Jorge Hessen[2]
Nicola Thorp, uma britânica de
27 anos, foi contratada em regime temporário na empresa PwC, e seus
empregadores disseram que ela teria de usar sapatos com salto de “5 a 10
centímetros” de altura. Durante o período de estágio, Nicola se recusou a usar
salto e reclamou que os funcionários masculinos não tinham obrigações
equivalentes. Além do fator extenuante, é uma questão de sexismo, afirmou.
Resultado: foi demitida. Thorp disse que a empresa deveria refletir melhor a
sociedade moderna, pois hoje em dia as mulheres podem ser elegantes e formais e
usar sapatos sem salto. Na opinião de Frances O’Grady, secretária-geral da
União de Sindicatos da Grã-Bretanha, TUC, um código de vestimenta que exige
saltos altos “cheira a sexismo” [3].
O Sexismo é um neologismo oriundo do termo inglês sexism, que se refere ao conjunto de
ações e ideias que privilegiam determinado gênero ou orientação sexual em
detrimento de outro gênero (ou orientação sexual). De maneira geral, o termo é
usado como exclusão ou rebaixamento do gênero feminino. Trata de uma posição
que pode ser praticada tanto por homens quanto por mulheres, portanto, o
sexismo está presente intragêneros tanto quanto intergêneros.
Para a Psicologia, o sexismo é
um ideário, construído social, cultural e politicamente, em que um gênero ou
orientação sexual tenta se sobrepor ao outro. Em relação ao preconceito contra
mulheres, diferencia-se do machismo por ser mais consciente e pretensamente
racionalizado, ao passo que o machismo é muitas vezes um comportamento de imitação
social. O sexismo muitas vezes está ligado à misoginia, que por sua vez, sendo
uma palavra que vem da junção de duas palavras gregas, miseó e gyné (ódio e
mulher, simultaneamente), se enquadra para designar o desprezo ou ódio pelo
gênero feminino e pela feminilidade, ou seja, as características ligadas às
mulheres. Está diretamente relacionada à violência contra a mulher, seja de
forma física, verbal ou discriminatória, e possui como antônimo a filoginia que
é o apreço e admiração pelas mulheres, e pode, em alguns casos, ser considerada
como um preconceito benevolente.
É verdade! Há pessoas que
promovem atitudes sexistas contra seu próprio gênero. A forma como a cultura
age no imaginário coletivo permite que seja possível encontrar mulheres que
defendam que “lugar de mulher é na cozinha”, ou homens afirmando que “marido
que não procura trabalho é vagabundo”, assim como há mulheres e homens que se
contrapõem a tais ideários, indistintamente. Apesar das discussões políticas,
midiáticas e acadêmicas sobre igualdade de gênero travadas nas últimas décadas,
muitas ideias sexistas ainda permeiam a cultura brasileira e explicam parte das
diferenças sociais, econômicas, ocupacionais e comportamentais entre os
gêneros.
Notemos as convenções das
seguintes frases: “homem não chora, porém mulher é sentimento”; “homem é livre,
porém mulher é dependente”; “homem é provedor, porém mulher é provida”; “homem
é cérebro, razão, mas mulher é coração, emoção”; “homem é força, porém mulher é
lágrima”; “homem é herói, contudo mulher é mártir”; “homem pensa, todavia
mulher sonha”; ou frases mais poéticas como: “homem é oceano, porém mulher é
lago”;” homem é águia, e voa, mas mulher é rouxinol, e canta”;” homem domina o
espaço, contudo mulher conquista a alma”, “homem tem consciência, no entanto
mulher tem esperança”.
Observemos nas frases acima que
a poesia de Vitor Hugo está representada. Alcança-se que há aí profunda
associação à masculinidade fincada ao poder, saber e força. E que tudo o que se
refere à mulher assinala-se pela fraqueza, subordinação e inferioridade.
Aparentemente, contrastes sexistas nesses moldes igualam homem e mulher, mas
vistos com olhos críticos eles perpetram o desrespeito às diferenças, cravam a
desigualdade entre os sexos e imprimem a injustiça nas relações entre homem e
mulher.
A sociedade institui, regulariza
e nutre papéis sociais identificados com os sexos e reveste as crianças nesse
ideário como numa camisas-de-força. Estas não são abrigadas pelo que elas são,
mas pelo que o adulto quer que elas sejam. Daí a prática sexista, desde a
infância. Menino marcha com o pai, joga com o professor e associa-se a grupos
de meninos. Menina vive com a mãe, brinca com a professora e convive com
meninas. Menino é conquistador, menina é chorona. Menino pega peso, menina lava
prato. Menino tem carrinho, menina ganha boneca. Bota é para menino, menina usa
sandália. Brinco e cabelo comprido são para ela, eles usam cabelo curto e usam
armas para brincar. Aí está: chegamos à raiz da violência, monopólio do homem,
que vitimiza a ambos.
Se programas de educação não
sexista forem implementados na Terra, avançaremos muito para que as diferenças
entre homem e mulher não se transformem em desigualdades e em injustiças. Os
Benfeitores Espirituais, na época da Codificação, também denunciaram o sexismo,
racismo, pena de morte, escravidão e qualquer outra forma de injustiça social e
preconceito como sendo contrários às Leis Divinas, e recomendavam liberdade de
pensamento, liberdade de consciência, igualdade de tolerância. Observemos que Kardec
arguiu os Espíritos se são iguais perante Deus o homem e a mulher e têm os
mesmos direitos. Os Mentores afirmaram que Deus outorgou a ambos a inteligência
do bem e do mal e a faculdade de progredir. O Codificador persistiu com os
seres do além sobre a origem da desqualificação moral da mulher em alguns
países. Os Espíritos elucidaram que era do predomínio injusto e cruel que sobre
ela assumiu o homem. É resultado do abuso da força sobre a fraqueza. Entre
homens moralmente pouco adiantados, a força faz o direito [4].
Apostilando ainda sobre o tema,
o Codificador questionou sobre a razão da mulher ser mais frágil que a do
homem, e foi aclarado pelos Benfeitores que justificaram que tal situação é
para determinar funções especiais. Para o homem, por ser o mais forte, os
trabalhos rudes; para a mulher, os trabalhos leves; para ambos o dever de se
ajudarem mutuamente a suportar as provas de uma vida cheia de amargor. O
professor lionês ainda cogitou se a fraqueza física da mulher a colocaria
naturalmente sob a dependência do homem. Os Espíritos exemplificaram que Deus a
uns deu a força, para protegerem o fraco e não para o escravizarem. O Criador
apropriou a organização de cada ser às funções que lhe cumpre desempenhar.
Tendo dado à mulher menor força física, deu-lhe ao mesmo tempo maior
sensibilidade em relação com a delicadeza das funções maternais e com a
fraqueza dos seres confiados aos seus cuidados [5].
Ora, as funções a que a mulher é
destinada pela Natureza tem importância tão grande quanto as deferidas ao
homem, e maior até. É ela quem lhe dá as primeiras noções da vida. Kardec
garantiu que uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a
igualdade dos direitos do homem e da mulher. Os Espíritos reforçaram que para
ser equitativa, a lei humana deve realmente consagrar a igualdade dos direitos
do homem e da mulher, porém não das funções. Preciso é que cada um esteja no
lugar que lhe compete. Ocupe-se do exterior o homem e do interior a mulher,
cada um de acordo com a sua aptidão. Os sexos, além disso, só existem na
organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob
esse aspecto nenhuma diferença há entre eles. Devem, por conseguinte, gozar dos
mesmos direitos [6].
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