Allan Kardec
Temas podem ser estudados em
grupos.
Selecionamos ao leitor sérias advertências
feitas pelo Codificador do Espiritismo, que são muito apropriadas para o atual
momento vivido pelo movimento espírita, embora sejam orientações válidas para
todas as ocasiões.
A tática ora em ação pelos
inimigos dos espíritas, mas que vai ser empregada com novo ardor é a de tentar
dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando entre eles a desconfiança
e a inveja.
A natureza dos trabalhos espíritas exige calma
e recolhimento. Ora, isto não é possível se somos distraídos pelas discussões e
pela expressão de sentimentos malévolos. Se houver fraternidade não haverá
sentimentos malévolos; mas não pode haver fraternidade com egoístas, ambiciosos
e orgulhosos.
Todo grupo ou sociedade que se formar sem ter
por base a caridade efetiva não terá vitalidade.
Dizei que aquele que em sua alma nutre
sentimentos de animosidade, de rancor, de ódio, de inveja e de ciúme mente a si
mesmo se pretende compreender e praticar o Espiritismo.
O egoísmo e o orgulho matam as sociedades
particulares, como matam os povos e as sociedades em geral.
Devo ainda assinalar-vos outra tática dos
nossos adversários – a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se
afastarem do objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões
que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar
suscetibilidades e desconfianças.
Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode
melhorar. Eis o essencial.
Se alguns quisessem fazer um grupo a parte,
não os olheis com prevenção: se vos atirarem pedras, nem as recolhais, nem as
devolvais. Entre eles e vós Deus será o juiz dos sentimentos de cada um. Que
aqueles que se julgam os únicos certos o provem por maior caridade e maior
abnegação...
Em caso de divergência de opiniões, o meio
fácil de sair da dúvida é ver qual a que reúne a maioria, pois há nas massas um
bom senso inato, que não engana.
Pela vossa união, frustrai os cálculos dos que
vos quisessem dividir; provai, enfim, pelo vosso exemplo, que a doutrina nos
torna mais moderados, mais brandos, mais pacientes, mais indulgentes – o que
será a melhor resposta aos detratores.
Todas essas lúcidas advertências estão em
matéria publicada pelo Codificador na Revista Espírita, edição de fevereiro de
1862[2], em resposta aos inúmeros cumprimentos recebidos por ocasião do então novo
ano, de grupos espíritas de Lyon.
As frases estão em transcrição
parcial, adaptadas na sequência acima, sem a preocupação de ordem ou sequência
no texto, pois por si só trazem instruções de muito valor. Especialmente
considerando as dificuldades vividas pelo movimento espírita, fruto, sem
nenhuma dúvida, da imperfeição humana.
Após as considerações iniciais,
Kardec pondera sobre a pergunta de muitos de como pode ter adversários uma
doutrina que nos torna melhores e felizes. E faz tais ponderações com os
dizeres que a própria lógica indica: uma doutrina de libertação moral fere
muitos interesses. E interesses egoísticos. Daí as constantes lutas.
E como a doutrina atrai pelos
benefícios que espalha, os interesses feridos voltam-se ferozmente contra
aqueles que trabalham pela divulgação da própria doutrina ou que procuram
vivê-la em si mesmos.
E uma das táticas para alcançar
esses propósitos é lançar divisão entre os próprios adeptos, em situações e
circunstâncias nem sempre perceptíveis porque ainda nos deixamos iludir pelo
envolvimento do egoísmo e do orgulho. Outras vezes, e não poucas, tais táticas
são evidentes, claras. E mesmo assim nos deixamos levar.
Daí a oportunidade da
advertência de Kardec. Para que novamente estejamos atentos aos ataques
programados e sequenciais infiltrados no movimento.
Após tais considerações, ousamos
sugerir ao leitor um estudo dos itens relacionados e mesmo sua multiplicação em
nossos grupos, a título de estudo e debate, pois serão de muita utilidade para
acalmar atropelos e reconduzir para o caminho da concórdia e do trabalho
permanente que aguarda decisão, coragem e continuidade.
Matéria publicada originariamente na RIE – Revista
Internacional de Espiritismo, edição de abril de 2005.
[1] http://vademecumespirita.com.br/goto/store/texto/529/as-divergencias
[2] Edição Edicel, tradução de Júlio Abreu Filho.
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