José Passini - Jose.passini@gmail.com
O Atendimento Fraterno que hoje
se faz nos centros espíritas já era praticado há muitas décadas, mas dedicado
apenas a Espíritos desencarnados, nas reuniões mediúnicas, chamadas de
desobsessão ou de doutrinação.
Àquele tempo, o exercício
mediúnico era também voltado aos trabalhos de materialização, em que se
corporificavam Espíritos e eram movimentados objetos, transportadas flores etc.
Havia também a prática mediúnica voltada a curas físicas e, em menor escala, à
psicografia.
A doutrinação de Espíritos
situava-se mais no campo filosófico, sectário, com vigorosa argumentação
doutrinária, distante da pregação dos chamamentos do Evangelho. Praticava-se um
esforço de convencimento pela razão que, muitas vezes, não tocava o coração,
embora fossem citados pontos do Evangelho. Às vezes, o diálogo chegava às raias
de verdadeiro debate acalorado, como se fosse uma disputa política ou uma
discussão acadêmica.
Mas, com o passar do tempo, o
entendimento dos trabalhadores da seara mediúnica evoluiu muito, principalmente
depois da obra de Chico Xavier, na qual se sobressai a literatura de André Luiz
e de Emmanuel.
Em verdade, a obra de André Luiz
ainda não foi suficientemente avaliada, porque não tem sido estudada em
profundidade, a não ser em grupos que promovem seminários, encontros etc. Em
toda a série de seus livros, tem-se esclarecimentos quanto à prática mediúnica
e à necessidade do esforço pessoal do trabalhador, no sentido de capacitar-se a
levar as verdades do Evangelho ao Espírito necessitado, não só através de
citações dos ensinamentos de Jesus, mas da exemplificação do esforço de
vivência do médium e do doutrinador.
Nas reuniões mediúnicas, aquele
que antigamente era abordado como obsessor, perseguidor, hoje é visto como um
irmão necessitado de esclarecimento, de ser beneficiado com as luzes dos
ensinamentos de Jesus.
Hoje, o doutrinador desceu da
cátedra de onde ensinava o caminho do bem através de arrazoados filosóficos e
de citações evangélicas, para falar ao irmão equivocado, carente de
compreensão, de amparo, de carinho, embora este se mostre, muitas vezes,
rebelde, imprudente, atrevido. O entendimento de hoje leva-nos a olhar o
obsessor não como um perseguidor implacável, um criminoso, mas como um irmão
equivocado e doente, a requerer atenção, respeito, bondade e carinho.
Perseguidor e perseguido não
mais são vistos como algoz e vítima, mas como irmãos que se desavieram no
passado, os quais deverão ser beneficiados pelas luzes do Evangelho.
Essa
compreensão mais avançada deve também iluminar aqueles que se dedicam à
atividade de atendimento fraterno a encarnados, prática que se tem tornado
comum nas casas espíritas. É imprescindível um esforço constante no Bem, da
parte daquele que se propõe a ajudar: conscientização de que, embora não seja
um santo acabado, deve manter um contato íntimo com a oração, deve promover
esforços no campo do auto-aprimoramento, da disciplina, da obediência. Aquele
que se propõe a ouvir e ajudar um irmão necessitado deve esforçar-se continuamente
na busca do desenvolvimento da bondade, da tolerância, da benevolência, da
humildade e da compaixão.
Essa conscientização permanente
fará com que o atendente tenha a palavra carregada de energia positiva, aquela
emanada da convicção profunda e do coração voltado ao Bem, pois assim suas
palavras serão revestidas de uma energia que tocará fundo o entendimento do
interlocutor, não representando apenas posição intelectual, mas vibração
sincera de Amor.
Essa condição essencial para o trabalho de
evangelização é colocada em relevo pelo Instrutor Alexandre: O companheiro que
ensina a virtude, vivendo-lhe as grandezas em si mesmo, tem o verbo carregado
de magnetismo positivo, estabelecendo edificações espirituais nas almas que o
ouvem. Sem essa característica, a doutrinação, quase sempre, é vã.
(Missionários da Luz, cap. 18)
A força da convicção, do
equilíbrio e do amor daquele que fala, que doutrina, foi sentida por Mateus,
que a registra no último versículo das suas anotações de O Sermão da Montanha:
E sucedeu que, concluindo Jesus
este discurso, as turbas estavam maravilhadas com seu ensino, pois estava
ensinando a eles como quem tem autoridade e não como os escribas deles. (Mt, 7:
28 e 29)
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