Eder Andrade
É muito fácil falar de
tolerância quando estamos em paz com a nossa consciência nas relações com o
nosso semelhante. Delicado se torna exercitar a tolerância e a paciência quando
as questões que nos cercam desafiam a nossa boa vontade e principalmente quando
não estamos em harmonia com nós mesmos.
Neste mundo tão cheio de
desigualdades sociais, às vezes, é difícil ser altruísta e conseguir realizar a
caridade para com pessoas que esperam a solução de um problema, sem terem um
movimento sequer de se auto ajudarem.
Muitos estão mais interessados
em um assistencialismo disfarçado de caridade e não na verdadeira ajuda moral e
material que tantos precisam. Principalmente nas vésperas de grandes
acontecimentos, onde prometem soluções rápidas para antigos problemas estruturais
da nossa sociedade. Questões que não serão resolvidas de uma hora para outra!
Falar de certos problemas é como
voltar no tempo, pois existem situações que desafiam a nossa História.
Independente de existir uma questão espiritual que venha a explicar a
permanência ou arrastamento de um problema. Difícil é existir perseverança para
dar soluções para certas questões.
Segundo Emmanuel o caminho de se
conquistar valores da alma é um processo longo e lento. Principalmente quando
nos diz:
Vive a tolerância na base de todo o progresso efetivo.
As peças de qualquer máquina se suportam umas às outras
para que surja essa ou aquela produção de benefícios determinados.
Todas as bênçãos da Natureza constituem larga sequência
de manifestações da abençoada virtude que inspira a verdadeira fraternidade.
Tolerância, porém, não é conceito de Superfície.
É reflexo vivo da que nasce, límpida, na fonte da alma,
plasmando a esperança, a paciência e o perdão com esquecimento de todo o mal[2].
A construção do conhecimento, assim como nosso
processo de Reforma Íntima é um movimento lento e progressivo do espírito. Cada
indivíduo evoluiu em um ritmo diferente, já que a mudança vai implicar em
reeducação nossa enquanto espíritos imortais.
Sabendo da diversidade humana e
suas questões de superação, Emmanuel por intermédio da mediunidade de Chico
Xavier em diferentes obras, nos ofertou reflexões para favorecerem nossa
capacitação individual, como na obra “O Consolador”, quando escreveu:
Que é paciência e como adquiri-la?
− É com a iluminação espiritual do nosso íntimo que
adquirimos esses valores sagrados da tolerância esclarecida. E, para que nos
edifiquemos nessa claridade divina, faz-se mister educar a vontade, curando
enfermidades psíquicas seculares que nos acompanham através das vidas
sucessivas...[3]
Para ajudarmos o semelhante, é
necessário antes nos ajudarmos, conquistando valores espirituais que nos
auxiliem a superarmos nossas questões pessoais. Isso é um processo que pode
ocorrer antecipadamente ou paralelo ao nosso movimento de ajuda ao semelhante.
A verdadeira paciência é sempre uma exteriorização da
alma que realizou muito amor em si mesma, para dá-lo a outrem, na
exemplificação3.
O processo de burilamento e
autoconhecimento é imprescindível para nossa educação enquanto espíritos
imortais. Não basta saber a verdade, se faz necessário colocá-la em prática no
nosso dia a dia.
A parceria entre o exercício da
tolerância e a prática da paciência é fundamental para conseguirmos ajudar
pessoas necessitadas que cruzam nosso caminho. Emmanuel sempre procurou
enfatizar isso em suas reflexões, até quando utilizou exemplos figurados para
nos ajudar a compreender nossa realidade.
O trânsito é uma escola em que sobram aulas de
vigilância e compreensão, justiça e disciplina. Anotemos as lições da estrada e
procuremos transferi-las ao trânsito da vida em que todos somos chamados, nas
trilhas do tempo, ao relacionamento comum[4].
A construção do conhecimento
para um movimento de libertação é um processo que vai implicar renúncia e
renovação de sentimentos. Para alguns talvez seja mais rápido do que para
outros, porém esse processo é fundamental para nossa evolução. Sem sombra de
dúvida vai implicar em novas reencarnações, onde o espírito em questão terá de
dar um testemunho do seu desejo sincero de transformação.
Esse processo nos permitirá
entender na essência o verdadeiro sentido de caridade, apresentada por Allan
Kardec, quando conseguimos realizar nossa Reforma Íntima ao mesmo tempo que uma
renovação de atitudes e emoções:
Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como
entendia Jesus?
− Benevolência para com todos, indulgência para com as
imperfeições alheias, perdão das ofensas. A caridade, segundo Jesus, não está
restrita à esmola. Ela abrange todas as relações que temos com os nossos
semelhantes, quer sejam nossos inferiores, nossos iguais ou superiores. Ela nos
ordena a indulgência porque nós mesmos temos necessidade dela[5].
[1] O CONSOLADOR - Ano 18 - N° 900 - 1º de Dezembro
de 2024 - https://www.oconsolador.com.br/ano18/900/ca1.html
[2] Xavier, Francisco Cândido; Pensamento e Vida (1958);
Cap. 25 – Tolerância; FEB.
[3] Xavier,
Francisco Cândido; O Consolador (1940); 2a Parte: It. V - Evolução: Virtude -
p. 254; FEB.
[4] Xavier, Francisco Cândido; Amanhece (1976): Segurança
e Paz - Paciência a Caminho; GEEM.
[5] Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; Cap. XI -
Da lei de justiça, de amor e de caridade; Caridade e amor do próximo – p. 886;
FEB.
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