quinta-feira, 18 de setembro de 2025

SACRIFÍCIOS HUMANOS[1]

 

Sacrifício de Isaac (Rembrandt)

 Miramez

 

Sacrifícios

Remonta à mais alta antiguidade o uso dos sacrifícios humanos. Como se explica que o homem tenha sido levado a crer que tais coisas pudessem agradar a Deus?

Principalmente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral, ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou a imolarem, primeiro, animais e, mais tarde, homens. De conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima. Na vida material, como geralmente a praticais, se houverdes de oferecer a alguém um presente, escolhê-lo-eis sempre de tanto maior valor quanto mais afeto e consideração quiserdes testemunhar a esse alguém. Assim tinha que ser, com relação a Deus, entre homens ignorantes.

a) - De modo que os sacrifícios de animais precederam os sacrifícios humanos?

Sobre isso não pode haver a menor dúvida.

b) - Então, de acordo com a explicação que vindes de dar, não foi de um sentimento de crueldade que se originaram os sacrifícios humanos?

Não; originaram-se de uma ideia errônea quanto à maneira de agradar a Deus. Considerai o que se deu com Abraão. Com o correr dos tempos, os homens entraram a abusar dessas práticas, imolando seus inimigos comuns, até mesmo seus inimigos particulares. Deus, entretanto, nunca exigiu sacrifícios, nem de homens, nem, sequer, de animais. Não há como imaginar-se que se Lhe possa prestar culto, mediante a destruição inútil de Suas criaturas.

Questão 669 / O Livro dos Espíritos

 

Os humanos, nos primórdios da civilização, tiveram a sua origem na necessidade e na ignorância dos homens, em seu empenho em agradar às divindades, o que caracterizou a aceitação de sua dependência a algo superior a eles. Acreditavam nos deuses sem submeter a exame o que eles diziam, pondo de lado o raciocínio, e assim como ouviam, assim praticavam. É certo que, em muitos casos, influíram na interferência de Espíritos ligados a paixões inferiores.

Já no que tange ao Espiritismo, as comunicações foram submetidas ao exame rigoroso, e muitas das mensagens recebidas pelos médiuns na época da codificação foram para a cesta de rascunhos, abandonadas como lixo imprestável. Sempre existiram os falsos profetas junto aos verdadeiros.

Um dos deuses, chamado Moloc, exigia carne humana para resolver os problemas materiais dos homens que serviam de instrumentos para a sua presença; depois passaram para sacrifícios de animais, ato impudico que até hoje, no século vinte, acontece, expressando a barbaridade de uma civilização. Depois que a razão começou a dominar os instintos inferiores das criaturas, foram diminuindo esses feitos que envergonham as consciências dos que alimentavam a ideia de sacrifício, e quando este chegava apontando um ente querido seu, ele começava a se revoltar e se desfazer das suas ideias maquiavélicas.

A humanidade cresce e, pela lei, devem crescer com ela os seus hábitos. O homem do terceiro milênio deve ser um homem novo, nascido do velho, que se esquecerá de sua própria história, pela sua renovação de propósitos. Deus realmente não quer sacrifícios, mas aceitou-os para que os homens compreendessem mais tarde que não deveriam proceder assim.

O instinto do homem é matar para sobreviver, é tomar de outrem para seu bem-estar, é, enfim, a manifestação do egoísmo e do orgulho em todos os lados da evolução humana. Quanto mais o país se diz civilizado, mais vive à custa dos sacrifícios dos subdesenvolvidos. E por isso Jesus veio ao cenário da Terra: para educar todos os povos, porque o ser humano educado obedece às leis de Deus na sua pureza espiritual. Foi entregue ao Espiritismo a missão de educar a criatura, no sentido de que quando ela recebe a instrução, a utilize somente para o bem das criaturas.

"O céu", disse Jesus, "está dentro de vós", e realmente ele se encontra no coração das pessoas; basta que a vontade de melhorar seja acionada, para que isso se exteriorize, e para tanto, a natureza pede esforço próprio. Desde quando já recebemos a razão e a inteligência, é para que nos sirvamos delas no serviço de disciplina dos nossos impulsos inferiores. A parte que nos cabe deveremos fazê-la para o nosso próprio bem e da humanidade inteira.

Os sacrifícios dos animais precederam aos sacrifícios humanos, e de novo eles desejam voltar, como pena de morte, e morte de todos os tipos, como se este tipo de punição fosse agradável a Deus. Se todos somos irmãos em Jesus Cristo, matar para que, se ninguém morre? Se Jesus fosse ver esse modo de pensar, não viria à Terra, mas, o que O trouxe aqui foi o Seu amor pelos que sofrem Ele não mandou matar os encarcerados e, sim, visitá-los, levando-lhes a esperança da vida e fazendo-os crer na lei de amor para todas as criaturas.

Estamos na época de sacrificar nossas paixões inferiores, dando lugar, assim, à fraternidade. Somente desta maneira surgirão novas terras e novos céus, onde tudo poderá existir com abundância.



[1] FILOSOFIA ESPÍRITA – Volume 14 – João Nunes Maia

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