Allan Kardec
Antigo aluno da Escola
Politécnica, membro de várias sociedades científicas, autor de um livro
intitulado: Le Monde spirituel, ou science chrétienne de communiquer
intimement avec les puissances célestes et les âmes heureuses[2].
Falecido em novembro de 1858. Evocado na Sociedade a 14 de janeiro seguinte.
1. Evocação.
– Eis-me aqui. Que quereis?
2. Compareceis de boa vontade ao nosso apelo?
– Sim.
3. Podereis dizer-nos o que pensais atualmente do livro que
publicastes?
– Cometi alguns erros, mas nele há coisas boas e sou
levado a crer que vós mesmos concordaríeis com o que ali eu disse, sem qualquer
receio de lisonjear-me.
4. Dizeis principalmente que tivestes comunicações com a mãe
do Cristo. Vedes agora se era realmente ela?
– Não; não era ela, mas um Espírito que tomava seu nome.
5. Com que objetivo esse Espírito lhe tomava o nome?
– Ele me via seguir o caminho do erro e aproveitava para
me comprometer ainda mais. Era um Espírito perturbador, um ser leviano, mais
propenso ao mal que ao bem. Sentia-se feliz por ver a minha falsa alegria. Eu
era o seu joguete, como muitas vezes vós outros o sois de vossos semelhantes.
6. Dotado de inteligência superior, como não percebestes o
ridículo de certas comunicações?
– Eu estava fascinado e julgava bom tudo quanto me
diziam.
7. Não julgais que essa obra possa fazer mal, no sentido de
prestar-se ao ridículo em relação às comunicações de além-túmulo?
– Nesse sentido, sim. Mas eu disse também que há coisas
boas e verdadeiras que, sob um outro ponto de vista, impressiona os olhos das
massas. Mesmo naquilo que nos parece mau, muitas vezes encontramos uma boa
semente.
8. Sois mais feliz agora do que quando vivíeis?
– Sim, mas tenho muita necessidade de esclarecer-me,
porque ainda me acho no nevoeiro que se segue à morte. Estou como o escolar que
começa a soletrar.
9. Quando vivo conhecestes O Livro dos Espíritos?
– Jamais lhe havia prestado atenção. Tinha ideias
preconcebidas; nisso eu pecava, pois nunca estudaremos e nos aprofundaremos
bastante em todas as coisas. Mas o orgulho está sempre em ação, criando-nos
ilusões. Aliás, isso é bem próprio dos ignorantes: não querem estudar senão
aquilo que preferem e só dão ouvidos aos que os lisonjeiam.
10. Mas não éreis um ignorante; não o provam vossos títulos?
– O que é o sábio da Terra diante da ciência do Céu?
Aliás, não há sempre a influência de certos Espíritos, interessados em
afastar-nos da luz?
Observação – Isso corrobora o que já foi dito:
certos Espíritos inspiram o afastamento das pessoas que poderiam dar conselhos
úteis e frustrar as suas maquinações. Essa influência jamais será a de um
Espírito bom.
11. E agora, que pensais do livro?
– Não o poderia dizer sem elogiar. Ora, nós não
elogiamos, como bem o sabeis.
12. Vossa opinião sobre a natureza das penas futuras
modificou-se?
– Sim. Eu acreditava nas penas materiais; agora creio nas
penas morais.
13. Podemos fazer algo que vos seja agradável?
– Sempre. Fazei cada um de vós, esta noite, uma prece em
minha intenção. Serei reconhecido; não o esqueçais.
Observação – O livro do Sr. de Codemberg
provocou uma certa sensação e, devemos acrescentar, uma sensação penosa entre
os partidários esclarecidos do Espiritismo, por causa da extravagância de
certas comunicações que se prestam bastante ao ridículo. Sua intenção era
louvável, pois era um homem sincero. Ele é um exemplo do domínio que certos
Espíritos podem exercer, adulando e exagerando as ideias e os preconceitos
daqueles que não avaliam com muita severidade os prós e os contras das
comunicações espíritas. Mostra-nos, sobretudo, o perigo de os espalhar muito
levianamente no público, visto poderem tornar-se motivo de repulsa,
fortalecendo certas pessoas na incredulidade e fazendo, assim, mais mal do que
bem, já que fornecem armas aos inimigos da causa. Nunca seríamos bastante
cautelosos a esse respeito.

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