Richard Simonetti
A cortina fúnebre, à porta,
anuncia o velório. Sobre a mesa, em sala de regulares proporções, está a urna
funerária em que um homem dorme seu último sono. Não terá mais de 45 anos… Ao
lado, a viúva, inconsolável, recebe condolências. Muitos repetem, a guisa de
conforto, as clássicas palavras: “Chegou sua hora... Deus o levou!...” Piedosa
mentira! Aquele homem foi um suicida! Aniquilou
-se, lentamente, fazendo uso
desse terrível corrosivo que se chama irritação. Incapaz de sofrer impulsos
violentos, eterno repetente nos exames de compreensão, favoreceu a evolução de
distúrbios circulatórios, culminando com a trombose coronária fulminante que
lhe abreviou os dias!
A máquina física possuía
vitalidade para mais vinte anos, no mínimo. Duas décadas perdidas na Escola da
Reencarnação! Regressa ao plano espiritual enquadrado no suicídio inconsciente,
que lhe imporá longo período de perturbação e sofrimento nas regiões
umbralinas. Raros, segundo André Luiz, os que atingem a condição de
completistas, isto é, que aproveitam, integralmente, experiências humanas,
estagiando na carne pelo tempo que lhes fora concedido. E há muitas maneiras de
auto aniquilar-se em prestações.
A atualidade terrestre é de
pleno domínio das sensações, em que a criatura humana pretende, com a
satisfação dos sentidos, compensar suas frustrações ou libertar-se da tensão,
males próprios de uma sociedade que atinge culminâncias no campo material, mas
permanece subdesenvolvida moralmente. Sob a orientação da propaganda
mercenária, multidões buscam a maneira mais agradável de minar as defesas
orgânicas com álcool, cigarro, excessos à mesa. Muitos resvalam para as drogas,
ante as perspectivas da tranquilidade artificial ou da euforia ilusória, sempre
seguidos pelo inferno da dependência e comprometedores desajustes físicos.
E há os vícios mentais:
hipocondríacos, que tanto imaginam enfermidades que acabam vitimados por elas;
melancólicos, que recusam às células físicas o indispensável suprimento de
energias psíquicas; maledicentes, que se envenenam com o mal que julgam
identificar nos outros; rebeldes que rompem as próprias entranhas com os ácidos
da inconformação e do pessimismo; apegados aos bens terrenos, que sobrecarregam
o veículo carnal com preocupações injustificáveis...
Para que o Espírito reencarnado
transite em segurança na Terra, movimentam-se, no plano espiritual, familiares,
amigos, instrutores, médicos e enfermeiros que o amparam e protegem, orientam e
socorrem em todas as circunstâncias. No entanto, apesar de tantos cuidados,
seus pupilos, com raras exceções, são expulsos do vaso físico, depois de o
haverem destruído de fora para dentro, com a intemperança, e de dentro para
fora, com a má direção que imprimem à vida mental. Haverá sempre quem proclame
que semelhantes observações estão impregnadas do ranço de puritanismo
retrógrado, sem considerar que são inevitáveis conclusões a que não se pode
furtar quem estima a lógica.
Se a roupagem carnal é concessão
divina que nos permite abençoado aprendizado nas asperezas do mundo, por que
não preservá-la, observando disciplinas que a própria Medicina demonstra serem
indispensáveis à estabilidade orgânica? Cercado por dezenas de visitantes, após
a reunião mediúnica, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, dizia Chico
Xavier: – Meus irmãos, quando eu psicografava o livro Nosso Lar, tive, muitas
vezes, a visão de milhares de Espíritos que aguardavam, há longo tempo, a
oportunidade de reencarnar, ansiosos pelo reajuste.
Respeitemos o corpo que o Senhor
nos concedeu, porque não será fácil uma nova oportunidade. Tenhamos cuidado com
os enganos do mundo e, sobretudo, estimemos a serenidade. Se alguém nos der uma
alfinetada, digamos: Obrigado por me espetar com um alfinete novo! Eu merecia
um enferrujado!
A visão do querido médium é um
convite a sérias reflexões, e a singela alegoria do alfinete consagra a
Humildade. O homem verdadeiramente humilde, que conhece suas fragilidades e
reconhece a grandeza de Deus, faz-se, espontaneamente, servo da compreensão e
da tolerância, da simplicidade e da fraternidade, sobrepondo-se aos lamentáveis
desvios que conduzem multidões desvairadas aos precipícios do suicídio
inconsciente.
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