Magaly Sonia Gonsales
O vício das drogas
caracteriza-se pelo impulso praticamente incontrolável do viciado procurar
satisfação no ilusório prazer que as mesmas possam proporcionar-lhe.
A procura da droga evidencia a
escravidão em que se encontra o viciado, que busca por meio dela manifestar sua
independência em relação aos seus semelhantes, ou a uma situação que
aparentemente diminui sua posição na família ou na sociedade, e reage aos seus
agressivamente, procurando evidenciar um sentimento de superioridade.
A indução às toxicomanias
decorre, quase sempre, da influência ou da convivência com viciados, que podem
despertar, inicialmente a curiosidade das pessoas para seu uso, chegando,
assim, às primeiras experiências, aparentemente inofensivas e que podem proporcionar-lhes
um estado de euforia, de ilusória disposição e coragem para enfrentar situações
na vida, mas que exigem a continuidade de sua ingestão.
Os principais efeitos dessas
substâncias no organismo estão subordinados à área neuropsíquica, afetando o
seu próprio julgamento. É onde vão surgindo lacunas progressivamente
crescentes, que podem se caracterizar pelo desrespeito aos valores humanos, levando
a pessoa a tornar-se um ser antissocial, quase sempre levando-a a perder o
respeito por seus semelhantes.
São vícios que não poupam idade,
sexo, raça, profissão, ou situação social, envolvendo, paralelamente, inúmeras
pessoas que se enquadram como traficantes e passadores da droga, pondo em risco
a segurança e a tranquilidade da sociedade.
Portanto, as drogas podem ser
consideradas como um dos piores flagelos de que a Humanidade tem notícia. Afeta
o homem já na vida intrauterina, gerando deformações pela via da
hereditariedade, quando pais já são viciados. Já na vida física, tem atacado o homem
em tenra idade, sob os mais diversos aspectos. Penetra, como dissemos, todos os
segmentos da sociedade, em todos os países do mundo, minando-a a ponto de
dominar governantes, líderes religiosos, educadores etc.
Os vícios estão alterando o
curso da história da criatura humana e a violência tem descambado para as
conquistas fáceis e a mola disso é a prática dos vícios. Além dos casos de
overdose, anualmente milhares desencarnam em acidentes de trânsito, provocados
pelo consumo de drogas ou álcool. Muitos são os que contraem doenças
contagiosas, pela prática invigilante dos sexo desequilibrado, aprisionados
pelos efeitos infelizes do álcool e das drogas.
Compreensão e amadurecimento
O viciado em drogas assemelha-se
a uma embarcação em que, por invigilância, põe-se a navegar na correnteza forte
de um caudaloso rio, desapercebendo ou mesmo desafiando as águas que mais à
frente irão despencar numa gigantesca cachoeira.
O espiritismo não propõe
soluções específicas, procurando regulamentar cada atitude ou ditar normas de
comportamento humano.
Cresce assustadoramente a massa
de desesperados, criaturas sem raízes, a vagarem sem rumo e sem destino,
arrastados por circunstâncias que não sabem como superar porque não se empenham
em entender a realidade da própria vida. Não sabem, tais pessoas, que são seres
espirituais imortais, programados para a felicidade. Pensam muitos que são
apenas um corpo físico pressionado por necessidades a serem satisfeitas, por
temores de que é preciso escapar, por angústias que têm de ser sufocadas,
quando temores e angústias são consequência e não causa da visão deformada da
realidade.
Muitos dos que nascem em lares
desajustados recorrem aos entorpecentes, mas quem está cogitando aí de
investigar as verdadeiras causas do desajuste e o que fazer para promover
atitudes e medidas de auxílio?
O problema aflitivo da droga,
não é, portanto, basicamente, um caso de polícia. É um problema espiritual,
distúrbio emocional do ser humano em atrito com as Leis Divinas.
Isto não quer dizer que devamos
condenar aquele que recorre à droga porque rejeita a realidade. Ele precisa de
compreensão e de esclarecimento.
O homem não passa subitamente da infância à
madureza – disseram os espíritos a Kardec.
Para que amadureçam, os imaturos
que recorrem ao processo de fuga proporcionando pelas drogas, precisam antes do
amor que, na sua dinâmica, se converte em caridade. Envolvido pela sua
turbulência íntima, o dependente da droga não está preparado para ser orientado
e rejeitará sumariamente qualquer tentativa de pregação com a qual seja
abordado. Não rejeitará, porém, a abordagem do amor fraterno, que é,
precisamente, o componente pelo qual mais anseia, na tormentosa aflição e
solidão em que vegeta. As multidões que se despedem a cada instante da vida
física e retornam ao mundo invisível, continuam vivas, pensantes e atuantes,
arrastando problemas que não conseguiram solucionar aqui, e que,
lamentavelmente, conseguiram quase sempre agravar. Esta multidão desencarnada
também exerce suas pressões sobre a que ficou na carne por mais algum tempo.
Temos encontrado espíritos que nos falam de suas manobras para levar seres
encarnados a se drogarem, a fim de poderem usufruir uma quota de alienação,
pois eles também estão tentando aflitivamente, fugir da realidade que lhe é
penosa demais para suas estruturas desarticuladas.
O problema das drogas oferece
pois, no enfoque espiritual doutrinário do espiritismo, aspectos inusitados,
surpreendentes e desconhecidos de muitos. O drogado pois, é um doente
espiritual, carregado de problemas cármicos e que se deixa arrastar pela correnteza
da vida na ilusão de que está sendo levado para longe da realidade que o
assusta e aflige. Em verdade, porém, para onde for, aqui ou no mundo
ultradimensional em que irá continuar a viver na condição de espírito, estará
sempre ligado à realidade desagradável, que não é exterior e sim interior, com
raízes profundamente mergulhadas no solo íntimo do passado. Somente através do
amor poderá ele ser instruído acerca dessa realidade, a fim de que,
entendendo-a, fique preparado para aceitá-la e vencer os obstáculos que estão a
bloquear seu caminho rumo à felicidade a que todos temos direito inalienável.
Entendimento e amor fraterno é o que nos recomendou o Espírito da Verdade, com
extraordinário impacto e poder de síntese, numa frase que se tornou antológica.
– Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o
segundo – recomendou ele.
Consequências espirituais
Espiritualmente, os vícios
acarretam vinculações perispirituais, cujas consequências se projetam na vida
espiritual futura, depois que a alma se desprende do corpo físico, com a
agravante de poder ser responsável por doenças cármicas em reencarnações vindouras.
É oportuno lembrar ainda que
muitos viciados são pessoas dotadas de mediunidade, sofrendo a atuação de
entidades espirituais que se sintonizam com os seus pensamentos e se comprazem
em fazer com que se mantenham no vício e dificultam a sua recuperação, indicando
a necessidade de um tratamento espiritual que deve ser feito paralelamente ao
tratamento médico. Além da modalidade de tratamento, outros recursos são
utilizados, como o passe magnético, a água fluidificada e a desobsessão, sempre
que necessária.
Ao desencarnar, o períspirito
mantém integralmente as mesmas sensações experimentadas na jornada terrena.
Encontra no mundo espiritual inúmeros espíritos, invariavelmente similares, em
tendências, gostos, graus de evolução. Com eles conviverá. O toxicômano, em
particular, conviverá com desencarnados e encarnados viciados. Ficará sofrendo durante o tempo em que
permanecer empedernido no vício.
Ao menor sinal de arrependimento
sincero, ao primeiro pensamento de prece a Deus, significando o desejo de se
corrigir, recomeçar um novo caminho e uma nova dia de reto proceder, a ajuda
divina se apresentará de imediato, na forma de espíritos dedicados às tarefas
socorristas.
A dor é a mestra maior e último
recurso natural para reconduzir o homem ao caminho do Bem. O viciado, ao
desencarnar, percebendo que agora tudo está mais difícil, pois além de não
poder satisfazer a ânsia da droga, ainda está doente, fraco, faminto etc., mais
do que nunca, desejará as drogas.
Carente e sem nenhuma proteção,
ficará à mercê de legiões de malfeitores espirituais. Será sim, admitido nessas
legiões, mas como elemento escravo, desprezível e inferior...
Aprenderá rápido, que só no
plano material poderá dar vazão ao vício. Qual vampiro, poucas vezes sozinho –
quase sempre em bandos – irá aos lares dos toxicômanos encarnados, aderindo aos
mesmos mente a mente, induzindo-os ao consumo das drogas, caso já não o esteja
fazendo[2].
Superando o vício
A superação dos vícios envolve a
colaboração da sociedade, através da formação de bons hábitos de vida da
juventude, que está particularmente exposta aos mesmos. São ações que devem
envolver as famílias, associações esportivas e culturais, as instituições
religiosas e, particularmente, as escolas.
A educação é uma força poderosa,
que, vivificada pelo exemplo, pelo interesse e pelo esclarecimento no momento
oportuno, pode contribuir para formar criaturas responsáveis, dedicadas ao
trabalho e à solidariedade que devem envolver as atribuições da vida.
Considerando que os vícios estão
relacionados a distúrbios da alma, não se pode esperar que os mesmos sejam
sanados em um curto período de tempo.
A educação espiritual vai de
encontro às necessidades de esclarecimentos da alma, mostrando-lhe sua natureza
e suas possibilidades de ascender a planos mais elevados de esclarecimento,
alcançando sua libertação, de maneira a que se mantenha jungida pela condição
de sobrevivência humana. A educação espiritual visa promover o crescimento
interior do ser humano, que assume nova dimensão de vivência, ao vencer esse
degrau de sua evolução espiritual, tornando-se capaz de dirigir os seus
próprios atos e alcançar planos mais elevados de desenvolvimento.
Tratamento espiritual
Para o tratamento dos males
decorrentes do uso das drogas, a Medicina dispõe de admiráveis recursos
importantes para controlá-los, praticamente em todos os recantos da Terra,
embora esse trabalho não dependa apenas das ações médicas, requerendo da sociedade
muita dedicação, respeito e amor.
Abordando esse problema, André
Luiz, no livro “No Mundo Maior”, afirma:
A medicina inventará mil modos de auxiliar o corpo
atingido em seu equilíbrio interno; por essa tarefa edificante, ela nos
merecerá sempre sincera admiração e amor, entretanto, cumpre a nós outros
praticar a medicina da alma, que ampare o espírito enleado nas sombras...
E continua no terceiro parágrafo:
É mister acender, em derredor de nossos irmãos
encarnados na Terra, a luz da compaixão fraterna, traçando caminhos à
responsabilidade individual. Haja mais amor ante os vales da demência do
instinto e as derrocadas cederão lugar a experiências santificantes.
O tratamento médico baseia-se
fundamentalmente na assistência médica e psiquiátrica. Paralelamente, deve ser
feito o tratamento espiritual aplicado nos centros espíritas, como a
fluidoterapia e demais recursos, tanto na prevenção, como no tratamento das
doenças da alma.
Há muitas pessoas que procuram o
tratamento espiritual e esperam obter a cura imediata, como num abrir e fechar
de olhos, como se fosse um passe de mágica, que as fizesse voltar à
normalidade. Em geral, a cura espiritual requer profundidade de propósitos e
continuidade de ações, que levam à transformação íntima da pessoa diante do
problema que está enfrentando. Essa transformação, também chamada de Reforma
Íntima, é um processo que resulta da educação da alma e requer a completa
adesão do doente ao tratamento instituído.
É a educação que se realiza com
a liberdade de culto e com responsabilidade de propósitos, de acordo com o
conceito segundo o qual Jesus não está enclausurado entra as paredes de um
templo, mas alcança a imensidade do Universo, como Cristo Cósmico e está
presente entre as pessoas de boa vontade que pautam suas próprias vidas segundo
a Lei do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
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