Miramez
- Que se deve pensar da esmola?
Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física
e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseia na lei de Deus e na
justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve
assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à
mercê do acaso e da boa-vontade de alguns.
- Dar-se-á reproveis a esmola?
Não; o que merece reprovação não é a esmola, mas a
maneira porque habitualmente é dada. O homem de bem, que compreende a caridade
de acordo com Jesus, vai ao encontro do desgraçado, sem esperar que este lhe
estenda a mão.
A verdadeira caridade é sempre bondosa e benévola; está
tanto no ato, como na maneira porque é praticado. Duplo valor tem um serviço
prestado com delicadeza. Se o for com altivez, pode ser que a necessidade
obrigue quem o recebe a aceitá-lo, mas o seu coração pouco se comoverá.
Lembrai-vos também de que, aos olhos de Deus, a
ostentação tira o mérito ao benefício. Disse Jesus: “Ignore a vossa mão
esquerda o que a direita der”. Por essa forma, ele vos ensinou a não tisnardes
a caridade com o orgulho.
Deve-se distinguir a esmola, propriamente dita, da
beneficência. Nem sempre o mais necessitado é o que pede. O temor de uma
humilhação detém o verdadeiro pobre, que muita vez sofre sem se queixar. A esse
é que o homem verdadeiramente humano sabe ir procurar, sem ostentação.
Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei, lei divina,
mediante a qual governa Deus os mundos. O amor é a lei de atração para os seres
vivos e organizados. A atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.
Não esqueçais nunca que o Espírito, qualquer que seja o
grau de seu adiantamento, sua situação como encarnado, ou na erraticidade, está
sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para
com o qual tem que cumprir esses mesmos deveres. Sede, pois, caridosos,
praticando, não só a caridade que vos faz dar friamente o óbolo que tirais do
bolso ao que vo-lo ousa pedir, mas a que vos leve ao encontro das misérias
ocultas. Sede indulgentes com os defeitos dos vossos semelhantes. Em vez de
votardes desprezo à ignorância e ao vício, instruí os ignorantes e moralizai os
viciados. Sede brandos e benevolentes para com tudo o que vos seja inferior.
Sede-o para com os seres mais ínfimos da criação e tereis obedecido à lei de
Deus.
São Vicente de Paulo
Questão 888 / O Livro dos Espíritos
Estender a mão nas ruas pedindo
esmolas é um ato de humilhação, que no fundo pode ser de natureza cármica,
visando a educar a criatura, pois passamos por muitos caminhos em busca da paz
de consciência.
Uma sociedade mais cristã
procura por todas as suas forças eliminar do meio humano o viver pela esmola,
contudo, em primeiro lugar, busca educar aos necessitados e dar-lhes trabalho
digno. A faixa em que se encontram os povos atuais, é a de passar por todos os
tipos de provações, capazes de os levar à mais profunda intimidade da dor, por
ser esse meio o mais eficiente de torná-los humanos.
Estudando o passado dos que
pedem nas ruas e recebem alimentos das sobras das mesas fartas, sem lugar
adequado para a higiene corporal, é que notamos que a justiça não falha. Ela
cobra do devedor os estragos morais enxertados na sociedade.
Os que estão se arrastando hoje
pelas calçadas foram os prepotentes de ontem, cujos desperdícios deixaram
faltar nas mesas pobres. A esmola de hoje apaga, pela força da caridade de
outrem, as vibrações inferiores acumuladas na consciência do malfeitor. Quem
pede a caridade nas ruas, recebe mais a caridade de Deus do que quem oferta,
pois sente o alívio no coração para a humilhação que fez silêncio na
consciência.
Pedimos aos que desejam dar
esmolas, que o façam com benevolência, amando ao sofredor, pois ele espera
algum gesto de fraternidade, que o rosto pode manifestar. Sejam gestos de
alegria e vejam naquele que pede um irmão, que pode estar ocupando um lugar pelo
qual já passaram, colhendo experiências.
Dá a quem pede, sem especular o
que ele foi ou o que está fazendo no mundo, para que a tua caridade não fique
desmerecida diante da vida. Não podes esquecer que o Espírito, na Terra ou no
Céu, seja qual for o seu grau de adiantamento, está sempre sendo orientado e
servindo de exemplo para os outros. Esse estado de coisas nos mostra que nunca
poderemos ser independentes; precisamos sempre, assim como devemos ajudar
sempre. Mas todos os conselhos nos vêm de Deus, pelos canais do Cristo.
João nos fala, no capítulo doze,
versículo quarenta e oito, desta forma, lembrando a Jesus:
Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras têm
quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último
dia.
O último dia é o dia da
consciência. Quando ela se encontra cheia, passa a derramar na mente o que não
aproveitou, e o arrependimento vem à tona, julgando o irmão para que ele
reconsidere, colocando as mãos no arado, sem olhar para trás, limpando a vida das
paixões inferiores e reajustando o coração no ritmo da luz.
Alinhemo-nos
na verdadeira caridade, que é sempre bondosa .e benévola, mansa e prestativa,
cheia de cordialidade e, acima de tudo, é amor. Lembremo-nos que a ostentação
estraga as vibrações de carinho da caridade. Esmola não é somente o ato de
doar, é distribuir com alegria e sentir-se feliz no ato de ofertar.
Recordemo-nos do ato de caridade do óbulo da viúva no Evangelho, para
aprendermos a doar com benevolência.
Devemos ir ao encontro das
misérias ocultas, esses infortúnios que fazem alguém sofrer calado, e ofertar
no silêncio, dando com uma mão para que a outra não perceba, por não sabermos o
que pode acontecer no amanhã em nossos caminhos.
Não devemos reprovar a esmola,
devido à transição da humanidade de hoje, mas peçamos a Deus que nos dê forças
para que o Evangelho cresça nos corações, no sentido de educar, instruindo a
humanidade, e o pedir nas ruas cessará, com as oportunidades de trabalho para
todas as criaturas, sem que haja orgulho e egoísmo.
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