terça-feira, 31 de maio de 2016

RICO DE BENS, POBRE DE VIRTUDES![1]



Francisco Rebouças

A ideia primitiva da psicologia sociológica do passado recomendava a posse como forma de segurança na vida do indivíduo, pois, entendiam que a felicidade do homem, poderia ser medida em razão dos haveres acumulados, e a tranquilidade do indivíduo estava supostamente representada pela falta de preocupação que ele demonstrava em relação ao presente como ao futuro.
Dessa forma, concluía-se que o homem rico poderia aguardar uma velhice sem tantas preocupações, de forma descansada, sem problemas financeiros, o que justificava ter como a grande meta o acúmulo e a conquista dos bens e haveres materiais, porque a escala de valores mantinha como patamar mais elevado a fortuna endinheirada, como se a vida se restringisse a negócios, à compra e venda de coisas, de favores, de posições, de títulos etc.
Mesmo as religiões, que preconizavam a renúncia ao mundo e aos bens terrenos, reverenciavam os poderosos, os ricos, enquanto se adornavam de requintes, e seus templos se transformavam em verdadeiros bazares, palácios e museus frios, nos quais a solidariedade e o amor eram desconhecidos ou simplesmente desprezados.
Tinha-se a impressão que a felicidade seria possível, desde que se pudesse comprá-la. Todos os pareceres sobre a felicidade traziam como impositivo prioritário o prestígio social decorrente da posse financeira ou do poder político. Assim, adotou-se o conceito irônico de que se o dinheiro não dá felicidade a quem o possui quem não o tem, estará definitivamente condenado a ser infeliz.
O que se observa quando se analisa essa forma de ver a vida, é que o imediatismo substituiu os valores legítimos da vida, levando o indivíduo a um prejudicial e equivocado relaxamento pelos códigos éticos e morais, as conquistas intelectuais, as virtudes, por parecerem de menor importância para a conquista da felicidade, pelo indivíduo que não seja possuidor de grande quantidade de bens materiais.
Não se procurava averiguar se as pessoas poderosas e possuidoras de coisas materiais, eram realmente felizes, ou se apenas fingiam sê-lo, não se procurava saber em quantas oportunidades a riqueza em nada lhes adiantou na resolução de problemas internos, que infelicitam também aos possuidores de riquezas, não se procurava saber quantas vezes esses ricos gostariam de passar livres e despercebidos pelas avenidas sem serem incomodados, o que por essa razão não podem se sentir livres para fazerem o que lhes aprazia e não o que lhes impunham a condição de ricos.
Nos dias da atualidade, embora os avanços da Psicologia profunda, ainda permanecem os mesmos incentivos para que o homem tenha, sem a preocupação com o que ele seja, prolongando essa arcaica, infantil e perniciosa cultura, mantendo os mecanismos escapistas da personalidade, fazendo que a existência permaneça como um jogo, e os bens, como as pessoas, tornem-se brinquedos nas mãos dos seus possuidores, esquecidos de que os homens, entretanto, não são marionetes de fácil manipulação. Cada indivíduo tem as suas próprias aspirações e metas, não podendo ser movido, pelo prazer insano ou até mesmo, com bons propósitos, por outras pessoas.
Está na hora de entender que esses atavismos infantis não absorvidos pela idade adulta, impedem o amadurecimento psicológico encarregado do discernimento, que são igualmente responsáveis pela insegurança que leva o indivíduo a amontoar coisas e a cuidar do ego, em detrimento dos bens espirituais que trás latente no Ser imortal que é. Só o amadurecimento psicológico equipa o homem de resistências contra os fatores negativos da existência, as ciladas do relacionamento social, as dificuldades do cotidiano, preparando-o para jornadas maiores no continuar de sua caminhada evolutiva, e sua vida é composta justamente de todas as ocorrências, agradáveis ou não, que trabalham pelo progresso, em cuja correnteza todos navegam na busca do porto da felicidade e da pureza espiritual que nos aguarda ainda distante. Preciso se faz, manter-se o equilíbrio entre o ter e o ser, e entender definitivamente, que nessa luta entre o ego artificial, arquetípico, e o eu real, eterno e evolutivo, os conteúdos ético-morais da vida têm prevalência, devendo ser incorporados à nossa conduta, em buscando da sonhada auto realização.
Claro que ninguém deseja fazer apologia da escassez ou da miséria, nem tampouco, propor o desdém à posse, por entender ser ela uma necessidade para a realização pessoal de qualquer ser humano. O que queremos deixar bem claro é o fato de que os recursos amoedados, o poder político ou social são mecanismos de progresso, de satisfação, enquanto conduzidos pelo homem, qual locomotiva a movimentar esses recursos com os nobres objetivos a que estão destinados pela Soberana Inteligência do Universo. O Homem precisa entender que, os bens materiais devem ser bem utilizados, para que possam gerar benefícios em seu proveito e do seu próximo, e que não foram criados para torná-los servis, nem para levá-los à escravização pelos encantos proporcionados pelos prazeres fugidios e passageiros que lhes entorpecem.
São ferramentas propostas pela Divindade para o progresso e evolução do indivíduo, no amadurecimento psicológico que lhes facultam os meios de gerir os recursos, sem se lhes submeter aos impositivos do orgulho e da vaidade, conquistando a sabedoria necessária para administrar os valores de qualquer natureza, a benefício da vida e da coletividade.
Os nobres valores da realidade espiritual brotam do que se é, jamais do que se tem.
 


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