Marco Milani
Dentre as diversas atividades desenvolvidas em
uma instituição espírita, o oferecimento de palestras públicas é uma das mais
destacadas, não somente pela possibilidade de divulgação do Espiritismo à
sociedade, mas também por representar uma prática relevante de caridade. O
conhecimento sobre a existência e a natureza do mundo espiritual, assim como
suas relações com o mundo corpóreo, amplia o horizonte intelectual e permite
compreender a perfeita Justiça Divina que rege nossas vidas. O entendimento
dessa realidade, aliado ao autoconhecimento, conforta, fortalece e motiva os
indivíduos a buscarem uma situação mais feliz, com a certeza de que todo
esforço voltado ao bem será recompensado.
Para apresentar essa riqueza de
princípios e valores filosóficos com aplicações práticas, a tribuna espírita
deve ser ocupada por trabalhadores comprometidos com a divulgação sincera,
transparente e, principalmente, coerente do Espiritismo. A base doutrinária
representada pelo ensino dos Espíritos, apresentada por Allan Kardec em suas
obras após rigoroso critério de validação das informações obtidas por múltiplas
fontes pelo método que ele mesmo denominou Controle
Universal, é o caminho seguro que qualquer palestrante deve utilizar.
Um equívoco comum, cometido por
aqueles que não percebem a significativa diferença entre as informações
validadas metodologicamente por Allan Kardec e as informações obtidas por
outras fontes que não passaram por nenhum processo rigoroso de análise crítica,
lastreado em fatos objetivos, é supor que novidades descritas em romances ou
mensagens mediúnicas sejam atualizações da base doutrinária[3].
De forma simples, pode-se
colocar o problema da seguinte maneira: o Espiritismo se estrutura sobre o
ensino dos Espíritos, validado pelo Controle Universal, porém, para muita
gente, as opiniões de médiuns e escritores teriam o mesmo peso ou até superariam
as obras de Allan Kardec.
Certamente, o Espiritismo deve
acompanhar o progresso da ciência, e isso é uma condição prevista por Kardec.
Logo, o contínuo aprimoramento do conhecimento é uma característica intrínseca
da ortodoxia espírita. A fé raciocinada decorre primordialmente da compreensão
dos fatos e da argumentação filosófica robusta para ser exercida.
Com a mesma prudência da
ciência, que avança considerando evidências e a aplicação de um método capaz de
garantir a segurança dos resultados obtidos, o Espiritismo assim o faz. Até o
momento, os princípios doutrinários não necessitaram ser reformulados diante de
novas informações, pois nenhuma foi validada objetivamente.
Sendo assim, o palestrante
espírita deve expor o conteúdo das obras de Allan Kardec e não confundir o
público com informações contraditórias e sem validação, mesmo aquelas presentes
nos milhares de títulos de romances e outras obras amplamente comercializadas
no mercado editorial voltado aos leitores espiritualistas. A seleção de
palestrantes, portanto, é de extrema relevância para a manutenção da
integridade doutrinária e para o correto desenvolvimento das atividades dos
centros espíritas. Cabe aos dirigentes a responsabilidade de convidar oradores
que possuam um conhecimento baseado nos princípios estabelecidos por Allan
Kardec, evitando aqueles que disseminam ideias místicas, fantasiosas ou
opiniões pessoais polêmicas e conflitantes.
Além da solidez doutrinária, é
essencial que os palestrantes se comuniquem de maneira clara e envolvente, com
técnicas apropriadas de oratória, expressividade corporal, uso de recursos
audiovisuais e capacidade de motivar o público. A promoção de cursos ou
seminários de expositores nas casas espíritas gera um significativo aumento da
qualidade dos colaboradores para essa tarefa. Adicionalmente, o
compartilhamento fraterno de palestrantes entre instituições próximas ou a
presença de convidados para determinados temas previamente selecionados
favorece a sinergia do movimento espírita. O órgão local da USE (no Estado de
São Paulo) ou das entidades federativas de cada região poderá, sem dúvida,
contribuir nesse sentido.
Recomenda-se, por fim, a
formação de um cadastro positivo de palestrantes locais que demonstrem o
comprometimento e a coerência doutrinária esperados, assim como a
disponibilidade para atuar nas casas da região.
[1] https://educadorespirita1.blogspot.com/2024/07/a-responsabilidade-do-dirigente.html?fbclid=IwZXh0bgNhZW0CMTEAAR1k8c4UdGeI6_aqRnbtm7hpNZJUw54aqVdKld1owV7jRT4Ax8Yfsbgmjcg_aem_bcOI6wj-RD1EOQP6GRZkSg
[2] Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, ed.
201, julho/agosto 2024, p. 34-35.
[3] Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Introdução, item 2 – Autoridade da doutrina espírita.
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