Cairbar Schutel [1]
No Outro Mundo, como neste,
existem planos de existência, mundos superpostos, uns acima dos outros,
constituindo uma espécie de escada de perfeição.
Na Terra, é, também, assim:
existe o lugar para o camponês iletrado e para o homem de Ciência. Os índios e
selvícolas não poderiam viver em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Tudo no Outro
Mundo obedece a uma ordem espiritual bem determinada, sem privilégios, nem
exclusões.
Desde o primeiro passo, logo a
começar da superfície da Terra, até o último, conta-se grande variedade de
planos de Vida, ou seja, Mundos Espirituais, para usar de uma linguagem mais
aproximada à compreensão, porque não existe expressão nos vocabulários comuns
para caracterizar a natureza desses mundos, que chamaremos semi-materiais ou
fluídicos. Provavelmente, esses planos é que foram simbolizados, na visão de
Jacó, por uma escada com inumeráveis degraus que, apoiados na Terra, chegavam
ao Céu.
Não pode ser de outro modo. A
lei do progresso rege de modo perfeito a evolução anímica.
Os Espíritos, revestidos de seu
corpo perispiritual, não podem viver num meio que não esteja de acordo com sua
vestimenta espiritual, e esta vibra sempre ao ritmo da elevação de cada um, em
sabedoria e moralidade.
Uma região isenta, por exemplo,
de oxigênio, seria hostil a Espíritos que ainda precisam de oxigênio para
viver. Uma região em que não predomina o carbono não poderia ser habitada por
Espíritos que necessitam, pela sua condição ainda de inferioridade, de carbono
para a manutenção do seu corpo perispiritual.
O indivíduo sentir-se-ia
desequilibrado, e a sua condição média tornar-se-ia infeliz, sofredora,
insuportável se assim não fosse. Tudo obedece a uma ordem e harmonia admiráveis
na criação. Daí a necessidade desses diversos planos, como garantia de vida aos
que fazem a sua evolução para um estado melhor.
Os antigos tinham noções destes
princípios e acreditavam na existência de muitos céus superpostos, que se
compunham de matéria sólida e transparente, formando esferas concêntricas e
tendo a Terra por centro.
Esta teogonia fez, dessa escala
de céus, diversos graus de bem-aventurança: o último deles era o abrigo da
suprema felicidade.
A opinião comum era a de que
havia sete céus; em cada um deles, em sentido ascendente; aumentava a
felicidade dos crentes. Os muçulmanos admitem nove céus. O astrônomo Ptolomeu
contava onze, e denominava o último Empíreo, por causa da luz brilhante que ali
reinava. A teologia católica admite três céus: o primeiro da região do ar e das
nuvens; o segundo, o espaço em que giram os astros; e o terceiro, para além
deste, é a morada do Altíssimo, a habitação dos que O contemplam face a face. É
conforme esta crença que o Apóstolo Paulo diz que foi arrebatado até o
"terceiro céu".
Enfim, é crença unânime que, sob
uma ou outra denominação, essas esferas superpostas constituem a habitação das
almas, o Mundo Espiritual.
Na verdade, seria ilógico e
verdadeiro contrassenso julgarmos um vácuo a atmosfera que nos rodeia, o nada
dos ignorantes de então. A constituição física e química da atmosfera era
ignorada dos povos passados. Ainda na Idade Média não se tinha do estado gasoso
da matéria senão noções rudimentares. Sobre a vida, mesmo, só se sabia que ela
se extinguia por falta de ar; mas não se conhecia o mecanismo da combustão e da
respiração.
Foi o gênio ilustre de Lavoisier
que deu os primeiros passos para a descoberta dos elementos contidos no ar que
respiramos. Foi tão grande a descoberta desse insigne francês, e tão iluminado
era o famoso químico, que, em 8 de março de 1794, quando sua cabeça rolou sobre
o patíbulo, o ilustre matemático Lagrange, disse: "Cem anos não serão
bastante para produzir outra cabeça semelhante".
Hoje podemos afirmar muito mais
que Lavoisier; sabemos que tudo o que existe no nosso corpo, existe na
atmosfera, no ar que respiramos: azoto, oxigênio, hidrogênio, carbono, cujas
combinações formam a cal, a soda, o fósforo, os ácidos, o enxofre, o flúor, o
silício, o magnésio, o lítio, o ferro, o manganês, o cobre, o chumbo etc..
Sabemos mais que em nossa
atmosfera vivem inúmeros micróbios, flutuam ovos de infusórios, partículas de
algodão, de farinha, de penas, matérias que se evolam das fábricas, que saem da
combustão, do enxofre e outros sais etc. Só nas costas da Bretanha e da
Normandia calcula-se que um hectare de terreno não recebe menos, anualmente, de
147 quilogramas de matérias sólidas; das quais 37 quilogramas são de sal
marinho.
Não é preciso estendermo-nos em
considerações para provar que o ar é alguma coisa, contém muita coisa; não é o
vazio que se apresenta aos nossos olhares acanhados.
O Espiritismo, penetrando
fundamenta na Ciência, abre brechas ao pensamento, e dá, ao mesmo tempo, razão
à crença cega dos povos antigos, que, em sua concepção infantil, proclamavam os
céus sobrepostos, cada qual mais adiantado, crença essa que se confirma agora
com dados científicos e as revelações de caráter coletivo que estão sendo
feitos e verificados em todos os pontos do globo.
Não há dúvida; existem
planos de existência, de vida em mundos superpostos, uns acima doutros,
constituindo, no seu conjunto, uma espécie de escada de perfeição.
[1] A Vida no outro Mundo, de Cairbar
Schutel
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