Miramez
Politeísmo
Tendo-se produzido em todos os tempos e sendo conhecidos
desde as primeiras idades do mundo, não haverá os fenômenos espíritas
contribuído para a difusão da crença na pluralidade dos deuses?
Sem dúvida, porquanto, chamando deus a tudo o que era
sobre-humano, os homens tinham por deuses os Espíritos. Daí veio que, quando um
homem, pelas suas ações, pelo seu gênio, ou por um poder oculto que o vulgo não
lograva compreender, se distinguia dos demais, faziam dele um deus e, por sua
morte, lhe rendiam culto.
A palavra deus tinha, entre
os antigos, acepção muito ampla. Não indicava, como presentemente, uma
personificação do Senhor da Natureza. Era uma qualificação genérica, que se
dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade. Ora, tendo-lhes as manifestações
espíritas revelado a existência de seres incorpóreos a atuarem como potência da
Natureza, a esses seres deram eles o nome de deuses, como lhes damos atualmente
o de Espíritos. Pura questão de palavras, com a única diferença de que, na
ignorância em que se achavam, mantida intencionalmente pelos que nisso tinham
interesse, eles erigiram templos e altares muito lucrativos a tais deuses, ao
passo que hoje os consideramos simples criaturas como nós, mais ou menos
perfeitas e despidas de seus invólucros terrestres. Se estudarmos atentamente
os diversos atributos das divindades pagãs, reconheceremos, sem esforço, todos
os de que vemos dotados os Espíritos nos diferentes graus da escala espírita, o
estado físico em que se encontram nos mundos superiores, todas as propriedades
do perispírito e os papéis que desempenham nas coisas da Terra. Vindo iluminar
o mundo com a sua divina luz, o Cristianismo não se propôs destruir uma coisa
que está na Natureza. Orientou, porém, a adoração para Aquele a quem é devida.
Quanto aos Espíritos, a lembrança deles se há perpetuado, conforme os povos,
sob diversos nomes, e suas manifestações, que nunca deixaram de produzir-se,
foram interpretadas de maneiras diferentes e muitas vezes exploradas sob o
prestígio do mistério. Enquanto para a religião essas manifestações eram
fenômenos miraculosos, para os incrédulos sempre foram embustes. Hoje, mercê de
um estudo mais sério, feito à luz meridiana, o Espiritismo, escoimado das
ideias supersticiosas que o ensombraram durante séculos, nos revela um dos
maiores e mais sublimes princípios da Natureza. (Allan Kardec)
Questão 668 / O Livro dos Espíritos
Não podemos negar que a crença
nos deuses era um caminho para que o povo pudesse encontrar um só Deus,
verdadeiro e justo. Como acreditar na unidade de Deus sem os meios lícitos e
lógicos? Quem iria facultar esse entendimento seria o próprio Criador, cujos
emissários se manifestaram por intermédio de Moisés, como se fossem a voz de
Deus.
Quanto mais a criatura cresce em
Espírito, mais vai sabendo de onde veio e para onde vai; no entanto, ainda há
muitos segredos que ainda não foram revelados, por não ter chegado a hora.
Devemos esperar trabalhando e sentindo a Vida Maior na nossa vida. As religiões
se sucedem, cada uma trazendo meios para convencer a humanidade sobre a
paternidade do Deus único e soberano.
Para se conhecer Deus com maior
interesse, com mais minuciosidade, o caminho é começarmos a estudar nós mesmos.
Qual dos homens conhece o mecanismo do corpo físico na sua integral postura
como foi criado pela Divindade? E os outros corpos que o Espírito usa na sua
jornada evolutiva? E o Espírito? Se ainda não passamos por esses caminhos de
conhecimento, como pretendemos conhecer a Deus? Se queremos saber, na
profundidade, quem é Deus, receberemos a mesma resposta de sempre:
Deus é
Espírito,
Deus é amor,
Deus é luz.
Deus está em
tudo e tudo se move por Seu intermédio.
Deus é o Sol
da vida.
Tudo está certo, na pauta da
vida. Foi pela crença nos deuses que o homem passou a crer no invisível; foi
quando esses deuses ficaram visíveis para os homens que eles descobriram que
ninguém morre, e muitas coisas existem que a humanidade, depois do preparo, vai
descobrir.
Somente sabe tudo, quem tudo
fez. Somente Deus conhece a Si mesmo, na sua totalidade. A Doutrina dos
Espíritos surgiu no mundo para dar a conhecer, nas claridades da sua
sinceridade, certas leis que as outras religiões não conhecem ou não puderam
revelar. Os caminhos estão abertos para tais conhecimentos, onde o impulso de
perguntar encontre mais respostas, e satisfaça a curiosidade, aprendendo mais
alguma letra depois do alfabeto da vida.
Há muitos que julgam a Deus,
achando que Ele deveria ser desta ou aquela forma, sem, contudo, atinar na
profundidade das mesmas leis criadas por Ele, leis de amor e misericórdia. Tudo
está certo; o que está errado é o julgamento apressado das coisas que se
desconhecem.
Procuremos meditar na vida, que
o mundo espiritual não nos deixará sem apoio. Ele abre as portas do
entendimento e sacia a fome dos que oram com sinceridade, buscando o alimento
espiritual.
O povo, em geral, gosta das
coisas fáceis, onde não existe esforço próprio; isso é um mal dos Espíritos
rodeados de paixões inferiores. As próprias interpretações do Evangelho sofrem
influência dos homens desse tipo. Vejamos o que Marcos anotou no capítulo
treze, versículo vinte e seis:
Então verão o
filho do homem vir nas nuvens, com grande poder e glória.
Quantas religiões ainda estão
esperando Jesus voltar sobre as nuvens, com a Sua comitiva celestial, para
levar os que O aceitaram, do modo que o fanatismo interpreta essa aceitação?
Para elas, não existe esforço; basta crer. É a fé sem obras, e esses enganam a
si mesmos. A volta do Cristo referida pelo Evangelho se dará nos céus da
consciência, e nas nuvens das boas obras. O Mestre não voltará de uma só vez
para toda a humanidade; a Sua volta, desta vez, é em particular, no silêncio de
cada alma.
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