual o melhor procedimento a aplicar.
Com essa disposição, a família
consegue desempenhar o papel de lar, de escola, de oficina, de hospital, de
santuário, onde os espíritos se recuperam, aprimorando o caráter e fortalecendo
as energias para cometimentos ainda mais severos no futuro.
A conscientização dos filhos
pelos pais devotados, em torno dos processos de dor e de angústia, de
ocorrências infelizes e de insucessos de qualquer procedência, contribui
valiosamente para a harmonia doméstica e a preparação das gerações novas em
relação ao porvir.
Provas e expiações são programas
estabelecidos pela lei de Causa e de Efeito, para o progresso do espírito,
nunca se olvidando que o ser pequenino, assinalado por umas ou outras
conjunturas penosas, é viajante antigo do carreiro evolutivo, agora em fase
infantil, no rumo do futuro.
[2] Constelação
Familiar - Capitulo 20 – Divaldo P. Franco
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