Francisco Rebouças
A ideia primitiva da psicologia
sociológica do passado recomendava a posse como forma de segurança na vida do
indivíduo, pois, entendiam que a felicidade do homem, poderia ser medida em
razão dos haveres acumulados, e a tranquilidade do indivíduo estava
supostamente representada pela falta de preocupação que ele demonstrava em
relação ao presente como ao futuro.
Dessa forma, concluía-se que o
homem rico poderia aguardar uma velhice sem tantas preocupações, de forma
descansada, sem problemas financeiros, o que justificava ter como a grande meta
o acúmulo e a conquista dos bens e haveres materiais, porque a escala de
valores mantinha como patamar mais elevado a fortuna endinheirada, como se a
vida se restringisse a negócios, à compra e venda de coisas, de favores, de
posições, de títulos etc.
Mesmo as religiões, que
preconizavam a renúncia ao mundo e aos bens terrenos, reverenciavam os
poderosos, os ricos, enquanto se adornavam de requintes, e seus templos se
transformavam em verdadeiros bazares, palácios e museus frios, nos quais a
solidariedade e o amor eram desconhecidos ou simplesmente desprezados.
Tinha-se a impressão que a
felicidade seria possível, desde que se pudesse comprá-la. Todos os pareceres
sobre a felicidade traziam como impositivo prioritário o prestígio social
decorrente da posse financeira ou do poder político. Assim, adotou-se o
conceito irônico de que se o dinheiro não dá felicidade a quem o possui quem
não o tem, estará definitivamente condenado a ser infeliz.
O que se observa quando se
analisa essa forma de ver a vida, é que o imediatismo substituiu os valores
legítimos da vida, levando o indivíduo a um prejudicial e equivocado
relaxamento pelos códigos éticos e morais, as conquistas intelectuais, as
virtudes, por parecerem de menor importância para a conquista da felicidade,
pelo indivíduo que não seja possuidor de grande quantidade de bens materiais.
Não se procurava averiguar se as
pessoas poderosas e possuidoras de coisas materiais, eram realmente felizes, ou
se apenas fingiam sê-lo, não se procurava saber em quantas oportunidades a
riqueza em nada lhes adiantou na resolução de problemas internos, que
infelicitam também aos possuidores de riquezas, não se procurava saber quantas
vezes esses ricos gostariam de passar livres e despercebidos pelas avenidas sem
serem incomodados, o que por essa razão não podem se sentir livres para fazerem
o que lhes aprazia e não o que lhes impunham a condição de ricos.
Nos dias da atualidade, embora
os avanços da Psicologia profunda, ainda permanecem os mesmos incentivos para
que o homem tenha, sem a preocupação com o que ele seja, prolongando essa
arcaica, infantil e perniciosa cultura, mantendo os mecanismos escapistas da
personalidade, fazendo que a existência permaneça como um jogo, e os bens, como
as pessoas, tornem-se brinquedos nas mãos dos seus possuidores, esquecidos de
que os homens, entretanto, não são marionetes de fácil manipulação. Cada
indivíduo tem as suas próprias aspirações e metas, não podendo ser movido, pelo
prazer insano ou até mesmo, com bons propósitos, por outras pessoas.
Está na hora de entender que
esses atavismos infantis não absorvidos pela idade adulta, impedem o
amadurecimento psicológico encarregado do discernimento, que são igualmente
responsáveis pela insegurança que leva o indivíduo a amontoar coisas e a cuidar
do ego, em detrimento dos bens espirituais que trás latente no Ser imortal que
é. Só o amadurecimento psicológico equipa o homem de resistências contra os fatores
negativos da existência, as ciladas do relacionamento social, as dificuldades
do cotidiano, preparando-o para jornadas maiores no continuar de sua caminhada
evolutiva, e sua vida é composta justamente de todas as ocorrências, agradáveis
ou não, que trabalham pelo progresso, em cuja correnteza todos navegam na busca
do porto da felicidade e da pureza espiritual que nos aguarda ainda distante.
Preciso se faz, manter-se o equilíbrio entre o ter e o ser, e entender
definitivamente, que nessa luta entre o ego artificial, arquetípico, e o eu
real, eterno e evolutivo, os conteúdos ético-morais da vida têm prevalência,
devendo ser incorporados à nossa conduta, em buscando da sonhada auto
realização.
Claro que ninguém deseja fazer
apologia da escassez ou da miséria, nem tampouco, propor o desdém à posse, por
entender ser ela uma necessidade para a realização pessoal de qualquer ser
humano. O que queremos deixar bem claro é o fato de que os recursos amoedados,
o poder político ou social são mecanismos de progresso, de satisfação, enquanto
conduzidos pelo homem, qual locomotiva a movimentar esses recursos com os
nobres objetivos a que estão destinados pela Soberana Inteligência do Universo.
O Homem precisa entender que, os bens materiais devem ser bem utilizados, para
que possam gerar benefícios em seu proveito e do seu próximo, e que não foram
criados para torná-los servis, nem para levá-los à escravização pelos encantos
proporcionados pelos prazeres fugidios e passageiros que lhes entorpecem.
São ferramentas propostas pela
Divindade para o progresso e evolução do indivíduo, no amadurecimento
psicológico que lhes facultam os meios de gerir os recursos, sem se lhes
submeter aos impositivos do orgulho e da vaidade, conquistando a sabedoria
necessária para administrar os valores de qualquer natureza, a benefício da
vida e da coletividade.
Os nobres valores da realidade
espiritual brotam do que se é, jamais do que se tem.